A moda presente nos brechós em Pelotas

Nina Garimpa é um dos brechós que aposta na estética vintage. Foto: divulgação

Por Jéssica Lopes e Jessica Alves

Moda nada mais é que o comportamento de um dado momento histórico. Conforme a evolução do mundo, acompanhamos diversas mudanças no universo fashionista. No século XIX, devido ao período romântico, a moda queria reviver o estilo medieval (Elizabetano), as moças queriam ser verdadeiras ladies e os rapazes, cavaleiros. Seus vestidos podiam ter cores claras ou vibrantes, serem lisos ou estampados, a vestimenta masculina exigia roupas justas, calças afinadas no tornozelo, de cor clara durante o dia e escuras à noite.

Já no século XX tivemos muitas modificações do seu início ao fim, o mundo passava por um período de guerras e nisso sucedeu a emancipação feminina, os espartilhos e saias longas ficaram pra trás, uma nova era se iniciava. Na década de 80 e 90, quase virada de século, entramos numa fase versátil, inovadora, divertida e com um toque de sensualidade, também não era de se esperar menos não é mesmo?! O mundo estava entrando em um novo milênio e o que não poderia faltar era ousadia para o que estava por vir.

Hoje vivemos num tempo onde a forma de se expressar não se encontra apenas em padrões estabelecidos pelo mundo da moda e sim a diferença e o conforto que cada um tem dentro de si que é levado em consideração.

Por isso vamos falar dos brechós, aqueles que têm por finalidade selecionar peças em bom estado e tratá-las de forma única, valorizando a beleza do estilo dos anos 80 e 90, conservando as melhores fases que a moda já passou e levando o vintage a conhecimento das novas gerações.

A cidade de Pelotas é um bom lugar para se referir quando o assunto se diz Brechós, e nós, da equipe Em Pauta, fomos visitar alguns deles para descobrir um pouco mais sobre a cultura e a moda adotada por eles. O Nina Garimpa e Gato Mia foram dois brechós com lojas físicas na região que disponibilizaram um pouco do seu tempo para nos dizer o porquê de aderir à moda sustentável e o que as levaram a se inspirar nas décadas de 80 e 90.

O brechó Nina Garimpa é bem popular entre os compradores de Pelotas, ele inaugurou em 2015 como primeiro brechó com curadoria vintage e loja física. Seu propósito foi trazer para o extremo sul do Brasil a moda com estilo, economia, sustentabilidade e estilo de vida.

Aline e Gio, do Nina Garimpa. Foto: Doodaduda/divulgação

“Sempre amei roupas. Desde a infância na relação com as peças de família até esse trabalho. Fui descobrindo que a moda que me movia não era a das tendências que se modificam rapidamente, mas a do estilo de vida sustentável, dos achados, do reaproveitamento. Então como eu sempre me mantive sacoleira de final de semana, fazia um extra assim. Devido à filha do meu companheiro Gio Corrêa morar em Pelotas, a Nina, (nome dela e apelido meu) resolvemos vir para cá a ver crescer e iniciar juntos a loja física do Nina Garimpa”, contou Aline, uma das fundadoras do Nina.

“As roupas são garimpadas por eu, Aline, pelo Gio na região Sul e em viagens para outras regiões do Brasil, e pela minha mãe Marli na região do Vale do Paranhana, RS. Não compramos roupas de nossos clientes, de particular, apenas de instituições beneficentes, outros brechós ou lotes”.

O Nina cativa cada vez mais seus clientes, se diferenciando no mercado pela sua boa curadoria com peças vintage raras e modernas, seu projeto “arara grátis” de doação e/ou troca de peças, produtos autorais de marcas pequenas e consultoria de estilo gratuita sempre que solicitada.

Outro brechó bastante popular entre os consumidores vintage de Pelotas é o Brechó Gato Mia, que teve início há três anos com uma loja online e atualmente é um dos brechós com loja física mais popular de Pelotas.

“Minha filha gosta muito de se inspirar na moda vintage dos anos 80 e 90, como eu também gosto. No início éramos uma loja online, mas vimos que havia a necessidade de começar com uma loja física, então investimos na ideia. Quando começamos tínhamos apenas uma arara, agora olha como ficou…”, contou Marcia, 49 anos, fundadora do brechó.

O Gato Mia trabalha com peças estilo retrô, hoje muito procurado pelo público, e recebe suas roupas, muitas vezes novas, por venda ou doação, selecionando-as por época, e dando tratamento de reforma e customização quando necessário.

As doações para o brechó também podem ser feitas de forma beneficente voltada para a ONG dos 84 gatos, um projeto que resgata e cuida de gatos encontrados nas ruas de Pelotas. No inicio foram 100 gatos encontrados em uma casa na Rua Bento Gonçalves, que foram alimentados, cuidados e adotados. Hoje apenas 15 gatos se abrigam no local.

Espaço do Gato Mia Brechó. Foto: divulgação

Assim como as lojas físicas, online os brechós vem ganhando cada vez mais espaço e popularidade, inspirando várias pessoas a formarem seu próprio negócio. Esse é o caso da estudante Wemilly Soares, do curso de Antropologia com Linha de Formação em Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que começou este ano seu brechó online na plataforma Instagram.

“Faz uns três anos ou menos que conheci essa coisa do brechó, lá na minha cidade não existem muitos, mas essa função de ter roupa relativamente barata por lá me deixou com muita vontade de organizar algo virtual e tentar vender umas roupinhas legais por preço relativamente barato”, conta a estudante.

As roupas do brechó são do estilo retro, com peças que se usavam mais nos anos de 70 a 90. As peças vêm da cidade de Santa Vitória do Palmar – RS, onde são selecionadas e trazidas até Pelotas para venda.

“Por enquanto só trabalhamos com entrega pessoalmente, mas eu piro muito na ideia de montar algo físico no futuro”, disse Wemilly.

Na visão dos consumidores, as roupas retrô representam um estilo diferente e único. Tainara Godoy, 22, faz o curso de Engenharia Geológica na UFPel e compra com frequência nos brechós da cidade. Ela nos conta um pouco sobre o porquê da preferência:

“É uma forma sustentável de consumo. Muitas vezes o que seria colocado fora, ou guardado ganha uma ‘nova vida’. Além de sempre achar peças únicas e conservadas, também é legal pensar em toda história que aquela peça já vivenciou, e que ainda vai vivenciar”

De acordo com a jovem, os brechós oferecem para a população a conscientização de um consumo sustentável, não somente em relação às roupas, mas a um todo, desde a forma de pensar até a de agir.

É importante descontruirmos a ideia de que moda existe apenas nas passarelas e nas vitrines de luxo, os Brechós estão aqui para nos mostrar que tudo depende de ousadia, determinação e vontade de fazer acontecer. O seu objetivo é trazer a beleza do que foi tendência no passado de forma acessível a todos os públicos, e para os amantes dessas épocas, não deixem de dar uma conferida nesses brechós listados aqui.

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