A concepção do Curso de Licenciatura em Física da UFPel é percebida a partir do desenho das esferas da formação contidas no PPC. Este desenho, que é construído a partir das Diretrizes Curriculares para os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Física, descritas no Parecer CNE/CES Nº 1.304/2001, e homologado pela Resolução CNE/CES Nº 09/2002, tem como objetivo a formação de egressos com o perfil de Físico – educador. Assim, esta concepção está fundamentada em conhecimentos sólidos e atualizados em Física, na preocupação com os aspectos específicos da formação de futuros professores de Física, bem como na disseminação do saber científico através de novas formas de educação científica. Se espera, com isso, que a formação profissional oferecida pelo Curso desenvolva nos seus egressos a compreensão da importância da sua atuação como agentes de mudanças na sociedade contemporânea, preocupados com um mundo sustentável que rompa barreiras do preconceito e da exclusão. O currículo proposto pelo Curso reflete esta concepção, uma vez que as três dimensões da Formação, Específica, Complementar e Extensão, estão contempladas.
Dentro da Formação Específica, a matriz curricular é composta por um núcleo de conteúdos curriculares comuns à formação de um Físico, abrangendo disciplinas obrigatórias de Física Geral, Matemática, Computação, Física Clássica e Física Moderna e Contemporânea, e por um núcleo de componentes curriculares específicos da formação de professores, incluindo disciplinas obrigatórias da área pedagógica e da Prática como Componente Curricular (PCC), bem como os estágios curriculares obrigatórios nas redes de ensino. A flexibilização curricular dentro desta dimensão é contemplada pela oferta de disciplinas optativas, escolhidas pelos discentes a partir do segundo semestre do Curso dentro de uma relação sugerida pelo Curso. Estes componentes se organizam de forma semestral, em níveis sucessivos de complexidade e aprofundamento, permitido que os discentes tenham uma formação gradativa da sua prática docente como futuro professor, paralelamente à obtenção do conhecimento teórico/prático de conteúdos específicos e pedagógicos.
A Formação Complementar (ou Estudos Integradores) é outra forma de flexibilização curricular no Curso, já que permite que os discentes sejam integrados à atividades de ensino, pesquisa e extensão, ao longo de toda a sua formação. Se espera, com isso, que o discente possa optar por alguma área de interesse, garantindo o enriquecimento curricular e a formação de um profissional responsável e competente.
A Formação em Extensão integralizada é contemplada através de carga horária prática Ext em disciplinas obrigatórias, dentro da Formação Específica, e Atividades Curriculares em Extensão (ACE), integralizadas como parte das atividades complementares em extensão nos Estudos Integradores e como atividades curriculares em extensão propriamente ditas. Nesta dimensão, se espera que a extensão integralizada seja realizada através da participação ativa dos discentes em programas, projetos e ações de extensão junto à comunidade externa, em especial nas redes de ensino, contribuindo assim com a melhoria da qualidade de ensino na região.
Após 33 anos de existência, o desafio do Curso de Licenciatura em Física em se manter atualizado, ao mesmo tempo que relevante para o desenvolvimento da região, permanece. As diversas atualizações realizadas na proposta curricular sempre procuraram equilibrar uma formação sólida na área específica da Física, que permitiu que um número considerável dos egressos continuassem seus estudos em nível de pós-graduação, associada à uma formação pedagógica consistente, capaz de produzir profissionais aptos para a inserção no ambiente escolar. Muitos dos egressos que finalizaram sua qualificação de pós-graduação, hoje atuam em diversas Instituições de Ensino de nível superior no Brasil, tais como UFPel, FURG, UFRGS, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, dentre outras, bem como no exterior. Alguns, inclusive, são hoje docentes ligados ao Curso de Licenciatura em Física da UFPel. Muitos dos egressos do Curso atuam em escolas públicas e privadas de Pelotas e região, contribuindo desta forma para a qualificação da Educação Básica.
Ainda que o Curso já tenha titulado 261 profissionais altamente qualificados, este número mostrou-se insuficiente para suprir a demanda de professores de Física na região da 5ª CRE. Na área coberta pela 5a CRE, além do Curso de Licenciatura em Física da UFPel, existe apenas mais um curso de Licenciatura em Física, também na cidade de Pelotas, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) no turno noturno e voltado para a atuação nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os outros cursos de Licenciatura em Física no sul do RS estão localizados nas cidades de Rio Grande e Bagé. Segundo os resultados do Censo Escolar de 2021, o RS ainda apresenta problemas na adequação da formação docente para o ensino de Física no Ensino Médio, já que apenas 47% dos docentes possuem formação superior de licenciatura em Física, ou bacharelado com complementação pedagógica. Na região da 5a CRE, especialmente no entorno da cidade de Pelotas, o cenário é um pouco melhor, já que 65% a 100% dos docentes têm formação superior na área da disciplina que atuam. Este quadro é ainda mais preocupante quando se compara a situação da Química e Biologia. Segundo dados do Censo Escolar 2022, quando se analisa a situação da adequação da formação docente para o Ensino Médio no Brasil como um todo, a área da Física tem 53,1% dos seus docentes dentro do grupo 1, ou seja, formação em Licenciatura (ou Bacharelado com complementação pedagógica) na mesma disciplina que leciona, enquanto que a Química tem 66,6% e a Biologia 80,9%. Os dados relacionados ao RS e a região da 5a CRE ainda não foram disponibilizados, mas certamente não diferem em grande medida ao quado apresentado pelo Brasil.
Outro dado preocupante do Censo Escolar 2021 diz respeito à distribuição por faixa etária dos docentes do RS que atuam no Ensino Médio, já que 63% tem mais de 40 anos, enquanto que na faixa mais jovem, quase 81% tem entre 30 e 39 anos. Este quadro se manteve praticamente o mesmo no Censo Escolar 2022. Como consequência, este perfil etário terá impacto na reposição e ampliação da força de trabalho, quando se analisa o projeto do MEC para a educação integral nos próximos anos, ou seja, oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica. Segundo dados do Censo Escolar 2022, a proporção de alunos em tempo integral matriculados na rede pública de Ensino Médio no RS é de apenas 4,7%, uma das três mais baixas no Brasil, que tem por volta de 20,4% matriculados em tempo integral nesta etapa do ensino.
Com este cenário, constata-se que a demanda pela formação de profissionais licenciados em Física permanece uma necessidade, não só na região da 5ª CRE como em todo o RS. O Curso de Licenciatura em Física da UFPel, ciente deste quadro, e comprometido com o desenvolvimento regional, segue convicto do seu relevante papel de formar profissionais qualificados para atuação na área de ensino básico e profissionalizante.