Dia Nacional do Livro: uma celebração à leitura
Por Roger Vilela
“Não há amigo tão leal quanto um livro”, disse uma vez o escritor Ernest Hemingway. No Brasil, o dia 29 de outubro é dedicado a esse companheiro. A data foi escolhida para ser o Dia Nacional do Livro em homenagem a fundação da Biblioteca Nacional (BN), que ocorreu em 1810, na cidade do Rio de Janeiro. A Biblioteca bicentenária é a instituição cultural mais antiga do país. Com um acervo de aproximadamente nove milhões de itens, é considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo e a maior da América Latina.
A Biblioteca Nacional do Brasil
O acervo inicial da Biblioteca, com cerca de 60 mil peças, chegou ao Brasil junto com D. João VI e a corte portuguesa, em 1808. No ano de sua fundação, a instituição foi aberta aos estudiosos e em 1814 aconteceu sua abertura para o público em geral. Durante o processo de independência, muitos de seus itens retornaram a Portugal, levados pela Família Real e por outros que não concordavam com a emancipação do novo país. Mas com doações e aquisições nas décadas seguintes, seu acervo cresce até hoje.
Ao passar do tempo e com as mudanças políticas ocorridas no país, a instituição teve diferentes nomes em sua história. Real Biblioteca foi o primeiro, quando o Brasil ainda era parte de Portugal. Depois da independência, passou a ser chamada de Biblioteca Imperial e Pública. E, em 1876, recebeu seu nome definitivo: Biblioteca Nacional.
Em 1910, cem anos depois de sua fundação, a Biblioteca Nacional do Brasil mudou-se para o prédio que ocupa até hoje, localizado na Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. No ano de 1974, o edifício-sede da instituição foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Celebração à leitura
O Dia Nacional do Livro celebra a importância da leitura e dos livros nas vidas das pessoas. Por boa parte da história da humanidade, o acesso aos livros ficou restrito a uma pequena parcela da sociedade. Com o tempo, após a invenção da prensa móvel pelo alemão Johannes Gutenberg, por volta do ano de 1450, e um maior acesso a educação, eles começaram a se tornar mais acessíveis.
Foram os livros, antes existir o rádio ou a televisão, os responsáveis por levarem milhões de pessoas a outras épocas e mundos.
Ler melhora o funcionamento do cérebro, estimula a criatividade, incita o senso crítico, provoca empatia, eleva a autoestima, entre outros benefícios. Mas, como anda a leitura no Brasil?
Comecemos com números básicos. De acordo com os resultados preliminares do Inaf Brasil 2018, 8% da população do país é analfabeta. 29% compõe o grupo denominado como Analfabetos Funcionais, ou seja, pessoas que têm muita dificuldade em compreender textos simples. E apenas 12% dos brasileiros leem e escrevem adequadamente.
Agora, segundo a quarta e mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), 56% da população brasileira, cerca de 116 milhões de pessoas, possuem a leitura como um hábito. Desse número de leitores, 42% têm o costume de ler a bíblia, 22% leem livros religiosos, romances ou contos, 16% livros didáticos e 15% obras infantis. Entre os que não possuem o hábito, a falta de tempo (32%) e interesse (28%) são os principais motivos para não se aproximarem dos livros.
Ainda de acordo com o estudo, 66% dos brasileiros não frequentam bibliotecas, e dos frequentadores, 64% deles são pessoas entre 5 e 24 anos, ou seja, em idade escolar ou universitária. Outra constatação é de que 30% da população do país nunca comprou um livro. A pesquisa considerou “leitor” aquele que leu algum livro nos três meses anteriores a sua realização.
Outro estudo que traz resultados sobre a leitura no país é o “World Development Report”, relatório do Banco Mundial. Ele estima que o Brasil vá demorar cerca de 260 anos para atingir o nível educacional dos países desenvolvidos em leitura. Para a obtenção dessa conclusão, o relatório usou como base o desempenho dos estudantes brasileiros em todas edições do Pisa (Programme for International Student Assessment), avaliação internacional coordenada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O escritor brasileiro
Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Hilda Hilst, Paulo Coelho são alguns dos grandes escritores que marcaram história na literatura brasileira. O país possui uma grande tradição literária e isso não pode ser esquecido.
Hoje, o mercado editorial do Brasil não passa por um bom momento, com fechamento de livrarias e pouco faturamento nas vendas. Com o alto valor do dólar, autores nacionais se tornam apostas das editoras, pois é mais barato do que investir em novos best sellers estrangeiros. Mas como é ser escritor no país?
Para a escritora Marciele Goetzke, o mercado continua difícil para os autores brasileiros, há muitas barreiras no caminho: “Editoras com preços de publicação que beneficiam muito elas próprias, sem fazer a distribuição e divulgação apropriada. E geralmente na hora da venda, o autor que não tem um nicho específico de leitores, acaba sofrendo com sua publicação (livro físico) parado em casa, sem caixa de saída. Isso é bem comum com autores iniciantes, por exemplo.”
Já para o escritor R. Tavares, que lançou o seu primeiro livro em 2007, o problema está na visibilidade: “A dificuldade está em ser notado pelos leitores e, também, pela imprensa”. De acordo com ele, os autores precisam estar preparados: “O escritor independente deve conhecer seu nicho e abraçar diversas funções. O lançamento é apenas o primeiro passo”.
Para Tavares, as escolas têm um papel importante na formação de novos leitores: “Os colégios devem formar leitores apaixonados e não leitores frustrados por lerem apenas clássicos que ainda não tem maturidade para entender”.
Marciele considera a leitura como algo essencial e indispensável para compreender o que acontece na sociedade. Segundo ela, o hábito pela leitura deve ser iniciado por coisas que proporcionam curiosidade e prazer: “Seja revistas ou até mesmo enquanto assiste à um filme legendado”. Para a escritora ler um livro é “como uma confidência com um amigo”.
Leia!
Uma sociedade que se afasta dos livros, corre o risco se tornar como a de “Fahrenheit 451”. Na obra de Ray Bradbury, somos apresentados a um futuro distópico onde todos os livros são proibidos, no qual a função empregada aos bombeiros é de queimá-los e destruí-los. Para muitos, o livro é uma crítica à censura mantida pelo estado, mas em uma entrevista concedida ao jornal LA Weekly, em 2007, Bradbury afirma que sua obra é “sobre como a televisão destrói o interesse pela leitura”. O autor também conta que ao escrevê-lo, imaginou uma sociedade entorpecida pela televisão, que por conta própria se volta contra os livros.
Feira do Livro de Pelotas
A 46ª edição da Feira do Livro de Pelotas acontece entre os dias 1º e 18 de novembro. O tema deste ano é “O alvorecer do negro em Pelotas, a cultura e a literatura negra”. O evento terá sessões de autógrafos e contará com praça de alimentação, diversos expositores e uma programação cultural intensa. A Feira será realizado na Praça Coronel Pedro Osório, no centro da cidade.