China concentra trocas desiguais com o Brasil: 40 mil empresas importam, menos de 3 mil exportam e 75% das vendas são soja, minério e petróleo.
Um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceria com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) revelou um dado preocupante: embora a China seja o maior destino das exportações brasileiras, o número de empresas que importam do país é quase dez vezes maior do que as que conseguem vender para lá.
Segundo o levantamento, 40.059 empresas brasileiras importaram da China em 2024, enquanto menos de 3 mil exportaram.
Essa discrepância revela um padrão estrutural de dependência e mostra que o Brasil ainda não consegue ocupar o espaço proporcional ao peso do mercado chinês.
Importações em massa, exportações concentradas
Segundo o portal Terra, o crescimento das importações chinesas impressiona: desde o ano 2000, o número de empresas que trazem produtos da China para o Brasil aumentou 11 vezes.
Os chineses fornecem desde eletrônicos e máquinas industriais até têxteis e insumos variados, compondo uma cesta ampla e diversificada. Na outra ponta, as exportações brasileiras para a China quadruplicaram em número de empresas desde 2000, mas ainda assim permanecem muito concentradas.
Soja, minério de ferro e petróleo representaram 75% das vendas brasileiras para a China em 2024, evidenciando a forte dependência de commodities.
Comparação com outros parceiros
O contraste fica ainda mais claro quando se observa outros mercados. O Mercosul contou com 11,7 mil exportadoras brasileiras, os Estados Unidos com 9,6 mil e a União Europeia com 8,6 mil.
Esses blocos compram menos em valores absolutos que a China, mas oferecem espaço mais equilibrado para diferentes setores e empresas. Apesar disso, há sinais de diversificação: em 1997, o Brasil exportava 673 itens diferentes para a China; em 2024, o número passou de 2,5 mil produtos, segundo a nomenclatura comum do Mercosul. Ainda assim, as commodities continuam dominando os fluxos comerciais.
Desafio estratégico para o Brasil
Na apresentação do estudo, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, destacou que a China continua oferecendo oportunidades, mas que o Brasil precisa de políticas públicas capazes de ampliar a base exportadora:
“Mais empresas, mais regiões e mais trabalhadores precisam se beneficiar das oportunidades no mercado chinês, que ainda são crescentes.”
O grande desafio brasileiro é romper a dependência de poucos produtos e ampliar a participação de pequenas e médias empresas no comércio com a China.
Sem isso, o país segue como fornecedor de matérias-primas e importador de tecnologia e manufaturados, em uma relação que gera superávit, mas mantém vulnerabilidades.
