Na edição ocorrida em agosto, diversos curtas-metragens de alunos e ex-alunos da Universidade Federal de Pelotas se fizeram presentes em um dos maiores eventos cinematográficos do Estado e do País
Por Felipe Boettge e Jaime Lucas Mattos
Ana Ambrosano e Denis Souza com o prêmio de melhor desenho de som pelo curta Carcinização Foto: Divulgação/Edison Vara/Agência Pressphoto
Em sua 51ª edição, o Festival de Cinema de Gramado apresentou em sua programação quatro curtas-metragens dirigidos e realizados por estudantes e egressos de dois cursos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação. Os filmes exibidos, e que concorreram a prêmios, foram “Aurora”, de Bruna Ueno; “Carcinização”, de Denis Souza, “Combustão Espontânea”, de João Werlang e Pedro Bournoukian; e “Tremendo Trovão”, de Rubens Anzolin. Com a presença dos filmes no festival, a universidade também disponibilizou transporte para levar os alunos, membros das produções e outros estudantes até a cidade de Gramado durante o festival.
A exibição dos curtas no festival aconteceu nos dias 12 e 13 de agosto, nos primeiros dias do evento. A premiação do Troféu Assembleia Legislativa Mostra Gaúcha de Curtas foi realizada no dia 13 para condecorar os curtas-metragens gaúchos. Dos quatro filmes realizados por alunos ou ex-alunos da UFPel, um deles foi premiado.
“Carcinização”, dirigido por Denis Souza, recebeu o prêmio de melhor desenho de som. Responsáveis pelo desenho de som no filme, foram destacados Ana Ambrosano e Mariana do Prado. Ana Ambrosano, que estava no festival, disse que não esperava ser premiada: “Foi uma surpresa muito feliz, a sensação é indescritível, eu não lembro dos cinco minutos que se passaram ali depois de ouvir o meu nome, dá vontade de sentir de novo”. O diretor contou que também ficou surpreso, mas feliz porque se destacaram justamente na parte da produção em que eles tiveram bastante cuidado.
Em formato de animação, “Carcinização” fala sobre um trio de amigos – Liz, Mari e P1 – e as mudanças que estão acontecendo em suas vidas, especialmente na de P1, que decide virar um caranguejo – situação que dá nome ao curta. “Eles conversam sobre esse sentimento de tentar se adequar, e seguir seu próprio caminho enquanto apoiam o P1 nessa jornada de participar do processo de carcinização”, resume o diretor Denis Souza.
Denis Souza, diretor de Carcinização, apresentando o curta no palco do festival Foto: Divulgação/Ticiane da Silva/Agência Pressphoto
Dentre os outros três filmes pelotenses que disputaram os diversos prêmios do Troféu Mostra Gaúcha de Curtas, “Tremendo Trovão” trata de lembranças de um acidente sofrido pelo diretor Rubens Fabricio Anzolin e os impactos causados em sua vida. Já o curta “Aurora”, dirigido por Bruna Ueno, é uma animação de uma patinação artística ao som de uma música no piano. “Havia muito tempo, antes mesmo do início do projeto, que pensava em fazer algo contemplativo, que despertasse um lado mais emocional. Acredito que a combinação da dança com a música abre brecha para isso, então foi o caminho que escolhi, buscando desenvolver e capturar a expressividade desse cenário”, conta a diretora.
Por ser uma animação em rotoscopia, técnica que consiste em criar sequências animadas desenhando as imagens quadro a quadro, tanto facilidades quanto dificuldades poderiam ser encontradas no caminho. “As facilidades surgiram ao escolher trabalhar com animação tradicional, utilizando papel, grafite e giz pastel. Isso me proporcionou conforto, além de ter sido um processo muito proveitoso! Por outro lado, enfrentei um desafio ao lidar com várias pilhas de papel que precisavam ser escaneadas, cortadas e montadas, especialmente considerando que estava realizando esse processo por conta própria”, contou a diretora Bruna Ueno.
Dividido em três pequenos atos e com uma grande equipe envolvida na sua realização, o filme “Combustão Espontânea”, dirigido por João Werlang e Pedro Bournoukian, conta a história de três pessoas que estão presas aos seus cotidianos extremamente repetitivos e que alimentam um desejo de se libertar dessas realidades, mesmo que de formas inusitadas.
O diretor Pedro Bournoukian relata que a equipe usou principalmente locações internas para gravar o filme, e que elas tiveram uma função especial, que é a de usar “esses ambientes claustrofóbicos, buscando enclausurar os personagens em suas rotinas, algo que é essencial para o entendimento do filme”. Segundo Werlang, as locações utilizadas em Pelotas foram um apartamento, o Parque Tecnológico e a Igreja Cabeluda, como é popularmente conhecida, além do Calçadão da cidade.
Pedro Bournoukian e João Werlang, diretores de Combustão Espontânea, no palco do Festival de Gramado Foto: Divulgação/Ticiane da Silva/Agência Pressphoto
O diretor de fotografia de “Combustão Espontânea”, Matheus Tozeto, falando sobre sua função no filme, contou que fez um storyboard com os diretores para ordenar a composição das cenas, e que, a partir disso, pode guiar-se nas gravações. “Foi o período da produção no qual fiquei encarregado por operar a câmera e por tomar decisões quanto à iluminação das cenas, sempre junto dos diretores João e Pedro”, recorda Matheus.
Enquanto a maior parte da equipe do filme é do curso de Cinema e Audiovisual, alguns atores são do curso de Teatro. Eles vivenciaram novas experiências com o audiovisual, criando uma conexão que engrandece e agrega á experiência e à passagem dos alunos dos dois cursos pela Universidade, algo que é apoiado e incentivado pelos professores. ”Já tive uma professora que me liberou de uma aula que eu tive à tarde para eu poder gravar. Eles são bem compreensivos em relação a isso, porque é muito importante que a gente tenha o intercâmbio entre os cursos de Teatro e Cinema”, relata a aluna Cândida Canielas.
No entanto, o apoio da Universidade não se limita a esse tipo de situação, uma vez que se reconhece o valor não só na execução e participação dos projetos, mas também na presença nos festivais e premiações, como é o caso do Festival de Cinema de Gramado. Para auxiliar os estudantes, a UFPel disponibilizou transporte para eles e os membros das equipes das produções envolvidas se fazerem presentes no evento, algo que foi essencial para que eles tivessem não só a experiência da viagem, mas pudessem estar juntos de suas produções no maior palco do cinema brasileiro. “[O transporte] facilitou a vida de muitos de nós, pois para muitos seria inviável estar presente se não fosse esse apoio. Essa também é uma forma de incentivar os alunos”, relata Milena de Castro, atriz de “Combustão Espontânea”.
Milena Vaz, Cândida Canielas e Kelvin Marum Machado, do elenco de “Combustão Espontânea” Foto: Acervo pessoal/Milena Vaz
A importância do festival para o cinema gaúcho é grande, tendo em vista os holofotes que o festival está proporcionando tanto para a divulgação, quanto para o reconhecimento do que é produzido em escopo local e universitário.
“No caso do cinema gaúcho, o festival oferece uma oportunidade para exibir e celebrar o trabalho local, permitindo que nós possamos compartilhar nossos trabalhos e perspectivas regionais com um público mais amplo” (Bruna Ueno, diretora de “Aurora”).
“Acho que é um festival muito importante, principalmente quando se trata de difundir o cinema gaúcho. Ele aproveita esse status de um dos festivais mais famosos do Brasil, ao qual pessoas de todos os cantos do Brasil vêm para apreciar os filmes, e abre espaço para exibição de produções feitas aqui no Estado” (João Werlang, um dos diretores de “Combustão Espontânea”).
O espaço que o festival oferece proporciona um encontro e debate entre produtores gaúchos com o de todas as outras praças do Brasil, criando conexões e servindo como um berço de novas ideias e inspirações que terão impacto nas carreiras dos cineastas e também em toda a indústria de uma forma geral. Essa promoção de encontros entre produtores se faz muito importante para as obras locais, e também em relação à autoestima e à confiança que cercam essas equipes, que, muitas vezes, podem sentir-se menosprezadas e deixadas de lado, uma vez que estão deslocadas dos centros de maior produção audiovisual, o eixo Rio de Janeiro-São Paulo.
Dessa maneira, a existência do Festival de Gramado, das amostras gaúchas e da presença dos produtores locais, “é uma forma de nós, gaúchos, mostrarmos que, mesmo não estando no centro das produções audiovisuais, estamos criando e trabalhando em cima de obras incríveis”, reforça Milena Vaz. Além disso, é um espaço para a troca de conhecimentos e de receber reconhecimento pelos seus trabalhos, como relatou Denis Souza: “Conheci muita gente da área e é bem gratificante ver o nosso trabalho sendo reconhecido num festival desta escala”.
“O Festival de Gramado, ao apresentar categorias específicas voltadas ao cinema gaúcho, valoriza e incentiva a produção audiovisual no Estado” (Matheus Tozeto, diretor de fotografia de “Combustão Espontânea”).
Espera-se que as produções nascidas na UFPel continuem ganhando holofotes no festival em todas as futuras edições, tendo em vista que é um grande evento para que os alunos ganhem notoriedade no ramo da sétima arte. A próxima edição do Festival de Gramado acontecerá entre os dias 9 e 17 de agosto de 2024.
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