Festquilombola celebra a contribuição negra

Por Jéssica Griep Timm     

Evento alusivo a cultura afro-brasileira é realizado em Canguçu

O município de Canguçu possui uma grande diversidade étnica cultural em sua formação. Até os dias de hoje, é possível observar uma forte presença de traços da imigração alemã, italiana, japonesa e africana em seu território. Por essa razão, ao longo dos anos, vêm sendo promovidos eventos para apresentar e valorizar essas culturas, como exemplo, o FestQuilombola.

O Festival da Cultura Quilombola é realizado desde 2014, instituído pela Secretaria Municipal de Educação e Esportes, em uma iniciativa da secretária de Educação da época, a historiadora e ativista do movimento negro, Ledeci Lessa Coutinho. Ela lembra que a ideia do festival surgiu perante a observação da falta de representação negra em eventos escolares no município.

“Não havia um movimento cultural educacional referente à questão da cultura negra em Canguçu. Ocorria o Festival da Cultura Alemã e Pomerana, também a Ciena, que fazia referência à questão do nativismo e havia até abordagens da cultura japonesa, mas nada que fizesse referência à presença e à contribuição dos negros na história e desenvolvimento de Canguçu. E, daí, surgiu a ideia do Festival da Cultura Quilombola, o FestQuilombola”.

O objetivo, conforme Ledeci, é prestar reconhecimento e dar visibilidade à história do povo negro.

“Quando tem um evento da cultura pomerana, por exemplo, as crianças que têm essa origem podem se enxergar na cultura, na indumentária, nos pratos típicos, nas suas danças. E as crianças negras, até então, não tinham esse momento de se reencontrarem com as tradições de seu povo. O FestQuilombola chega para preencher essa lacuna”, declara.

     Discurso de Ledeci Coutinho na segunda edição do FestQuilombola              Foto: Carina Reis

Em sua primeira edição, em 2014, o evento proporcionou às escolas municipais o conhecimento da cultura afrodescendente, através de oficinas de contação de histórias, danças e capoeira. Dimensionou a importância da contribuição do povo negro para a história canguçuense, riograndense e brasileira. Já no ano seguinte, foi realizada a 1ª Mostra Municipal do FestQuilombola, aberta ao público e com apresentações musicais, artísticas e artesanais da cultura negra.

Com grande participação da população, o festival vem mantendo a sua realização de forma anual, na seguinte dinâmica: em um ano de forma interna nas escolas e entidades quilombolas e no outro a realização da Mostra no Ginásio Municipal de Esportes. 

A primeira edição do FestQuilombola  foi um marco para Canguçu           Foto: Carina Reis

As comunidades quilombolas também participam ativamente na formação e preparação das atividades realizadas nas escolas, como protagonistas na construção do conhecimento, momento em que o município cumpre a implementação da lei 10.639/2003, que determina a obrigatoriedade da implementação da história e cultura afro-brasileira em seu currículo escolar.

Para Maica Soares, coordenadora do Núcleo de Etnias, Mulheres, Juventude e Melhor Idade da Prefeitura de Canguçu e integrante de comunidade quilombola, a realização do festival é observada como uma grande conquista.

“Eu falo como quilombola, este evento é um marco histórico nas comunidades de Canguçu. É um evento fundamental para nós mostrarmos as mais variadas formas de contribuição do negro para o Brasil. É uma data para refletir, valorizar e resgatar nossa cultura, que é omitida pela história”.

Além do festival, o município também realiza a Festa da Consciência Negra, na qual acontece em diferentes comunidades, que, atualmente, já somam 16 certificadas pela Fundação Cultural Palmares e espalhadas pelos cinco distritos do município.

As escolas têm participado com apresentações de dança no Festival                     Foto: Carina Reis

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Zombie Johnson soma milhares de visualizações  

Por Fernando da Silva   

Conheça um dos maiores talentos da cena do trap estadual

Zombie afirma força do rap sulista     Foto: Fernando da Silva

O MC pelotense Zombie Johnson soma quase mil ouvintes mensais no Spotify, principal plataforma de streaming da atualidade. No seu canal no YouTube são 73.929 visualizações. Em feats, nome dado às parcerias entre dois rappers,tem música com mais de 500 mil visualizações.

Zombie é o nome artístico de Vitor Barcelos. Ele transita com facilidade entre o Rap e o subgênero Trap e é conhecido por ser um dos mais versáteis da cena.

Em 2010, morador do bairro pelotense Dunas, começou cantando em cultos na igreja e teve o seu primeiro contato com o rap. E, de lá pra cá, nunca mais abandonou o microfone. Já no ano de 2013, fez parte do seu primeiro selo musical.

Hoje, aos 26 anos, Vitor Barcelos projeta mais, ele quer o topo do trap nacional e das plataformas de streaming. Para isso, Zombie estudou muito sobre o cenário musical: “Nós vamos correr, colocar mais planejamento, que é algo que eu não tinha antes, mais investimento, estudar mais mercado diariamente pra nos colocarmos no topo das paradas, assim como os artistas do nordeste, sudeste e nem digo em alcançar, digo em superar eles.”

E, para isso, buscou parceria com a produtora de videoclipes Satolep Dirty Films. O artista promete alcançar o que há de mais novo quando o assunto é a estética de clipes, com uma edição mais suja, termo usado para vídeos, com bastante efeitos visuais. Quer chocar não apenas a cena local, mas todo o cenário nacional.   “Parece afrontoso falar isso daqui do sul do sul do Brasil, só que nós temos muito mais força pra chegar do que a galera imagina. E estamos correndo e trabalhando para isso.”

Confira um dos trabalhos do artista neste link.

Clipe “2020” está disponível no Youtube           Foto: Reprodução Youtube

 

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Festividades gaúchas voltam aos poucos ao presencial

Por Vitória de Góes    

Semana Farroupilha motiva retorno gradual das atividades nas entidades tradicionalistas

Desde o dia 12 de março de 2020, quando o governo recomendou o cancelamento de eventos devido à pandemia de Covid-19, o Movimento Tradicionalista Gaúcho passou a adiar e cancelar encontros como rodeios, congressos e concursos. Agora, pouco mais de um ano depois, os Centros de Tradições Gaúchas estão retornando com algumas atividades culturais de forma presencial, aproveitando as comemorações da Semana Farroupilha.

A 26ª Região Tradicionalista, composta pelos municípios de Pelotas, Capão do Leão, Turuçu, Arroio Grande e Morro Redondo, realizou seus eventos culturais de forma on-line durante esse período de pandemia. Segundo a 1ª Prenda Regional da gestão 2019/2021, Leticia Conter, apesar de os encontros presenciais fazerem falta, não foi difícil adaptar-se ao virtual. Desde o início, as entidades passaram a organizar lives e ações voluntárias, sempre mantendo os cuidados em relação à pandemia. Quanto à expectativa desse retorno presencial, Letícia explica:  “Aos poucos nós estamos retornando. Um exemplo é a distribuição da Chama Crioula, que vai acontecer de forma presencial mas com várias restrições. Então, acredito que gradativamente vamos voltando a ter as solenidades, com algumas medidas, já que os eventos tradicionalistas envolvem pessoas de todo o Estado”.

Prendas e Peões 26ªRT gestão 2019/2021    Foto: Reprodução/Facebook

As festividades da Semana Farroupilha costumam reunir um número significativo de pessoas, principalmente durante os famosos desfiles de 20 de Setembro. Por isso, neste ano, novamente a região optou por não realizar esse encontro na data, o que deverá acontecer é uma carreata com representantes das entidades tradicionalistas. “Esse momento de pandemia também foi uma prova de que a gente não necessita estar dentro do galpão, da entidade, para sermos tradicionalistas e agirmos como tal. Foi uma prova de valores, de amor ao próximo e de respeito, além de uma grande abertura para a juventude que se mobilizou mais”, reforçou Letícia.

Os representantes de duas entidades tradicionalistas de Pelotas, a União Gaúcha João Simões Lopes Neto e o CTG Sinuelo do Sul, falam de como foi passar por esse momento em que as portas dos galpões ficaram fechadas. Também, de como está sendo esse retorno gradual às atividades presenciais.

União Gaúcha J. Simões Lopes Neto

Arte no Sul Como foi o processo de fechar as portas da entidade e ter que dar uma pausa nos eventos culturais e campeiros, mas, ao mesmo tempo, manter os associados envolvidos?

Romualdo Cunha Júnior, Patrão da União Gaúcha (UG)

“Desde 17 de março de 2020, a pandemia interrompeu nossas atividades e conseguinte nos vimos diante um dos maiores desafios do setor cultural de todos os tempos. Na União Gaúcha não foi diferente. Com a interrupção das atividades houve uma baixa em sessenta por cento da arrecadação do associado que deixou de frequentar a entidade através das invernadas artísticas e do público que frequentava nossos eventos que complementavam nossa receita. Por algum tempo, conseguimos manter o associado envolvido com programações e encontros on-line, mas aos poucos o pessoal foi se afastando e o interesse também foi decaindo. O único departamento que permaneceu ativo, mesmo com limitações, foi o campeiro, que continuou frequentando a entidade para o trato diário dos equinos de sua responsabilidade. O futuro ainda é incerto, teremos que fazer um trabalho individual para atrair os associados antigos e nos desdobrar para buscar novos, mesmo sem saber como está o poder aquisitivo das pessoas pós pandemia.”

Arte no Sul – A União anunciou o retorno de algumas atividades como os ensaios das invernadas, como irá funcionar?

Cunha Júnior – “Sim. Desde a segunda quinzena de agosto iniciamos as tratativas com os coordenadores das invernadas da entidade a fim de estimularmos o retorno das aulas de dança, respeitando os protocolos sanitários e os decretos municipal e estadual. Há exemplo de uma tentativa de retorno em fevereiro deste ano, a tentativa de agora foi muito mais positiva, visto que a vacinação avançou e, em fevereiro, não tivemos muita adesão de retorno. A ideia é recomeçar devagar e aproveitar o que resta do ano. No primeiro momento as invernadas Xirú e Adulta já realizaram seus primeiros encontros e a invernada Mirim recomeçará nos próximos dias. A única invernada que ainda não tem data definida é a Juvenil, pois ainda estamos organizando e recrutando os dançarinos. Os ensaios serão, na verdade, aulas de dança. Respeitando o distanciamento, aferindo a temperatura na chegada aos ensaios, uso de máscara, mantendo o local arejado e orientando sempre para proporcionar aulas com segurança.”

Arte no Sul – Quais serão as ações e eventos durante a Semana Farroupilha e como vocês irão realizar de forma que seja seguro para todos?

Cunha Júnior – “As ações que promoveremos dependem ainda do que o decreto municipal permitir. Até o momento estamos ainda na fase de elaboração. Nossa ideia é realizar o acendimento da chama, promover jantares com limitação de público, a tradicional missa crioula e centralizar nossa chama na parte externa do parque, o que nos dará mais segurança ao ar livre. Não faremos nenhum tipo de baile e nossa ideia para o aniversário da entidade é investir nos artistas da casa, estimulando-os a realizarem apresentações no nosso palco, como por exemplo, declamação, intérprete solista, instrumental e talvez algum casal executando danças tradicionais.”

CTG Sinuelo do Sul

Arte no Sul Quais foram as ações da entidade durante 2020 e agora no primeiro semestre de 2021?

Paulo Bastos Jr., diretor do Departamento Jovem do MTG e integrante do CTG Sinuelo do Sul

“A gente teve uma reunião com a patronagem para pensar como adaptar as atividades. Tentamos trazer em questão principalmente não deixar de realizar as atividades, para manter o pessoal ativo, mesmo que de forma on-line. Através de lives, ações sociais e eventos on-line, a gente tentou reforçar a importância da participação do CTG mesmo em tempos pandêmicos.”

Arte no Sul Qual a sua expectativa quanto ao retorno dos eventos presenciais?

Bastos Jr. – A gente sabe que, com a questão da vacina, algumas coisas já começaram a  ser liberadas, mas como o nosso CTG fica dentro de uma escola, que é o Pelotense, e ela não retornou às atividades presenciais, então não temos uma previsão de retorno presencial da entidade também. Mas estamos com a expectativa de que no ano de 2022 nós consigamos retornar.”

 Arte no Sul Quais estão sendo os preparativos da sua entidade para a Semana Farroupilha?

 Vera Lúcia Xavier, Patroa do CTG

“A nossa entidade está se preparando para buscar a Chama Crioula no dia 16 de setembro, em Porto Alegre. Teremos uma apresentação artística em um palco que será montado no Shopping Pelotas e ainda no dia 20 de setembro uma amostra com os trabalhos desenvolvidos pelo CTG, também em um espaço do Shopping. Por conta da pandemia, muitas atividades que desenvolveríamos não poderão ser feitas. Neste momento, tudo ainda será muito restrito.”

Retorno dos concursos culturais

Ainda no feriado da Independência, as Regiões Tradicionalistas realizaram a 51ª Ciranda Cultural de Prendas e o 33º Entrevero Cultural de Peões, definindo os representantes regionais. Confira os vencedores da 26ª Região Tradicionalista:

Daniela Silva Martinez – 1ª Prenda
Rebeca Dias – 1ª Prenda Juvenil
Alice Bergmann – 2ª Prenda Juvenil
Eduarda da Silva – 3ª Prenda Juvenil
Guilherme Henrique Pons – 1º Guri Farroupilha
Juan Vinicius Sichmann – 2 Guri Farroupilha
Rafaela Damasceno – 1ª Prenda Mirim
Mikaela Erben – 2ª Prenda Mirim
João Pedro Vencato – Piá Farroupilha

Imagem: Reprodução Facebook

 

Na sexta-feira, dia 10 de setembro, o MTG anunciou os vencedores da 50ª Ciranda de Prendas Estadual e o 32º Entrevero Cultural de Peões, que irão representar a juventude tradicionalista no período de 2021/2022. Confira aqui a publicação oficial com os nomes e regiões dos vencedores.

Chama Crioula é gerada

Na manhã de quinta-feira, dia 16 de setembro, foi gerada a Chama Crioula Farroupilha da 26ªRT, no município de Capão do Leão. O evento contou com a presença do prefeito Vilmar  Schmitt e da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, além de autoridades tradicionalistas. A Centelha se deslocará para Pelotas, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre. O objetivo é visitar a cidade-mãe, Pelotas, e em seguida todos os municípios que dela se emanciparam.

Solenidade ocorreu dia 16 de setembro      Foto: Reprodução/Prefeitura de Capão do Leão

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“Os artistas estão com sede de palco”

Por Sabrina Borges e William Engel        

Coordenador do teatro de Camaquã João Bolesta e secretário Clayton Dworzecki falam sobre a história do Cine Teatro Coliseu e o tempo difícil da pandemia

O Cine Teatro Coliseu é um dos pontos turísticos de Camaquã. Desde 1987 o teatro já foi palco de diversos eventos, mas desde o dia 11 de março de 2020 parou de receber eventos com público.

No ano de 2019, o teatro recebeu 403 atividades, entre shows, formaturas, sessões da Câmara de Vereadores, palestras, seminários, formaturas, peças teatrais e musicais variados. No ano de 2020, foram apenas três eventos realizados e os demais foram adiados devido à pandemia.

O coordenador do Cine Teatro Coliseu, João Bolesta, falou um pouco mais sobre a história do teatro e o efeito Covid-19 na abertura do espaço. Bolesta contou que o prédio foi construído em 1914, onde funcionou o antigo Cinema Coliseu.

Artista e coordenador do Cine Teatro Coliseu, João Bolesta

Com a morte do proprietário do prédio, a Prefeitura de Camaquã adquiriu o espaço no dia 22 de outubro de 1987. O local foi restaurado e reinaugurado como Cine Teatro Coliseu.

Desde então, o espaço sempre recebeu eventos com público e ver o Coliseu de portas fechadas impactou toda a comunidade camaquense. Bolesta lembrou que os ingressos já tinham sido vendidos quando o espaço precisou ser fechado e um show foi cancelado.

O Cine Teatro Coliseu foi palco de 403 eventos no ano de 2019             Foto: Divulgação/Igor Garcia

O coordenador precisou fazer plantões para atender as pessoas que haviam adquirido ingresso para o evento. Além disso, a manutenção do teatro seguiu neste período, então Bolesta precisava ir frequentemente abrir o prédio para um colaborador fazer a limpeza.

                                    O Cine Teatro Coliseu está há um ano e meio sem receber espetáculos                                             Foto: Divulgação/Prefeitura de Camaquã

João Bolesta  lembrou dos dias em que o local estava “abarrotado” de pessoas, da movimentação e das risadas que sempre eram tiradas da plateia. A tristeza de organizar um espaço que segue sem receber público é ampliada quando ele observa com um olhar de artista que é.

“Por eu ser ator, me coloco no lugar dos profissionais da área da cultura. Não existe cantor, ator sem plateia”, afirmou o coordenador da instituição. “O teatro do mundo parou. Os artistas estão sofrendo mais diante dessa pandemia”, ressaltou o ator, escritor, roteirista e diretor de peças de teatro.

O teatro tem capacidade para 200 pessoas               Foto: Divulgação/Igor Garcia

“Eu me coloco no lugar dos demais artistas, eles foram os mais atingidos”, comentou. O coordenador acredita que em breve as atividades culturais serão retomadas e que, aos poucos, todos vão poder estar de volta aos palcos, emocionando e alegrando as pessoas.

“Os artistas estão com sede de palco, eles vivem de plateia, de espetáculo, eles vivem de show”, comentou sobre o desejo dos atores e músicos em relação à retomada dos eventos.

O secretário do Desenvolvimento, Inovação, Cultura e Turismo, Clayton Dworzecki, relembrou a história do teatro no município. Ele comentou que foi muito triste assumir a Secretaria e receber a casa em um momento delicado como o que vivemos.

 

                Secretário do Desenvolvimento, Inovação, Cultura e Turismo, Clayton Dworzecki                             Foto: Divulgação/ Igor Garcia

“Esperamos que assim que possível a gente possa retomar as atividades no teatro”, afirmou o secretário. Dworzecki informou que, assim que as atividades forem retomadas, ele irão tentar priorizar os shows musicais e teatrais para valorizar os artistas de Camaquã.

“A classe artística foi a mais afetada nesse período da pandemia. A única classe para a qual não foi possível essa retomada gradativa da economia, foi do setor cultural”, afirmou o secretário.

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Laranjal, de verão a verão

Por Ronaldo Luis    

Vida cultural, atrações artísticas nas praias do Balneário e a crise na pandemia

As quatro praias do Balneário do Laranjal estão localizadas a partir de 12 quilômetros de distância do centro de Pelotas. A Colônia de Pesca Z3 é a mais distante, a 29 quilômetros; a praia do Barro Duro, 15 quilômetros, praia do Santo Antônio, 12 quilômetros, e a praia do Valverde, 11.5 quilômetros, onde se localiza o Trapiche, reconhecidamente como a maior atração do Laranjal e atualmente fechado em reforma estrutural. O maior acesso de cidadãos pelotenses e turistas ao Laranjal é durante os finais de semana, momentos em que a praia do Santo Antônio fica lotada pela população em busca de diversão, independente da estação do ano.

            Mesmo no inverno, as praias do Laranjal oferecem alternativas de lazer                      Fotos: Ronaldo Luis

As empresas na área da alimentação das praias do Laranjal atualmente mantêm a cultura musical dentro da segurança protocolar sanitária exigida. Os cuidados continuam enquanto perdurar a pandemia, mesmo com o início da vacinação e a proximidade o fim deste surto. Percorrendo o Balneário, há vários locais que representam um espaço importante para os cidadãos da cidade em busca de entretenimento com suas famílias. 

O calçadão está preparado com bebedouros de água e banheiros químicos em seus dois quilômetros de extensão para caminhadas ao ar livre. Durante o inverno, a estação mais fria do ano, o cidadão praiano mantém rotinas características de inverno, procurando locais fechados que servem os famosos chocolates quentes com cobertura de merengue, devido ao clima frio e chuvoso.

O Calçadão oferece uma excelente alternativa para caminhadas

A moradora do Valverde, Neusa Machado, gosta do silêncio das noites do Laranjal, quando pode então escutar o bater das ondas da Lagoa dos Patos na areia da praia. Mas, especialmente para quem é de fora, além da própria natureza, somam-se as atrações dos bares, restaurantes e promoções artísticas.

Tradicionalmente os estabelecimentos comerciais do Laranjal mantêm eventos culturais disponíveis ao público que é fiel, especialmente no verão. Mas, de acordo com Luiz Eduardo Couto, morador no Balneário Santo Antônio, pouquíssimas atividades culturais são realizadas ao ar livre durante épocas de extremo frio, o que piorou com a pandemia, ainda assolando a região. A própria estrutura física das praias e seus prédios ficaram comprometidos pela depredação natural da maresia e por se encontrarem fechados durante a pandemia.

Luiz comentou que as barreiras sanitárias determinaram a obrigatoriedade do álcool gel e máscaras em toda a rede comercial da praia. Os riscos de aglomerações na praia são grandes aos finais de semana e devem ser acompanhados pelas autoridades.

Trapiche do Laranjal

O Trapiche construído pelo Valverde Praia Clube no ano de 1968, passou por várias reformas estruturais. Sua plataforma com 530 metros recentemente teve sua estrutura comprometida, necessitando de reformas urgentes, que agora estão em plena execução por empresa contratada com essa finalidade.

Atualmente, estão sendo feitas obras de reparos em toda a extensão da avenida Antônio Augusto de Assumpção Jr., como a substituição das luminárias da praia por lâmpadas de led.

Construído em 1968, o Trapiche está atualmente em reformas

Rótula do Chafariz

Junto ao calçadão da orla do Laranjal, que inicia na rótula do chafariz, em frente ao Centro Comercial Mar de Dentro até o Trapiche, existem diversas obras de reparo nos canteiros e calçadão. Assim, o turismo cultural sendo valorizado pela administração pública.   

Nesse mesmo trecho da praia, existem inúmeros bares e restaurantes funcionando, no entanto, apenas algumas empresas promovem shows musicais ao vivo, principalmente aos finais de semana quando existe maior demanda e consumo por parte dos visitantes.

A facilidade de manter estabelecimentos em ambiente ao ar livre da praia permite a produção de eventos patrocinados por empresários com interesse no maior fluxo de visitantes.

As empresas, em pleno inverno de 2021, mesmo estando descapitalizadas em função dos sucessivos decretos municipais fechando o comércio, ainda ousam manter atrações artísticas com músicos locais. 

A Rótula do Chafariz é um ponto de início para o percurso de bares com atrações artísticas

Boteco do Tio Nei

Seu Rudinei, proprietário do Tio Nei, ressalta o valor dos shows musicais

No Centro Comercial Mar de Dentro, localizado na Av. Dr. Antônio Augusto de Assumpção Jr., nº.9347, se encontra o Boteco do Tio Nei, que possui em seu cardápio lanches e salgados feitos na hora, além das diversas marcas de cervejas. O proprietário Rudinei ressalta a importância da manutenção dos shows musicais com bandas locais aos finais de semana. O Grupo Di Boa é contratado para shows ao vivo, e, junto à dupla Pablo e Ronaldo, tem abrilhantado as tardes e noites dos finais de semanas no Boteco.

Atrações artísticas são ingrediente importante no cotidiano do Laranjal

kiColosso

De acordo com o proprietário Márcio, da Padaria e Café Restaurante kiColosso, localizada em frente ao Centro Comercial Mar de Dentro, consta em seus projetos a contratação de músicos locais durante as tardes dos finais de semana. Durante a pandemia, porém, não realizou nenhum evento artístico cultural.

A padaria kiColosso planeja shows após o final da pandemia

Pitbull Pub

O Pitbull Pub fica na praia de Valverde

Já na praia do Valverde, na Av. Dr. Antônio Augusto de Assumpção Jr. nº 8197, se localiza o restaurante, pizzaria e hamburgueria Pitbull Pub, a última empresa a fechar durante as frias noite desse inverno. Empresária e proprietária, Sandra Goularte mantém nesse local o único karaokê disponível na praia.

A Casa dos Artistas, como também a empresa Pitbull Pub é conhecida, tem realizado shows ao vivo com o músico Gutta dos Teclados, estando em seus planos a contratação de outros músicos durante o verão.

 

A empresária Sandra Goularte administra o único karaokê da praia do Laranjal

Satolep Brew Pub

Na mesma praia se encontra, em frente ao “Trapiche”, o bar Satolep Brew Pub, famoso na região por sua cervejaria própria, shows e seleto público voltado para atividades culturais. Momentaneamente se encontra fechado devido a pandemia.

Uma das principais atrações do bar durante os eventos, é a Cervejaria Satolep de fabricação própria, em atividade e com equipamento de última geração. De acordo com o Mestre Cervejeiro Luis Molina, a fábrica atende, além da demanda do bar, diversos pontos de distribuição do seu produto na região Sul.

O Satolep mantém a sua cervejaria própria

 

Devemos ter em mente que manter o devido distanciamento, usar máscaras e álcool gel é indispensável para nossa própria proteção, pois o momento ainda requer cuidados especiais.

Hoje em dia o trânsito não fica mais fechado nas praias do Laranjal, os hábitos praianos voltam pouco a pouco a sua normalidade sanitária. O público começa a frequentar novamente os bares em busca de distração, o que é ótimo para a saúde sociocultural e comercial da comunidade, sempre sob o olhar dos fiscais municipais da saúde, atentos às aglomerações.

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Adorei a matéria, até porque AMO o Laranjal.

Graça

Saudades do Laranjal senti ao ler este conteúdo!!!

Rita Silveira

“Chorão: marginal alado”

Por Julya Bartz Boemeke Schmechel    

Documentário mostra lado polêmico do fundador da banda Charlie Brown Jr.

Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, foi o fundador e vocalista de uma das bandas de rock mais famosas e amadas do Brasil: Charlie Brown Jr. Lembrado por suas composições marcantes e sua personalidade forte e mandona, o cantor encantava os fãs.  Também tinha um lado marcado por sua generosidade e dedicação com os colegas músicos.

A banda Charlie Brown Jr. nasceu em 1992 e ficou na ativa até 2013, ano da morte de Chorão e também do baixista Champignon. Durante este período, a sua formação mudou algumas vezes e o cantor sempre esteve envolvido em polêmicas, inclusive com outros membros do grupo.

Boa parte da história do cantor e da banda foi transformada em documentário. Com o título “Chorão: marginal alado”, o filme foi lançado em 2019, tem direção de Felipe Novaes e está disponível na plataforma Netflix. Apresenta entrevistas de amigos, familiares e ex-integrantes da banda, que contam histórias da convivência com o cantor, desde relatos de brigas e conversas divertidas, até o seu problema com drogas.

A banda Charlie Brown Jr. passou por maus bocados até estourar no País. No início da carreira, letras pesadas em inglês eram o seu foco. Mas foi por influência de outras bandas brasileiras de rock dos anos 90 que o Charlie Brown Jr. mudou a pegada das letras. Chorão era skatista nato e chegou a alcançar ótimas posições no ranking de campeonatos de skate. E foi, nestes campeonatos, em São Paulo e Santos, que a banda começou a se apresentar. Essa com certeza foi uma parte muito importante da história do Charlie Brown Jr. e, principalmente, do Chorão, mas não ganhou muito destaque dentro do documentário

A banda Charlie Brown Jr. e sua formação original no ano de 1992

 

Com o carisma natural de Chorão e sua energia nas apresentações, a banda começou a alcançar novos patamares. O sucesso foi chegando com força e, assim, os roqueiros começaram a rodar o País, passando mais tempo na estrada do que em casa, fato que o documentário retrata constantemente. E conviver com o Chorão, no fim das contas, não era tão fácil assim. Seu jeito “mandão” era predominante, já que ele era o rosto da banda e fazia questão de participar de cada etapa de produção das músicas, opinando constantemente e sendo rígido caso algum detalhe não o agradasse.

Dentro disso, o documentário apresenta diversas imagens de momentos de fúria do cantor, que já chegou a discutir com o baixista Champignon ao vivo, em um show da banda. Este lado explosivo e estressado de Chorão fica evidente na produção, e é justificado com as viagens e apresentações incessantes da banda. Mas é possível perceber que esse era o objetivo principal da produção dirigida por Felipe Novaes: mostrar o lado humano de Chorão e não só o cantor que todos conheciam dos palcos e programas de TV.

Chorão em um de seus tantos shows que encantavam os fãs

 

O documentário não aborda algumas situações importantes, como a explicação que existe por trás do apelido “Chorão”, mas é preciso levar em consideração o tempo curto para apresentar tantas histórias da vida do cantor. No geral, a produção é bastante esclarecedora e conta um pouco melhor sobre o vício em drogas que acarretou a overdose e morte de Chorão, em março de 2013. A narrativa e a linha do tempo presente no documentário levam para um fim emocionante da produção, que retrata a imagem de Alexandre Abrão da maneira que é vista até hoje: inspiração para jovens, especialmente músicos, que buscam palavras de esperança e conforto através das músicas de Charlie Brown Jr.

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Bibliotheca Pública Pelotense: Patrimônio cultural da região

Por Paulo Marques     

Instituição é mantida pelas contribuições dos associados e conta com um museu histórico

Prédio é um destaque arquitetônico do Centro Histórico da cidade de Pelotas

A Bibliotheca Pública Pelotense é considerada um centro de referência cultural da região sul do Rio Grande do Sul, sendo uma instituição sem fins lucrativos e sem qualquer vínculo com o poder público, mantida através das contribuições dos seus associados e pela sociedade civil organizada. Além do acervo de livros, conta com um museu histórico e realiza eventos culturais periodicamente.

Fundada em 14 de novembro de 1875, através de uma assembleia que reuniu 45 pessoas da sociedade civil de Pelotas, instalou-se inicialmente na parte térrea de um sobrado na esquinas das ruas General Victorino e General Neto. O modesto acervo, doado pela comunidade, registrava 960 volumes. Três anos depois, em 1878, foi lançada a pedra fundamental e iniciada a construção do prédio próprio que hoje abriga a Bibliotheca, na Praça Coronel Pedro Osório. Mais uma vez, foi a organização da comunidade que angariou doações para a aquisição dos materiais de construção, através de contribuições financeiras da elite social da época e da população pelotense de um modo geral, arrecadando dinheiro em bazares e quermesses. O primeiro piso do atual prédio histórico de estilo eclético foi concluído em 1888.

Instituição completa 146 anos de existência interagindo constantemente com vida cultural da região

Ao longo dos seus 146 anos de existência, a Bibliotheca Pública Pelotense sediou o Clube Abolicionista, a Sociedade Beethoven, a Banda União Democrata, a Sociedade Terpsychore, que no início do século 20, proporcionou a realização da 1ª Exposição de Belas Artes da então Província do Rio Grande do Sul, em benefício da construção do Asilo de Mendigos e do 1º Congresso Rural do Rio Grande do Sul. Ainda, ao longo do tempo, emprestou suas instalações para a Escola Prática de Comércio e a Escola de Artes e Ofícios, origem da Escola Técnica Federal, hoje integrada ao IFSul; a Associação Comercial, a Faculdade de Direito, o Conservatório de Música, a Escola de Belas Artes, a Sociedade de Cultura Artística, a Orquestra Sinfônica, o Clube de Cinema, o Instituto Histórico e Geográfico, a Academia Sul-Riograndense de Letras, a Escola Louis Braille e a Câmara de Vereadores.

Fundada para atuar como centro multicultural de caráter regional, a Bibliotheca Pública de Pelotas possui um grande número de peças e documentos relacionados à memória histórica da Região Sul, tendo o Museu Histórico e Bibliográfico como parte integrante da casa. Além do museu, o espaço também abriga um acervo destinado ao público infantil, a Biblioteca Infanto-juvenil Érico Veríssimo, que desenvolve atividades de incentivo à leitura, como “A hora do faz de conta”, suspenso atualmente pelo período da pandemia.

Além de todas as contribuições para o desenvolvimento da literatura na região, a instituição também chegou a oferecer cursos gratuitos de alfabetização para adultos, em um tempo em que o ensino formal não contemplava toda população. Além disso, realizou inúmeras conferências e palestras com nomes relevantes dos mais diferentes campos do conhecimento humano, assim como ofereceu ao público pelotense memoráveis concertos musicais, festivais de dança e diversas exposições de obras artísticas.

Uma das exposições  artísticas anteriores ao período da  pandemia  Foto: Reprodução Facebook

Atualmente, a instituição é presidida por Lisarb Crespo da Costa e possui um conselho diretor composto por onze integrantes, além de um conselho fiscal e um quadro de funcionários que dão seguimento à missão institucional da Bibliotheca, que é o de proporcionar o desenvolvimento cultural da comunidade, por meio da promoção da arte, cultura e lazer, ofertando acesso livre e gratuito à informação e a todos os seus serviços, projetos e ações culturais.

A Bibliotheca segue à disposição da comunidade, com acesso público, universal e gratuito a todo seu acervo, que conta com mais de duzentos mil títulos. A consulta ao acervo no local é livre e a possibilidade de retirada dos livros por empréstimo é restrito aos associados. Os interessados em associar-se devem preencher uma ficha cadastral e pagar a primeira mensalidade. É possível optar por duas categorias: “Estudante”, devendo ter vínculo com alguma instituição de ensino e que dá direito a retirar até dois livros para empréstimo domiciliar pelo período de 15 dias; ou “Efetivo”, dando direito a retirar até quatro livros para empréstimo domiciliar com prazo de trinta dias. O custo da mensalidade é de R$ 10,00 e R$ 20,00, respectivamente. Os usuários em geral e associados podem ter acesso à Bibliotheca e ao Museu Histórico de segunda à sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h.

O Museu Histórico

O Museu Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense foi criado em janeiro de 1904, tendo sido revitalizado em 2003. O museu valoriza as peças de maior significado histórico, como o lenço Farroupilha, o sinete da República Rio-Grandense, o revólver que teria causado o ferimento mortal em Solano Lopez na Guerra do Paraguai, entre outros objetos que contam a história da região sul. Com acesso gratuito ao público, até o início do período de pandemia o Museu Histórico atendia cerca de doze mil pessoas ao ano e contava com uma diversa agenda de exposições e eventos, como a Semana Indígena, Primavera dos Museus, Dia do Patrimônio, Semana das Crianças, Outubro Rosa, Feira do Livro e Semana da Consciência Negra. Também, o museu contava com visitas mediadas especializadas para crianças de dois a 11 anos das redes públicas e privadas de ensino. No local destinado ao museu se encontra ainda o Espaço de Arte Mello da Costa.

Exposição artística virtual realizada pela Bibliotheca       Foto: Reprodução Facebook

 

Os enfrentamentos do período de pandemia

A Bibliotheca Pública Pelotense também teve que se adaptar às restrições impostas pela pandemia da Covid19. As visitas foram suspensas durante o período mais crítico do distanciamento social e atualmente é possível o acesso a um número limitado de frequentadores e com as devidas medidas de proteção. O Baú de Trocas, em que um leitor troca o seu livro por outro, retornou em julho de 2021. Já, o museu histórico encontra-se aberto para visitações, mas apenas para duas pessoas de cada vez. As atividades culturais e as exposições passaram a ser virtuais neste período de pandemia e ainda não há previsão para a retomada de forma presencial. No entanto, as atividades da Bibliotheca seguem a todo vapor, tendo, por exemplo, no último mês de agosto, sido realizada uma extensa programação relacionada ao Dia do Patrimônio, como o evento “Cidades em Transe: Patrimônios, conflitos e contranarrativas urbanas”, que contou com uma série de palestras e mesas redondas. Também, está em pleno desenvolvimento o projeto: “O que aprendemos com a pandemia?”, com a exposição em forma virtual de obras que retratam o momento por qual estamos passando. Além disso, exposições virtuais nas áreas de literatura, artes plásticas, entre outras, podem ser encontradas nas mídias sociais da instituição. Para os artistas que tenham interesse em participar de uma exposição virtual, podem entrar em contato através do email museuhistorico@bibliotheca.org.br. 

As atualizações sobre as atividades da Bibliotheca Pública Pelotense e as suas exposições virtuais podem ser acessadas na página da instituição no Facebook ou ainda no site do Museu Histórico.

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Eva e Isabel, Isabel e Eva

 

Por Milena Schivittez     

Livro de Isabel Allende entrelaça aspectos biográficos na arte de contar histórias

 

         Lançado em 1987, romance representa mulheres latinas                Imagem: Divulgação 

Duas mulheres, latinas, itinerantes, que viram na contação de histórias uma chance de tornar a existência mais tolerável. De um lado, Isabel Allende, prima do ex-presidente chileno Salvador Allende, filha de diplomata, que viu sua família partir para o exílio logo após o golpe militar que instaurou a ditadura de Pinochet. Allende nasceu no Peru, mudou-se para o Chile, se exilou na Venezuela e depois migrou para os Estados Unidos. Viveu em tantos locais que não se considera pertencente a um só, apenas cidadã da América do Sul.

Do outro lado, “Eva Luna”, a personagem feminina mais icônica de Isabel. Filha de uma mãe branca e sem pátria e um pai indígena. Nascida sem lenço e sem documento, Eva não tinha um lar fixo, ou uma família, ou até mesmo uma certidão de nascimento. Era de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todos os lugares.

As histórias de Eva e Isabel se entrelaçam, ainda que Isabel nunca tenha falado abertamente que se inspirou em si mesma para escrever Eva Luna.

Lançado em 1987, o romance, que podemos chamar de tragicômico, exibe uma protagonista tão singular e, ao mesmo tempo, tão universal que podemos enxergar um pouco de Eva nas trajetórias de nossas mães, avós e bisavós. Isabel tem o dom de representar, acima de qualquer coisa, a mulher latina, com suas particularidades, vivências e bagagens.

Narrado em primeira pessoa, acompanhamos Eva em seus percalços desde muito antes de nascer, começando pela infância de sua mãe, Consuelo, uma jovem órfã que nunca soube de onde veio. Consuelo foi criada nas Missões, passou pelo convento e depois foi entregue para ser empregada na casa de um médico estrangeiro. Nessa casa conheceu um nativo sul-americano, que, na beira da morte, implorou por alguns segundos de prazer. Assim foi concebida nossa protagonista, que recebeu o nome de Eva Luna em homenagem à vida e à tribo de seu pai. Consuelo não tinha dinheiro, bens ou sobrenome, então passou a Eva aquilo que tinha de mais sagrado: o dom de contar histórias.

Após ficar órfã, ainda criança, Eva foi entregue pela madrinha para trabalhar em casas de família. Não aprendeu a ler e escrever até os 15 anos, quando encontrou alguém disposto a ensiná-la. Foi empregada, babá, acompanhante de senhoras. Morou com solteiros, casados, imigrantes, comerciantes, militares e donos de bordel. Cada capítulo de sua vida se emaranhava a suas narrativas inventadas e, em certo momento, fica difícil distinguir se o acontecimento era verídico ou uma versão estendida, dramatizada pela própria Eva.

Ao longo da narrativa, Isabel vai emprestando seus personagens à sua protagonista para que ela possa torná-los personagens de suas próprias histórias, com desfechos trágicos, situações mirabolantes e uma pitada de realismo fantástico, outra característica semelhante entre Allende e Eva.

Em um certo momento, Eva Luna ganha a obra “As Mil e Uma Noites”, cujos contos ela leu e releu diversas vezes. Não é à toa que o enredo chama tanto a atenção de Eva, pois, assim como Sherazade, ela também contava histórias para sobreviver, mesmo que de forma simbólica.

          Isabel Allende viu sua família partir para o exílio logo após o golpe militar no Chile          Foto: Lori Barra/Divulgação

Ficção X Realidade

Com uma escrita poética, recheada de comentários cômicos, Isabel constrói um país sul-americano sem nome, assolado por uma ditadura, entre os anos 50 e 60, com jovens idealistas e dispostos a lutar por um sistema político mais igualitário. Ela representa fielmente os guerrilheiros inspirados pela Revolução Cubana, já que a própria autora conheceu Che e Fidel. Ela dá forma aos estudantes, sindicalistas, jornalistas e acadêmicos que foram às ruas pela volta da democracia. Allende retrata um lugar que poderia ser o Brasil, mas também a Argentina, Uruguai, Chile e qualquer outro país da América do Sul, não porque generaliza ou se utiliza de estereótipos para descrever esse local, mas porque realça os aspectos semelhantes da história de nosso continente e de nós mesmos.

Ainda que “Casa dos Espíritos” seja o romance mais conhecido de Isabel Allende e, consequentemente, o livro que fez a autora alcançar o prestígio, “Eva Luna” nos entrega uma trajetória nada simplista para menos de 300 páginas, com personagens que fogem da dicotomia entre o bom e o mau e, principalmente, apresenta uma das melhores protagonistas da literatura latino-americana.

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Cine Dunas fecha após 16 anos de atividades

Por Vitor Valente    

O último cinema de calçada da região, no Cassino, não resistiu ao longo período fechado devido à pandemia

           Fachada do Cine Dunas é parte da paisagem para milhares de pessoas que passeiam pela Avenida Rio Grande              Foto: Arquivo/Cine Dunas

“Tenham todos e todas um ótimo filme, porque vocês e o Cassino merecem”. Não há quem tenha passado pelo Cassino e pelo Cine Dunas que não reconheça o mantra repetido vigorosamente ao início de cada nova sessão. A história do casal de professores Janete Jarczeski e Cleyton Abreu, fundadores do cinema, ajudou a moldar a cultura da cidade do Rio Grande. A oportunidade de vivenciar uma experiência cinematográfica livre dos grandes centros comerciais, como os shoppings, sempre foi um deleite para os cinéfilos da cidade. O tempo criou laços tão fortes com a comunidade, tanto é que as mobilizações em apoio financeiro à instituição mantiveram o Cine Dunas vivo por mais de um ano, mesmo que sem a magia da sétima arte em sua tela.

No dia 2 de maio de 2021, a esperança de dias melhores deu lugar a um sentimento agridoce de orgulho pela história construída combinado com a tristeza pelo inevitável fim. “A ousadia foi a marca da boniteza da história do Cine Dunas. Nessa caminhada houve momentos prósperos e difíceis e quem acompanhou um pouco, ao menos, sabe do esforço e da criatividade para superar os obstáculos”, afirmou a orgulhosa equipe na nota de despedida. Ainda que a pandemia, a ascensão do streaming e as grandes redes de cinema tenham abreviado a história, o diferencial de um pequeno cinema de rua, criado pela ousadia de um casal apaixonado pela arte e pela cidade em que vivem, está na relação humana com a comunidade que participou ativamente da história do primeiro ao último segundo. Porque o Cassino merecia, merece e mereceu.

Ao longo da carta de despedida, os proprietários destacam a paixão que sempre os moveu para manter as atividades do Cine Dunas, mas ressaltam a necessidade de tratar a situação de uma forma racional. “A lucidez que nos move nesse momento, nos inunda de gratidão infinita pela amorosidade recebida da comunidade e pelo reconhecimento da trajetória do Cine Dunas, bem como de todo apoio e generosidade despendidos. Essa mesma lucidez nos aponta que é a hora da razão tomar cena”, destacam.

O Cine Dunas passa a viver na memória daqueles que tiveram o privilégio de caminhar pela calçada da Avenida Rio Grande, esquina com a Rua Uruguaiana, no Cassino, e adentraram em um mundo mágico em que a paixão pela cultura importava mais do que qualquer outra coisa. Além disso, será construído um memorial dedicado ao cinema no Campus Carreiros da Universidade Federal do  Rio Grande (FURG), que recebeu a doação de parte do acervo. “De certa forma nos sentimos com o coração apertado, por ter essa decisão de não mais reabrir o cinema devido à conjuntura atual no país, mas ficamos confortados em saber que ele está sendo recebido com muito carinho, zelo e responsabilidade. Isto nos alegra”, declarou Janete Jarczeski.

Equipamentos foram doados pelo Cine Dunas à Universidade Federal do Rio Grande       Foto: Fernando Halal

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“Rio Imenso”: Andréia Pires escreve livro artesanal no período pandêmico

Por Ana Caroline Rossetto e Milene Louzada       

Conjunto de contos experimentais retrata cenário rio-grandino  

Publicação tem uma elaboração gráfica diferenciada com técnicas manuais

O livro ‘Rio Imenso’ é de autoria da jornalista, editora e escritora Andréia Pires e começou a ser elaborado entre os anos de 2013 a 2018, como um conjunto de contos experimentais tanto em seu conteúdo como na sua forma gráfica de apresentação. As narrativas foram feitas a partir de um exercício de criação literária para a composição de histórias mais longas.

O modo de descrição se baseou em composições breves em que a autora testou narradores e modos de contar, organização de tempo e espaço, nuances de personagens e conflitos, e temas principais como a cidade de Rio Grande, deslocamento, o ser mulher, e a relações geracionais – como a de avós e avôs e netas(os). Após os três primeiros contos escritos, Andréia se concentrou na pesquisa sobre representações do município na literatura brasileira contemporânea; o nome “Rio Imenso” surgiu em referência ao potencial rio-grandino, como um modo de homenagear a cidade natal da autora e o local onde mora até hoje.

O título “Rio Imenso” deu o tom para o projeto que estava se construindo ao lado da criação do romance “O céu riscado na pele”, também de autoria de Andréia, utilizado como tese de doutorado em Escrita Criativa. A dissertação da escritora foi finalizada em 2016, contudo, outros contos inspirados na vivência da cidade foram sendo criados e se estabelecendo ao longo dos anos seguintes. A ideia inicial era fechar o projeto de “Rio Imenso” com um livro, porém a autora não tinha certeza de como e nem quando isso seria viável, sendo que seu lançamento se deu apenas no ano de 2020.

O livro não foi desenvolvido a partir dos processos tradicionais de publicação. Diferente de outras obras, não passou pela impressão em escala, já que a concepção gráfica do projeto é da própria autora e os exemplares finalizados à mão por ela. Andréia realiza a impressão e a montagem do miolo, assim como as dobras, costuras, bordados, colagem das capas e todos os acabamentos do livro. A autora afirma que essa construção é um aprendizado autoral interessante, pois nenhuma obra se repete e cada um deles tem uma história secundária por trás, um vínculo pessoal, pois, além de tudo, é ela quem cuida das encomendas e envios, conversando com os leitores.

A produção artesanal já era uma vontade de Andréia, juntamente com a editora Concha, e o período pandêmico contribuiu para que esse desejo se tornasse realidade. Com as mudanças no ano de 2020, todo o planejamento foi alterado e os encontros presenciais cancelados, abrindo a oportunidade da criação da obra em casa, confirmando “que um projeto literário artesanal poderia ser interessante, coerente com o cenário, mais econômico, inovador e criativo”, destaca Andréia Pires.

Sobre a autora e o significado da obra

Neste novo livro, Andréia Pires dá continuidade às ideias da sua pesquisa de doutorado

Andréia Pires é escritora, editora e jornalista. Licenciada em Letras – Português/Espanhol, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e bacharel em Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), mestre em Letras – História da Literatura, também na FURG e doutora em Letras – Escrita Criativa, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que resultou na tese e no romance inédito “O céu riscado na pele”, vencedor do edital Procultura 2019 de Rio Grande, no segmento Literatura.

A escritora é idealizadora e responsável pela curadoria dos livros e projetos da Concha Editora. Como docente, atua em cursos livres, aulas particulares, workshops, mentorias e oficinas de escrita criativa. E também é servidora pública concursada pela FURG, no setor de redação jornalística.

O projeto de “Rio Imenso” começou despretensiosamente como prática de escrita para aperfeiçoar a concepção do romance, aos poucos foi ganhando lugar de afeição pela autora e marcando assim uma fase importante do seu trabalho criativo. “Nos últimos anos, primeiro de forma intuitiva e depois deliberada, representação e representatividade de Rio Grande e de mulheres rio-grandinas na literatura foi pauta central dos meus estudos e escritos, quase uma militância, um propósito ao que devo continuar me dedicando, mas por outras perspectivas e nuances, outras frentes de ação”, destaca a escritora.

Representatividade de Rio Grande

Andréia sentiu que as questões femininas de Rio Grande não estavam representadas na literatura nacional e buscou contar histórias com protagonismo de mulheres rio-grandinas e na maneira de viver dos moradores da cidade. E foi nesse movimento pessoal e artístico que surgiu a Concha Editora, a fim de colaborar com a divulgação de produções literárias de Rio Grande.

As narrativas que compõem o livro, como já foi descrito, propõem a identificação de quem mora na cidade mais antiga do Estado. Para Luisa Mello, estudante de Letras – Inglês na FURG, a aproximação com a sua realidade fez com que a experiência de leitura da obra fosse melhor. “Foi muito interessante ler o livro e reconhecer os lugares que são falados. A ambientação é muito boa e essa representatividade é de aquecer o coração”, conta.

E como as narrativas de ‘Rio Imenso’ retratam histórias passadas de gerações em gerações, a avó de Luisa, Shirlei de Souza também experimentou a leitura do livro e se sentiu representada. “Me senti muito bem lendo o livro, porque é uma pessoa daqui falando da nossa cidade. Fiquei muito emocionada com as partes que falam do Cassino e da praia porque lembrei de quando minha mãe levava eu e meus irmãos pra tomar banho de praia. É bom a gente ler coisas que se passam em lugares que a gente conhece”, afirma. 

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