Fim de semana com Carnaval anima Canguçu

Evento com diversas atrações musicais marcou o primeiro evento cultural da nova gestão municipal         

Por Chaiane Romer e Amanda Leitzke         

 

Multidão canguçuense e turistas aproveitaram a festa no Centro da cidade          Foto: Prefeitura de Canguçu

 

Nos dias 8 e 9 de março, Canguçu foi palco de muita animação, música e visitantes durante o Carnaval realizado pela Prefeitura. Com diversas atrações musicais, o evento marcou também a primeira grande programação cultural da nova gestão do município.

O Carnaval de Canguçu 2025 trouxe alegria para os moradores e atraiu turistas de outras cidades. A gestão municipal anterior decidiu retomar o Carnaval fora de época no ano passado, iniciando a volta dessa tradição que havia ficado ausente por muitos anos. E a edição deste ano marcou a segunda vez consecutiva em que a festividade foi realizada após um longo intervalo.

A Prefeitura estima que cerca de 4 mil pessoas passaram pelo evento a cada noite, refletindo o grande sucesso e a adesão do público local e dos visitantes. O evento foi organizado por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Indústria e Comércio, e teve um papel fundamental na movimentação cultural da cidade.

Para o Secretário de Cultura, Ubiratan Rodrigues, a realização do Carnaval representou um grande desafio no início da gestão, uma vez que a Secretaria de Cultura foi recém-criada. “No início do governo, nem a Secretaria de Cultura estava formada. Ela foi estabelecida este ano, e, por isso, o processo foi um pouco atribulado. No entanto, atendendo às orientações do Prefeito Arion Braga, conseguimos organizar o Carnaval que ele idealizou para a cidade”, explicou o secretário.

Rodrigues também ressaltou a principal intenção do evento: atender à comunidade local, especialmente aqueles que não podem viajar para outras cidades para aproveitar as festas carnavalescas. “Buscamos realizar algo que contemplasse nossa comunidade, permitindo que aqueles que não tinham oportunidade de sair de Canguçu, e, até mesmo, os que retornaram de outros lugares, pudessem prestigiar a festa. Queríamos agregar e unir a população na grande celebração popular que é o Carnaval”, completou.

Atrações

O evento aconteceu em frente à Prefeitura e contou com uma programação animada nos dois dias de festa. No sábado, 8 de março, às 20h, o Trio Elétrico deu início à festa, desfilando pela rua principal da cidade até os próximos pontos de atração. A programação seguiu com a banda Virou Maniah, que levou muito samba e pagode para o público. O DJ Adriano também marcou presença animando as pessoas, e o cantor Sapatinho encerrou a noite com uma performance cheia de energia.

No domingo, dia 9 de março, a festa começou mais cedo, às 18h, com o Trio Elétrico novamente percorrendo as ruas. A banda Nova Geração subiu ao palco em seguida, trazendo os maiores sucessos do momento, enquanto o DJ Adriano voltou a agitar os foliões. Para fechar o evento com chave de ouro, a Escola de Samba Kibandaço e a Hawaii Show Band subiram ao palco, levando todos ao delírio com seus ritmos vibrantes.

Harmonia e diversão

Refletindo sobre o sucesso do evento, o Secretário Ubiratan Rodrigues destacou a importância da segurança e da colaboração do tempo para garantir que o Carnaval transcorresse de forma tranquila e sem incidentes. “Tivemos a sorte de o tempo colaborar, e durante as duas noites não enfrentamos problemas. O Carnaval, muitas vezes, é associado a brigas e confusão, mas conseguimos evitar isso graças ao apoio da Brigada Militar e dos seguranças. Não tivemos nenhuma ocorrência. Isso mostra que o povo de Canguçu entendeu a proposta, se divertiu e brincou de maneira tranquila”, afirmou.

Rodrigues também enfatizou que a integração entre moradores e turistas foi um dos grandes destaques do evento. “Quando o evento é bom, as pessoas se concentram na diversão. Vimos muitos turistas se juntando aos canguçuenses, aproveitando a festa, e isso fez com que o Carnaval fosse realmente especial”, concluiu o secretário.

O Carnaval de Canguçu 2025 ficou marcado pela união da comunidade, pela alegria dos foliões e pela segurança proporcionada aos participantes. Superando as expectativas, a festa se consolidou como um evento que tem tudo para se repetir nos próximos anos, trazendo mais visibilidade para a cidade e fortalecendo a cultura local.

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Arte, movimento e inclusão na trajetória de projeto de dança-teatro

A professora Maria Falkembach fala sobre os desafios, as conquistas e expressão artística do Grupo Tatá, projeto de extensão da UFPel   

Por Priscila Fagundes     

 

Maria Falkembach destaca como a expressão da dança pode pensar questões contemporâneas             Foto: Reprodução/Internet

 

A professora do curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Maria Falkembach, é uma das principais referências no desenvolvimento do Grupo Tatá, projeto de extensão que une dança e teatro em produções artísticas e ações comunitárias. Criado em 2009, o grupo surgiu como um espaço de experimentação e aproximação entre a Universidade e a comunidade, tendo como primeiro espetáculo uma releitura da lenda do Boitatá. Ao longo dos anos, os desafios estruturais, consolidaram sua identidade e expandiram seu alcance, com apresentações em teatros renomados e escolas públicas. Nesta entrevista, Falkembach compartilha a história do projeto, os desafios enfrentados, o processo criativo das montagens e a importância da fusão entre dança e teatro na construção de uma arte acessível e provocativa.

Arte no Sul – Conte como o Grupo Tatá surgiu, por que e quando. O que motivou a criação e quais eram suas expectativas iniciais?

Maria Falkembach – O Grupo Tatá surgiu em 2009 como o primeiro projeto de extensão do Curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O núcleo nasceu da necessidade de aproximação da Universidade com a comunidade, utilizando a dança-teatro como meio de expressão e formação de público. Sua primeira experimentação cênica foi inspirada na lenda “M’Boitatá”, transcrita por Simões Lopes Neto, o que ajudou a consolidar a identidade do grupo e sua conexão com a cultura local​.

Arte no Sul – Ao longo desses anos, quais foram os principais desafios enfrentados pelo grupo? Algum momento foi especialmente marcante?

Maria Falkembach – O grupo enfrentou desafios estruturais, como a falta de um espaço cênico adequado na cidade, especialmente com o Teatro Sete de Abril fechado. Isso nos levou a buscar alternativas, incluindo apresentações no Theatro São Pedro, em Porto Alegre​. Um momento marcante foi a realização de uma mostra especial comemorativa dos 15 anos do grupo, que permitiu uma retrospectiva de suas produções e reafirmou a importância das temporadas em Pelotas. Além disso, as apresentações nas escolas foram impactantes, pois proporcionaram interações emocionantes com alunos e professores​.

Arte no Sul – De onde vem o nome do grupo Tatá? Como esse conceito se manifesta na identidade e nas produções do grupo?

Maria Falkembach – O nome “Tatá” significa “fogo” em Tupi-Guarani e foi escolhido porque o primeiro trabalho do grupo foi baseado na lenda do Boitatá. A ideia do fogo remete à energia e à conexão entre os integrantes e o público. Esse conceito se manifesta nas produções do grupo por meio da intensidade das performances e do envolvimento do espectador nas apresentações​.

 

A professora Maria Falkembach em cena, incorporando a expressividade e a fusão entre dança e teatro, marcas do Grupo Tatá

 

Arte no Sul – Como funciona o processo criativo nas montagens do Tatá?

Maria Falkembach – O processo criativo do Tatá varia conforme o tema e as pessoas envolvidas, sendo baseado em improvisação e preparação corporal específica para cada espetáculo. No espetáculo “Quando Você Me Toca”, por exemplo, a preparação envolveu o uso do Kung Fu para trabalhar força e diferentes formas de toque. Já em “Inservíveis”, foram utilizadas práticas como yoga e samba, [de acordo com a] proposta do espetáculo.

Arte no Sul – Qual a maior característica do grupo? E como isso influencia na criação e recepção das obras?

Maria Falkembach – O Tatá se destaca pelo seu trabalho coletivo e pela fusão entre dança e teatro. O grupo valoriza a singularidade dos intérpretes, evitando a homogeneização dos movimentos e buscando formas únicas de expressão. Essa abordagem resulta em espetáculos que instigam e provocam o público, gerando reflexões e promovendo um diálogo horizontal entre artistas e espectadores.

Arte no Sul – Como vocês escolhem os temas para serem trabalhados?

Maria Falkembach – Os temas são escolhidos a partir de inquietações artísticas e sociais do grupo. Questões como identidade, pertencimento e relações humanas frequentemente aparecem nos espetáculos. “Terra de Muitos Chegares”, por exemplo, abordou multiculturalismo e migração, refletindo sobre as diferentes trajetórias dos integrantes do grupo. Já “Quando Você Me Toca” partiu de uma pesquisa sobre toque e gênero no ambiente escolar.

Arte no Sul – Quais os principais lugares que o Grupo Tatá já se apresentou? Como o público reage às performances nesses diferentes contextos?

Maria Falkembach – O grupo já foi apresentado em diversas cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, incluindo espaços acadêmicos, festivais e teatros importantes, como o Theatro São Pedro. No entanto, as apresentações em escolas são um grande destaque, pois promovem um impacto direto no público jovem, estimulando diálogos e reflexões sobre os temas envolvidos. Essas experiências são enriquecidas por momentos de conversa e mediação após os espetáculos, criando um espaço de escuta e troca de vivências​.

 

Integrantes do Grupo Tatá em uma de suas montagens cênicas, explorando o corpo, o movimento e a interação com o público

 

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Carnaval “guerreiro” de Arroio Grande atrai milhares de visitantes

Blocos conseguem ultrapassar dificuldades e manter tradição      

Por Luís Esteves Garcez        

O carnaval arroio-grandense, conhecido regionalmente pela frase “O Melhor Carnaval da Zona Sul”, é o evento cultural mais importante de Arroio Grande, recebendo milhares de visitantes ao longo dos dias de festa. O professor e historiador Lizandro Araújo, que atuou como carnavalesco da escola de samba arroio-grandense Samba no Pé por 25 anos e, atualmente, é secretário adjunto de Educação no município vizinho de Herval, afirma que o Carnaval de Arroio Grande é grandioso devido à população e às escolas de samba, não às políticas públicas, pois, de acordo com ele, diversos governos quase terminaram com a festa. Ele também admira o Carnaval da cidade por ser “guerreiro” como nenhum outro do Rio Grande do Sul, pois há 35 anos mantem sua essência e suas características intactas, mesmo passando por períodos de muita dificuldade, como a pandemia de COVID-19.

Origem do Carnaval

A origem da cultura dos blocos de Carnaval remonta às tradições populares europeias, especialmente às festas de rua que ocorriam em Portugal, que chegou ao Brasil no período colonial. Essas manifestações foram se misturando com elementos das culturas africana e indígena, dando origem a uma celebração única. No século XIX, os blocos de Carnaval começaram a se organizar de forma mais estruturada, com grupos de pessoas se reunindo para desfilar pelas ruas com músicas, danças e fantasias.

Os cordões e ranchos, precursores dos blocos modernos, ganharam força no Brasil no início do século XX, incorporando samba e outros ritmos. Na década de 1920, encontra-se diversos registros de blocos de Carnaval através do País, devido à difusão dessa cultura, muito influenciada pelos eventos carnavalescos do Rio de Janeiro. Não foi diferente na cidade de Arroio Grande, município ao sul de Pelotas, há alguns quilômetros da fronteira com o Uruguai.

“Em 35 anos, a gente só deixou de desfilar nos dois anos da pandemia, e, mesmo assim, o Carnaval aconteceu. Tínhamos lives de rodas de samba e documentários feitos pelas escolas de samba sobre suas histórias. Ali, todo mundo achou que o nosso Carnaval ia morrer, mas, na volta, em 2023, foi um absurdo. Toda aquela saudade e aquela ânsia de festejar, que se acumulou durante dois anos nas pessoas, fez todo mundo ir para as ruas e foi um dos maiores carnavais que já tivemos. O Carnaval de Arroio Grande tem 35 anos, e claro, nós tivemos altos e baixos, mas as escolas nunca perderam a grandiosidade e o brilho,” diz Araújo.

 

Professor Lizandro Araújo foi  carnavalesco da escola de samba arroio-grandense Samba no Pé por 25 anos

 

Araújo também comenta sobre como muitas cidades do Rio Grande do Sul sofreram prejuízos na qualidade de seus carnavais com o passar dos últimos anos, como o de Jaguarão, de Pelotas e até de Porto Alegre. De fato, muitas cidades sul rio-grandenses perderam suas escolas de samba e hoje se resumem a blocos, enquanto outras comemoram o Carnaval em datas fora de época. Lizandro diz que nada explica melhor o Carnaval arroio-grandense como o famoso slogan “O Melhor Carnaval da Zona Sul”.

Mesmo que nos últimos 35 anos a essência da festa na cidade tenha se mantido a mesma, ela definitivamente mudou muito quando comparada a 1872, data em que Arroio Grande foi emancipada de Jaguarão. A cidade tinha em torno de 4.000 habitantes, desses, quase metade eram negros descendentes de africanos escravizados. Apesar de totalizarem quase metade dos habitantes da cidade, essa parcela da população era impedida de celebrar o Carnaval junto da elite local – branca, rica e pecuarista – que frequentava o Clube Instrução Recreio (que mais tarde veio a se chamar Clube do Comércio), um clube social que impedia a entrada de negros.

O povo negro arroio-grandense, sem ter um espaço para festejar nem manifestar sua cultura, foi para a rua Doutor Monteiro (a rua principal do Carnaval na cidade) com blocos, cordões carnavalescos e instrumentos, para fazer sua festa. No Carnaval de 1913, encontra-se o primeiro registro de um bloco arroio-grandense, chamado “Bloco dos Africanos”. O “Troveja, Mas Não Chove” e o “Sempre Reinando” também fazem parte dos primeiros blocos oficiais da cidade e foram fundados por cidadãos negros. Em 1920, o povo negro do Arroio Grande tinha uma necessidade por um espaço adequado para poder se reunir e festejar. Foi nesse contexto que um grupo de amigos fundou o primeiro e único clube social negro de Arroio Grande, o Clube Guarani.

Araújo comenta que, em torno de 25 anos atrás, ainda se via características de segregação nos blocos sociais, que continuavam se reunindo nesses mesmos clubes depois que as escolas de samba passavam. “Podemos dizer que, no ano 2000, ainda havia essa separação com esses blocos ligados ao Clube do Comércio, onde não se via pessoas negras ou de baixa renda. Tinha uma camada um pouco mais popular que ia para o Clube Caixeiral, e o povo negro ia para o Clube Guarani. Nos anos mais recentes, isso já não é mais visto, até por que o Carnaval de salão de Arroio Grande terminou em 2014. Hoje em dia, vemos pessoas de todas as manifestações culturais misturadas nos blocos, com classes sociais, cores de pele e orientações sexuais diferentes. O Carnaval de Arroio Grande está muito aberto a toda diversidade da nossa sociedade”.

Confusão e morte

Além da Pandemia do COVID-19, outras duas situações extremamente complicadas prejudicaram o Carnaval de Arroio Grande e, mais especificamente, os blocos da cidade, nos últimos anos. No Carnaval de 1995, os chamados blocos burlescos (blocos de mascarados e homens travestidos de mulher) se envolveram em uma confusão em torno da Praça Maneca Maciel, principal praça da cidade, culminando no óbito de um jovem.

Anos depois, em 2012, um integrante do bloco “Comando Gambá”, um dos maiores da cidade até então, contando com quase 500 integrantes, desentendeu-se com outros membros e, em um ataque indiscriminado, esfaqueou oito pessoas. Felizmente, nenhuma morte ocorreu naquela noite, mas o bloco não conseguiu sobreviver.

Apesar desses dois eventos trágicos, a cultura de blocos na cidade nunca parou de crescer. O modelo de bloco carnavalesco atual que se conhece, com membros usando camisetas iguais, também chamadas de abadás, surgiu na cidade a partir dos anos 2000 e, de acordo com Araújo, em 2005, as escolas de samba de Arroio Grande já enfrentavam certas dificuldades ao conseguir componentes. O arroio-grandense passou a preferir fazer parte do bloco, por uma questão de mais tempo livre, e de poder aproveitar mais o Carnaval, sem restrições de bebida e horário.

Importância dos blocos

Hoje, os blocos de Carnaval têm uma enorme participação nas festas momescas da cidade. Em 2019, foi criada a Liga dos Blocos de Arroio Grande (LIBAG), uma coalisão de blocos com o objetivo de regularizar as agremiações integrantes e regularizar o desfile de blocos que acontece logo após o desfile das escolas. A Liga fiscaliza horários, carros de som, material e todos outros fatores importantes para tornar a experiência divertida e segura tanto para os integrantes quanto para os espectadores na hora do desfile. Além disso, atualmente, uma das cinco rainhas da corte do Carnaval da cidade é a Rainha da Liga dos Blocos, dando ainda mais visibilidade e importância a essa faceta do Carnaval arroio-grandense.

“A cada Carnaval se cria dois ou três blocos novos, desde os menores até os maiores. Existem blocos tradicionais que permanecem durante anos, como o Bloco da Serafina, ligado à família fundadora da escola Samba no Pé, o Bloco das Luluzinhas, que tem 45 anos, o Bloco das Venenosas, de 15 anos. Mas há também aqueles pequenos blocos que surgem pontualmente em algum Carnaval, blocos de amigos, blocos dissidentes de blocos maiores, etc. Mas claro, muitos blocos também não dão certo e deixam de existir, como o Comando Gambá,” observa Araújo.

Apesar de que o exemplo do bloco que deixou de existir é um caso isolado, há outros inúmeros blocos que não vingam, que não têm continuidade. Quanto a isso, o professor considera: “O maior fator que faz um bloco não vingar é a questão da organização, também, às vezes, por troca de diretoria. Muitos não aceitam as novas ideias e o bloco não sobrevive. Dois blocos que deixaram muita saudade, pelo tamanho que eles tinham e pela expectativa que eles deixavam, eram o Bloco Cirrose o Bloco da turma dos 70”.

 

 

Integrantes do Bloco Boêmios, em frente à sede da agremiação, na noite de 4 de março
Foto: Hércules Plantikow Araújo

 

Bloco Boêmios

Durante o Carnaval desse ano, alguns diretores de blocos conhecidos puderam ser entrevistados nas ruas de Arroio Grande, nas noites de festa. O diretor desde 2020 do Bloco Boêmios, Leandro Figueiredo dos Santos, interrompeu a folia por alguns minutos para responder algumas perguntas. Ele lembra que o Boêmios surgiu em setembro de 2012, como bloco dissidente do anteriormente citado Comando Gambá. Inicialmente, o plano era formar um bloco apenas com amigos próximos, para que não se separassem após a tragédia do antigo bloco.

Quando questionado sobre a questão do preço para participar do bloco, Leandro esclarece que o Boêmios tem diversos pacotes com preços que variam, alguns mais caros, com mais benefícios (mais noites, bebida liberada, etc.), e outros mais baratos e acessíveis, para que todos tenham a oportunidade de se divertir. “O melhor de fazer parte da diretoria é ver acontecer do jeito que tu planejaste. A gente dorme no máximo três ou quatro horas por dia no Carnaval, se alimenta mal, está sempre na correria, e, mesmo assim, vale cada momento, vale cada sorriso.” diz ele, com um sorriso no rosto.

Não se pode afirmar se o Carnaval de Arroio Grande foi, em 2025, realmente “O Melhor Carnaval da Zona Sul”, mas, com certeza, a festa vale a pena. Além da beleza dos desfiles realizados pelas quatro grandes escolas de samba que desfilaram de segunda à terça, os blocos da cidade trazem uma opção alternativa de diversão, que se prolonga muito além dos desfiles, com boa companhia, muita bebida e música alta até o sol raiar.

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Todo Dia a Mesma noite

 A tragédia na Boate Kiss pelos olhos de Daniela Arbex      

Por Mariana Pereira      

 

Obra relata uma das maiores tragédias do Brasil Imagem: Divulgação

 

O livro “Todo Dia a Mesma Noite”, escrito pela jornalista Daniela Arbex, aborda a trágica história do incêndio na Boate Kiss, ocorrido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 27 de janeiro de 2013. A obra é um relato emocionante e detalhado da maior tragédia do Brasil em termos de número de mortes em um evento público. Com uma abordagem profunda e sensível, Arbex traz à tona não apenas os detalhes do incêndio, mas também as consequências desse evento devastador para as vítimas e suas famílias, além de analisar as falhas do poder público e da sociedade que contribuíram para essa catástrofe.

A história do incêndio é contada de forma intensa e humana. A autora começa retratando a noite da tragédia, quando a Boate Kiss, que estava lotada de jovens celebrando a noite, foi tomada por um incêndio causado por um sinalizador usado durante um show da banda Gurizada Fandangueira. Em poucos minutos, o fogo se espalhou e a boate, com saídas de emergência inadequadas e uma grande quantidade de pessoas em um espaço apertado, se tornou uma armadilha mortal. O trágico resultado foi de 242 mortos e centenas de feridos.

O livro se torna uma reflexão sobre a memória e a busca por justiça. A autora, por meio de entrevistas, pesquisas e relatos pessoais, questiona como a sociedade lida com as tragédias e como a justiça é muitas vezes lenta e falha. Enquanto as famílias das vítimas buscam respostas e a dor da perda continua a fazer parte da rotina de muitas pessoas, os responsáveis pela tragédia ainda não foram totalmente punidos.

A obra levanta a questão de como eventos como o incêndio na Boate Kiss podem ser esquecidos ou minimizados com o tempo, sendo que as vítimas merecem ser lembradas, e suas famílias, justiça. Arbex nos lembra que, mesmo após anos, a dor e as consequências ainda marcam a vida daqueles que vivenciaram esse evento de perto.

O que mais chamou a atenção do público foi a forma como Daniela retratou esse dia tão triste e marcante para tantas famílias. Ela vai além da descrição do evento em si. Ela narra as histórias das vítimas e de seus familiares, mostrando o impacto da tragédia na vida das pessoas. Para cada vítima, existe uma história, um sonho interrompido, uma família dilacerada pela perda. A obra humaniza a dor e o sofrimento, dando voz aos que perderam seus entes queridos e aos sobreviventes, que carregam as cicatrizes tanto físicas quanto emocionais do que viveram naquela noite infernal.

Falhas e descaso

Em “Todo Dia a Mesma Noite”, a autora também dedica uma parte significativa do livro para discutir as falhas do sistema de segurança e fiscalização que contribuíram para que o incêndio acontecesse de forma tão devastadora. Daniela Arbex denuncia a negligência das autoridades locais, que permitiram que a boate funcionasse sem a devida fiscalização e sem as condições mínimas de segurança exigidas por lei. A boate Kiss possuía saídas de emergência bloqueadas, a acústica do local favorecia o pânico e a falta de equipamentos adequados de combate ao fogo aumentaram a tragédia. A autora ainda destaca a falta de responsabilidade das empresas envolvidas, como a fabricante do sinalizador que provocou o incêndio. Ela também critica a omissão das autoridades em cuidar da segurança dos cidadãos, que são os principais responsáveis por garantir que espaços de lazer públicos e privados sejam seguros para todos. A sensação de impunidade e a sensação de que a vida das pessoas não vale o suficiente são recorrentes ao longo da leitura.

 

Os livros de Daniela Arbex abordam violência e história recente do Brasil        Foto: Divulgação

 

Sobre a autora

Daniela Arbex é uma jornalista brasileira, conhecida principalmente pelo seu trabalho como repórter investigativa. Antes de se tornar escritora, Daniela trabalhou como repórter em veículos como o jornal O Globo e a revista Veja. Ela tem uma carreira marcada pela apuração rigorosa e pelo seu comprometimento em dar voz às vítimas de grandes tragédias e injustiças sociais. Daniela é autora de livros que abordam temas fortes e impactantes, com uma escrita que busca não só informar, mas também emocionar e provocar reflexão sobre questões fundamentais da sociedade.

Além da obra “Todo Dia a Mesma Noite”, Daniela Arbex também é autora de outros livros que discutem temas como violência e história recente do Brasil, sempre com um olhar atento à busca por justiça e pela preservação da memória histórica. A autora é admirada por sua dedicação em revelar histórias que muitas vezes são ignoradas pela mídia tradicional, com uma abordagem profunda e sensível que emociona e provoca reflexão.

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Pela maior valorização e atenção à dança

Entre o amor à arte e a busca por apoio, as companhias de Pelotas sobrevivem         

Por Giulia Lemons Brum       

 

A Companhia 1° Ato Tavane Viana participou do Festival de Dança de Florianópolis             Fotos: Claudio Etges

 

Com qual frequência você e sua família costumam ir a eventos culturais? Você se lembra da última vez que esteve em um espetáculo de dança contemporânea? Embora as apresentações de teatro, dança e música tenham tido um aumento de público após a pandemia da COVID-19, as companhias de dança, especialmente em cidades pequenas, ainda enfrentam grandes desafios para conquistar o apoio da comunidade.

Embora o cenário cultural tenha crescido nos últimos anos, a dança ainda luta contra a falta de apoio financeiro e estrutural. Companhias em Pelotas, em particular, se veem diante do desgaste mental de dançarinos, coreógrafos e profissionais que, além de realizarem suas apresentações por paixão, buscam reconhecimento por seu trabalho.

A dança, em suas várias formas, atinge a vida de milhares de pessoas. Seja como prática de exercício físico, para o bem-estar ou como uma profissão, ela se torna um elemento essencial na construção de histórias e identidade de cada dançarino. Um exemplo disso é Diego dos Santos Rodrigues, professor de educação física com 25 anos de experiência no universo da dança. Atualmente, atua na escola de dança contemporânea, urbana e jazz 1° Ato Tavane Viana, onde compartilha sua experiência com os alunos.

Ali, no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, onde meninos jogavam bola e as meninas dançavam… Eu sempre fui uma criança que gostava de dançar. A dança sempre fez parte da minha vida, desde as apresentações na escola” relembra Di Santos, como é conhecido no meio artístico.

Para ele, a dança se torna mais que uma profissão, é um refúgio, especialmente para muitos jovens que não encontram um espaço seguro para se expressar livremente. Além disso, ela pode ser vista como uma oportunidade direta de inclusão social no meio das escolas públicas, proporcionando atenção e possibilidades para alunos que precisam de um novo caminho.

Ainda que os desafios financeiros e estruturais sejam grandes, o amor pela arte e o desejo de fazer a dança crescer e receber visibilidade continuam a ser incentivadores na hora de manter vivas as companhias de dança. Para que isso possa acontecer de forma acessível, é necessário o apoio da sociedade e das autoridades para garantir o desenvolvimento dessa forma de expressão que enriquece a cultura.

Recomendamos que o público pelotense aproveite e conheça ainda mais as escolas de dança de Pelotas, para que possam aproveitar a oportunidade de prestigiar espetáculos incríveis no Teatro Guarani ou em outros espaços culturais da cidade, como uma forma de valorizar os artistas locais e fortalecer a cultura pelotense. O incentivo e o apoio são essenciais para garantir que a dança continue mudando as vidas de adultos e crianças.

 

Dança merece um maior reconhecimento da comunidade e das autoridades locais

 

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Tom Nunes: a cultura afro e LGBTQIA+ na cena musical eletrônica

Conheça a trajetória do DJ porto-alegrense que vem realizando eventos musicais na região de Pelotas      

 por Amanda Marin      

Tom Nunes marca sua carreira pela autonomia e a expressão afirmativa da cultura

               

A cultura eletrônica sempre esteve atrelada a movimentos de resistência, e poucos nomes representam essa interseccionalidade tão bem quanto DJ porto-alegrense, Wellington Nunes da Silva, ou Tom Nunes, como é conhecido. Com uma trajetória marcada por autogestão e identidade, o artista se destaca pelos sets energéticos focados em sets afros e latinos, e pelo ativismo dentro da cena cultural. Como homem negro e LGBTQIA+, Tom utiliza sua arte como espaço de expressão e luta, resgatando as raízes da música eletrônica e ocupando lugares que, historicamente, não foram pensados para corpos como o seu.

Seu primeiro contato com a música veio da infância festiva e rodeada de sons, mas a decisão de se tornar DJ veio de uma necessidade concreta: estar em espaços de festa sem ter dinheiro para isso. A solução encontrada foi coletivizar o acesso à música. “A gente começou a se juntar e colocar um som na rua. Precisava de gente pra tocar, e assim a coisa foi crescendo”, conta. Dessa organização espontânea surgiu a base para a sua atuação como DJ e produtor cultural.

Com influências musicais negras, latinas e LGBTQIA+, seu som passeia por gêneros variados, mas o house é o eixo central de sua identidade artística. “House é música preta. Hoje, quando se fala em eletrônica, é algo muito distante das origens, e a minha caminhada também é essa retomada”, reflete. Essa consciência histórica se reflete tanto nos sets quanto no discurso. A presença digital também é um fator essencial para sua trajetória, sendo um dos elementos que possibilitam a expansão de seu trabalho. “Os artistas hoje são multi coisas. Produzem, cantam, mixam, fazem vídeo. Minha atuação na internet está diretamente ligada à minha carreira, e por isso é tão importante.”, somando assim quase seis mil seguidores no seu Instagram.

Oportunidades e desafios

Dentre os espaços em que se apresentou, um dos mais marcantes foi o festival Cabobu, em Pelotas, no qual atuou como DJ e MC, conectando-se com o público de forma mais direta. Entretanto, relata que estar nesses ambientes não é sinônimo de aceitação automática. “Sempre parece que tenho que provar que sei fazer o que faço, que estou no lugar certo”, sobre os desafios enfrentados na cena musical. Em eventos, já foi tratado de forma diferenciada por funcionários e frequentadores, só ganhando reconhecimento após subir ao palco. “Depois que tu tocas, te tratam de outro jeito, é fato e difícil de lidar”.

Apesar dessas barreiras, Tom Nunes segue impulsionado pelo coletivo. Desde os primeiros passos no Arruaça e Turmalina, o trabalho em rede sempre foi fundamental para sua formação, e é nas trocas com outros artistas que ele encontra referências. Ele destaca a importância desses diálogos para a construção de sua trajetória, enxergando na experiência de outros músicos um caminho para fortalecer sua identidade artística. “Hoje tenho o prazer de conversar com pessoas que fazem essa arte preta e LGBTQIA+ há décadas. Gosto muito dos contatos com DJ Helô, de Pelotas, e DJ Malasia, de Porto Alegre”.

Ao longo da carreira, transitou entre espaços culturais alternativos e grandes eventos, notando como a recepção varia conforme o público. “Faço parte de uma cena underground da música eletrônica, mas também transito no mainstream. A resposta do público é diferente. Em espaços culturais, já existe uma predisposição para entender o que eu trago”. Esse contraste revela as diferenças de percepção entre públicos mais nichados e aqueles acostumados a consumir música de forma mais ampla e comercial. Enquanto na cena underground há uma maior abertura para experimentação e inovação, no mainstream, muitas vezes, é necessário encontrar um equilíbrio entre identidade artística e expectativa do público

 

Set na casa noturna Neue, em Porto Alegre, no ano passado

                                           

Mesmo diante dessas diferenças, Tom Nunes mantém sua essência e entende que cada espaço ocupado é uma conquista. Ele percebe que sua presença em eventos de diferentes perfis contribui para ampliar o alcance de sua arte e reforça a necessidade de representatividade dentro da música eletrônica. Sua performance carrega uma mensagem maior, conectando-se com sua trajetória e com a luta histórica de artistas negros e LGBTQIA+.

Para Wellington, a arte é resistência e reconstrução. Sua trajetória reflete a importância da ocupação de espaços por artistas negros e LGBTQIA+, trazendo para a pista de dança tanto a batida, quanto a história de uma cultura que resiste e se reinventa a cada som. Mais do que um DJ, ele se firma como um agente de transformação, ampliando narrativas e reforçando a presença de corpos dissidentes na cena musical.

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Nossa, fiquei muito feliz e contemplado nessa escrita. Obrigado Arte no Sul por ser esse espaço, tão necessário. A cultura local agradece!

Tom Nunes

 

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A arte enquanto obra e como manifestação viva dos artistas


Até onde a biografia dos  criadores determina as suas obras e quanto seu trabalho ganha um valor independente no jornalismo cultural     

Por Luís Esteves Garcez        

 

 

O debate para definir o que é arte tem seu início na Grécia antiga, junto dos grandes filósofos, especialmente Platão e Aristóteles, e permeou a história da humanidade desde então. Definir o que é e o que não é arte tomou uma grande importância no trajeto de artistas, críticos e também do público comum. É impossível não se deparar com opiniões que desconsideram o movimento Dadaísta como arte, o gênero musical funk como arte, os videogames como arte, entre tantos outros. Essa presunção parte de um sentimento de superioridade, que conecta a palavra arte a algo inerentemente belo e positivo, e não consegue distinguir suas preferências pessoais de algo com ou sem qualidade técnica, mas essa é uma discussão para outro momento.

Nesse texto eu não quero focar tanto no que é e no que não é arte, mas o debate em si é importante como base para a discussão que quero criar. Por tanto, considerando o quão abstrato é a pergunta “o que é arte?”, eu prefiro definir aqui o que eu, o indivíduo Luís Garcez, considero como arte. Para mim, arte é qualquer expressão humana movida por emoção. Tendo isso definido, passo para a essência do que quero discutir, que é o quão atrelado a arte está ao artista que deu vida a ela.

Para começar meu argumento eu gostaria de categorizar a arte em dois grupos, apenas para deixar meus pontos futuros mais claros. Chamei o primeiro grupo de arte externa, ou arte viva. A arte externa passa a existir sozinha e independente após ser criada, depois que o artista da vida a ela, ela não precisa mais desse artista para se manter viva, ela é material e muitas vezes continua no mundo muito após o seu artista desaparecer. Aqui estão as pinturas, as esculturas, os filmes, os videogames, etc.

Já o segundo grupo contém as artes internas, ou artes transientes. Elas são efêmeras, deixam de existir no momento que o artista cessa sua performance, elas são inteiramente dependentes daquele artista e das habilidades dele para existir no nosso mundo, e, se não fosse a preservação de mídia, sempre morreriam junto daquele artista. A preservação de mídia é um ponto importantíssimo a ser comentado aqui, pois ela é uma forma de eternizar a arte transiente, mas não considero que isso a torne uma arte viva, pois uma gravação de uma música não é a mesma coisa do que escutar aquela música ser tocada por seu criador. Assistir uma peça de teatro gravada não provêm a mesma experiência de assistir a trupe original encenar aquela peça ao vivo.

 

Artes transientes

Ao definir as artes transientes, sei que encontrarei inúmeras opiniões contrárias à minha e é nesse ponto que meu argumento se torna mais complexo, entretanto, ao mesmo tempo, singular. Como dito acima, teatro e música são, obviamente, artes transientes, mas vou muito mais além disso, considero artes marciais e esportes artes transientes, onde a arte só existe durante aqueles minutos em que a competição está acontecendo, morrendo quando o vencedor é definido. Um poema declarado por um homem apaixonado à sua amada é outro exemplo, entretanto, aqui temos as duas artes em simbiose. O poema em si é a arte viva, e a declaração dele, a arte transiente. Mas enfim, chega de exemplos, acho que meu ponto está suficientemente claro.

Antes de prosseguir para o próximo ponto dessa jornada, eu gostaria de fazer um adendo para me referir especificamente à música. Acredito que a música seja a arte mais presente e impactante na vida das pessoas, quase todos indivíduos não apenas apreciam música como tem ela como parte importante de sua vivência. Além do impacto massivo que a música tem na sociedade, ela também se solidificou muito bem em ambos os tipos de arte que descrevi acima, e é isso que torna ela única. Uma música é tanto arte por si só, como também vive em uma relação simbiótica com seu criador, seja um compositor, um cantor ou uma banda. Nossa sociedade idolatra criadores de música de forma que não faz com criadores de literatura ou pintura, então mesmo que através da preservação de mídia as músicas se tornem eternas, o valor da música como arte está muito atrelado ao seu criador, o que faz sentido, já que, apesar de tudo, considero-a como uma arte transiente.

Tendo em mente o que os dois tipos de arte significam, precisamos analisar as diferenças com que elas nascem, crescem e morrem. Meu objetivo é tentar explicar a diferença de como nossa sociedade reage a esses dois tipos, tanto em situações positivas quanto negativas, e como isso também reflete na indústria jornalística, muitas vezes tendo suas nuances ignoradas pelos profissionais na hora de realizarem suas críticas. Vamos começar focando na arte viva.

 

 

Criador e obra com vida própria

O conhecido discurso sobre “separar a arte do artista” prega um ideal onde devemos ignorar o criador de uma obra de arte na hora de definir o valor desta. Ele é muito utilizado para justificar o consumo de obras criadas por artistas considerados problemáticos por qualquer motivo, seja a transfobia de J.K. Rowling, o racismo de H.P. Lovecraft, entre outros diversos exemplos. Essa filosofia é aceita em massa quando nos referimos às artes vivas, é raro encontrar alguém que se recuse a ler um livro ou visitar uma exposição de quadros de algum artista considerado imoral, ou até mesmo criminoso. Essa facilidade de distanciar a criação de seu criador se dá exatamente pelo fato que aquela criação não depende do criador, socialmente falando, ela é uma entidade separada, viva.

Quando tentamos aplicar esse mesmo argumento à musica, entretanto, encontramos diversas barreiras sociais. Como dito anteriormente, o valor que atrelamos a uma obra musical depende diretamente de como enxergamos o artista que a criou. A relação parassocial que quase lembra uma seita que nossa sociedade, e especialmente nossa juventude, cria com bandas e cantores torna realisticamente impossível agir da mesma forma para com eles como agimos com escritores, pintores, etc. Para nós, a música traz com ela quem a criou, junto dos valores, ideais, qualidades e defeitos daquele artista.

É importante frisar que fui generalista no parágrafo acima, entendo que muitos não pensam assim e de fato conseguem escutar e aproveitar uma música sem se importar com qualquer polêmica ou causa social que o músico por trás dela esteja envolvido. Entretanto, vivemos em uma época extremamente polarizada, quando a posição política e social do indivíduo tem uma importância que nunca antes teve, devido a isso, acredito que essa generalização não danifique meu argumento.

Após analisar todos os fatores acima, entro agora na segunda parte do texto, mas antes, preciso deixar claro que não necessariamente acredito nas coisas que escreverei a seguir, considero-as mais como ideias a serem levantadas e discutidas com mais atenção. São assuntos delicados, mas, como aspirante jornalista, não acredito que assunto nenhum não seja merecedor de um debate justo. Tabus e dogmas atrasam nossa sociedade impedindo nosso pensamento de evoluir.

 

Arte e biografias polêmicas

Quando nos referimos às outras artes transientes que não tem a mesma dualidade da música, a filosofia de “separar a arte do artista” para de ser apenas complexa e polêmica e se torna completamente indiscutível. A ideia de “conservar” e admirar a arte de um dançarino de ballet, de um jogador de futebol ou de um ator de teatro mesmo que esse artista tenha a reputação manchada sempre será recebida com mau gosto em qualquer discussão.

Hollywood constantemente exila seus atores devido a crises de imagem, Competições nacionais e mundiais de esportes impedem ou dificultam a participação de atletas envolvidos em polêmicas, se quer damos a oportunidade de um criador de conteúdo virtual continuar com sua carreira caso ele cometa um “erro” em sua vida pessoal que é julgado irredimível pelo público. Por que é tão difícil para nós separarmos a arte do artista nesses casos, e tão fácil de fazer o mesmo nos casos citados mais acima nesse texto?

A resposta para essa pergunta já foi respondida aqui, a arte transiente depende totalmente daquele artista, não é absurdo que seja impossível para o público separar algo que é, em sua essência, inseparável. Meu texto não tem como objetivo criticar e classificar como hipócrita a dicotomia com que tratamos desses dois assuntos, mas sim levantar a questão que talvez um bom jornalista cultural precise se esforçar muito mais que o público e tentar realizar uma análise justa sem deixar que seu trabalho seja deturpado por vieses que, apesar de compreensíveis, não tem lugar em uma crítica cultural.

Já a diferença de tratamento que o jornalismo usa para os dois tipos de arte explicadas aqui serve para provar que tal tarefa é possível. Se conseguimos realizar críticas literárias objetivas sobre tantos clássicos, tanto nacionais quanto estrangeiros, ignorando descaradamente a vida pública extremamente polêmica que seus autores tiveram quando eram vivos, acho que conseguimos julgar objetivamente uma atuação ou apresentação, deixando de lado a última fofoca que aquele ator ou atriz se envolveu. Repito novamente que considerar que isso seja possível não quer dizer que eu considere que seja sempre necessário.

Nos dias de hoje, parece que se criou uma nova e poderosa instituição chamada de “Corte da Opinião Pública”, onde todos agimos como júri, juiz e carrasco, distribuindo sentenças de acordo com nossas próprias bússolas morais, que raramente são paradigmas de justiça. Não gosto desse modelo de sociedade, não acho que a massa tem a capacidade de tomar esse tipo de decisão, tampouco penso que jornalistas sejam mais capacitados. Nosso trabalho é noticiar, explicar e, para o jornalista cultural, criticar uma obra de arte. Talvez as críticas ao artista devam ser deixadas para a corte de justiça, onde profissionais poderão tomar decisões educadas sobre o assunto.

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Livraria sobre rodas leva saber para São Lourenço    

A Fuscoteca do Amadinho incentiva a leitura e está precisando de doações     

Por Eduarda Saraiva          

 

Rodrigo Seefeldt e Amadinho, fusca amarelo de 1971, que virou uma biblioteca móvel e projeto cultural  Fotos: Divulgação

 

A literatura pode chegar aos leitores das formas mais inusitadas, e, em São Lourenço do Sul, ela viaja sobre quatro rodas. A “Fuscoteca do Amadinho” é uma biblioteca móvel que tem levado livros a crianças, jovens e adultos, incentivando o hábito da leitura e o acesso gratuito à literatura. O projeto, idealizado pelo escritor Rodrigo Seefeldt, surgiu como um desdobramento do livro “As Aventuras do Fusca Amadinho”, publicado em 2023.

A ideia da Fuscoteca nasceu após uma série de palestras realizadas em escolas, onde Seefeldt percebeu que muitas crianças tinham grande interesse pela leitura, mas nem sempre tinham acesso aos livros. A inspiração veio da filha do autor, Maria Flor, que sugeriu unir a biblioteca ao Fusca 1971 da família. Assim, o carro que já protagonizava uma história ganhou um novo propósito: carregar livros e espalhar conhecimento.

 

Fuscoteca do Amadinho, projeto contemplado pela Aldir Blanc, promove a  literatura no interior do Estado

 

O projeto se estrutura em quatro pilares principais:

  • Arrecadação de livros – A biblioteca móvel recebe doações de livros infantis, infantojuvenis e adultos, exceto livros didáticos. A meta é arrecadar pelo menos 2.000 exemplares para distribuição. Quem quiser doar pode deixar os livros nos pontos de coleta espalhados pela cidade ou entrar em contato diretamente pelo Instagram @fusca_amadinho ou pelo telefone (53) 98467-8816.
  • Distribuição gratuita – Livros são entregues gratuitamente, principalmente para crianças da educação infantil, incentivando a leitura desde cedo.
  • Exposições literárias – O projeto também promove exposições para que as pessoas possam conhecer diferentes obras e observar como os livros evoluíram ao longo do tempo.
  • Contação de histórias – Aline, integrante da iniciativa, realiza encenações caracterizada como personagens como Emília e Coelha da Páscoa, tornando a experiência ainda mais envolvente para os pequenos leitores.

A fuscoteca está recebendo doações de livros infantis, infanto-juvenis e adultos

 

Impacto cultural e expansão

A Fuscoteca foi viabilizada através da Lei Aldir Blanc e conta com um reboque acoplado ao Fusca para transportar os livros arrecadados. Segundo Seefeldt, esse tipo de apoio é fundamental para democratizar o acesso à cultura e garantir que iniciativas como essa alcancem comunidades onde os livros nem sempre chegam com facilidade.

O impacto do projeto vai além da simples entrega de livros. Para o escritor, incentivar o hábito da leitura é uma missão essencial. “Nós temos que achar uma maneira de que as pessoas tenham fácil acesso à literatura, para que peguem gosto e criem o hábito da leitura”, afirma.

Atualmente, a Fuscoteca já está organizando suas primeiras distribuições de livros, previstas para abril, mês em que se celebra o Dia Nacional do Livro Infantil e o legado de Monteiro Lobato. As entregas serão feitas em escolas municipais de educação infantil e também em edições especiais na Praça Central da cidade.

Um sonho que vai além do projeto

Embora a Fuscoteca tenha sido planejada para durar um ano dentro do cronograma da Lei Aldir Blanc, a meta é que o projeto continue existindo por muito tempo. “Nosso maior sonho é que a Fuscoteca do Amadinho consiga sobreviver além do período previsto. Queremos buscar recursos para mantê-la, melhorar sua estrutura e garantir que mais pessoas tenham acesso à leitura”, destaca Seefeldt.

Para isso, o projeto segue recebendo doações de livros e incentiva que escritores e leitores contribuam para essa missão.

Com um Fusca 1971 carregado de histórias e sonhos, a Fuscoteca do Amadinho prova que a literatura pode chegar a qualquer lugar – basta abrir um livro e embarcar nessa viagem.

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Terror com “Substância”

Um dos favoritos no Oscar crítica com força a indústria de filmes estadunidense       

Por Augusto Lettnin Ferri       

 

Ótima atuação rendeu para Demi Moore o prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de comédia/musical de 2024    Fotos:Divulgação

 

“A Substância”, filme dirigido pela francesa Carolie Fargeat e estrelado pelas atrizes americanas Demi Moore e Margaret Qualley, é um dos filmes com mais prêmios e indicações de 2024 desde seu lançamento no Festival de Cannes. O que surpreende é que o longa conquistou isso mesmo criticando fortemente Hollywood e sua cultura.

O filme se passa em Los Angeles, contando a história de Elizabeth Sparkle (personagem interpretada por Moore), uma atriz de 50 anos que vem perdendo seu espaço no mundo do entretenimento justamente por sua idade. Sparkle já havia ganhado prêmios, tinha um programa de televisão matinal e até uma estrela na calçada da fama, mas, por não estar mais dentro dos padrões de beleza hollywoodianos, ela é demitida.

Após quase se acidentar e acabar em um hospital, é então que recebe a oferta da substância, uma nova droga capaz de trazer uma versão mais jovem, mais bela e mais perfeita dela mesma. E é exatamente isso que acontece quando Sue (personagem de Margaret Qualley) sai das costas de Sparkle.

Embora Sue seja um corpo diferente, ela ainda é Elizabeth. Com a atriz tendo que respeitar uma rígida escala de sete dias em cada corpo, respeitando o balanceamento para evitar qualquer problema. Mais e mais problemas aparecem quando ela começa a querer passar mais tempo como sua versão melhor e mais jovem.

 

Margaret Qualley como Sue, a versão de Elizabeth criada pela Substância

 

Demi Moore entrega uma atuação cheia de nuances e momentos inesquecíveis. A atriz de 61 anos, que sofreu muito durante sua carreira, foi a escolha perfeita para estrelar uma história sobre etarismo na indústria do cinema.

Também há algo muito gratificante em ver a atriz ser reconhecida como nunca havia sido durante sua carreira de 47 anos, em um filme que aborda o quanto a mídia está disposta a descartar alguém que não se encaixa nos ridículos padrões de beleza do mundo moderno, seja por aparência ou por idade.

 

Personagem enfrenta a crueldade a que o mundo do show business pode chegar

 

Sua outra versão, Sue, interpretada por Margaret Qualley, também faz um papel memorável mesmo tendo menos tempo de tela. Ela consegue mostrar o desejo que a personagem tem de se manter no topo em Hollywood, e também momentos de fúria e medo.

A personagem ostenta o corpo impossível que é tantas vezes anunciado em programas de televisão como se fosse algo alcançável, algo que apenas depende de exercício e dedicação. Mas, a própria Sue não conquistou esse corpo desse jeito, mas, sim, por ter usado a titular substância, fazendo com que o filme também possa ser visto como uma alegoria à dependência e utilização de drogas com fins estéticos.

Embora as personagens principais sejam personalidades tão diferentes e, até mesmo, antagonizam uma à outra, elas ainda são uma só. O filme traz uma mensagem forte de cuidar e querer o melhor para si, sobre como decisões que fazemos no calor do momento podem trazer satisfação momentânea, mas que irão voltar mais tarde para nos afetar. Essa mensagem pode ser resumida com o bordão que Elizabeth e Sue tem durante o filme: “Cuide de si mesmo”.

Mesmo tendo momentos de horror corporal que lembram filmes como “A Mosca” e “O Enigma de Outro Mundo”, graças ao uso de efeitos práticos ao invés de computação gráfica, o filme consegue ter um senso de humor sombrio. Há momentos engraçados que se baseiam na situação insana em que as duas protagonistas se encontram.

 

Filme mescla ficção científica, terror e ironia cáustica

 

Além disso, o filme satiriza Hollywood e a indústria de filmes de uma maneira que só alguém com anos de experiência e raiva dentro do mundo da mídia como a diretora Caroline Fargeat conseguiria trazer. O longa expõe o quanto as pessoas no poder da mídia irão descartar atrizes simplesmente por ficarem velhas demais, como se tivessem um prazo de validade.

Também é exposto o quanto as pessoas estão dispostas a fazer tudo pela fama e atenção. Elizabeth Sparkle, mesmo já tendo alcançado glória e fama e não aceitando que isso passou, destrói sua vida e ignora qualquer outra coisa e pessoa. Embora alguns momentos de “body horror” do filme sejam aterrorizantes, o terror maior vem com a inevitabilidade do envelhecimento humano.

Concorrendo nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Atriz”, “Melhor Roteiro Original”, “Melhor Direção” e “Melhor Maquiagem e Penteados” o filme conta com muita substância para o Oscar, sendo ótimo para quem quer conferir um dos filmes mais renomados de 2024 ou para quem curte uma mistura de humor, terror e crítica social. “A Substância” pode ser assistido na Amazon Prime Video, Apple TV e Mub.

Ficha técnica:

“A Substância” “The Substance (2024)
Reino Unido, Estados Unidos, França
Duração: 140 min
Direção: Coralie Fargeat
Roteiro: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Hugo Diego García, Dennis Quaid, Oscar Lesage, Joseph Balderrama, Gore Abrams, Matthew Géczy, Vincent Colombe.

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A arte de pintar inclusão através das cores

Por meio do grafite, jovens com Síndrome de Down encontram uma forma única de expressão, conquistando autonomia, pertencimento e mostrando ao mundo uma poderosa ferramenta de inclusão e transformação social    

Por Bruna Garcia e João Victor Rodrigues         

 

Integrantes do Graffiti Down, aprendendo técnicas e fortalecendo laços de amizade

 

O grafite, que um dia foi considerado mera rebeldia nas ruas, hoje se torna símbolo de resistência, uma linguagem capaz de se comunicar com todos, independentemente de sua origem ou condição. Nas décadas de 1960 e 1970, quando o grafite surgiu nas ruas de Nova York, ele carregava em sua essência a voz de uma juventude periférica, excluída e silenciada. A tinta nas paredes era um grito, um manifesto que ecoava pelas avenidas, como se o mundo tivesse que ouvir o que aqueles jovens tinham a dizer.

Hoje, essa mesma arte, que em outros tempos era marginalizada, é celebrada mundialmente, transcende fronteiras, culturas e gerações. No Brasil, grafiteiros como Eduardo Kobra e Os Gêmeos levaram as cores vibrantes de suas obras para as galerias mais prestigiadas do mundo, mas, para alguns, o grafite não é apenas sobre estética. É sobre dar voz a quem o sistema tenta calar.

Em Pelotas, Gabriel Veiz encontrou no grafite a sua forma de expressar a dor, a revolta, mas também a beleza. Nascido e criado na cidade, Gabriel se perdeu e se reencontrou na arte. Seus primeiros traços, nas ruas, eram uma forma de desafiar a vida, de colocar para fora tudo o que o mundo tentava impor. Mas, com o tempo, ele percebeu que o grafite poderia ser mais que um grito de resistência. Ele poderia ser uma ponte de conexão, uma ferramenta de transformação. Foi inspirado por seu irmão Eduardo, que tem Síndrome de Down, que Gabriel decidiu criar o projeto Graffiti Down.

O Graffiti Down não se trata apenas de um projeto com o objetivo de ensinar técnicas de spray, mas sim de criar e oferecer um espaço em que jovens com deficiência possam se sentir pertencentes, vistos e, o mais importante, reconhecidos. Mais do que muralistas, esses jovens são poetas de cores, que têm uma história para contar ao mundo, uma história de superação, de luta, de identidade.

 

Gabriel Veiz, criador do projeto Graffiti Down, usando a arte como forma de expressão e inclusão

 

“Eu comecei a grafitar porque sentia que precisava me expressar. Mas hoje, o grafite é minha forma de dar algo para o outro, de transformar a vida de alguém. O Graffiti Down é minha forma de devolver para a comunidade tudo o que a arte me deu”, diz Gabriel. “Minhas artes podem ser encontradas em lugares como BGV, Dunas e Pestano, onde as paredes falam com as pessoas de uma forma diferente. Eu sempre quis levar a arte para as comunidades mais carentes, assim como ela mudou minha vida, como aqueles lugares me acolheram, hoje eu tento mudar a vida de outros. O grafite, pra mim, é uma maneira de ajudar a transformar realidades, de dar a quem não tem voz, a chance de ser visto, de se expressar e, quem sabe, até de sonhar mais alto.”

Gabriel Veiz tem obras expostas em festivais de arte de rua no Brasil e na Europa. Seu trabalho é uma fusão única de letras estilizadas e elementos do graffiti europeu, influenciado tanto pelo concretismo quanto pelo abstracionismo geométrico, criando uma linguagem visual que dialoga com diversas formas de expressão artística. Essa experiência internacional enriqueceu ainda mais sua visão sobre o grafite e sua missão com o projeto, levando a arte além das fronteiras pelotenses.

 

“Ver esses jovens com Síndrome de Down se expressando, cada um com suas cores, suas formas, seus sentimentos… Isso é mais que arte. É a oportunidade de ser ouvido quem, muitas vezes, é silenciado, ” (Gabriel Veiz)

 

Para fortalecer a conexão dos jovens com o meio artístico, o projeto realiza visitas a galerias de artes e exposições, proporcionando não apenas o aprendizado de novas técnicas, mas também a inserção dos participantes em um cenário cultural amplo, em que podem trocar ideias com outros artistas. E, entre as tintas e os sprays, Gabriel destaca que não vê seus alunos como apenas integrantes do projeto, mas como amigos, e que o Grafitti Down vai além das pinturas. “A gente se diverte junto. Saímos para beber, fazer rolê, dar risada, assistir ao pôr do sol, nós vamos juntos para algumas galerias de arte quando tem alguma exposição na cidade, essas são algumas das atividades que fazemos além das aulas. A gente compartilha a vida, eles são meus amigos!”, conta Gabriel, com uma risada sincera. “O que mais me faz feliz é ver que, para eles, a arte não é só um hobby.” Ele observa com orgulho o desenvolvimento de seus alunos, vendo a arte se tornar algo muito mais profundo e significativo em suas vidas.

O impacto do Graffiti Down vai além das paredes da cidade. Ele se reflete na transformação que ocorre dentro de cada participante, que, por meio da arte, aprende a se colocar no mundo, a se sentir parte de algo maior. Cada obra é uma metáfora de superação, um grito silencioso de quem conquistou, finalmente, um espaço de fala. Quando esses jovens criam, eles não estão apenas desenhando; estão redefinindo seu lugar no mundo. Estão dizendo que não serão mais ignorados. O Graffiti Down tem sido uma revolução silenciosa. Não apenas nas ruas de Pelotas, mas na alma da cidade, na mente de cada jovem que teve a chance de dar o seu toque pessoal ao mundo. A arte, que antes era apenas uma forma de protesto, hoje é um ato de inclusão, de amor e de aceitação.

 

“Muita gente nos procura pra falar sobre o projeto somente perto de datas simbólicas como o Dia Internacional da Síndrome de Down. Mas não é isso que queremos, não é isso que precisamos, eles são pessoas normais dentro dos seus limites. Eles namoram, vão a festas, curtem a vida e não merecem ser lembrados somente em um único dia do ano” (Gabriel Veiz)

 

Cada participante do projeto tem a sua história, São histórias que falam mais alto que qualquer palavra, expressões que não precisam de justificativas. E ao fazer isso, o Graffiti Down não só transforma o espaço físico, mas redefine o que significa inclusão. Ele transforma a cidade, os corações e as mentes daqueles que, muitas vezes, são invisíveis.

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