Bancas de jornal em Pelotas: uma história de resistência

É comum ouvir que as bancas de revista estão morrendo e seus dias estão contados. Mas afinal, será que é isso mesmo?

Por Everton Iberse / Agência Em Pauta 

 

 

Foto: Tobias Bernardo

As bancas são o resquício de um passado não tão distante, de um mundo sem o acesso fácil à internet e sem a enxurrada de informações instantâneas que ela oferece. Para muitos, a banca de revista era uma das poucas formas de se ter acesso a essa informação, tanto com as revistas como com os jornais.

A história das bancas anda de mãos dadas com a história dos jornais. Os jornaleiros que saíam caminhando e oferecendo seus jornais começaram a dividir seu espaço com pontos fixos de venda aproximadamente em 1860 no Rio de Janeiro, período em que os jornais começaram a ser vendidos de forma avulsa. 

Em Pelotas, não é possível encontrar um registro exato do início, mas é um consenso entre todos os jornaleiros, que as bancas tiveram seu começo aproximadamente na década de 70. Desde aquela época, muitas bancas abriram e fecharam. A competição acirrada com a internet e as crises econômicas que assolaram o país nos últimos anos dificultaram os negócios. 

A adversidade que é sentida dentro do mercado jornaleiro refletiu naquilo que é vendido no local, as bancas se adaptaram e adicionaram outros produtos em seu repertório, como recargas para celular e livros.

Foto: Tobias Bernardo

Recentemente, a Prefeitura de Pelotas abriu um edital para a permissão de uso dos espaços destinados a bancas, dos onze disponibilizados, apenas dois foram arrematados. Para Roberto Lucena, jornaleiro a mais de trinta anos, a baixa procura nas licitações ocorre por ser um grande investimento, e com baixo retorno. 

Apesar desse cenário carregado de dificuldades, a chama das bancas não está completamente apagada, Luís Antônio de Oliveira é jornaleiro a mais de trinta e um anos e herdou a banca de seu pai, para Luís às bancas continuam desempenhando um papel fundamental na difusão do hábito da leitura, principalmente para as crianças, sendo comum os pais trazerem para comprar gibis. O jornaleiro também conta: 

“Tem algumas escolas que todos os anos, quando começa o ano letivo, pedem para comprar gibis, então até já sei o que eles querem quando vem, é um, dois ou três gibis por aluno, para eles terem uma biblioteca particular nas aulas, né”.

Tal como Luís, Alexandro Goularte também deu continuidade ao trabalho de seu pai, é a segunda geração a cuidar da Revistaria Lobo da Costa, presente há mais de trinta anos no calçadão e compartilha da mesma opinião:

“Pra mim, eu acho que não vai acabar tão cedo, mesmo com o celular isso aqui é quase uma tradição, hoje tem crianças de dez, onze ou doze anos que fazem palavras cruzadas, o jornal mesmo com a internet ainda vende, a revista também, pelo tempo que eu estou aqui, acho que não vai acabar tão cedo”.

Além disso, Alexandro ressalta a importância da troca entre o consumidor e o jornaleiro, para ele, enquanto as pessoas continuarem gostando de conversar e folhear o papel, as bancas vão continuar existindo.

Mesmo com um cenário turbulento pela frente, é possível ver o otimismo entre os jornaleiros. As bancas representam muito mais do que apenas um local para comprar jornais e revistas, são a face de um mundo diferente do digital, um ambiente de interação e de descoberta que não pretende acabar tão cedo.

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