Na tarde e noite de sexta, 26 de outubro, o IV EIFI abriu espaço para tratar de um tema bastante caro às preocupações e estudos de Beatriz Loner. Com professores da UFSC, UFPR, UNISINOS e UFJF, pesquisas relacionadas a afrodescendentes na região sul do Brasil e ao país no pós-abolição proporcionaram um excelente debate e encerraram o Encontro em alto nível.
Na mesa “Afrodescendentes na Região Sul”, coube a Profa. Joseli Mendonça (UFPR) abordar o tema a partir do projeto “Afrodescendentes na Região Sul – biografias, trajetórias associativas e familiares”, o qual trata-se de um esforço conjunto entre a UFPR, UFSC e a UFPel, no qual a Profa. Beatriz, como lembrado por Joseli, teve e tem importante papel, desde a concepção até o empréstimo de sua produção como embasamento teórico.
Joseli abordou a trajetória da família Freitas Brito, na Curitiba do final do século XIX e início do século XX. A partir do patriarca, buscou mostrar estratégias sociais e econômicas no período pós-abolição, adotadas por afrodescendentes. Na pesquisa em curso foi possível verificar alguns aspectos da vida no pós 1888, para a população afrodescendente, tais como a organização associativa, a adoção da profissão do antigo senhor, a constituição e fortalecimento de laços familiares e a busca pelo letramento.
A segunda fala da tarde, sob a responsabilidade da Profa. Luana Teixeira (UFSC), fez a discussão a partir de associações afrodescendentes na região sul. Ao estudar o “Centro Cívico e Recreativo José Boiteux/Cruz e Souza“, Luana mostra características peculiares do mesmo, como uma forte aproximação com o governo estadual, de Hercílio Luz, bem como aspectos comuns a várias organizações congêneres do Sul do país, tais como, uma grande preocupação com a educação de seus sócios.
A partir de seu trabalho na constituição de um Dicionário das Associações Afrodescendentes na Região Sul, Luana identifica que das 244 associações encontradas, 221 estão no Rio Grande do Sul e, em Pelotas, mais de 40 delas, conforme demonstrado pelos estudos de Beatriz Loner.
Encerrando os trabalhos da tarde, o Prof. Paulo Moreira (UNISINOS), apresentou sua pesquisa “Agência & devoção: a irmandade (afro)católica do Rosário e São benedito (Cachoeira do Sul, RS, séc. XIX)“, abordando temas tais como educação religiosa prestada pela irmandade, socorro espiritual, assistência médica, entre outros.
Paulo ressaltou ainda o caráter construtor de identidade desempenhado pela irmandade, utilizando-se de um conceito de afro-catolicismo, defendeu que a atuação da mesma proporcionava dar “cor à crença”. Outro destaque positivo da pesquisa, lembrado por Paulo, é o fato de que uma significativa parte da documentação da irmandade, constituída no último quarto do século XIX, encontra-se disponível para estudo.
A noite, na conferência de encerramento, a Profa. Hebe Mattos (Universidade Federal de Juiz de Fora) tratou de temas relativos a necessidade de termos uma justiça reparatória para as populações afrodescendentes no Brasil. A partir da pesquisa “Passados sensíveis: escravidão, política e tempo presente na história do Brasil“, Hebe discutiu a existência de um racismo institucional no país.
Outro aspecto abordado diz respeito a uma ética do silêncio no que toca ao tráfico negreiro e a escravidão, adotada pela sociedade brasileira. Tendo como exemplo o Cais do Valongo e a Fazenda do Bracuhy, no Rio de Janeiro, a autora falou sobre lugares de quarentena e morte, sobre o “esquecimento” no que tange ao tráfico negreiro pós 1831, o verdadeiro espetáculo de horror, visto no Valongo, no que refere-se ao comércio de “pretos novos”, a escravidão como banalização do mal na sociedade brasileira, entre outros assuntos. Por fim, defendeu a tese de que há uma dívida histórica do estado brasileiro para com os povos afrodescendentes no Brasil.