Uma realidade brasileira escondida por trás do glamour da alta sociedade
O livro nacional “Solitária”, de Eliane de Alves Cruz traz uma reflexão sobre passado, presente e futuro do Brasil
Por Samantha Beduhn / Em Pauta
A escrita objetiva da autora e jornalista Eliane de Alves Cruz faz com que a leitura seja rápida e inebriante. Apesar disso, o livro “Solitária” é cheio de emoção, momentos dramáticos e tensos, e também com muitos mistérios escondidos nas entrelinhas A realidade de duas mulheres negras, mãe e filha, que moram em um “quartinho de empregada” traz diversas discussões necessárias no Brasil.
A narrativa em primeira pessoa e as versões dos fatos de ambos personagens dão ao leitor uma imersão na obra. Ao ler essa história é possível lembrar de diversos casos que estão presentes no dia a dia. A forma que a realidade é posta em palavras é dolorida, mas relevante para todos da sociedade, principalmente para pessoas fora desses nichos.
O enredo se passa em um condomínio luxuoso, local onde aconteceu um crime, e a única testemunha é uma empregada doméstica, a Eunice. Junto com a filha, Mabel, Eunice morou e trabalhou durante anos nesse condomínio e presenciou diversos abusos cometidos pelos moradores do prédio aos empregados. Eunice e Mabel não foram exceções e possuem as próprias dores geradas naquele ambiente.
Entre as situações abordadas no livro estão o trabalho infantil, o racismo, as diferenças de oportunidades entre as classes sociais, a violência e pautas similares. Segundo dados da Secretaria Nacional de Cuidados e Família, em 2022, cerca de 5,8 milhões de brasileiros tinham trabalho doméstico, 92% eram mulheres e 61,5% mulheres negras. Ou seja, o livro é importante para dar voz a essas mulheres que dedicam as próprias vidas para cuidar de outras famílias e vivem abusos no trabalho.