O presidente chinês, Xi Jinping, chegou nesta quinta-feira (20/06) a Pyongyang. Esta será a 5ª Cúpula Kim-Xi em menos de dez meses, mas é a primeira vez que um chefe de Estado chinês visita a Coreia do Norte nos últimos 14 anos. Xi Jinping passará dois dias na capital norte-coreana, onde conversará com Kim Jong-un sobre a questão nuclear, o processo de paz e a cooperação econômica. A visita também é uma mensagem diplomática enviada aos Estados Unidos.
A Coreia do Norte estende o tapete vermelho para o líder chinês: desfile com balões coloridos nas imagens divulgadas pela China Central Television, uma fanfarra do Exército do Povo Coreano, retratos gigantes de líderes norte-coreanos e chineses e Kim Jong-un que veio pessoalmente para cumprimentar Xi Jinping e sua esposa na pista do Aeroporto Internacional Sunan, em Pyongyang. Pela primeira vez, a visita de um presidente chinês é descrita como uma “visita de Estado”, em vez de uma “visita amistosa” ou “visita oficial”.
O protocolo chinês não ficou para trás, relata o correspondente da RFI em Pequim, Stéphane Lagarde. Uma grande delegação chinesa desembarcou na Coreia do Norte. Ding Xue Xiang, chefe da Direção-Geral do Comitê Central do Partido Comunista Chinês; Yang Jiechi, chefe do Comitê do Partido dos Assuntos Externos, e o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, além de Ele Lifeng, chefe da poderosa comissão estadual de planejamento e desenvolvimento, também embarcaram para Pyongyang.
Aliado no cenário internacional
Pequim adula a Coreia do Norte, um aliado que ganhou destaque no cenário internacional desde o aperto de mão entre Kim Jong-un e Donald Trump, em Cingapura. Esta é também uma forma para a diplomacia chinesa uma forma de enviar uma mensagem direta aos Estados Unidos, que não conseguiu sair do impasse diplomático com o regime de Pyongyang na Cúpula de Hanói (Vietnã), em fevereiro.
O presidente chinês quer lembrar ao mundo que desempenha um papel fundamental em qualquer resolução possível da crise coreana. Xi Jinping mostra sua força e sua influência na península, o que lhe fortalece na guerra comercial contra os Estados Unidos. O presidente chinês não escolheu o timing desta visita de forma aleatória: em uma semana, acontece a cúpula do G20 em Osaka (Japão), durante a qual ele deve se reunir com o presidente norte-americano, Donald Trump.
Mas Antoine Bondaz, pesquisador da Fundação para a Investigação Estratégica da França, acredita que a visita do líder chinês não visa apenas ressaltar o papel fundamental de Pequim na questão nuclear ou da paz na região. Para ele, a visita tem também “uma interna dimensão política importante dentro da China para Xi Jinping, enfraquecido pela guerra comercial. Xi sublinha a amizade tradicional entre os dois partidos, o Partido Comunista chinês e do Partido dos Trabalhadores da Coreia”.
Apoio contra sanções dos Estados Unidos
Kim Jong-un, por sua vez, exibe sua aliança com a China para fortalecer sua própria posição nas negociações nucleares com Donald Trump. Bondaz enfatiza que, no lado norte-coreano, trata-se de “fortalecer a estatura internacional de Kim Jong-un para fortalecer sua legitimidade internamente, mas também para “tentar apaziguar e mitigar o impacto das sanções econômicas – sabendo que a China continua tendo um olhar benevolente sobre o tráfico de produtos em sua fronteira” – e para fortalecer a cooperação econômica em alguns setores não-sancionados, incluindo o turismo.
O líder norte-coreano precisa do apoio de Pequim na questão das sanções. No Conselho de Segurança da ONU, a China acaba de se opor a um pedido dos Estados Unidos para uma proibição total do fornecimento de petróleo à Coreia do Norte. A China também poderia enviar ao país comboios de alimentos, num contexto de escassez.
Mensagem enviada também para o vizinho ao Sul
Para Kim Jong-un, a visita do presidente chinês não é apenas uma mensagem enviada a Washington. A Coreia do Norte também manda um sinal forte diretamente a sua vizinha do Sul. “É uma espécie de tapa diplomático enviado à Coreia do Sul para relativizar o papel hoje do país nas negociações atuais”, analisa Antoine Bondaz.
No entanto, a cúpula de Pyongyang é percebida de uma forma bastante positiva em Seul, segundo o correspondente da RFI na capital sul-coreana, Frédéric Ojardias. A Coreia do Sul espera que Xi Jinping pressione Kim Jong-un para retomar as negociações nucleares e que o encontro permita que o diálogo Norte-Sul seja retomado.
Pyongyang esnobou Seul por meses e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, está se esforçando para reviver o processo de paz e reconciliação. Mesmo que, de fato, a influência de Xi Jinping em seu aliado norte-coreano seja limitada, é improvável que o presidente chinês obtenha grandes concessões de Kim Jong-un.
http://br.rfi.fr/mundo/20190620-xi-jinping-manda-mensagem-trump-com-viagem-coreia-do-norte?fbclid=IwAR0g2aURWsMwpJ5RV_yCTlWHG5I2olmJpq1nYLaSb7HhAWBpdY3nrnDdFcg