Desafios ambientais da comunidade ribeirinha do Porto de Pelotas
A comunidade ribeirinha do Porto de Pelotas enfrenta uma série de desafios ambientais que ameaçam sua sustentabilidade e qualidade de vida
Carolina Soares, Larissa Rodrigues e Yasmin Arroyo / Especial Em Pauta

Região do quadrado, no porto antigo de Pelotas, junto ao Canal São Gonçalo. Fotos de Carolina Soares/ Especial Em Pauta
Localizada às margens do Canal São Gonçalo, a região é constantemente impactada pela poluição da água, desmatamento, urbanização acelerada, aterramentos e pela falta de infraestrutura adequada para o manejo de resíduos. Além da marginalização,
essa condição coloca em precariedade a comunidade que depende de recursos naturais para sua subsistência.
A moradora Gilda Alves, pertencente à comunidade ribeirinha e vice-presidente do Instituto Hélio D’angola, afirmou que a qualidade de vida de quase toda a população da região está em sacrifício. “A gente tá passando um bocado de sacrifício e
sofrimento. Quem deveria comandar os banhados e meio ambiente não dá limite para aterramento e acaba não tendo respeito com o ser humano e o próximo que tá do lado. Cada chuva que dá, todas as casas são invadidas por água porque invadiram o banhado”, diz Gilda.
Além dessa queixa, a moradora ressaltou a angústia em ver os meses chuvosos se aproximando. Segundo ela “Quando chover, a água vai invadir todas as casas o que antigamente não acontecia”. Muitos moradores dessa comunidade, após décadas de trabalho para constituírem seus lares, tiveram que abandonar a região devido à destruição da água. “Então, cada vez que chove, a água invade os pátios e chega dentro das casas. A moradora tem que colocar suportes embaixo dos móveis para não estragá-los”.
Para além dos danos materiais, os danos causados pela água colocam em risco a saúde da comunidade, pois o saneamento é limitado, e as áreas alagadas mantém, por muito tempo, excesso de água parada ocasionando a dengue. Esse impacto socioambiental é um potencializador da desigualdade social, afastando a comunidade da dignidade humana.
A situação enfrentada pelos moradores do Porto de Pelotas também é analisada por especialistas, que apontam fatores estruturais como principais responsáveis pela degradação ambiental da região. Para Alceone Silveira dos Santos, Técnico em Meio Ambiente e Educador Ambiental, a realidade é reflexo de um modelo de urbanização que ignora a preservação ambiental e o bem-estar das populações vulneráveis. “O impacto socioambiental vem se acentuando de forma exponencial”.
A falta de cuidados ambientais, a urbanização desenfreada sem planejamento e as mudanças climáticas, que não são questões recentes, contribuem para o aumento desses impactos negativos. Em Pelotas, especificamente, vemos o fenômeno da gentrificação, onde a periferia não consegue acessar os recursos mínimos que são oferecidos a uma pequena parcela da população privilegiada”, explica Alceone.
O avanço desordenado das construções em áreas próximas ao Canal São Gonçalo tem modificado não apenas a paisagem local, mas também o cotidiano das famílias ribeirinhas, que veem seu espaço ser tomado pelo progresso sem planejamento. O aterramento de banhados e a falta de infraestrutura básica, como saneamento adequado, resultam em enchentes frequentes, tornando a vida nessas comunidades ainda mais instável.
A degradação ambiental, somada à dificuldade de acesso a serviços essenciais, faz com que muitos moradores se sintam encurralados entre permanecer em suas casas, enfrentando riscos constantes, ou abandonar a região onde construíram suas
histórias. Enquanto novos empreendimentos imobiliários avançam, a população ribeirinha luta para manter sua identidade e sobreviver em meio a um cenário que, dia após dia, se torna mais hostil.
Como medida de prevenção e cuidado, Alceone destaca que “primeiramente há que se fazer um movimento de educação ambiental em direção à sustentabilidade dessas comunidades, pois ela inexiste”.
O aterramento dos banhados do Porto de Pelotas representa um desafio urgente para a comunidade ribeirinha e para a preservação ambiental da região. O equilíbrio natural dessas áreas úmidas está sendo comprometido, e os impactos já começam a ser sentidos no cotidiano dos moradores, que enfrentam alagamentos mais severos, a perda da fauna e da flora e o risco de danos ambientais irreversíveis.
Diante desse cenário, torna-se essencial que haja uma maior fiscalização por parte das autoridades, garantindo que qualquer intervenção seja feita com responsabilidade ambiental e levando em conta a participação da comunidade. A luta pela preservação dos banhados não é apenas uma questão ecológica, mas também uma defesa da qualidade de vida de quem vive na região.