Na pauta, as batalhas que as mulheres negras travam contra o preconceito e a discriminação

Quando o “pré-conceito” ainda dita a capacidade e consequentemente, o valor do trabalho feminino.

Por Micael Machado*

Mesmo no século 21, as batalhas das mulheres contra o preconceito ainda persistem. Junto a isso, ainda é possível evidenciar que a luta e a resistência contra a opressão de gênero são maiores ainda em relação as mulheres negras pois, o racismo e a exploração de classe é vivida de forma mais intensa no dia-a-dia. O Brasil, apesar de ter a maior parte da população negra ainda é um país da “branquitude”, racista, onde a cor da pele é relevante para muitos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apesar de buscarem qualificação semelhante ou superior à dos homens que ganham, em média R$ 2.251, elas recebem R$ 1.762 (diferença de R$ 489) e em cargos de liderança, são excluídas.

A desvalorização, no entanto, é atribuída à tradição do homem estar por muito tempo, historicamente falando, a frente das instâncias de poder e para a mulher, ter sido reservada a posição de “rainha do lar” e nada mais à além. “O machismo está enraizado nas pessoas, impedindo o crescimento profissional da mulher e, se encontrar uma mulher negra em uma posição de destaque, seja no meio acadêmico ou no mercado de trabalho, uma coisa é certa; ela lutou muito mais que todos para estar ali, e enfrentou muito preconceito e racismo ao longo de sua trajetória”, disse Sara Santiago, 19 anos, acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

A mulher negra passou da posição de escrava à posição de lavadeira, arrumadeira, faxineira e empregada doméstica, todavia mulheres com espírito empreendedor investiram em seus filhos, que arduamente chegaram as posições de professoras (no caso das mulheres) ou militares (no caso dos homens) até a década de 70, do século passado. A delimitação de ascensão social começou a ser alterada ao final do século 20 quando os movimentos sociais se encontraram maciçamente no acesso a educação como via de crescimento abrindo caminhos que refletem no contexto dos dias atuais, onde tem-se arquitetas, economistas, químicas, advogadas e médicas já em outras posições. Infelizmente, no Brasil, por questões históricas, este fator faz com que a sociedade e as instâncias de poder, de uma forma geral, desvalorizem suas competências em detrimento de profissionais não negros, sejam eles mulheres ou homens.

A trajetória de vida e política de mulheres negras em prol da superação das desigualdades raciais e de gênero, permite analisar o sentido bem como significados que interferem na agenda dos movimentos de mulheres e étnico-raciais que ultrapassam as fronteiras dos países. Entender como as mulheres se enxergam como negras no contexto de suas trajetórias, levando em consideração que por ser mulher e negra a luta por seus direitos na sociedade é bastante dificultosa, a relação deste processo com a construção afirmativa de suas identidades negras é obtida.

Rosemar Gomes Lemos, no evento Discutindo O 25 De Julho – O Que Eu Tenho a Ver Com Isso? Imagem: Micael Machado/DEA – UFPel

“A medida que o movimento feminista se fortalece pela participação, convivência, troca de experiência e determinação de estratégias para os enfrentamentos que a sociedade impõe nos diversos setores onde as mulheres transitam, seja no mercado de trabalho como na área da saúde ou nas relações familiares o movimento intercepta e assegura os direitos da mulher”, disse Rosemar Gomes Lemos, 51 anos, PhD nas áreas de Ciências da Arte e do Patrimônio pela Universidade de Lisboa (UL, Portugal) e de Novos Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestra em Química e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em entrevista.

O empoderamento feminino é capaz de quebrar certos paradigmas impostos pela sociedade e o conhecimento, relacionado, principalmente às referências históricas, pode ajudar nisso. Saber que existiu uma “Carolina de Jesus”, uma “Rosa Parker”, uma “Tereza de Benguela” uma cantora de rap chamada “Preta Rara”, uma gaúcha chamada “Maria Helena Vargas” e uma pelotense que começou sua carreira na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) como faxineira mas que se aposentou como uma laboratorista na área da escultura chamada “Judith da Silva Bacci”, conhecendo os conflitos e vitórias alcançadas por essas mulheres faz toda diferença na construção da identidade de alguém que costuma ser visto como inferior, serviçal e que não resiste ao racismo. Julga-se ainda necessário a formação de grupos para compartilhamento de vivências, tomadas de decisão e ações conjuntas. O Grupo “Mulheres do Brasil” é um bom exemplo disto. A constante busca por uma vida melhor advém em todas as esferas de suas trajetórias com o intuito de modificar seu destino. Todas essas lutas, em suas nuances, devem ser reguladas para que sejam transformadas em políticas públicas, na qual o Estado possa fazer valer os direitos constitucionais, mas induzindo em conta a especificidade do povo brasileiro e principalmente a diversidade da mulher negra.

*Notícia produzida para a disciplina de Produção da Notícia especial para o Em Pauta

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