Comemoração Melodramática
Por Lucian Brum
Faltando quatro dias para começar o inverno, o termômetro marcava oito graus na noite de domingo. Enroupado, o público chegava à Sala Carmen Biasoli para assistir ao espetáculo Dona Frida. Na antessala, o professor Paulo Gaiger fez uma introdução saudando os 10 anos do curso de Teatro. Comentou abertamente sobre a instabilidade da estrutura do local e, agradecendo a presença do público, brincou: “Acho que as cadeiras vão portar todas as bundas aqui presentes”.
Passada no contexto da primeira metade do século XX, quando se suspirava ouvindo romances de radionovela, a peça foi girando em torno de um drama de família: cinismo, ganância, ciúmes, ingenuidade, caduquice e vingança rodearam a trama até uma suposta morte da matriarca. Em uma ação no segundo ato, quando Dona Frida foi desmascarada, cinzas da falsa cremação foram arremessadas da urna contra seu rosto espalhando o pó pelo tablado – causando risos largos da plateia. O desenlace do conflito revelou a máscara dos personagens e, no momento do clímax, quando o confronto ia definir-se violentamente, as luzes se apagaram, provocando espanto e deixando o desenrolar da cena na imaginação do espectador.
A peça Dona Frida foi encenada pela primeira vez em 2016 na Biblioteca Pública Pelotense. Contemplada no Programa Nacional de Fomento e Incentivo a Cultura (ProCultura), realizou-se uma temporada com oito apresentações em conjunto a oficinas de melodrama. Segundo as atrizes Aline Cotrim e Evelin Suchard, a resposta do público foi muito positiva e houve assiduidade em todas as apresentações da peça na cidade, que ocorreram em locais adaptados para montagem teatral. A peça também já participou dos festivais: Rosário em Cena (em Rosário do Sul) e Cidade dos Anjos (em Santo Ângelo).
A companhia Você Sabe Quem está atuando há cinco anos. Formada no cenário acadêmico, procurou se organizar de forma independente para realizar seus trabalhos. Ministrando oficinas de interpretação e teatro infantil, a companhia foi trocando experiências e conhecendo pessoas interessadas em representar. A atriz Eduarda Bento (que faz o papel de Abigail em Dona Frida), foi aluna de uma das oficinas do grupo no ensino médio e hoje faz graduação em Teatro.
O meio cênico pelotense vive um momento com enorme problema estrutural. O teatro Sete de Abril e o teatro do Circulo Operário, onde ocorria grande parte das atividades, por terem o mínimo de estrutura adequada, estão fechados por motivo de reforma. A acomodação do público é o elemento mais afetado: “Tivemos que ter um numero limitado de espectadores quando apresentamos Dona Frida na biblioteca, pois, se fizéssemos mais de duas fileiras o espectador de trás não assistiria bem”, explica Aline Cotrim. No projeto Sete ao Entardecer, a peça foi encenada no Mercado Central, onde grande parte do público assistiu aos 60 minutos do espetáculo de pé. Por sua vez, a peça está em seu segundo ano: “A gente está bem feliz que conseguimos fazer a Dona Frida durar tanto assim e continuar apresentando em Pelotas”, conclui Evelin Suchard.
Confira a programação das apresentações em comemoração aos 10 anos do curso de Teatro/Dança UFPEL. As apresentações são sempre às 19h00 na Sala Carmen Biasoli (Rua Almirante Tamandaré, nº 301).
Elenco:
Aline Cotrim
Diego Carvalho
Eduarda Bento
Evelin Suchard
Direção e Concepção dramatúrgica: Thalles Echeverry.
Iluminação: Maiara Silveira.
Sonoplastia: Thalles Echeverry.
Cenários e Figurinos: Aline Cotrim.
Maquiagem: Maiara Silveira.