Alma doidivana: o vício do mochilão

Por: Vitória Trescastro

Se para alguns viajar significa descanso, para outros é sinônimo de aventura sem roteiros

Uma mochila, coragem e vontade de ter novas experiências: é isso que move, basicamente, um mochileiro. Diz-se que a cultura backpacker (termo para mochileiro em inglês) surgiu com a geração beat nos anos 50 e 60. Catalogada por muitos como uma das gerações mais loucas que já existiu, era formada essencialmente por escritores e artistas que não acreditavam em empregos normais, e preferiam vender sua arte de modo independente pelo mundo, viajando com poucos recursos e completamente livres. Um dos precursores da cultura mochileira mundial – e também ícone da cultura beat, mesmo que renegasse o estilo – é o americano Jack Kerouac, autor do bestseller “On the road”, que narra sua viagem com um amigo pelos Estados Unidos.

A independência para escolher os lugares a serem visitados e que normalmente estão fora da rota turística convencional, o tempo de permanência em cada local, os meios de locomoção durante a viagem, a hospedagem e qual roteiro será seguido são as principais características de um mochilão. Em fóruns, muitos contam que decidem o país ou países que querem visitar e, conforme vão passando pelas cidades, escolhem os próximos destinos – às vezes mudando completamente o rumo da viagem.

Eduardo Pacheco, nutricionista e adepto da prática, diz que viajar acaba virando um vício, e nos contou do primeiro mochilão que fez. No final de um intercâmbio, em 2012, resolveu colocar a mochila nas costas e desbravar a Europa. O resultado disso foi um mês de viagem e mais de 10 países conhecidos. “Quando eu estava morando em Portugal, eu conheci o Couchsurfing, uma filosofia de vida que todo mochileiro já praticou ou ao menos conhece.”

O Couchsurfing – traduzido literalmente como “surfar no sofá” – é, na sua forma mais básica, um site usado para hospedagem. Funciona da seguinte maneira: os usuários se cadastram gratuitamente na plataforma criando um perfil, e a partir daí alguns oferecem suas casas para alojar viajantes e outros procuram por esses alojamentos, tudo baseado em uma confiança mútua. Além da possibilidade de acomodações gratuitas, o Couchsurfing possibilita conhecer novos hábitos e novas culturas, afinal, ou você está dormindo em um sofá de um estranho de, provavelmente outro país, ou há um estranho de outro país dormindo em seu sofá. No próprio site explica o que o “Couchsurfing é uma comunidade global de 9 milhões de pessoas em mais de 120 mil cidades que compartilham de sua vida, seu mundo, sua jornada. Couchsurfing conecta viajantes com uma rede global de pessoas dispostas a compartilhar de maneira profunda e significativa, tornando a viagem uma experiência verdadeiramente social”.

Além de baixo custo e lugares incríveis, o mochilão pode trazer imprevistos e riscos. Segundo alguns guias online feitos por viajantes mais experientes, a falta de lugar para dormir é a principal dificuldade. “Sempre se tem imprevistos, ou melhor dizendo, mudança de planos. Como sempre se depende de alguma coisa, como por exemplo um teto amigo, uma carona ou uma simples informação turística, muitas vezes te passam uma informação incorreta, daí tem que caminhar o dobro para chegar no local desejado. Já aconteceu de não ter teto para dormir e ter que dormir em estação de trem, aeroporto, estação de ônibus”, conta Eduardo.

Mesmo que o investimento para esse tipo de viagem seja menor, já que não é feito por empresas de turismo, os iniciantes podem cair em algumas armadilhas econômicas, que além de pesar no bolso, podem pesar na mala. Os souvenirs (ou o abrasileirado “lembrancinhas”) são tentadores, mas Eduardo diz para tomar cuidado. “Eles ocupam espaço demais na mala, e muitas vezes dependemos de peso máximo para não pagar taxas extras (em viagens internacionais). Mas mesmo assim deve-se ter uma lembrança de cada local sempre. “O melhor é que com o Couchsurfing muitas vezes ganhamos lembranças, o que é melhor, daí (sic) não gastamos”, conta rindo.

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