Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, pretende escalar a ocupação militar em Gaza. Nas últimas semanas, indo contra a vontade majoritária do Parlamento, dos militares e da população, Netanyahu vem lançando declarações que indicam uma nova ofensiva na Faixa de Gaza, com o objetivo de ocupar todo o território.
Entretanto, esse posicionamento se choca à posição do setor de defesa de Israel, que, visando o bem-estar dos reféns israelenses ainda sob domínio do Hamas — localizados em áreas fora do alcance direto de Israel —, teme que uma nova frente de conflito possa colocar essas vidas em risco. (CNN, 2025)
O ex-comandante das Forças Especiais dos EUA, coronel Seth Krummrich, atualmente na empresa de segurança internacional Global Guardian, afirmou que os planos de Netanyahu para ocupar a totalidade de Gaza não são realistas. Segundo ele, para capturar e manter esses territórios seria necessário um grande contingente militar e amplos recursos. No entanto, considerando a ambiguidade atual da opinião pública em relação à guerra e a fadiga do exército, esse nível de mobilização não seria viável. (Al Jazeera, 2025)
Assim, após 22 meses de conflito, impasses nas negociações por um cessar-fogo, o aumento da pressão internacional sobre o Estado de Israel e a ausência de qualquer perspectiva sobre o fim da guerra, o governo de Netanyahu tem visto seu apoio popular e político diminuir. De acordo com pesquisa divulgada pelo Jerusalem Post, nas próximas eleições estima-se que a oposição ao Likud — partido de Netanyahu — conquistará a maioria no Parlamento, o que deverá levar à nomeação de um novo primeiro-ministro.
Diante disso, especialistas analisam que as recentes atitudes de Netanyahu estariam sendo motivadas por preocupações relacionadas à sua carreira política. Réu em um processo por corrupção desde 2019, Netanyahu e sua esposa são acusados de aceitar cerca de 260 mil dólares (R$ 1,42 milhão) em bens de luxo em troca de favores políticos a bilionários. Contudo, o processo e seus depoimentos vêm sendo continuamente adiados sob a justificativa de que o primeiro-ministro estaria demasiadamente ocupado com questões de segurança nacional.
Em entrevista à Al Jazeera, Ahron Bregman, cientista político do King’s College London e ex-oficial israelense, declarou que Netanyahu quer prolongar a guerra para ganhar tempo, tentando manter sua coalizão parlamentar e adiar seu julgamento, desviando-se das acusações que o acompanham desde 2019. Esse padrão tem se repetido: mesmo com a contínua perda de apoio parlamentar, internacional e popular, Netanyahu já demonstrou agir desconsiderando a opinião pública. Isso levanta a reflexão sobre até onde ele estaria disposto a ir em nome de sua sobrevivência política, sob a justificativa da completa desmantelação do Hamas — que, segundo relatórios, já estaria militarmente incapacitado —, colocando possivelmente em risco a vida de reféns israelenses cuja localização é incerta e contrariando a vontade do Parlamento e das Forças Armadas do país.
Referências:
“Netanyahu planeja pedir apoio para tomar controle total da Faixa de Gaza” CNN Brasil, 04 de Agosto de 2025. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/netanyahu-planeja-pedir-apoio-para-tomar-controle-total-da-faixa-de-gaza/> Acesso em: 06 de ago 2025.
“Netanyahu wants to ‘occupy Gaza’. What do Israeli people, military think?” Al Jazeera, 06 de Agosto de 2025. Disponível em:
<https://www.aljazeera.com/news/2025/8/6/what-do-israelis-military-think-of-netanyahus-plan-to-occupy> Acesso em: 06 de ago 2025.
“Pesquisa aponta para vitória da oposição e derrota de Netanyahu em Israel”, Gazeta do Povo, 02 de Agosto de 2025. Disponível em:
<https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/pesquisa-aponta-para-vitoria-da-oposicao-e-derrota-de-netanyahu-em-israel/> Acesso em: 06 de ago 2025.
“Tribunal de Jerusalém adia depoimento de Netanyahu em caso de corrupção; decisão vem após apelo de Trump.” G1, 29 de junho de 2025. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/29/tribunal-de-jerusalem-adia-depoimento-de-netanyahu-em-caso-de-corrupcao-decisao-vem-apos-apelo-de-trump.ghtml> Acesso em: 06 de ago 2025.
Maria Eduarda Motta é pesquisadora no LabGRIMA
