A Sedução da Fama

The Idol encerrou sua primeira temporada na HBO no dia 2 de julho. A série traz Lily Rose-Depp como protagonista, sob a direção de Sam Levinson (Euphoria) e coprodução de Abel Tesfaye (The Weeknd).

Por Isadora Jaeger / Em Pauta Web 

Pôster nacional da série. Imagem: Divulgação/ HBO Brasil

A turbulenta temporada de The Idol chegou ao fim com o seu quinto episódio, intitulado “Jocelyn Para Sempre”, onde enterra qualquer esperança de coerência em seu produto final. Assim, a produção consegue desfalcar a recorrência de sucessos da programação de domingo da HBO.

 

Ao longo da trama, acompanhamos a popstar Jocelyn (Lily Rose-Depp) que, meses após a morte de sua mãe, tenta retomar sua carreira com um novo EP. Nesse processo, ela conhece Tedros (Abel Tesfaye), o dono de uma boate e pseudolíder de uma seita de artistas talentosos. Os dois se envolvem numa relação que muda os rumos da vida e carreira de Jocelyn.

 

Logo no primeiro episódio, a obra já dá indícios do que virá nos próximos capítulos. O ensaio da coreografia para o videoclipe de “World Class Sinner”, nova música de Jocelyn, faz com que o espectador conclua que se trata de uma sátira, visto que a dança hipersexualizada é digna de comparação à performance vergonhosa de Push It (música de Salt-n-Pepa) em Glee.

Cena de ensaio de coreografia para o clipe de Jocelyn. Imagem: Divulgação/ HBO

Transitando entre um suspense psicossexual e uma comédia autorreferencial, a série não consegue se estabelecer em nenhum dos gêneros, ou indicar qual sua intenção. Aos poucos se torna um conjunto de retalhos, que apesar da esperança de que houvesse um conceito coeso por trás de tudo, isso jamais se concretiza.

 

A pretensiosa aposta de The Idol é ser provocativa, mas apenas para se apresentar como chocante e inovadora. No entanto, partilha do que parece ser uma nova brecha em Hollywood, onde a possibilidade de classificar uma obra como sátira serve de desculpa para fazer exatamente o que estariam, supostamente, criticando.

 

Porém, nem tudo é perdido, já que a série demonstra potencial justamente quando é autoconsciente. Tais momentos ocorrem, principalmente, por meio dos personagens mais enraizados na realidade, como Destiny, interpretada pela Da’Vine Joy Randolph, que se revela um grande acerto da série, e a assistente Leia, interpretada pela Rachel Sennott.

 

Quanto às possíveis razões dessa desordem, é preciso falar sobre o caos durante a produção da série. Originalmente, a série estava sendo dirigida por Amy Seimetz (The Girlfriend Experience), que foi demitida e substituída por Sam Levinson. Portanto, a produção passou por um grande “ajuste criativo”, descartando boa parte da visão original.

 

Antes mesmo da estreia, a revista Rolling Stone fez uma matéria sobre o que estaria se passando nos bastidores, onde expõem a modificação que a série sofreu. Segundo relatos dados à revista, Abel Tesfaye opinou que a versão de Seimetz teria uma “perspectiva feminina” demais. Assim, a série que abordaria o efeito da pressão do público e da indústria sobre uma mulher, passou a ser comandada por dois homens.

Tedros, personagem de Abel Tesfaye. Imagem: Eddy Chen/HBO

Na versão de Levinson, a personagem da Lily Rose-Depp é vista mais frequentemente com cigarro em mãos do que com roupas no corpo. Tedros, personagem de Tesfaye, rouba todas as cenas com seu visual caricato e performance inexperiente. Além disso, as características de qualquer personagem se mantém mutáveis de acordo com a conveniência à trama.

 

O roteiro tenta se provar mais esperto que o espectador, mas falha miseravelmente. As reviravoltas são tão frágeis quanto um castelo de cartas, mas a direção as têm como um momento de máxima inteligência.

 

Por fim, The Idol se apresenta como uma trajetória sem rumo, apenas uma pretensiosa cortina de fumaça para a hiperssexualização e banalização do abuso.

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