A Forma da Água

Imagem: Divulgação

Por Graça Vignolo de Siqueira

Sinopse:

“Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, a muda Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).”

Parafraseando as primeiras palavras da música tema de A Forma da Água, da canção “You’ll Never Know”, me arrisco a dizer que “vocês jamais saberão”  como é esse filme sem vê-lo. Tive certa dúvida, afinal, o mexicano Guillermo Del Toro não é meu diretor preferido. Alguns vêm antes dele. Mas é um filme que concorre a 13 estatuetas do Oscar 2018, além de já ter conquistado mais de 10 prêmios até o momento.

Guillermo gosta de criaturas, de sombras, de fantasia. E por que não juntar todos esses detalhes em uma só trama? E se contasse ainda com Alexandre Desplat para a trilha sonora? Mais um acerto.

Elisa e Zelda são colegas de trabalho e têm uma rotina diária em um laboratório de uma base militar. Lá, em plena guerra fria, se procura uma maneira de vencer a Rússia na corrida do espaço. É nesse meio que é trancafiada uma criatura capturada nas águas de um país (?) da América do Sul. Tudo o que os militares e o governo querem saber é o segredo da sobrevivência no espaço. E através dessa criatura pretendem descobrir como ela sobrevive entre água e terra.

Elisa é muda, embora escute muito bem. Seu melhor amigo é Giles, um senhor que vive ao lado de seu apartamento, localizado em cima de um cinema. Quer localização melhor? Essa foi a maneira gentil de Del Toro homenagear a sétima arte. Pois, durante os 123 minutos de filme,  somos encantados com a trilha sonora maravilhosa e trechos de filmes antigos que soam nostálgicos.

A solidão de Elisa só é interrompida mais uma vez ao dia, quando chega ao trabalho e encontra Zelda, sua colega. Zelda entende sua gesticulação, seu olhar e é capaz de perceber o que sente Elisa. O Monstro da Lagoa Negra (1954) é a inspiração do diretor para essa fábula, em que se possibilita um romance entre seres de espécies distintas. E Del Toro foi genial.

A fotografia com tons escuros, amarronzados,  lembra muito os filmes antigos. A ambientação de época é deslumbrante. Parece que o tempo não passou. Tudo isso com a canção certa daquela época. Inclusive, temos o privilégio de ver e ouvir Carmen Miranda com seu “Chica Chica Boon Chic”.

E como toda fábula precisa de um vilão, o desta é o agente policial Strickland (Michael Shannon). Sádico e moralista, o agente tortura a criatura. E também sofre a pressão dos militares que querem respostas rápidas.

Quando Elisa encontra a criatura, ela também se encontra. E se joga nessa relação improvável, mas sonhadora. E se recusa a aceitar as decisões tomadas pelo governo. A solitária muda, já tem quem lhe entende e quem lhe aceite. E dessa companhia ela não abrirá mão. Então planeja uma fuga.

Mais será spoiler. Mas me arrisco a dizer que é um dos melhores filmes do diretor. Sally Hawkins está incrível. Sem mais palavras, apenas incrível. Ela foi a única cogitada, por Guillermo, para o papel.

Michael Shannon tem a cara do mal, própria para o personagem. E vai muito além disso.  Octavia Spencer, mais uma vez, se sobressai no filme. E até Doug Jones, a criatura, merece aplausos. Doug demorava três horas para a caracterização do personagem. Mas apesar de ser muito, também revelou que já demorou mais horas para se vestir para outros personagens de filmes do diretor, com quem já trabalhou quatro vezes.

Guillhermo Del Toro reúne os efeitos necessários e toda a magia do cinema, para nos presentear com essa obra. Ele e sua equipe, devem sim, receber muitas estatuetas no próximo dia 4 de março.

Nota 10

Confira o trailer:

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