Projeto escolar transforma criações de alunos em publicação literária e conquista espaço na Feira do Livro de Pelotas
Por João Pedro Goulart

Primeira edição teve participação de somente uma escola Fotos: Divulgação
No cenário plural da cultura sul-rio-grandense, uma iniciativa valoriza a expressão artística dos estudantes e ganha destaque. O “Caderno Literário Escrito a Giz…” é um modelo inspirador de união entre a arte e a educação. Trata-se de um projeto que tem origem no ambiente escolar e se expandiu para a Feira do Livro de Pelotas. Desenvolvido por professores apaixonados por explorar a criatividade dos alunos, o projeto transforma desenhos, fotografias e textos literários em uma publicação vibrante e cheia de inventividade.

Professores Marta Bottini e Ronaldo Campello tiveram ideia ao constatarem criatividade dos alunos
Idealizado pelos professores Marta Bottini e Ronaldo Campello, o projeto surgiu da observação do talento espontâneo e expressivo dos alunos. Enquanto Marta, professora de artes, sempre trabalhou o universo da criatividade em sala de aula, Ronaldo, que leciona na área das exatas, percebeu a criatividade dos estudantes se manifestando nos rabiscos feitos entre as atividades matemáticas. A junção de olhares impulsionou a criação do “Caderno”, um espaço para dar visibilidade a essas produções.
“Sempre notei que, após realizarem as atividades, muitos alunos faziam desenhos como forma de expressão, revelando seus sentimentos”, descreve Ronaldo, sobre a primeira percepção do potencial artístico dos alunos. Com duas edições já publicadas, o trabalho tem um repertório variado; conta com desenhos, poesias, contos, fotografias, entre outros. O projeto é aberto a alunos, professores, funcionários e à comunidade escolar.

Estudantes fazem releituras de obras consagradas da história da arte
Criatividade, inspiração e protagonismo
A arte é fundamental no desenvolvimento dos alunos, pontua Marta. Para ela, os desenhos proporcionam experiências para além da sala de aula, e convida os estudantes ao cuidado de si, à construção de novas possibilidades e ao despertar dos sentidos para enxergar o mundo de maneira mais sensível. “Não se limita ao que está estabelecido como certo ou errado; pelo contrário, permite a liberdade de expressão, dá voz à individualidade e incentiva a criação sem amarras”, observa.

Participação na Feira do Livro de Pelotas foi um momento de encontro com a comunidade
Arte para superar desafios
A construção do “Caderno Literário” acontece em várias etapas, e cada uma delas apresenta desafios específicos, que começam já no início do ano letivo. O primeiro obstáculo é ministrar os conteúdos teóricos que embasam as produções dos alunos, como releitura, sombra e luz, ponto e linha, além de noções básicas de fotografia. Depois, acontece a fase prática, quando os alunos aplicam esses conhecimentos.

Frida Kahlo foi uma das artistas homenageadas
Para Marta, um dos maiores desafios foi fazer com que os alunos compreendessem seu papel na sociedade e reconhecessem seu próprio potencial. Para isso, foi essencial criar um vínculo de confiança e proximidade entre professor e aluno, permitindo um espaço de troca verdadeira com respeito à individualidade de cada um. Além disso, outro aprendizado foi oferecer aos alunos a possibilidade de errar e aprender com os erros.
“Trabalhar a arte exige sair da zona de conforto, lidar com conflitos internos e superar limitações. Muitas vezes, é preciso ‘deixar o pote de tinta cair no chão’, desacomodar pensamentos e repensar ideias”, diz a professora de artes.

Ronaldo e Marta pensam no projeto como uma forma de conscientização dos estudantes sobre os seus papéis sociais
Sessão de autógrafos e ascensão
Ao longo dos anos, o Escrito a Giz não só revelou talentos dentro das escolas, mas também ganhou palco fora delas. As participações mais recentes na Feira do Livro de Pelotas (49ª e 50ª edições) o consolidou como uma vitrine da produção artística estudantil, e permitiu que os alunos vivenciassem a experiência de autografar suas próprias obras. O crescimento do projeto, que passou de uma escola integrante, em 2023, para três, em 2024, refletiu o engajamento dos estudantes na aproximação da educação com a arte.

Estudantes autografaram seus trabalhos no lançamento da edição na festa dos livros
Para o professor Campello, a participação nas duas últimas edições da Feira foi fundamental para fortalecer a proposta do projeto. “Na edição de 2023, apenas uma escola participou: a Escola Areal. Já em 2024, conseguimos ampliar a participação para três escolas – Escola Areal, Escola Fernando Treptow e Colégio Municipal Pelotense – e mais de 25 alunos estiveram na sessão de autógrafos”, compara.

No ano passado, edição teve a participação de três escolas
Dever cumprido
Participar do “Caderno Literário Escrito a Giz” é uma experiência marcante para os alunos que dedicam tempo e criatividade para produzir seus trabalhos. Atualmente no ensino médio, o aluno Luís Gustavo da Rosa, de 15 anos, lembra de cada aula envolvida no projeto como um momento de aprimoramento, em busca do melhor resultado possível. Ao ver sua produção finalizada e publicada, o ex-aluno da Escola Fernando Treptow sentiu a satisfação por contribuir para uma obra coletiva de expressão artística dentro do colégio.

Aspectos do cotidiano ganham visão nova de acordo com sensibilidade e expressão dos estudantes
Além do reconhecimento, o projeto também despertou no jovem um novo olhar sobre suas próprias capacidades criativas. A oportunidade de transformar ideias em textos e imagens mostrou que a imaginação é um campo fértil de possibilidades, bastando incentivo e dedicação para explorar todo o seu potencial. “Vi que minha mente era capaz de produzir muitos trabalhos e textos de qualidade. Isso dá uma motivação para realizar outros trabalhos agora e futuramente”, assegura Luís.
Para os professores, é um privilégio desenvolver um projeto que ultrapassa os muros da escola e vai para o mundo. Mas independentemente do lugar que estiverem, há algo que não muda: Marta e Ronaldo seguirão acreditando na arte como um meio poderoso de expressão, capaz de transformar tanto os alunos-artistas quanto os que vivenciam suas criações.
Confira as edições
1º Caderno Literário Escrito A Giz
2º Caderno Literário Escrito A Giz
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.