Com Diana e Thatcher, The Crown tem quarta temporada

Por Milena Schivittez

Drama biográfico retorna com ar mais crítico e politizado no streaming

Não há como negar que desde o início do reinado de Elizabeth II, em 1953, a monarquia britânica virou um espetáculo televisivo. São décadas e décadas acompanhando a família real através das câmeras em seus casamentos luxuosos e divórcios, em nascimentos e funerais, mas nunca de forma crua e realista. 

“The Crown”, a série mais cara da Netflix, chegou neste mesmo formato, acompanhando o início da trajetória da rainha da Inglaterra, expondo alguns escândalos, mas ainda tímida ao fazer críticas aos membros da realeza. Ao longo das primeiras três temporadas, a série de Peter Morgan vai crescendo, mas não o suficiente para “cutucar a ferida”. Até agora.

A tão aguardada quarta temporada estreou dia 15 de novembro e com duas importantes adições à história, Lady Diana Spencer, interpretada por Emma Corrin e Margaret Thatcher, interpretada por Gillian Anderson. A temporada também será a última de Olivia Colman no papel de Rainha Elizabeth, Helena Bonham Carter como Princesa Margaret e Tobias Menzies como Príncipe Philip.

Agora ambientada nos anos 80, a nova fase começou focando no fato de haver, pela primeira vez na história da Inglaterra, uma chefe de Estado e uma chefe de governo, ambas mulheres, dando uma falsa ideia de que haveria uma romantização do thatcherismo e da relação entre a rainha e a primeira-ministra. Porém, logo na primeira reunião semanal entre a soberana e a governante, Thatcher afirma que não acredita que mulheres são aptas a exercer cargos importantes. 

                    A atriz Emma Corrin está no papel de Diana, a princesa de Gales                   Foto: Reprodução/Netflix

Essa é só a primeira das diversas falas preconceituosas e sem fundamento que Margaret profere ao longo dos 10 episódios. Inclusive, a própria representação da Gillian Anderson já nos apresenta um desconforto, com trejeitos e entonações caricatas que já causam estranheza a imagem de Thatcher. Durante a temporada, Morgan não se intimidou em mostrar que a primeira-ministra foi responsável por aumentar os índices de desemprego, apoiar o apartheid e governar a favor de seus interesses pessoais e de membros de sua família.

Contudo, Thatcher não foi a única a receber críticas nesta temporada. A mesquinharia, soberba e até mesmo crueldade dos membros principais da família real foram abertamente mostradas, com destaque para o segundo, sétimo e nono episódios.

Lady Di
Um dos maiores acertos da temporada foi a Lady Diana interpretada por Emma Corrin. A interpretação de Corrin, junto com a construção de personagem de Morgan, fizeram questão de humanizar ainda maia figura de Diana Spencer, que já era adorada tanto na Inglaterra quanto fora. Foram abordados seu transtorno alimentar, a forma como era tratada dentro da família, a infelicidade no casamento, a infidelidade de Charles e a própria infidelidade, a solidão, a maternidade e o carinho que recebia das pessoas como seu conforto e refúgio. A performance de Corrin chegou a ser elogiada pelo biógrafo de Lady Di.

               Gillian Anderson encarna Margaret Thatcher: proeminência política                   Foto: Reprodução/Netflix

O mesmo aconteceu com a Princesa Margaret que, desde a primeira aparição, tem sido mostrada como a principal prejudicada por todas as ações feitas em nome da Coroa. Helena Bonham Carter, repetindo o feito da temporada anterior, rouba a cena em episódio dedicado a falar dos quadros depressivos que a irmã da rainha enfrentava.

Olivia Colman, em seu último ano como Elizabeth II, até então tinha apresentado uma nova faceta à rainha, a do conformismo. Até a segunda temporada, a Rainha Elizabeth era representada como uma soberana que tentava, mesmo que na maior parte das vezes sem sucesso, equilibrar os interesses da Coroa com os pessoais e de sua família. Desde a mudança de fase, vemos uma rainha que cansou de dialogar por causas perdidas. E esta faceta continuou por alguns episódios, até chegar o momento do “embate” entre Elizabeth e Thatcher, no qual há um resgate dessa antiga característica da monarca. Colman também conseguiu encerrar sua passagem por “The Crown” de forma excepcional.

O ponto mais baixo desta temporada acabou sendo o pouco aproveitamento de Tobias Menzies, que também encerrou sua passagem pela série. Houve pouquíssimas cenas com uma presença relevante do Príncipe Philip, o que acabou reduzindo o personagem de Menzies à meia dúzia de comentários irônicos distribuídos em 10 episódios e não contribuindo para o desenvolvimento do personagem para as próximas duas temporadas. Jonathan Pryce, que irá assumir o papel na temporada seguinte, não terá muito no que se basear para construir o seu Duque de Edimburgo.

A quarta temporada de “The Crown” é, sem dúvidas, a melhor até então. Ela trouxe justamente o que faltava, uma posição menos favorável e uma interpretação mais críticas dos fatos abordados, mesmo daqueles que foram dramatizados para fazerem jus à narrativa. É uma temporada que não teve medo de mexer em situações desconfortáveis para as pessoas reais por trás dos personagens que ela representa, nem medo de apontar para situações que até hoje reverberam. São os primeiros passos para tornar essa série, que já caminha para o fim, na mais grandiosa entre as produções de streaming.

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Editora Figura de Linguagem lança livro de professora camaquense

Por Valesca Silva de Deus

A obra de Roberta Flores Pedroso resulta de quatro anos em pesquisas

A Editora Figura de Linguagem lançou no dia 12 de outubro a obra “Pão, texto & água: retrato da literatura quando negra” escrita pela professora camaquense Roberta Flores Pedroso. Em entrevista ao programa “Esquina Democrática”, da rádio Acústica FM, a autora detalhou o processo de desenvolvimento da obra.

Conforme Roberta, este trabalho de crítica literária trata-se do resultado de uma pesquisa acadêmica de quatro anos, voltado para professores. Reconstitui a história do início da educação negra no Brasil, a partir da metade do século XX. De acordo com a professora, a expressão “pão, texto e água” é uma metáfora sobre a literatura escondida desde os séculos XVIII, XIX e XX. “Falo do tempo em que havia somente pão e água, no conceito da ausência de informações, interessados e poucos leitores”, lamenta.

Segundo Pedroso, a editora independente de Rio Grande Figura de Linguagem existe desde 2017. Foi criada com a proposta diferenciada de publicar textos e obras de homens e mulheres negras do Estado, País e fora do Brasil. “Está entre as quatro maiores editoras qualificadas do país”, destaca. A empresa possui como proprietário o professor e também escritor negro, Luís Mauricio Azevedo.

Roberta Pedroso contou detalhes sobre seu livro em entrevista radiofônica (Foto: Valesca Silva de Deus)

O nome de Roberta Flores Pedroso está em destaque no site, junto de personalidades como os gaúchos Ronald Augusto, de Rio Grande, e Luís Augusto Fischer, de Novo Hamburgo, aliás duas das suas principais referências na literatura. 

Além da obra recém lançada, a professora é autora dos comentários realizado no livro “Úrsula”, da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, em edição de 2018. Hoje a obra é considerada uma leitura obrigatória para os vestibulares. A única versão no País com comentário, escrito por Roberta, é o da editora porto-alegrense Leitura XXI.

Assista a entrevista para a rádio no Youtube.

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Lei Aldir Blanc auxilia produtores culturais em Canguçu

Jéssica Griep Timm

Governo federal garante repasses em meio à pandemia do Coronavírus

Criada em 2020, a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc estabelece ações de assistência ao setor de cultura durante o decreto de estado de calamidade pública da União em meio a pandemia do Coronavírus, visando garantir uma renda emergencial para estes trabalhadores.

As ações contemplam os produtores culturais, espaços artísticos, micro e pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações comunitárias que precisaram interromper as suas atividades devido às medidas restritivas para o controle do vírus Covid-19.

A lei aprovada pelo governo federal em junho de 2020 estabelece a entrega de 3 bilhões de reais para estados, Distrito Federal e municípios para aplicação em ações no setor cultural.

A legislação recebeu o nome de Aldir Blanc em homenagem ao escritor e compositor que morreu em maio deste ano, devido a complicações do Coronavírus.

Quanto aos regramentos, a lei prevê que as prefeituras ficam responsáveis pela regulamentação em seus municípios. Além disso, também fica a cargo destas o recebimento e distribuição do benefício para os indivíduos aprovados.

O valor a ser pago pelo governo estadual equivale a três parcelas no valor de 600 reais durante três meses para os agentes culturais e, se a beneficiária for mulher provedora de família, o valor fica em 1.200 reais. Já o subsídio para os espaços culturais ficou definido com o valor de 3 a 10 mil reais mensais, em um parcelamento definido pelo município. 

Os interessados em fazer parte do processo precisam estar enquadrados nos requisitos exigidos pelo edital. Além disso, é necessário preencher os formulários de cadastro estadual e municipal e solicitar a homologação do seu cadastro. Após homologado, será realizada uma verificação da existência e funcionamento do cadastrado para posteriormente realizar a emissão do certificado de validação.

No município de Canguçu, todos os produtores culturais que apresentaram a documentação exigida foram beneficiados. Conforme explica o coordenador do Departamento de Cultura do Município, Rudinei Domingues. 

“Todos aqueles que apresentaram toda a documentação exigida foram contemplados. No entanto, é necessária uma prestação de contas após 120 dias do recebimento do recurso, bem como, a formulação de uma contrapartida após o período de pandemia com projetos gratuitos nas escolas municipais, conforme prevê o inciso II”, completa. 

O professor de danças, Guilherme Ellwangue, que é um dos beneficiários do projeto, relata a importância de atenção ao setor cultural, uma vez que essa área profissional foi uma das principais prejudicadas pela pandemia.

“Este foi um ano difícil para quem trabalha com cultura. Essa lei é uma forma de sobreviver em meio a pandemia. Nós somos produtores de cultura, fico feliz com esse olhar para essa área”, destaca.

Guilherme também relata como foi o processo de inscrição e aprovação ao auxílio emergencial cultural. “O município de Canguçu foi um dos primeiros a realizar os cadastros de inscrição, já o recebimento da verba demorou um pouco mais para sair. Mas agora já estamos com esse valor, que é muito importante para os trabalhadores de cultura”, complementa. 

Ao total, 128 produtores culturais e espaços artísticos do município de Canguçu foram contemplados pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. O valor total liberado pelo Governo é de 406 mil reais.

Lei de emergência cultural recebeu nome do escritor e compositor Aldir Blanc

Todas as informações sobre a regulamentação e os beneficiários estão disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Canguçu. Acesse aqui. 

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Uma pergunta: “O que é Loucura?”

Por Carolina Amorim

Livro lançado em 1982 sintetiza várias indagações sobre o tema

O livro “O que é loucura?”, de João Augusto Frayze Pereira, foi publicado pela primeira vez em 1982 pela editora Brasiliense e é formado por indagações e pesquisas de um dos principais autores do campo, Michel Foucault e sua obra “História da Loucura”. No entanto, Frayze-Pereira deixa nítido que muitos são
os autores consultados entre os poucos citados para a elaboração do livro. 

Dividida em cinco capítulos, Frayze-Pereira inicia sua obra com o subtítulo “Uma Questão Problemática”, em que aborda o tema loucura como uma maneira de despertar a reflexão, e deixa claro a sua intenção: dar margem ao leitor repensar seus próprios pontos de vista. Com isso, seu plano é questionar o vínculo tradicionalmente estabelecido como necessário entre loucura e  patologia e compreender, ainda que em  linhas muito gerais, como se torna possível a loucura no mundo moderno.

Em seguida, o autor refere-se à “Doença Mental ou Desvio Social”, trazendo a fórmula de Carl Wernicke: “as doenças mentais são doenças cerebrais”. Com isso, ele comenta sobre a doença mental ser algo orgânico e não imposto para um indivíduo, qual seja sua forma, comentando ainda sobre os sintomas e os especialistas de cada área. Com o decorrer das ideias, há explicações sobre a interligação do delírio e alucinações, além de psicoses, mudanças de humor e o desvio social de cada pessoa julgada pela doença. Sinaliza a colocação  da antropóloga americana Ruth Benedict que, na década de 30, pontua sobre a sensação de pertencimento a um determinado grupo e o desvio social como uma fuga.

No terceiro capítulo, intitulado de “Uma Lição Etnológica”, há exemplos de como a cultura de um determinado povo pode causar confusões sobre o que de fato é a loucura. Por exemplo, Frayze-Pereira cita um tipo de crise de uma região na Malásia chamada “amok”. Um homem poderia sair do estado calmo e entrar em uma situação de fúria, assassinando a todos que estivessem em seu percurso. Essa atitude era considerada como uma forma de possessão demoníaca, mas integrada aos valores próprios daquela cultura. 

O livro aborda que as variações de crenças em cada região podem ser também confundidas como doenças mentais. De alguma forma, conforme o autor, o corpo humano acaba se tornando o “veículo do sagrado”. Há diversas explicações do sobrenatural que desconhecidos no assunto podem ligar à doença mental. No entanto, o autor ressalta que essas diferenças são possíveis devido à diversidade dos povos e de suas religiões. Em seguida, em “A Determinação Histórica Da Loucura”, é citado Michel Foucault e sua obra, definindo a loucura em termos de “doença” como uma operação relativamente recente na história da civilização ocidental. O texto “História da Loucura”, segundo Frayze-Pereira, fundamenta essa afirmação, revelando as verdadeiras dimensões daquilo que se acredita ser uma realidade incontestável, isto é, a loucura tratada na medicina e não uma “aberração”. Ao longo das páginas desse livro a loucura ganha o sentido de “fato de civilização”, mostrando que em determinado momento histórico que a “doença mental” passa a existir como máscara da loucura. 

O último capitulo é baseado em indicações para leituras, uma vez que Frayze-Pereira utiliza como base para seu livro. Em suma, a obra é composta por uma linguagem compreensível aos graduandos e é baseada em histórias interessantes não só para alunos de psicologia, mas também de outras áreas como medicina, história e antropologia, já que cita culturas e suas diversidades no mundo. O livro é indicado para alunos que querem uma base de como é a história de doenças mentais e suas interpretações de acordo com cada cultura.

João Augusto Frayze-Pereira. (Foto: Guili Minkovicius)

Sobre o autor:
João Augusto Frayze-Pereira possui um histórico acadêmico ampliado, chegando a professor Livre Docente (USP) e Psicanalista (SBPSP). Além disso, ele possui experiência de pesquisa no campo interdisciplinar Arte-Estética-Psicanálise, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes. É autor de livros e artigos sobre, principalmente, temas relacionados aos seguintes campos: Corpo, Arte e Dor; Estética e Clínica Psicanalítica; Fenomenologia da obra de arte, Psicanálise e Estética da Recepção.

 

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Celine Sciamma traz amor lésbico para o cinema

Por Ana Rodrigues

Filme “Retrato de uma jovem em chamas” capta as delicadezas de um relacionamento

Depois do filme de 2013 “Azul é a cor mais quente”, é de se ter receio ao ver mais um título francês com o objetivo de retratar mulheres que amam mulheres. A produção citada, que traz uma relação lésbica de forma sexualizada, falha em mostrar as delicadezas de uma jovem descobrindo o seu interesse por outra mulher. Entretanto, em “Retrato de uma jovem em chamas” a diretora Céline Sciamma nos surpreende de forma muito positiva ao captar essas delicadezas, que, mesmo de forma meio clichê, constroem no cinema o que entendemos como paixão. 

O longa estreou em Cannes em 2019. Conta a história da jovem pintora Marianne (Noémie Merlant), encarregada da tarefa de pintar um retrato de Heloise (Adèle Haenel) para seu casamento, sem que a moça saiba. Ao longo dos dias, Marianne que se disfarça de dama de companhia, passa a observar cada vez mais e a conhecer a sua modelo e suas angústias. Isoladas em uma ilha da França do século 18, as duas se aproximam e criam uma intimidade cada vez maior. 

Heloise (Adèle Haenel) e Marianne (Noémie Merlant) aproximam-se aos poucos

O filme de Sciamma nos traz com muita delicadeza e talento o surgimento de uma relação íntima entre mulheres. Para o espectador mais atento, é possível saber exatamente o momento em que o sentimento de paixão surge e isso é um grande mérito da diretora, que se dedica à temática LGBTQ+ no cinema.

Outro ponto de destaque do filme é a fotografia, pensada pela diretora de fotografia Claire Mathon. Cada cena do filme é como se fosse uma pintura. Segundo a artista em entrevista, isso envolveu muito pensar a iluminação conforme os desafios de gravar em um sítio histórico da França. Cada cena do filme pode ser considerada uma metáfora de amor e arte, que “por acaso” são os temas principais do longa. Certamente servem para nos inspirar e buscar o trabalho de mulheres que trazem temas que nos são
tão invisíveis na cinematografia convencional.

Cenas do filme homenageiam pinturas dos séculos passados

Retrato de uma jovem em chamas pode ser um filme um pouco maçante para quem não está acostumado com o estilo de filme que concorre em Cannes. Entretanto é uma belíssima introdução para quem quer buscar temáticas fora da heteronormatividade e, principalmente, pontos de vista femininos sobre o amor entre duas mulheres.

O filme está disponível no serviço de streaming Telecine.

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Dama Etílica: rock de qualidade com sotaque pelotense

Por Paulo Lopes Marques

Banda de rock formada em Pelotas apresenta composições autorais

Pelotas é uma cidade que se destaca no cenário da cultura musical. Talvez, os maiores exponenciais de sucesso e que levam o nome da cidade pelo País afora sejam os irmãos Kleiton e Kledir. No cenário do rock, algumas bandas, em anos passados, também tiveram destaque além dos limites geográficos da Princesa do Sul, como foi o caso das bandas Procurado Vulgo e Doidivanas, que servem de inspiração para a Dama Etílica. É comum a formação de grupos que se motivam a tocar rock nos diversos bares, pubs e casas de shows espalhados pela cidade. O repertório quase sempre é recheado de covers de bandas nacionais e internacionais, mas poucas se atrevem a investir em um conteúdo próprio, com composições e melodias autorais. Pois é justamente nesse vácuo que desperta a banda pelotense Dama Etílica, com sua identidade própria, versatilidade e muito talento musical. Outra característica da banda é o engajamento em causas sociais e a participação em eventos solidários.

A Dama Etílica surge no final do ano de 2015, derivando de um trabalho entre Júnior Noble e Alexandre Vianna, que já vinham tocando em bares, no estilo voz e violão. Daí, vem a vontade de formar uma banda para tocar exclusivamente rock gaúcho e músicas autorais. Assim, a formação inicial teve Alexandre Vianna, na guitarra, Bruno Oliveira, na bateria, Rubem Aloy, no contrabaixo e Júnior Noble, no violão e vocal. Das primeiras apresentações, regadas de rock gaúcho, a banda atualmente toca de tudo um pouco do rock nacional, mas nunca deixa de lado o sotaque gaúcho e pelotense.

Além dos covers de outros grupos, a Dama Etílica é uma banda que se caracteriza pelas composições autorais. O grupo já lançou dois EP’s, o “Infinito Sul”, em 2018, e o “Cidades”, em 2020. Entre os destaques dos trabalhos autorais estão as músicas “Vira o Mate”, “Roubo da Lua”, “Entardecer no Laranjal” e “Porto Alegre-se”, esta última fazendo parte, inclusive, da playlist de rádios da capital gaúcha.

O EP “Cidades” foi lançado neste ano

Desde a primeira subida ao palco até os dias de hoje, a formação do grupo foi alterada algumas vezes e, atualmente, conta com Lee Camargo (bateria), Elton Pizarro (contrabaixo) Beto Brito (acordeon), além dos integrantes fundadores Alexandre Vianna (guitarra) e Júnior Noble (violão e vocal), que concedeu uma entrevista para o site Arte no Sul.

Arte no Sul – Quais foram as influências musicais da banda?
Júnior Noble – As influências são as mais diversas, começando essencialmente pelo rock gaúcho e bandas como TNT, Nenhum de Nós e Engenheiros do Hawaii. Mas a influência musical se estende mais um pouco, indo de Mano Lima aos Beatles. Ouvimos de tudo e adoramos mesclar Kleiton e Kledir com Ultramen, por exemplo. Fazemos, também, algumas versões de músicas nativistas para o pop rock. A diversidade e identidade da banda é muito forte.

Arte no Sul – A banda recentemente gravou algumas músicas próprias. Como foi a produção deste material?
Júnior Noble – Um grande sucesso que gravamos é o single “Vira o Mate”, que teve também a produção de um vídeo clipe. Este trabalho foi realizado totalmente em forma virtual e está com mais de 40 mil visualizações. Está sendo muito gratificante o reconhecimento do trabalho. Esperamos obter ainda mais inscritos em nosso canal, para que tenhamos uma maior divulgação entre o público.

Arte no Sul – Como é a luta pela conquista de lugar no meio artístico (shows, espaço em rádios e recepção do público)?
Júnior Noble – O grande desafio é a conquista de espaço no meio artístico, pois quando ele vem, o público conhece, acaba gostando, curtindo e apoiando. É preciso abrir as portas para o rock e todos os estilos de rock, pois alguns lugares de eventos se agarram a um estilo e só tocam esse estilo. Daí, acontece que as bandas tocam sempre a mesma coisa e não existe uma diversidade. A Dama Etílica vem abrindo espaço à marretada, mandando músicas autorais para as rádios e insistindo em tocar em vários lugares. Somos chatos e caras de pau mesmo, mas o trabalho tem agradado a gregos e troianos.

Banda conta com Lee Camargo (bateria), Elton Pizarro (contrabaixo), Beto Brito (acordeon), Alexandre Vianna (guitarra) e Júnior Noble (violão e vocal)

Arte no Sul – Como vocês enxergam hoje o cenário do rock gaúcho e nacional?
Júnior Noble – Nunca se produziu tanto e com tanta qualidade. Tanto aqui no Estado, como no Brasil todo. O grande problema é que esses trabalhos estão longe da grande mídia e centrados em pequenos nichos de artistas ou de grupos que se identificam com amigos. Os cenários estão espalhados e não possuem ligação entre si, o que contribui para o aparecimento e sucesso de outros estilos musicais que se organizam mais facilmente, como o sertanejo universitário e o pagode. O grande desafio é fazer com que os grupos de rock se encontrem e se comuniquem para obter uma maior divulgação.

Arte no Sul – Como foi e ainda está sendo esse momento de pandemia e a paralisação das atividades?
Júnior Noble – O mais interessante é que 2020 foi o ano que mais lançamos trabalhos autorais. Além de termos muito material, a necessidade nos impôs em produzir material para que não fossemos esquecidos, já que os shows estavam suspensos. Como estávamos sempre tocando em bares e festivais, tínhamos pouco tempo para produzir material autoral. Com a parada das atividades culturais, conseguimos produzir e lançar. Então, gravamos muito, sempre respeitando as normas de distanciamento.

Arte no Sul – Como a banda está projetando o futuro do seu trabalho?
Júnior Noble – Neste momento, acabamos de gravar três músicas inéditas, “Miloncolia”, “Fria Madrugada” e “Flores no Jardim”. Elas deverão ser lançadas em dezembro deste ano, em comemoração aos cinco anos da banda. O futuro é de produção de clipes para os trabalhos já gravados e o tão sonhado CD com músicas inéditas, dos projetos “Calles del Sur” e “Cantando a Costa Doce”. Os planos são sempre produzir, produzir e produzir…

Vale a pena conhecer um pouco mais do trabalho da banda Dama Etílica, acessando as suas mídias sociais: 
> Spotify
> Youtube
> Facebook 

 

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Festival Varilux chega a Pelotas na reabertura dos cinemas

Por Danieli Schiavon

A programação conta com 19 filmes franceses dos mais diversos gêneros

O Festival Varilux de Cinema Francês chegou à sua 11ª edição em 2020, mas o  evento, que ocorre tradicionalmente durante o mês de junho, teve sua programação adiada devido à pandemia do novo coronavírus que manteve os cinemas fechados em todo o Brasil. Com a reabertura das sessões, o Festival acontece do dia 19 de novembro a 2 de dezembro, em 44 cidades brasileiras, nas quais os cinemas estão em funcionamento. As salas de exibição que ainda continuam fechadas terão a oportunidade de programarem a seleção dos filmes até o fim de fevereiro. 

Em maio, uma parceria entre a Embaixada da França no Brasil, a Essilor/Varilux e a Produtora Bonfilm possibilitou um festival remoto, o ˜Festival Varilux em Casa”, por meio da plataforma Looke, com 50 filmes franceses, dos gêneros de comédia, drama, aventura, romance e infantil, que ficaram disponíveis de forma gratuita durante quatro meses para os apreciadores da sétima arte francesa. De acordo com os organizadores, foi “uma iniciativa solidária para amenizar os dias de quarentena” por meio da cultura.

Com a retomada gradual das atividades culturais no país, o Festival foi remarcado e vai exibir as mais recentes produções cinematográficas francesas, para despertar no brasileiro a curiosidade sobre as criações desses longas-metragens. 

Para os curadores do projeto e diretores do evento, Emmanuelle e Christian Boudier, não existe sensação que substitua a experiência de ir ao cinema, com imagem e som de qualidade. “O Festival Varilux pode muito bem vir a ser o grande campeão de bilheteria deste fim de ano”, garantiram em nota.

Diferente das edições anteriores, o Festival deste ano não vai contar com os debates com atores e diretores, nem laboratórios de redação de roteiros e sessões educativas, que são parte especial da programação do evento. Os curadores acreditam, no entanto, que o cerne do festival não será afetado.

Os longa-metragens em cartaz foram selecionados desde o Festival de Berlim, e com a reabertura dos cinemas, muitos filmes recém-lançados também entraram na programação. Confira a lista:

● A Boa Esposa – 2019 (Martin Provost)
● A Famosa Invasão dos Ursos na Sicília – 2019 (Lorenzo Mattotti)
● A Garota da Pulseira – 2020 (Stéphane Demoustier)
● Apagar o Histórico – 2020 (Gustave Kervern, Benoît Delépine)
● Belle Epoque – 2019 (Nicolas Bedos)
● DNA – 2020 (Maïwenn)
● Donas da Bola – 2020 (Mohamed Hamidi)
● Gagarine – 2020 (Fanny Liatard, Jérémy Trouilh)
● Mais que Especiais – 2019 (Eric Toledano, Olivier Nakache)
● Meu Primo – 2019 (Jan Kounen)
● Minhas Férias com Patrick – 2020 (Caroline Vignal)
● Notre Dame – 2019 (Valérie Donzelli)
● O Capital no Século XXI – 2020 (Justin Pemberton, Thomas Piketty)
● O Sal das Lágrimas – 2020 (Philippe Garrel)
● Persona Non Grata – 2019 (Roschdy Zem)
● Salom – 2020 (Charlène Favier)
● Sou Francês e Preto – 2020 (Jean-Pascal Zadi, John Wax)
● Verão de 85 – 2020 (François Ozon)
● Acossado – 1960 (Jean-Luc Godard [o clássico em reapresentação do festival]

Em Pelotas, todos os 19 títulos estão, de forma alternada, em exibição no Cineflix do Shopping Pelotas (Avenida Ferreira Viana, 1526). A programação pode ser consultada diretamente no site e os ingressos custam R$9,00 de segunda a sexta-feira e R$18,00 nos fins de semana. A lotação das salas do cinema está reduzida a um terço da capacidade normal e todas as orientações sanitárias de prevenção ao coronavírus estão sendo observadas. 

Cartaz de divulgação no Shopping Pelotas

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Filme nigeriano aborda assédio na universidade

Por Danieli Schiavon

Produção aparece entre mais assistidas da plataforma de streaming Netflix

O assédio moral e sexual no ambiente acadêmico é o tema abordado pelo lançamento da Netflix, que estreou na plataforma no começo de novembro. O longa-metragem nigeriano “A Lição de Moremi” (Citation) é baseado em fatos reais, e foi inspirado no documentário da BBC Africa Eye, Sex for Grades. 

A produção da BBC reporta a história de jornalistas que se matricularam em universidades na Nigéria e em Gana e flagraram casos de assédio sexual por palestrantes e professores das instituições. O documentário pode ser assistido na íntegra no Youtube da BBC News Africa.

“A Lição de Moremi” ilustra, com personagens fictícios, a história de Moremi Oluwa (Temi Otedola), uma pós-graduanda que passa a sofrer assédio de seu professor e orientador de mestrado, Lucien N’Dyare (Jimmy Jean-Louis). O docente começa suas investidas ao conquistar a amizade de Moremi, e, aos poucos, passa a atitudes mais agressivas, que chegaram ao ponto de uma tentativa de estupro. Após o último incidente, Moremi decide levar o tema à reitoria da universidade. O problema é que a acusação não é levada a sério no campus, e muitos se voltam contra Moremi, devido à influência do professor, que é admirado e respeitado internacionalmente pelo seu trabalho.

Protagonista de “A Lição de Moremi” rompe o silêncio sobre o assédio                      Foto: Divulgação

O filme se passa, em grande parte, no tribunal criado pelo comitê da universidade, e flashbacks dos momentos contados por ambas as partes são trazidos aos espectadores. A direção do filme deixa claro o papel de vilão do professor, pois todas as cenas protagonizadas entre N’Dyare e Moremi mostram os avanços inapropriados por parte do docente. Mesmo não havendo dúvidas para quem assiste o filme, o comitê da universidade levanta muitos questionamentos sobre a veracidade do caso, e a tensão sobre o veredito permanece até os minutos finais do filme.

A montagem do filme peca pela falta de organização. Diálogos longos e cenas que não contribuem para a história principal tornam o filme de duas horas e 30 minutos um tanto cansativo, mas a história dramática e séria acaba prendendo a atenção para a decisão sobre a acusação de Moremi. Outro ponto alto do filme é a representatividade cultural da Nigéria. O figurino é bem colorido e as estampas estão presentes nas vestes de todos os personagens. Os cenários da Nigéria, Gana e Cabo Verde são bem explorados e situam o espectador quanto à ambientação do filme. 

No geral, vale a pena assistir ao longa, que toca num tema tão sensível e presente dentro das universidades em todo o mundo. A Netflix vem apostando em produções estrangeiras foras do padrão hollywoodiano. Esses trabalhos se destacam entre as opções disponíveis no catálogo.

Grande parte do filme se passa no tribunal criado pelo comitê da universidade     Foto: Divulgação

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Excelente filme. Sem ressalvas. Também mostra outro lado da Nigéria. Com pessoas estudando, universidades organizadas etc.

Fátima

Excelente filme. Muito bom entrar em contato com outros signos culturais e outra estética e forma de direção. Fora ouvir diversas línguas diferentes em um mesmo filme e, principalmente, a ótima história e atuação dos atores.

Laufer

Filme impecável, apaixonante, não só pelo tema abordado. Garantindo ao espectador uma voraz torcida pela inocência da protagonista.
O colorido do figurino impecável dos personagens, vindo a mostrar-nos um ângulo de glamour e cultura deste povo tão eloquente!
Prendendo do início ao fim , na torcida veemente a favor, é claro, desta estudante que com louvor numa façanha sagaz lutou pelos seus direitos!

Ana Luiza Machado

O filme de excelente qualidade, o cenário, bem como as vestimentas, mostrando a beleza e a cultura nigeriana, além de ressaltar a qualidade do ensino no ensino superior daquele país. O assunto abordado no filme mostrou um final feliz, onde a justiça foi feita frente ao abuso de poder por parte do professor. Super recomendo, nada a criticar, somente elogios para esse longa que me prendeu do começo ao fim. Assistam, não vão se arrepender!

Maria Aparecida Scarlate Rodrigues

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Batalha de Beats movimenta cenário rio-grandino

Por Ana Rodrigues e Juan Tasso

Lucas Borges de Souza (Luke) cria novas ideias na cultura hip-hop

Em tempos de pandemia, todo mundo teve que se adaptar a uma realidade em que a convivência social foi drasticamente limitada. Diversos setores essenciais à nossa vida foram afetados, como comércio, educação e saúde. O setor cultural também foi amplamente impactado, com museus sendo fechados, exposições canceladas e shows adiados para datas indefinidas.

A arte, que desde sempre melhora a realidade humana, nos leva a outros lugares mentalmente, mas as limitações físicas de hoje nos obrigaram a mudar a nossa forma de consumo. Para a indústria da música, esse impacto foi um pouco diferente. Há anos somos acostumados com os serviços de streaming, em que escolhemos os artistas e temos à disposição toda a discografia deles. Buscando um meio alternativo, o produtor musical Lucas Borges de Souza, 25 anos e natural de Rio Grande, levou a outro patamar a forma de consumo de música durante a pandemia. 

Ainda em setembro, o produtor, que também é conhecido como Luke, publicou no Twitter a ideia de ser streamer de beatmaking. Luke já publicava memes famosos em outras redes sociais, como no TikTok, com o seu beat de trilha sonora. Diversos memes revistos pelo produtor viralizaram nas redes. Luke também já fazia transmissões de sets como DJ ao vivo via Twitch, uma das maiores plataformas de streaming atualmente, desde o início da pandemia. Na época, o produtor disse sentir falta das sessões de estúdio e que decidiu entrar no ramo de streaming depois de pegar inspiração do produtor norte-americano Kenny Beats, que também faz transmissões ao vivo.

 

Luke decidiu entrar no ramo de streaming em setembro

Já com a decisão de virar streamer de beatmaking surgiu também a ideia de gerar outro tipo de entretenimento em suas lives. A iniciativa de uma batalha online de produção de beats surgiu pensando no ambiente de rap, que já é competitivo: “Eu acho que o ambiente do rap já é competitivo por natureza, então as batalhas sempre fizeram parte da cultura hip-hop. Com as streams crescendo nessa época de pandemia, a gente tem a atenção cada vez mais voltada pro virtual, e aí eu acho que é muito divertido gerar o entretenimento fazendo uma competição assim, ao mesmo tempo que ajuda o pessoal que assiste a live a conhecer novos produtores e ver a diversidade de identidades musicais que existem espalhadas pelo Brasil.” 

A ideia da “Batalha de Beats” saiu do papel na terceira semana de outubro, quando a primeira fase da batalha de beats começou numa quinta-feira (22). Quarenta competidores participaram, contando com mais de 200 beats enviados. Luke contou com a ajuda de uma banca avaliadora, composta por produtores de um coletivo que o produtor faz parte, o 80 Hertz.

Produtor musical Lucas Borges de Souza (Luke) renovou modo de consumir música

A escolha da banca de quais beats classificam nas rodadas “é um meio termo entre o aspecto técnico e gosto pessoal, considerando que arte é subjetiva”, disse Luke sobre o processo de avaliação. O produtor ainda quer fazer mais edições da batalha: “Pretendo fazer disso um evento bimestral ou trimestral, sempre com alguma variação da anterior.”

O resultado final da primeira edição da “Batalha de Beats” veio sete dias depois, na terceira stream da competição. O vencedor foi o artista Arthur, de 15 anos, também conhecido como Artwo. Arthur produz beats a 2 anos, mas é familiarizado com a produção de conteúdo para a internet desde 2013. Artwo tem uma página no SoundClound com mais de 630 seguidores onde publica seus beats.

O artista considera a Batalha de Beats importantíssima para a comunidade, já que os produtores de beats nunca pertenceram à cena mainstream. As streams trazem uma valorização e exposição dos artistas que muitas vezes são desvalorizados pelo cenário da produção musical, além de fortalecer os laços entre os próprios beatmakers.

“Agora a gente tá conseguindo se levantar e mostrar para as pessoas que a pessoa que fez o beat existe, não é um cara anônimo. Hoje em dia você entra no Spotify, e a maioria das músicas, se você clicar em créditos, ele não vai mostrar o cara que produziu”

Artwo disse ter se sentido honrado por participar da Batalha, e que a boa visibilidade de Luke na comunidade ajuda a expor novos beatmakers através das batalhas de beats. “Poucas pessoas me deram a exposição que ele está me dando agora”, contou.

A “Batalha de Beats” é uma iniciativa importante que ajuda produtores musicais locais e artistas novos que estão entrando no ramo a terem mais visibilidade, mas também levanta pautas importantes no meio. A atriz Lorena Zanneti, que participou do evento como apresentadora, relatou o desconforto que foi ter sido a única mulher a participar do primeiro dia:

“No primeiro momento achei desafiador, porque não tinha conversado com o pessoal da banca sem ser o Luke. Fiquei muito nervosa, mas os guris foram sensacionais. No primeiro dia que aconteceu algo meio chato: um cara aleatório no chat fez um comentário sexual sobre a minha voz. O cara não soube lidar com a voz de uma guria, tá ligado? Fiquei mais desconfortável do que já estava, mas os guris mostraram zero tolerância para esse tipo de atitude no chat e o Luke baniu o cara na hora e também apagou a mensagem dele.” 

Lorena diz ter reparado na presença quase completamente masculina e levantou a pauta de mulheres no beatmaking:  

“Durante a batalha fiquei com muita vontade de conhecer mulheres beatmakers e inclusive fiz um post no Twitter pedindo pro pessoal marcar quem conheciam, além de ter feito minha pesquisa e conversado com meus amigos. A ideia era também fazer uma roda de conversa só com mina da produção musical. Nisso, conversei com o Luke e ele super topou. Pude conhecer e entrar em contato com mulheres maravilhosas que em meio a uma cena predominantemente masculina continuam fazendo o que amam e afirmando o seu lugar nela.” 

A atriz organizou a roda de conversa “Minas na Prod”, em que mulheres da área de produção musical tiveram a oportunidade de discutir as suas vivências no meio. Quanto à oportunidade de participar da batalha, Lorena conta: “Gostei muito de participar como apresentadora da Batalha e conhecer mais gente do meio. Ouvir o pessoal me possibilitou saber mais sobre o universo da produção, desde o processo de criação ao momento que esse produto é recebido pelo ouvinte. Viver de arte no Brasil não é fácil, mas com cada um apoiando o outro, à sua maneira, as coisas ficam mais suportáveis.”

Competição divulga novos produções e diversidade musical no Brasil

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Entre o fotojornalismo e a arte das imagens

Por Júlia Müller

Conheça o fotógrafo pelotense Jô Folha

É engraçado pensar que, muitas vezes, iniciamos uma oportunidade vislumbrando os fins, em cada resultado chegaria, sem pensar nas mudanças proporcionadas pelo acaso. O fotógrafo Jô Folha é um dos exemplos das guinadas que a vida dá.

Em 2006, Folha cursava Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e trabalhava como motorista no jornal Diário Popular – um dos maiores veículos de comunicação localizados na região sul do Rio Grande do Sul. Nos dois anos seguintes, os planos começaram a mudar: “Comecei a fotografar e me interessar mais pela área do fotojornalismo. Acabei trocando a graduação de Publicidade para Jornalismo”, lembra.

O contato diário com os fotógrafos do jornal, ainda dentro do carro e bem distante da redação e da rotina de pautas, começou a lhe despertar o interesse pelo ramo. “Se não fosse esse contato com o Carlinhos, Rossi e Moiza não teria seguido o fotojornalismo. Aprendi olhando eles trabalharem, vendo-os nas pautas, como se posicionavam, qual lente usavam, qual ângulo, a luz que escolhiam”.

Folha acredita que o fotojornalismo tem poder para causar mudanças. (Foto: Jô Folha)

O trio Carlos Queiroz, Paulo Rossi e Moizés Vasconcellos compuseram a equipe de fotografia do jornal durante anos. Por um tempo, Folha trabalhou como freelancer de fotografia da antiga filial do Diário Popular sediada em Rio Grande, experiência que evoluiu para o emprego fixo de fotógrafo em 2010. “Aprendi muito [com o trio] sobre a ética profissional e a importância do fotojornalismo para a sociedade, o valor que a fotografia tem como um instrumento de crítica social e o poder que ela tem para causar mudanças. Eles são minha referência na área”, ressalta.

Para ele, o fotojornalista tem um papel fundamental na democracia e na defesa dos direitos da população. “Precisamos dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade”, acredita. Em 2018, Folha foi um dos vencedores do 34° Prêmio de Direitos Humanos da OAB do RS, na categoria de fotojornalismo, marco especial nessa trajetória. 

Olhar sensível é peça chave no trabalho como fotojornalista. (Foto: Jô Folha)

Por conta de toda relevância do trabalho do fotógrafo para a cidade e seu olhar sensível para os aspectos urbanos e históricos de Pelotas, o projeto Arte no Sul escolheu algumas de suas fotografias para compor a identidade visual do site. 

Confira na íntegra o bate-papo com o fotógrafo Jô Folha:

JM: O que tu mais gostas e menos gostas de fotografar?
JF: Eu gosto de fotografar, não tem uma área específica que se sobressaia mais, mas tenho um trabalho com fotografias preto e branco mais artísticas em paralelo ao jornal que curto bastante desenvolver. As pautas que envolvem morte são sempre complicadas e tristes de fotografar, acho que é a única parte do jornalismo em que nunca fico confortável. 

Em paralelo ao trabalho no Diário Popular, Jô Folha possui um projeto de fotografias artísticas em preto e branco. (Foto: Jô Folha)

JM: Quais foram os momentos mais marcantes que o jornalismo te proporcionou?
JF: As pautas marcam de várias formas, têm as negativas que ficam com pesar na memória, como um acidente na BR-116 que uma família inteira, pai, mãe e duas crianças perderam a vida. Outras marcam pela importância social e histórica, como os protestos políticos de 2016, o movimento “Ele Não” ou as eleições em 2018. Há também as histórias de superação, como a de uma senhora analfabeta que perdeu a voz devido a um câncer aos 70 e poucos anos e, para conseguir continuar a se comunicar, aprendeu a escrever. Ela estava sempre acompanhada de um caderninho e caneta. A solidariedade da sociedade também é sempre marcante, lembro da enchente de 2015, quando voluntários e doações chegavam na paróquia do Laranjal para contribuir com as mais de 400 famílias que perderam seus lares.

JM: Em 2018, tu foste vencedor do 34º Prêmio Direitos Humanos da OAB, na categoria de fotojornalismo. Como esse tipo de reconhecimento engrandece no teu trabalho? Esse olhar preciso e delicado que pautas sensíveis envolvem não é para qualquer um. O que é preciso fazer para conseguir trabalhar esses temas na fotografia?
JF: O reconhecimento no prêmio Direitos Humanos de Jornalismo foi extremamente importante porque é um prêmio que valoriza os direitos sociais da população, ter um trabalho reconhecido nele é algo especial. Acredito que primeiro o fotojornalista precisa entender seu papel social em defender os direitos da população, dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade, utilizar sua história e conhecimento para conseguir contextualizar imagens que transmitam a realidade de forma que instiguem uma reação no receptor, na população, seja tristeza, revolta ou felicidade, mas passar uma emoção em quem está vendo a imagem é essencial.  

Folha é dono de um olhar atento aos aspectos urbanos e históricos de Pelotas. (Foto: Jô Folha)

JM: No último ano, nasceu o Martin e tu te tornaste pai. Essa mudança na tua vida pessoal influenciou o teu trabalho de alguma forma?
JF: Depois que virei pai conheci um mundo novo, um leque de novas experiências, valores e emoções. Como fotojornalista sempre penso em como melhor ajudar a sociedade, agora como pai sinto que esse desejo se fortaleceu e me deu um novo olhar para retratar a realidade e, atualmente, coloco essas novas características nas minhas fotografias na esperança que elas instiguem o melhor na população – naquela velha esperança de todo o pai de deixar um mundo melhor para seu filho.

 

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