Escravo do ódio
Carlos Dominguez / Coordenador Em Pauta
Escravo do ódio. Nada é mais revelador da degradação moral do bolsonarismo fascista de extrema direita no Brasil do que a fala doentia do deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), em depoimento gravado em vídeo, quando comenta as manifestações que ocorreram em todo o país por estudantes universitários e de institutos federais, contra a política de cortes na Educação adotada pelo governo federal.
O deputado vomita insultos, calúnias, mentiras e difamações generalizadas contra estudantes das universidades federais de Pelotas e Santa Maria, UFPEL e UFSM, xingando e humilhando, sem nenhum embasamento com a realidade. Insanidade. Tudo tipificado nas leis brasileiras como crime. Leis que o parlamentar – felizmente não reeleito – ignora para atacar o futuro da sociedade, os mais jovens, que não têm todas as regalias da classe política a lhes proteger, como recursos públicos e dinheiro do orçamento secreto.
Qual a intenção de tão nefasta figura? Semear o caos de que se alimenta a intolerância de seu discurso oco e vazio. Não tem nada para oferecer, então se dedica a destruir aquilo que sua visão tacanha da sociedade não entende. Ignorância pura.
Chega ao limite da maldade quando sugere que “estudantes riquinhos” deveriam receber o mesmo que foi retratado no filme “Tropa de Elite 1”. Diz o deputado “ser queimados vivos em pneus, é isso que eles merecem!”. Sua verborragia biltre ignora que na ocasião do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, em 2013, mais de 243 famílias de cidadãos brasileiros que tinham parentes entre os jovens falecidos de modo tão brutal e repentino passaram por aquilo que o deputado do PL, partido do atual Presidente da República, deseja para estudantes universitários.
É inaceitável tal comportamento de uma figura pública. Por conta deste ato insano, o deputado estadual de Santa Maria, Valdeci Oliveira (PT-RS) encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal da cidade que instaurou Procedimento para investigar o caso. O mesmo foi feito pela deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL/SP) que afirmou que a bancada do partido enviará representação contra o deputado do PL ao Conselho de Ética da Câmara.
Não podemos aceitar em silêncio a afloração do fascismo no país. As reitorias da UFPEL e UFSM repudiaram as declarações agressivas do parlamentar em notas oficiais.https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2022/10/21/nota-da-gestao-ataques-a-ufpel-e-a-ufsm/
E o que disse o porta-voz da maldade? Depois de atacar estudantes de “escória do mundo”, em vídeo publicado em suas próprias redes sociais, o covarde deputado afirmou ao jornal Diário Popular, de Pelotas, que sua afirmação foi “tirada de contexto”. Não foi. O contexto desta mente doentia é muito pior. É um abismo profundo de desrespeito ao outro. Da mais completa falta de empatia social. Quem desejaria “queimar vivo” alguém apenas porque este alguém protesta contra o descaso do governo federal com a educação? Apenas um fascista é capaz de verbalizar tanto ódio e tanta desumanidade.
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes nasceu em Pelotas, em 18 de novembro de 1950. Ele foi um jornalista, repórter investigativo e produtor brasileiro. Trabalhou na TV Globo de 1996 até o seu assassinato em 2002. Tim Lopes morreu queimado vivo em pneus por traficantes no Rio de Janeiro. Uma morte triste e dolorida para quem exerceu a profissão com tanto rigor e competência. Nunca será esquecido. Assim como as vítimas do incêndio na boate Kiss.
Alcibio Mesquita Bibo Nunes nasceu em Cruz Alta-RS, no dia 9 de janeiro de 1957. Começou sua carreira como jornalista em 1976, na Rádio Cruz Alta. Em 1979, foi apresentador e repórter na RBS TV Cruz Alta e no ano seguinte, se tornou correspondente do jornal Zero Hora. Foi para Porto Alegre e virou um político e comunicador medíocre, entusiasta da extrema direita negacionista.
No dia 20 de outubro de 2022, Bibo Nunes enterrou sua vida pública nos anais digitais das redes sociais com seu discurso de ódio. Ninguém vai se lembrar mais dele daqui a alguns anos, apenas como exemplo da doença social que aflige o Brasil. Um exemplo da banalidade do mal, como muito bem explicou a filósofa Hannah Arendt em seu ensaio clássico que mostra a passividade do povo alemão diante do surgimento do Nazismo no país. Mas eles passarão. E nós passarinho, como muito bem disse o poeta Mario Quintana.