Uma caixa de surpresas de Guillermo del Toro

Em uma compilação de contos, a Netflix e Guillermo del Toro entregam na mão de oito diferentes diretores uma antologia que atinge diversas áreas do terror, mistério e suspense, mas que não encontra um equilíbrio entre suas histórias. 

Por Felipe Boettge

Criado por Guillermo del Toro, Gabinete de Curiosidades é um seriado em formato de antologia que trilha entre o terror e o suspense através de oito episódios dirigidos cada um por um diretor diferente e sem nenhuma conexão entre um e outro além da supervisão do premiado diretor e criador da obra. Contando com vários rostos conhecidos, Andrew Lincoln, Sofia Boutella, Ben Barnes e Rupert Grint estão divididos entre os episódios e ajudam a suas respectivas histórias a chamar atenção desde o momento em que reconhecemos os seus rostos. Apesar de que nem todos estão nas histórias mais empolgantes desta temporada. 

Pôster de O Gabinete de Curiosidades / Reprodução: Divulgação/Netflix

Dessa forma, os episódios possuem diferentes narrativas apoiadas tanto no sobrenatural, quanto na ficção científica, mas abraçando muitos elementos típicos do terror que valorizam muito os episódios mais bem executados. Algo que fica evidente durante o avanço na série e talvez até mesmo Guillermo Del Toro tenha pensado nisso quando se trata da disposição dos episódios, uma vez que eles parecem colocados de forma que os pontos mais altos da produção estão divididos entre o início, meio e final do seriado. Sendo assim, o seriado é capaz de dar o empurrão inicial, tentar segurar e finalizar de uma forma agradável. 

Os episódios podem ser assistidos em sequência, como o habitual, ou então pode-se escolher pelo formato adotado por muitas pessoas que assistiam Black Mirror, que é escolhendo o que mais lhe chama atenção. Pensando nisso, e para evitar maiores spoilers, o foco ficará em três episódios que podem convencer a dar uma chance para a série. 

Pôster de os Ratos de Cemitério / Reprodução: Divulgação/Netflix

Pela ordem, Ratos de Cemitério é o segundo episódio da temporada e trata de um ladrão de covas que começa a enfrentar muito problema em pagar suas dívidas com as violações de túmulos, alegando que os ratos levam o seu tesouro antes que ele tenha tempo de colocar suas mãos nos objetos preciosos. 

É a partir dessa premissa que o episódio fala sobre a ambição desse homem que vê sua fonte de recursos sendo tomada de si, colocando-se em um problema maior do que poderia imaginar. Em uma aventura de desespero e claustrofobia, Vincenzo Natali leva o espectador e o protagonista através de túneis subterrâneos que pareciam menores conforme o medo e desejo por mais do infeliz homem que perambulava através deles. É dessa forma, contando com um plano de fundo sobrenatural e ratos horríveis de se encarar, que o episódio se torna um dos destaques da temporada e é responsável por mostrar o potencial que o seriado e os contos seguintes possuem. 

Pôster de Por Fora / Reprodução: Divulgação/Netflix

Em busca de aceitação, Stacey utiliza produtos para pele que aparentemente causam uma terrível alergia à sua pele. Entretanto, ela passa a acreditar que a dor e deformação são apenas parte do processo. 

Dessa maneira, o seriado deixa um pouco de lado os cenários mais sombrios para lidar com o terror da falta de autoestima e da necessidade de aceitação pela sociedade. Incômodo e agoniante, o episódio traz o desafio de continuar olhando para tudo que está acontecendo na pele de Stacey de uma forma aterrorizante. A história desse conto parece bem mais simples e pé no chão até quase metade dele, mas não se demora em trazer elementos que deixam um ar de confusão enorme entre saber se o que está acontecendo é real ou a personagem está apenas achando que é. Aventura essa que tem um dos finais em aberto mais efetivos do seriado, não precisamos seguir além dali para sentir o peso e a mensagem daquela história. 

Pôster de O Murmúrio / Reprodução: Divulgação/Netflix

Como encerramento da temporada, o murmúrio traz a história de um casal de ornitólogos que aluga uma casa isolada em uma ilha para estudar o comportamento de pássaros, sem saber o triste passado que aquele lugar guarda.

É com essa premissa que o episódio final parte e surpreende de forma positiva com o decorrer dos acontecimentos. Uma vez que, nessa altura do seriado, já podemos ter nos deparado com uma infinidade de criaturas e acontecimentos malucos. Entretanto, o episódio aposta em uma trama de terror mais simples e que encontra nesse modelo uma história muito bem colocada e sensível. Tratando sobre o luto, os problemas de um relacionamento e a dificuldade de conexão após um trauma, a abordagem tanto do terror quanto do drama encontra o seu ponto mais alto do seriado em seu episódio de despedida. 

Guillermo del Toro apresentando uma das histórias / Reprodução: Divulgação/Netflix

São essas e muitas outras surpresas que encontramos em o Gabinete de Curiosidades, uma oportunidade para se encontrar com histórias diferentes do habitual e com objetivos tão insanos quanto as criaturas que elas apresentam. Mesmo que em alguns episódios isso se faça subjetivo demais, o saldo da antologia é positivo e deixa espaço para que mais temporadas a acompanhem nos próximos anos, trazendo ainda mais histórias e abordagens do terror e suspense da forma peculiar que o seriado fez em seus primeiros oito episódios.

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