Isolamento da Rússia no contexto da Guerra da Ucrânia: descompasso entre expectativas e realidade por Juan Ramirez

Após o início da guerra na Ucrânia, a Rússia enfrentou um dos maiores conjuntos de sanções já impostas contra uma grande potência, com os EUA liderando uma estratégia de isolamento contra Moscou apoiada pelas potências europeias.

Porém, desafiando as expectativas e excedendo até previsões mais otimistas, a economia russa encolheu muito menos do que se era esperado, recentemente estando próxima de alcançar os níveis de atividade econômica pré-crise e com previsões de seguir crescendo.

Enquanto Bruxelas vem tentando isolar Moscou, o mercado europeu mostra estar resistindo às decisões políticas do bloco, buscando brechas para continuar conduzindo seus negócios na Rússia. Segundo o Destatis (2023), a Alemanha apesar de ter reduzido as exportações diretas para a Rússia em 58.3%, aumentou suas exportações para países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) em 106.4%, com as exportações de veículos, maquinário e de químicos tendo destaque dentro desse número. Alguns casos notáveis são o da Geórgia, cujo aumento do volume exportado foi em 48%, o da Armênia, que aumentou em 132%, e do Quirguistão, que teve um aumento de incríveis 773%.  

Em um documentário recentemente apresentado pela DW (mídia financiada pelo governo da Alemanha), os correspondentes vão até a “fronteira” da Geórgia com a Abecásia, um território internacionalmente reconhecido como parte do País, mas ocupado de facto pela Rússia, e mostram que mercadorias sancionadas possuem uma relativa facilidade de entrar no território Russo, devido à flexibilidade e simplicidade da estrutura alfandegária abecásia. O documentário explicita também a facilidade de exportação de mercadorias para a Rússia através da Armênia e do Quirguistão, ambos com aumentos significativos nos volumes de trocas após o início da guerra, e ambos pertencentes à União Aduaneira da Eurásia, que também inclui a Rússia.

No ramo da energia, apesar do gás russo não ter sido sancionado, a Europa fez um esforço para diminuição das importações, o que não foi apreciado pela população, que foi afetada pela inflação causada pela crise energética, e nem por empresas europeias do ramo, que usufruíram do gás russo. A Gasum, da Finlândia, diz que ainda compra gás natural liquefeito da Gazprom devido a um contrato de longo prazo feito antes da guerra. O grupo OMV, da Áustria, diz que continuará recebendo os suprimentos de gás da Rússia enquanto o contrato, que vai até 2040, estiver em vigor, alertando ainda que caso haja um impedimento legal, os preços de seus produtos irão subir consideravelmente, afetando a economia do país. Já na Espanha, a Rússia se torna o maior fornecedor de gás, com as exportações para a Espanha crescendo em 151% entre fevereiro de 2022 e 2023. 

Já nas linhas de frente, para a preocupação da OTAN, a contra ofensiva Ucraniana ainda não atingiu nenhum marco relevante, evento que seria decisivo para justificar o grande volume de ‘auxílios’ que os países da aliança vêm prestando à Kiev. Uma das justificativas para a lentidão e ineficiência seria uma suposta escassez de munições de artilharia que vem ocorrendo não só na Ucrânia, mas aparentemente em toda indústria bélica dos países da OTAN. Segundo certas alegações vindas de oficiais da França, Canadá e até mesmo do presidente dos EUA, a aliança estaria tendo problemas em abastecer o exército ucrâniano com munição de artilharia devido aos estoques nacionais estarem se esgotando, utilizando este argumento para anunciar o envio de ‘munições cluster’ para o país, munição que os mesmos vêm denunciando o uso nos últimos anos. Ao que tudo indica, a OTAN está disposta a sacrificar a população ucraniana em prol de queimar seus estoques, apostando na capacidade das forças armadas ucranianas em utilizar munições com alto risco de efeito colateral de forma efetiva e discriminada, o que não é muito provável considerando a atual conjuntura do conflito.

Portanto, se o objetivo do ocidente é derrotar Moscou aumentando a pressão sobre Putin, isolando a Rússia no cenário mundial, e negando à Rússia os benefícios do sistema econômico internacional (White House, 2022), pode-se afirmar que as estratégias ocidentais para o conflito falham quando entram em contato com a realidade. As sanções andam sendo apenas um incômodo, e não o que o ocidente esperava; O Kremlin continua mantendo suas relações políticas e econômicas com diversos países, incluindo países europeus; E por fim, a Ucrânia além de não ter avanços significativos no campo de combate, continua sendo vítima do complexo industrial-militar da OTAN, que esvazia seus estoques em busca de uma perpetuação do conflito com a Rússia.

 

REFERÊNCIAS

 

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DW DOCUMENTARY. How EU sanctions against Russia are failing | DW Documentary. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z7yofon22AM>. Acesso em: 12 jul. 2023.

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STATISTISCHES BUNDESAMT. Exports to CIS countries (excluding Russia) rose strongly from January to April 2023 compared with January to April 2021. Disponível em: <https://www.destatis.de/EN/Press/2023/06/PE23_222_51.html>. Acesso em: 12 jul. 2023.

THE WHITE HOUSE. Remarks By President Biden Providing an Update on Russia and Ukraine. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/briefing-room/speeches-remarks/2022/04/21/remarks-by-president-biden-providing-an-update-on-russia-and-ukraine-3/>.

Juan Ramirez é acadêmico do curso de Relações Internacionais e membro do LabGRIMA/GeoMercosul.

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