Pelotas

O nome, no singular, provém de uma canoa de couro, largamente utilizada no Brasil, desde o período colonial, para a travessia de pequenos rios. O pintor Jean Baptiste Debret, que a reproduziu em mais de uma aquarela, assim descreve a pelota na sua Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1835): “É um couro de boi dobrado na sua largura e cosido nas duas extremidades de maneira a formar um saco mais largo do que fundo, cuja abertura é mantida colocando-se solidamente dois pedaços de pau transversalmente, sete polegadas abaixo do bordo; o saco adquire assim, embora de um modo imperfeito, a forma alargada do bote na sua parte superior, podendo flutuar sem dificuldade; a parte mergulhada dentro d’água, gradualmente afinada até a dobra que serve de quilha, mantém naturalmente o equilíbrio. Basta, portanto, ao viajante sentar-se a cavalo na sua bagagem, de modo a que os pés abertos se apoiem no fundo, servindo a um tempo de carga e de lastro dessa pequena embarcação improvisada”. Em seguida, descreve o seu mais recente aperfeiçoamento (“consiste ele em guarnecer a abertura com duas ripas muito flexíveis e cujo afastamento é mantido por uma larga travessa de madeira em forma de rabo de andorinha; essa mesma travessa serve muitas vezes de barco para os que desejam manter-se a cavalo em vez de sentar simplesmente no fundo do bote”) e adverte que “todas essas embarcações, mais ou menos submersíveis, são rebocadas por um nadador”. Não se sabe a partir de quando, mas é certo que em 1758 já era chamado de Pelotas o arroio, tributário do canal de São Gonçalo, em cujas margens se estabeleceu, em 1780, a primeira charqueada. Naquele ano, o documento que outorgava a mais antiga sesmaria do município ao coronel Tomás Luís Osorio menciona “o rio Pelotas” como um dos limites dessa propriedade. A partir de 1780, a indústria saladeiril disseminou-se, preferentemente, sobre as margens do arroio, e “costa do Pelotas” passou a designar, genericamente, a movimentada região. Em 1835, quando a então Vila de São Francisco de Paula adquiriu o título de cidade, os deputados da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul preferiram este nome ao de Pelotapes, Calópolis, Próspera Cidade ou mesmo São Francisco de Paula, justificando-o como homenagem “ao fato histórico que aglomerara com a rapidez do raio a gente e a riqueza da localidade”. Pode-se concluir, pois, que a denominação provém do reconhecimento formal à importância, econômica e histórica, da região onde se estabeleceram não só as principais charqueadas como a maioria delas — região alguns quilômetros distante do centro da cidade.

(Bibliografia.─ Osorio, Fernando. A Cidade de Pelotas, 1º volume. Pelotas: Editora Armazém Literário, 3ª edição, 1998. Magalhães, Mario Osorio. Pelotas: toda a prosa, 1º volume (1809-1871). Pelotas: Editora Armazém Literário, 2000. Magalhães, Mario. “O nome da cidade”. In História aos domingos. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 2003.) Dicionário de História de Pelotas – Mario Osorio Magalhães