Filme rio-grandino compete no festival Visions du Réel  

Por Thiago Lehn e Vitor Valente    

O evento internacional ocorre na Suíça entre os dias 7 e 17 de abril

O filme “Madrugada”, com participação do cineasta rio-grandino Gianluca Cozza, terá exibição no festival Visions du Réel, entre os dias 7 e 17 de abril na cidade de Nyon, na Suíça. A Saturno é uma produtora criada por alunos de cinema da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com intuito de produzir filmes ao longo do curso, mas que com o passar do tempo tornou-se profissional. O curta-metragem “Madrugada” é o seu trabalho mais reconhecido até o momento, que recebeu o título em inglês “Nightwalker” na programação do festival.

O curta será exibido no 53° Visions du Réel, dentro da mostra competitiva Opening Scenes. A história apresenta situações reais, tendo como plano de fundo a zona portuária da cidade de Rio Grande, mas dentro de um roteiro de ficção. Conta a história de trabalhadores informais do Porto de Rio Grande.  Com direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza, o filme teve sua estreia nacional em janeiro de 2022, na Mostra de Cinema de Tiradentes, na Mostra Foco, principal seleção competitiva de curtas do festival.

O filme curta-metragem tem direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza

E para conhecer mais do filme “Madrugada” e da produtora Saturno, o site Arte no Sul conversou com o diretor e idealizador, Gianluca Cozza.

Arte no Sul:  Por onde o filme já passou e como foi recepcionado?

Cozza: Discutimos bastante onde o filme deveria se apresentado primeiro, a decisão de apresentar na Mostra de Cinema de Tiradentes [,em Minas Gerais,] foi unânime porque é um festival muito importante para nós. As discussões que a programação do evento traz se ligam de certa forma com a nossa trajetória. O filme estreou na Mostra Foco (mostra competitiva de curta-metragem) e depois fomos selecionados para mais dois eventos internacionais, que recusamos em detrimento da seleção do Visions du Réel. O filme nasceu bem, a gente tem escutado coisas boas sobre o filme e espera passar no restante do circuito [de festivais] ainda esse ano.

Arte no Sul: Qual foi a tua reação ao receber a notícia de que “Madrugada” será exibido no Visions du Réel?  E qual a expectativa agora que a exibição e viagem estão próximas?

Cozza: Soubemos aos poucos da seleção. Fomos trocando informações com os curadores desde o final do ano passado, e recebemos a decisão final em janeiro deste ano. Ficamos muito felizes com o interesse do festival, era um desejo antigo passar o filme lá.

História ficcional lida com as diferenças entre a vida real e a narrativa de cinema 

 

Arte no Sul: O filme pode ser considerado híbrido, pois trabalha o ficcional com a linguagem de documentário. Quais foram as motivações e inspirações ao fazer essa escolha?

Cozza: Acredito que o filme seja ficcional, porém é natural que surjam essas questões, já que ele parte desse tensionamento entre a vida e o cinema. Tem algumas coisas que causam, a meu ver, essa sensação de que aquele universo vive sem a presença da câmera, afinal não é um estúdio. Essa realidade empírica é presente no filme através das paisagens naturais do Porto de Rio Grande, suas estruturas de ferro, os navios e os atores que exercem a mesma atividade que os seus personagens. [A realidade é] notada sem que seja dado qualquer aviso prévio [ao espectador], mas validada pelas características que esses corpos carregam. É uma sensação de que pouco se acrescenta quando se liga a câmera, uma estratégia de documentário que fazia sentido para o filme. [O intuito era que] essa forma concreta das coisas permanecesse.

Porém todo o processo parte de um gesto ficcional, que [se quis deixar] transparente no filme, pois foi construído junto com [os personagens, sujeitos reais deste espaço,] Daniel, Ludo, Anderson e companhia, durante dois anos. O roteiro, decupagem e documentos, que auxiliam nesse tratamento criativo da realidade, foram realizados em conjunto, observando as ações que os mesmos realizavam em seu cotidiano, fazendo recortes dessas situações para dar síntese, como se fosse uma crônica em formato de curta-metragem.

Arte no Sul: Quais foram os maiores desafios do processo?

Cozza: A preocupação maior era como propor um jogo de cena para essas pessoas que nunca participaram de um filme, sobretudo pessoas que não estavam familiarizadas com técnicas de atuação, atores não-profissionais. O primeiro passo foi deixar entendido que aquilo era um filme e não um registro da vida delas, elas não só teriam que reencenar suas ações, mas reinventar algumas características a partir da atuação.

Arte no Sul: E quais serão os próximos passos para a Saturno? O que pensam em fazer no futuro?

Cozza: Estamos desenvolvendo projetos que estão em fase de financiamento. Temos um roteiro de longa-metragem chamado “Grave” e outros projetos de curta-metragem que deverão ser rodados em breve.

Veja o trailer de “Madrugada”:

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House of Gucci: Exagero e tragédia por trás de um império da moda

Por Helena Isquierdo Rocha   

A história de um crime real que arrecadou bilheteria de US $151 milhões

Glamour, riqueza, traições, intrigas, ameaças e reviravoltas. Assim é possível definir a história contada por “House of Gucci”. No filme, conhecemos a narrativa do difícil relacionamento entre Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver). São quase 30 anos de história que nos levam ao assassinato de Maurizio, herdeiro da família italiana. Assim, podemos (tentar) entender os motivos que levaram Patrizia a encomendar a morte do ex-marido.

As intrigas por trás da família Gucci são bem desenvolvidas pelas atuações impecáveis do renomado elenco, que recebeu total liberdade para dar vida aos personagens reais dessa história.

Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani | Lady Gaga e Adam Driver (Foto: Divulgação/ Universal Pictures)

Antes mesmo de ser lançado, “House of Gucci” já dava o que falar. Foi um dos filmes mais esperados de 2021. Os críticos e o público tiveram muito o que comentar desde sua estreia, em novembro do ano passado. A obra é uma adaptação do livro “House Of Gucci: A sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greeed”, escrito por Sara Gay Forden.

Dirigido por Ridley Scoot, o longa conta com a presença de Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto, e Salma Hayek no elenco. E, sem dúvida, além de se tratar de história trágica e curiosa, a escolha dos atores que deram vida a personagens da vida real ajudou o filme a ser um dos mais comentados dos últimos meses. Desde o figurino, até a caracterização e a atuação, nada passou despercebido por quem assistiu “House of Gucci”.

A produção desagradou a família Gucci

A história sombria por trás da família dona de um dos maiores impérios da moda voltou a ser assunto após mais de 25 anos, o que desagradou os herdeiros.

“A família Gucci reserva-se ao direito de tomar qualquer iniciativa para proteger seu nome e imagem, assim como os de seus familiares”, diz a carta publicada pela agência de notícias italiana Ansa.

A carta também apresentou a posição da família em relação à forma como a história de Patrizia Reggiani foi contada, “uma mulher condenada por ordenar o assassinato de Maurizio Gucci, [apresentada] como vítima”.

Existem divergências de opiniões sobre o roteiro do filme, mas sobre a atuação de Gaga há quase uma unanimidade. Patrizia foi interpretada de corpo e alma pela atriz, que passou por uma longa e difícil preparação para viver a personagem.

Lady Gaga como Patrizia Reggiani. (Foto: Reprodução/Universal Pictures)

Gaga disse que pesquisou sobre a personagem durante seis meses, antes das filmagens, que duraram três meses e meio. “E eu acho que a primeira coisa que me vem à cabeça quando falamos dela é que eu acho que ela estava em modo de sobrevivência, durante toda sua vida. Ela sempre tentou sobreviver. E, eu acho que até mesmo Gucci, como império, foi uma forma de sobrevivência para ela, e uma oportunidade de ser importante”, disse a atriz ao portal Hugo Gloss.

A atriz também contou sobre a sua escolha de não conhecer Patrizia pessoalmente. “Ela está tentando gerar um legado para si mesma, de forma que ela seja lembrada de uma maneira específica. E eu sabia que isso não me ajudaria a construir a juventude dela ou qualquer outra coisa antes de 1995, porque ela iria querer que eu a interpretasse do modo que ela gostaria de ser interpretada, não para contar a verdade, mas sim para pintá-la bem, sabe?”

A atriz também não quis ler o livro que baseou a obra cinematográfica. “Eu vi e assisti tudo, além do livro, eu não li o livro. Eu senti que o livro ia colorir os meus pensamentos, me dar muitas opiniões sobre ela”, explicou.

Lady Gaga não entrou na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz

Todas as apostas indicavam que “House of Gucci” estaria presente na edição do Oscar deste ano, mas todos foram surpreendidos negativamente. A academia deixou a obra de fora da categoria de Melhor Filme, assim como Lady Gaga também não disputou a estatueta de Melhor Atriz. O longa recebeu apenas uma indicação, na categoria de Melhor Maquiagem e Produção de Beleza. De qualquer forma, a escolha de Lady Gaga para anunciar o prêmio de Melhor filme do Ano, ao lado da consagrada atriz Liza Minnelli, marcou o final da cerimônia de 2022.

Após o sucesso, House of Gucci ganhará série de TV

Segundo a revista estadunidense Variety, a história da família Gucci ganhará uma série e um documentário. Ambos estão em fase de desenvolvimento, e possuem previsão de lançamento para 2023. Os dois projetos foram aprovados pelos herdeiros da grife, que desejam contar a história de como o império foi construído, além de mostrar outra versão do assassinato de Maurizio.

Veja o trailer:

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Hábitos de consumo literário mudam durante pandemia

 

Por Andrea Cardoso da Silva    

Faturamento das editoras brasileiras com conteúdo digital cresceu 36% em 2020  e jovens apreciam praticidade dos e-books

Segundo a Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, houve um aumento de 36% no faturamento das editoras brasileiras com conteúdos digitais em 2020. As vendas de e-books, audiolivros e demais plataformas de distribuição contabilizaram R$ 147 milhões no primeiro ano da pandemia. A pesquisa foi realizada pela Nielsen Book e coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Em 2019, o conteúdo digital representava 4% do mercado editorial brasileiro, e em 2020 passou a representar 6%. O preço médio de e-books teve queda de 25%, reflexo de ações promocionais, campanhas e demais estratégias comerciais em meio à crise econômica em decorrência da pandemia do coronavírus.

Além dos valores mais acessíveis, os livros digitais podem ser consumidos em diversas plataformas, como leitores digitais, celulares, tablets e computadores, o que facilita a vida dos leitores, que podem carregar centenas de livros em pequenos dispositivos. O estudante Patrick Varela, 27 anos, afirma que só começou a se interessar por literatura depois que adquiriu seu leitor digital, logo no início da pandemia.

O jovem pensava que não seria o tipo de pessoa que se interessa por livros, mas seu hábito de leitura aumentou depois de adquirir um Kindle, um dos leitores digitais mais famosos do mercado, produzido pela Amazon. “Foi uma experiência que eu não estava esperando que iria passar. Mas acho que com a pandemia tudo ficou diferente. A gente adquiriu hobbies que não tinha e fez coisas que a gente não fazia”, comenta Patrick.

Através dos livros digitais, Patrick se aventurou até em gêneros que achava que não iria gostar. O estudante conta que sempre apreciou a ficção científica, mas durante a pandemia resolveu dar uma chance ao livro “Pachinko”, da escritora Min Jin Lee, que narra a saga de três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século XX. E acabou gostando da experiência.

O livro “Pachinko”, da escritora Min Jin Lee, na sua versão física e digital

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Diferente de Patrick, a estudante Mariana Amaral, 23 anos, já possuía o hábito de leitura antes de adquirir um leitor digital, mas passou a consumir muito mais livros devido à praticidade do dispositivo. Ela conta que lia em média de quatro a cinco livros físicos por mês, mas com o leitor digital passou a ler de cinco a seis livros por semana. “A pandemia me influenciou a ler, porque eu tinha mais tempo para ficar em casa. Eu estudava o dia inteiro e aí nas pausas eu lia um capítulo, lia dois, e todo o meu tempo livre era para a leitura.” Em 2021, a jovem conta que leu cerca de 130 livros durante o ano.

Depois da aquisição do seu leitor digital, Mariana não leu mais livros físicos, e destaca o conforto de ler e-books como os principais pontos positivos dessa experiência. Esses aparelhos possibilitam ajustes no tamanho das fontes e na iluminação, além de permitirem marcações em frases que o leitor considera importante, entre outras configurações. Tudo isso sem a necessidade de carregar o peso dos livros físicos.

Comparação entre o tamanho da versão física do livro e sua versão digital em um leitor digital

Assim como Mariana, Milene Louzada, 22 anos, também aumentou o consumo de livros lidos após a aquisição de um leitor digital, mas mesmo preferindo os e-books, ainda mantém o hábito de comprar livros físicos. Além de leitora, Milene também cria conteúdo sobre literatura para o Instagram, no perfil @mileituras, em que compartilha suas experiências sobre suas leituras, como resenhas e dicas de livros.

Ela reflete sobre como seus seguidores ainda preferem os livros físicos, por terem um apego emocional, mas também percebe um avanço dos livros digitais. “Várias amigas minhas, que são minhas seguidoras, começaram a adquirir e gostaram muito da experiência e hoje elas me culpam por terem perdido tanto o hábito de comprar livros físicos”, comenta a criadora de conteúdo.

Livros nacionais

Uma das maiores praticidades dos livros digitais é que eles podem ser comprados com apenas um clique, sem a necessidade de sair de casa. Assim, os leitores não dependem mais dos estoques das livrarias e conseguem encontrar títulos com maior facilidade.

Dos cerca de 130 livros lidos por Mariana em 2021, muitos dos títulos eram nacionais e ela relata que é mais fácil encontrar esses livros no formato digital do que físico. “Dependendo, os livros físicos demoram um pouco para sair ou saem só durante uma época, e aí depois as autoras colocam para a venda de novo, não ficam sempre disponíveis”, conta a jovem.

Com a sua experiência com criação de conteúdo, Milene afirma que os livros digitais facilitaram a vida dos autores, já que é muito mais caro lançar um livro físico do que um e-book. Ela relata que muitas autoras nacionais que ela conhece criam suas histórias a partir de fanfictions, que são narrativas ficcionais escritas e divulgadas por fãs com base em conteúdos já existentes.

“Então, a internet facilita o acesso, né, porque hoje em dia a gente consegue comprar um e-book por R$ 6,99 e isso não é nem um pedaço de bolo na padaria hoje em dia. Então o valor mais acessível conseguiu atrair mais leitores”, reflete a criadora de conteúdo. Dessa forma, a publicação no formato digital ajuda esses autores a chegarem em lugares onde os livros físicos não chegam.

Mesmo assim, Mariana reclama que os livros nacionais são muito desvalorizados. A estudante conta que seu gênero favorito são os romances eróticos, mas que as pessoas tendem a desmerecer tanto o gênero quanto as autoras nacionais.

“São poucas autoras internacionais que têm um nível de cuidado, de descrição, de embasamento que as autoras nacionais têm”, afirma a jovem. Ela diz que muitos dos romances tratam sobre transtornos e doenças, como bipolaridade e bulimia, e que as brasileiras têm um cuidado em buscar conhecimento para não gerar mal-estar, ao contrário das autoras de outros países.

Os livros físicos vão deixar de existir?

A dentista Silvia Cardoso, 64 anos, acredita que não. Ela afirma que sua geração foi acostumada apenas com os livros físicos, e acha difícil que eles deixem de existir. Silvia conta que nunca se interessou por livros digitais, e não abre mão do prazer de tocar e folhear os livros nas livrarias. Mesmo com os preços altos, ela conta que tem amigas que deixam de comprar outras coisas para continuarem com o hábito de ler exemplares impressos. No entanto, não tem tanta certeza se a geração atual continuará consumindo.

Respondendo à dúvida de Silvia, Patrick, Mariana e Milene também não acreditam que os livros físicos vão deixar de existir. Mesmo preferindo as praticidades dos livros digitais, os três acreditam que os livros físicos vão continuar ocupando as estantes, mas como itens colecionáveis. Milene acha que a produção de livros físicos vai diminuir com o tempo, enquanto Patrick acredita que no futuro as editoras irão investir em edições comemorativas.

Mariana já consome os livros dessa maneira, e conta que só compra as versões físicas dos livros que gostou muito, principalmente os de fantasia. “Eu não vou deixar os livros físicos morrerem. Eu gosto de ter eles na minha estante”, afirma a jovem.

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Batalhas de Rap no Centro de Pelotas  

 

Por João Pedro Macedo     

Satolep e Meia Lua: conheça os encontros musicais que vêm chamando atenção na Praça Pedro Osório

O Centro de  Pelotas, além de ser o local de maior movimento na cidade, no seu estilo arquitetônico revela sua tradição conservadora e classista. E é graças à história que já foi escrita que pontos de contracultura aparecem no Centro da cidade. Na Praça Coronel Pedro Osório, ocorrem as batalhas de rap da Meia Lua, em frente ao teatro Sete de Abril. Já a Batalha da Satolep acontece no próprio monumento do Coronel que dá nome à praça, aos domingos, às 15h, e, nas quartas-feiras, às 20h, respectivamente.

A modalidade das batalhas chama-se “batalha de sangue”, na qual um mestre de cerimônia (MC) ataca o outro apenas com rimas feitas na hora. O improviso gera muitos estilos e, assim,  cada MC cria sua especialidade: referência, linhas de impacto chamadas de “punch line”, piadas… São vários estilos. Na Meia Lua, a batalha de sangue ocorre pelo método “bate-volta”, em que cada MC tem quatro versos para rimar e, em seguida, passa para o próximo. Os dois que estão batalhando logo tem cinco voltas para se destacar. Já, na Satolep, cada MC tem 40 segundos para atacar e responder. Nas duas batalhas, para conseguir a vitória, o MC deve ganhar dois rounds primeiro.

Com as batalhas acontecendo semanalmente, lendas começam a surgir. É o caso de Antônio Delon Duarte dos Santos, o Antony MC, o maior campeão da história da Batalha da Meia Lua, com um total de 27 títulos. O MC de 25 anos começou nas rodas de freestyle influenciado por um nome conhecido no rap pelotense, o MC Fill, que faleceu em agosto de 2019. Hoje, como um dos organizadores da batalha, Antony MC a vê como uma segunda casa e está contente com o que ela se tornou: “Como organizador, sinto orgulho de fazer essa batalha ser cada vez mais vista por quem está de fora. Antigamente, tínhamos muitos MC ‘s, mas poucos eram diferenciados, já agora temos muitos bons MC ’s e cada um com uma característica diferente e surpreendente”.

Carapeto e o campeão da Batalha da Satolep do dia 30 de abriu, C2,  festejando conquista da folhinha

Sempre bem recebidos, MC ‘s novos procuram mostrar sua força nas batalhas. Bernardo Carapeto, conhecido nas batalhas apenas pelo sobrenome, explica o que significa a batalha da Meia Lua e da Satolep, não apenas para ele, mas também para todos que participam do movimento: “Significa uma família, não vivemos disso, mas vivemos por isso. Aqui, tu encontra pessoas boas que fazem aquilo que amam, que é cantar rap”.

As rodas de rap na praça Coronel Pedro Osório chamam cada vez mais atenção, e o MC campeão ainda tem a chance de ganhar um instrumental para gravar sua música e viver de seu sonho, e até ganhar ingressos para festas e shows conhecidos na cidade. Todo domingo e quarta-feira, um sonho pode se realizar, e você? Já pensou em batalhar?

 

 

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Em busca de um relacionamento orgânico

Por Evelise Goulart Soares        

“Fresh” brinca com as expectativas do público sobre romance, faz rir e surpreende em momentos de horror

“Fresh” é um filme dos gêneros comédia e suspense, lançado em março de 2022, dirigido por Mimi Cave, com roteiro de Lauryn Kahn e estrelado por Daisy Edgar-Jones e Sebastian Stan. É um original da plataforma de streaming Hulu, mas também está disponível no Star Plus. Dois ingredientes díspares, romance e canibalismo, aparecem no decorrer da história.

Podemos considerar “Fresh” como uma sátira de um relacionamento romântico na atualidade. O filme conta a história de Noa, uma jovem órfã que se sente perdida no mundo. Está em busca de um relacionamento e, apesar de suas tentativas frustradas nos aplicativos, ela ainda persiste e acredita no amor.

Seu maior desejo é conhecer alguém de forma orgânica. E, ironicamente, é assim que ela conhece Steve, no setor hortifruti de um supermercado. Não dá para querer algo mais orgânico que isso. Steve é um homem bonito, engraçado e com uma vida estável. O interesse entre os dois é mútuo e Noa vive um sonho. Sonho esse, que dura pouquíssimo, não demora muito para que o lindo e carinhoso Steve mostre sua verdadeira face. É muito interessante como vamos de um filme de romance para outra coisa em questão de segundos, e é aí que Fresh começa.

Encontro romântico em meio às compras de legumes frescos se desenrola em algumas cenas de suspense

 

A fotografia do filme é fantástica, a trilha sonora e o elenco também não deixam a desejar. Já conhecemos o trabalho do ator Sebastian Stan e mais uma vez a atuação dele não deixa espaço para críticas. Mas o que surpreende foi a atuação de Daisy Edgar-Jones. É fascinante a maneira como ela deu vida à personagem.

Apesar de prometer comédia e suspense, o suspense não é uma constante durante o filme, sendo quase tudo muito previsível. É mesmo muito divertido e a comédia tem suas sutilezas no decorrer da história. E, claro, por ser um filme sobre canibalismo, existem algumas cenas bem gráficas com bastante sangue e violência.

E finalmente, o que não esperar do filme Fresh? Definitivamente não tenha a expectativa de um filme em que a protagonista é inocente e indefesa. Não espere um filme em que as mulheres precisam de um homem para salvá-las e não espere algo na mesma vibe de Hannibal Lecter, porque apesar de terem muito em comum, Hannibal e Steve não poderiam ser mais opostos.

Confira o trailer: 

http://https://www.youtube.com/watch?v=wKk5VAK1GZQ

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Colleen Hoover traz verdades nuas e cruas sobre violência doméstica

Por Sabrina Lacerda Borges      

Na escrita envolvente de “É assim que Acaba”, autora texana incentiva mulheres a romperem  ciclo de agressões

Na história do livro “É Assim que Acaba”, a autora texana Colleen Hoover aborda a violência doméstica. Apresenta situações chocantes como o abuso psicológico, agressão e tentativa de estupro. Além disso, mostra a realidade “nua e crua” (termo utilizado algumas vezes ao decorrer do livro) que diversas mulheres vivem diariamente. O texto nos deixa apreensivos e faz o leitor repensar muitas coisas.

A personagem Lily cresceu vivenciando situações de violência. Ela se tornou adulta detestando o pai, que é uma figura influente na cidade e um “exemplo” de pessoa e profissional. Todos admiram aquele homem, todos menos Lily, que sabe quem ele é realmente.

Ela mora em uma cidadezinha no Maine, se formou em marketing, mudou para Boston e abriu a própria loja. Tenta buscar seus sonhos, corre atrás de seus objetivos e acaba envolvida em um relacionamento, que a princípio, como todos os relacionamentos abusivos, é apaixonante, envolvente e tranquilizador. “É perfeito”.

Ryle Kincaid, um lindo neurocirurgião, começa a demonstrar seu temperamento manipulador e agressivo aos poucos. As agressões físicas começam com empurrões, apertos nos braços e vão evoluindo pra tapas, quedas, mordidas, socos… até que chega a tentativa de estupro.

Escritora faz pensar sobre as relações abusivas

Lily volta com ele tantas vezes, acreditando que tudo vai ser diferente. Ela ama Ryle e fica grávida dele. Mas passa a viver com medo e quando não suporta mais, abre o jogo com amigos e com a mãe, que foi vítima da violência praticada pelo pai de Lily por anos.

“É muito difícil nadar quando você se sente ancorada dentro d’água”. 

De acordo com a pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgada no dia 7 de junho do ano passado, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no país.

A psicóloga Laís Bazzo foi coordenadora responsável pela Rede de Atenção às Mulheres (RAM) de Camaquã, durante cinco anos, deixando o cargo em setembro do ano passado. No entanto, ela se mantém ativa nas ações da entidade, observando que os índices de violência são muito maiores, pois mostram apenas as mulheres que “continuam a nadar” e realizaram uma denúncia. Muitas sofrem em silêncio.

“Temos a ideia do lar doce lar, mas sabemos que na realidade não é bem assim, é um ambiente humano de muito conflito”, falou a psicóloga. “Durante a pandemia, a violência doméstica encontrou um local de ampliação por que este esteve fechado por muito tempo, limitando o convívio das vítimas com outras pessoas”, explicou.

“Os fatores que impedem as mulheres de denunciar são diversos, porém quando reconhecem que estão em um ciclo de violência, o medo e a vergonha ainda são os que mais impactam”, afirmou.

Quando ficamos sabendo sobre casos de mulheres que retornam para lares violentos, é comum surgirem julgamentos. Esse livro apresenta ao leitor um pouco do que algumas dessas mulheres sentem, dos medos, dos desejos de mudança, de um lar, de uma família feliz… Elas sonham com vidas melhores. Elas demoram pra enxergar que o fim é a possibilidade de mudanças concretas.

Quebrando ciclos de violência 

Para a psicóloga é necessário haver um reconhecimento de que se está inserida em um relacionamento abusivo, buscar ajuda, ter acompanhamento em uma rede de apoio, em que psicólogos, assistentes sociais e policiais vão dar o suporte necessário para a vítima e seus filhos.

Em “É assim que Acaba”, a protagonista consegue dar um fim no ciclo de violência. Ela toma uma decisão muito difícil, mas que muda a vida de todos. Mesmo que não seja possível visualizar a princípio, é possível quebrar o ciclo de violência.

Quem está  vivendo uma situação de violência, ou conhece alguém, deve pedir ajuda, denunciar. A medida é entrar em contato com a Polícia Militar (190), Central de Atendimento à Mulher (180) e Rede de Apoio à Mulher da sua cidade. O sofrimento não deve continuar..

“E, por mais que seja uma escolha difícil, nós destruímos o padrão antes que o padrão nos destrua”.

Literatura no combate às agressões dentro de casa

Colleen Hoover é autora de romances e ficção para jovens adultos. Ela publicou seu primeiro romance, “Slammed”, em janeiro de 2012. “É assim que Acaba” é o 16º livro da autora, que já publicou 28 obras de 2012 até 2021.

Colleen Hoover escreve com base no processo de superação que viveu

“É assim que Acaba” é uma obra incrível e extremamente responsável, por retratar situações que muitas mulheres podem estar vivendo sem discriminação. É educativo, abordando diversas formas de abuso, que muitas vezes passam despercebidas e abre possibilidades para possíveis vítimas encontrarem a força necessária para romper relacionamentos assim.

Além disso, a autora mostra que a vítima e o agressor não têm sempre o mesmo perfil, qualquer pessoa pode passar por isso. Uma das grandes problemáticas da literatura atual também foi abordada aqui – o passado não justifica erros. Em muitos livros, é comum se deparar com um “mocinho” abusador, que é assim por conta de algum trauma. Colleen deixa muito claro que nada justifica a violência.

No final do livro, em suas notas, ela conta da lembrança mais antiga que tem da infância, em que o pai arremessou a televisão da família contra a mãe. Ponto que torna a leitura ainda mais importante é a relação com a própria história da autora.

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Ana Paula

Festival Varilux celebra cinema francês

Até o dia 8 de dezembro, uma variada programação diária em Pelotas com dramas, comédias e documentário

Catherine Deneuve está no elenco de “Enquanto Vivo”  e traz reflexões sobre a maternidade e o sentido da existência humana

Começou ontem o Festival Varilux de Cinema Francês, que tem continuidade até o dia 8 de dezembro nas salas do Cineflix Shopping Pelotas. É a décima segunda edição nacional do evento, que apresenta 17 longas-metragens inéditos e recentes, com drama, romance, comédia, animação e documentário. Dentre os títulos em cartaz, estão histórias de época, filmes com inspiração literária, enredos tratando de problemas atuais e visões divertidas das grandes questões humanas.

A programação traz uma seleção de gêneros e temáticas variadas, estreladas por astros e jovens talentos, com a direção de nomes novos e já consagrados. Entre os títulos, estão obras premiadas e participantes de festivais internacionais. Do diretor François Ozon, que é uma presença recorrente no evento, será apresentado o filme “Está Tudo Bem”. Outros destaques são “Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli; “Enquanto Vivo”, de Emmanuelle Bercot; “@Arthur  Rambo – Ódio nas Redes”, de Laurent Cantet; “Adeus, Idiotas”, de Albert Dupontel;  e, “Paris, 13 Distrito”, de Jacques Audaiard.

Há atrizes e atores consagrados nos elencos, como Catherine Deneuve, Vincent Lacoste, Sophie Marceau, Virginie Efira, Jérémie Renier, Pierre Niney e Pio Marmai. Também estão presentes novos nomes do cinema francês como Noémie Merlant, Benjamin Voisin, Sami Outalbali e Rabah Naït.

Presença constante do festival, François Ozon traz sua mais nova obra, “Está Tudo Bem”, que integrou a seleção oficial da última edição de Cannes. O longa-metragem discute a eutanásia e o suicídio assistido quando um homem, em uma cama de hospital, pede ajuda de sua filha para morrer. A temática da morte também aparece no filme “Enquanto Vivo”, com a aclamada atriz Catherine Deneuve. Sob direção de Emmanuelle Bercot, ela vive a história de uma mãe que sofre com a doença incurável do filho.

 

O filme “Ilusões Perdidas” é inspirado na obra literária de Honoré de Balzac    Fotos: Divulgação

 

Temas atuais da sociedade mediada por novas tecnologias aparecem em “@Arthur Rambo – Ódio nas Redes”, dirigido  por Laurent Cantet. O enredo reflete sobre os julgamentos que se fazem nas redes sociais. As questões ecológicas aparecem no documentário “Nosso Planeta, Nosso Legado”, a mais recente produção do  diretor e fotógrafo Yann Arthus-Bertrand. Entre as suas produções  memoráveis, está “Home: Nosso planeta, nossa casa”.

Já o drama “Ilusões Perdidas”, com referência literária, traz no elenco principal os atores Benjamim Voisin, Cécile de  France e Vincent Lacoste. Inspirado no romance homônimo de Honoré de Balzac e dirigido por  Xavier Giannoli, o filme é ambientado no século XIX. Lucien, um jovem poeta  desconhecido, ávido por abrir caminho na vida, deixa sua cidade natal para tentar a sorte em  Paris. A produção foi indicada ao Leão de Ouro, além de outras duas categorias no Festival de  Veneza.

Entre as comédias, um dos destaques é “Adeus Idiotas”, escrita, dirigida e interpretada por Albert Dupontel. O longa-metragem ganhou sete Prêmios César – concorreu a 12 – e já foi visto por mais de um milhão de espectadores na França. Ao descobrir aos 43 anos que está seriamente doente, a personagem Suze Trappet embarca em uma missão surpreendente.

Entre a comédia e a tragédia, “Adeus Idiotas” traz uma visão humorada de alguns desafios

Já “Pequena lição de amor”, de Eve Deboise, mostra seus  protagonistas numa jornada por Paris por causa de uma inquietante carta de amor. “Mentes  Extraordinárias”, codirigida por Bernard Campan e Alexandre Jollien, – atores que também  assinam a direção do longa – conta a história de duas pessoas que se dirigem para o sul da França  num carro funerário.

Integrante da seleção oficial de Cannes e codirigida por Arnaud e Jean  Marie Larrieu, a comédia musical “Tralala” acompanha um cantor de ruas de Paris que,  milagrosamente, se reinventa na cidade de Lourdes.

Marca presença, com o longa-metragem de animação “A Travessia”, a diretora francesa Florence Miaihe. É uma das mais consagradas animadoras do mundo, com obras cheias de intensidade dramática. O veterano Jacques Audiard apresenta sua última produção “Paris, 13 Distrito”, que mira em três personagens jovens na busca de seus caminhos.

Um dos atores franceses mais populares, François Cluzet, está em “Um Intruso no Porão”,  no papel de um  homem de passado conturbado, que transforma a vida de um casal ao comprar um porão de um  imóvel na cidade de Paris.

O thriller psicológico “Caixa Preta”, de Yann Gozlan, conquistou o  Prêmio do Público no 38º Festival Reims Polar e busca a verdade sobre o que aconteceu a bordo  do voo Dubai-Paris antes de bater no maciço alpino, através da análise minuciosa das caixas  pretas. No elenco está Pierre Niney, que viveu o costureiro no consagrado filme biográfico “Yves Saint Laurent”. Já “Madrugada em Paris” retrata a  saga de Mikaël, um médico vivido pelo ator Vincent Macaigne, que tem uma noite para decidir  seu próprio destino.

E, para deixar os amantes da gastronomia com água na boca, a mostra apresenta “Delicioso: da  Cozinha para o mundo”. O filme de época conta um pouco dos primórdios da culinária francesa, bem como a criação do primeiro restaurante do país, antes mesmo da revolução francesa acontecer.

“Um Conto de Amor e Desejo” é o segundo longa-metragem de Leyla Bouzid O personagem principal é Ahmed, um jovem crescido nos subúrbios parisienses que, na universidade, conhece Farah, uma  jovem tunisiana cheia de energia e recém-chegada de Túnis. O longa mostra, com delicadeza e audácia, o despertar para a sexualidade e o ardor dos sentimentos e fantasias. A produção  integrou a Semana da Crítica de Cannes de 2021 e ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival  Du Film Francophone d’Angoulême 2021.

A edição 2021 traz de volta às telonas um filme memorável da cinematografia francesa para  compor os clássicos homenageados da mostra. A  comédia “O Magnífico”, de 1973, é dirigida por Philippe de Broca e conta com Jean-Paul  Belmondo no papel principal, além de Jaqueline Bisset, Vittorio Caprioli e Jean Lefebvre. A reexibição homenageia Belmondo, um dos mais populares atores franceses, que esteve no elenco de filmes hoje considerados clássicos e que faleceu no mês de setembro deste ano.

Em “O Magnífico”, de Philippe de Broca, François é um escritor de romances de espionagem, cuja figura principal é Bob Saint Clair, um espião muito esperto, inteligente e sedutor. Sua obra  desperta o interesse acadêmico de Christiane, uma estudante inglesa de Sociologia. Aos poucos,  o estudo e o relacionamento entre eles começam a se confundir com trechos do novo livro do  escritor. O filme cult é uma hilariante e feroz sátira dos filmes de aventura, espionagem, dos  super-heróis, sendo os filmes de James Bond o alvo mais específico. Com um humor ácido, a  comédia usa e abusa de todos os excessos do gênero com alegria contagiante e explora com  maestria o tema da vida dupla, real e sonhada.

O Festival Varilux de Cinema Francês é realizado pela produtora Bonfilm e tem como  patrocinador principal a Essilor/Varilux, além do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da  Cultura, Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. É uma parceria com  as unidades das Alianças Francesas de todo o Brasil; a Embaixada da França; empresas Club Med, Air France, Fairmont e Ingresso.com. As distribuidoras dos filmes desta edição são Bonfilm, California Filmes, Mares Filmes, PlayArte, Synapse e Vitrine Filmes; além de exibidores de cinema independente e de arte.

Veja aqui a programação dia após dia no Cineflix Shopping Pelotas.

Para assistir aos filmes, é necessário usar máscara e mostrar comprovante de vacinação com identidade.

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Obra valoriza a arte de mulheres negras da região Sul

Por Gabriella Cazarotti     

E-book “Do Fogo que Arde em Nós” registra poeticamente vivências de autoras gaúchas    

A pesquisa de mestrado de Ediane Oliveira rendeu muito mais do que conteúdo acadêmico. A jornalista e militante dos movimentos negros percebeu que o material que ela vinha estudando desde 2019 era poético e valioso, uma escrita potente o suficiente para virar algo a mais. Um e-book de “escrevivências”. A partir dos seus estudos, a pesquisadora percebeu a importância da escrita poética como expressão da identidade e o resultado mais recente foi a publicação “Do Fogo que Arde em Nós”, com livre acesso na internet.

Este projeto surge conectado à pesquisa de mestrado de Ediane em Antropologia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O princípio do projeto era registrar a vivência de mulheres negras. “Eu estava estudando epistemologia e experiências de mulheres negras em Pelotas e um dos métodos que eu utilizei foi o método da ‘escrevivências’, termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo. Esse método é utilizado dentro das Ciências Humanas para pensar a experiência vivida por mulheres negras”, explica a jornalista.

Entretanto, o que Ediane registrava ia além de academicismos com a poesia do que era dito e escrito. A arte contida nas palavras era muito forte para passar despercebida. A jornalista sempre teve mais afinidade com a área de Jornalismo Cultural, e soube identificar o conteúdo artístico que estava escrevendo. “Ao longo do processo do mestrado, eu comecei a perceber a potência dessa pesquisa. A construção desse estudo foi se transformando em uma reunião de ‘escrevivências’ de algumas mulheres muito referenciais para mim aqui na cidade de Pelotas.”

A experiência de pesquisa da jornalista se transformou em um projeto cultural, buscando dar visibilidade a outras expressões identitárias e poéticas. Em 2020, com a pandemia, Ediane resolveu escrever o projeto na categoria literária do edital diversidade das culturas da Fundação Marcopolo com o apoio da lei Aldir Blanc. Com o recurso que recebeu, pode dar início ao e-book que visa valorizar e divulgar as obras poéticas de mulheres negras.

O título do projeto é o mesmo da dissertação e ele se conecta diretamente com um poema da autora Conceição Evaristo que fala sobre “o fogo que arde”. Ediane logo relacionou a palavra “fogo” com o ato de resistência do povo negro. “O mercado editorial exclui as escritas negras, Conceição Evaristo foi uma autora que levou muito tempo para ser reconhecida dentro do espaço da literatura nacional, esse é um ponto que sempre me chamou muita atenção, como o racismo atravessa todas as estruturas da sociedade, inclusive os espaços da arte”, conta a autora.

Ediane Oliveira, organizadora e idealizadora do projeto literário

O processo de escolha das autoras e dos poemas foi feito por Ediane, que já possui experiência em curadoria com outros projetos que participa, como a revista de literatura Mandinga. Houve uma chamada pública de escritoras negras de todo o estado do Rio Grande do Sul, e em seguida, Ediane aplicou critérios para contemplar a arte de quatro autoras para participar do e-book “Do Fogo que Arde em Nós.” As participantes desta edição são Agnes Mariá, Claudia Daiane Garcia Molet, Eliana Marah e Pérola Negra.

A pesquisa não termina no e-book. Os próximos passos do projeto é um dos maiores desejos da organizadora, transformar o material on-line em livro físico e abranger mais pessoas. No site do projeto, o conteúdo de todas as escritoras que se inscreveram para participar do e-book será divulgado, para que todas tenham visibilidade em suas escritas.

Para a jornalista, a produção de literatura feminina negra no Brasil está passando por um grande processo de mudança. Um momento de visibilidade, fruto de uma resistência do movimento negro que lutou para ocupar esse espaço. Entretanto, nem tudo está resolvido, Ediane ainda acredita que os espaços de publicação editoriais de mulheres negras ainda são restritos e seletivos por parte das editoras. “O que se pode fazer para apoiar e viabilizar a existência de escritoras no Brasil são mais fomentos públicos para que se tenha de fato a valorização das produções artísticas. Que essas mulheres recebam conhecimento, não apenas simbólico, mas financeiro, pois viver de poesia não é fácil no Brasil.”

O e-book pode ser acessado neste site e os próximos passos do projeto podem ser acompanhados pelas redes sociais.

 

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Marina Sena: revelação da música pop brasileira em 2021

 

Por Helena Isquierdo    

Cantora conquistou o público com seu álbum de estreia “De Primeira”, e acumula quatro indicações para o Prêmio Multishow deste ano

                                Marina Sena: identidade visual única, vibrante, chamativa e com uma alta qualidade vocal                              Foto: Divulgação/Fernando Tomaz

 

Mineira de 24 anos, Marina Sena ganhou o coração do público com suas músicas que misturam sonoridades como pop, axé, reggae e MPB. O seu primeiro álbum em carreira solo, “De Primeira”, produzido por Iuri Rio Branco, possui 10 faixas que unem todas as referências que Marina cresceu escutando.

O nome “De Primeira” possui três justificativa. Segundo Marina. Inicialmente, por ser uma expressão muito dita por sua avó. Segundo, pelo disco reunir esforços para chegar à primeira qualidade, e também por ser uma aposta de que ele daria certo logo de cara.

A cantora e compositora começou sua carreira profissional aos 18 anos, e fez parte dos grupos Rosa Neon e A Outra Banda da Lua antes de apostar em seguir seus sonhos sozinha.

Atualmente, ela possui mais de 1,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify e concorre a quatro categorias de destaque no Prêmio Multishow 2021: Álbum do Ano, Canção do Ano, Revelação do Ano e Experimente.

O sucesso não para

Recentemente, sua música de maior sucesso “Por Supuesto” entrou na onda de trends da rede social TikTok e viralizou ainda mais. Isso fez, inclusive, com que a faixa entrasse para a playlist “Viral 50 Global”, do Spotify. O hit chegou a atingir o topo desse ranking, que monitora as músicas que estão sendo mais ouvidas, comentadas e compartilhadas através das redes sociais.

Entre outros destaques de sua carreira em 2021, Marina foi a artista escolhida pelo programa Radar Brasil – playlist que divulga os novos talentos brasileiros. Ela também esteve entre os nomes da América Latina pelo YouTube Foundry, estrelando anúncios na Times Square, em Nova York.

Muito comparada com cantoras como Marisa Monte e Gal Costa, ela já está confirmada para os festivais Rock The Mountain e Sarará. Com identidade visual única, vibrante, chamativa, e com uma alta qualidade vocal, a sua notoriedade no mundo da música e as posições nos charts não param de crescer. Vale a pena escutar seu novo álbum!

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Poder e disputa na eletrizante guerra familiar de “Succession”

Por Milena Schivittez            

Série conta a vida conflituosa de um empresário de mídia e seus quatro filhos

Kendall (interpretado por Jeremy Strong), o primeiro da linha sucessória, e o patriarca Logan Roy (Brian Cox)

 

Polêmicas, intrigas e reviravoltas não são tão incomuns em dramas familiares, principalmente naqueles que abordam uma disputa por poder. Essa premissa básica pode exemplificar diversas séries televisivas, desde produções históricas até enredos mais contemporâneos. Mas afinal, o que torna “Succession” esse fenômeno de crítica e audiência?

À primeira vista, “Succession” apresenta uma trama muito comum aos olhos daqueles que cresceram assistindo novelas e dramalhões televisivos, recheados de personagens ricos, herdeiros, esnobes e pouco confiáveis. A família Roy, com as figuras centrais do enredo, não é nada diferente destes personagens, porém bem mais intragável.

Criada por Jesse Armstrong, a série da HBO acompanha Logan Roy (Brian Cox), um empresário de sucesso, dono de um conglomerado de mídia, e seus quatro filhos: Connor Roy, o filho mais velho do primeiro casamento que vive às custas do pai e sem nenhuma perspectiva; Kendall Roy (Jeremy Strong), o primeiro filho do segundo casamento e o principal nome para suceder Logan no comando da organização; Roman Roy (Kieran Culkin), o filho irresponsável, mas que almeja um lugar importante nos negócios da família; Siobhan Roy (Sarah Snook), a filha preferida de Logan que trabalha como coordenadora de campanhas políticas.

A trama começa a partir de um momento decisivo para a empresa de mídia e entretenimento Waystar Royco e para a família Roy, responsável pelo conglomerado. Logan Roy, fundador e CEO da empresa, decide finalmente deixar o comando e nomear o seu sucessor, seu filho Kendall. Contudo, o patriarca volta atrás e acaba lançando uma verdadeira disputa entre seus filhos e os funcionários. Até mesmo ele é desafiado para saber quem finalmente ficará no comando.

Com um texto muito afiado, diálogos pertinentes e alternando com perfeição entre o humor e o drama, a sátira apresenta personagens cruéis, que não medem esforços para apunhalar uns aos outros pelas costas, fazendo com que o próprio telespectador fique confabulando para saber de quem será o próximo golpe. O público é levado a torcer para que um deles finalmente consiga chegar ao tão cobiçado poder.

O que acaba tornando “Succession” uma das melhores séries atualmente no ar é justamente a forma fria, crua e direta na qual Armstrong decide construir e apresentar ao público essa família. Ela é completamente disfuncional, brigando por uma empresa que a cada dia se afunda mais perante os acionistas, ao governo e a opinião pública. Tudo em “Succession” é uma bomba relógio, prestes a explodir, que acaba nos deixando presos para saber quem vai restar no final desta guerra familiar.

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