Rede de Museus da UFPel promove seminário sobre acessibilidade cultural
De 25 a 29 de maio, a Rede de Museus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) promoveu o Seminário Internacional de Acessibilidade Cultural. O evento, realizado on-line, contou com a participação de ouvintes e palestrantes de todo o Brasil e de Portugal. No total, foram realizadas 18 palestras, que debateram e refletiram sobre a inclusão da pessoa com deficiência em diferentes espaços e práticas culturais.
O Seminário é uma das ações do Plano de Acessibilidade da Pró-Reitoria de Extensão e Cultural da UFPel e buscou ampliar a discussão sobre o tema. O evento contou com o apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que com a UFPel, compõem a Rede Interinstitucional de Acessibilidade Cultural.
As inscrições, iniciadas na noite do dia 19 de maio, precisaram ser encerradas já no dia seguinte. Em menos de 24h, mais de 500 inscrições foram feitas. Com isso, a organização, que esperava um público de aproximadamente 100 pessoas, decidiu transmitir ao vivo no Facebook todas as palestras, já que o WebConf da UFPel – plataforma utilizada na realização do Seminário – não suportaria este grande número de ouvintes. De acordo com Desirée Nobre, professora do curso de Terapia Ocupacional da UFPel e coordenadora do Seminário, mesmo já esperando um grande público, a alta procura foi uma surpresa. A professora, que participa da organização de outros eventos que abordam a pauta da acessibilidade cultural, percebeu que as pessoas interessadas no tema estão aproveitando esse momento de isolamento social para participar de eventos e se capacitar. “Esse número não só foi maior porque fechamos as inscrições, se tivéssemos deixado aberto, o número teria dobrado, com certeza”, complementa Desirée.
Durante o Seminário, tanto na plataforma da UFPel quanto no Facebook, o público foi participativo e interagiu intensamente com os palestrantes. “Tínhamos um teto de uma hora, uma hora e meia, para cada palestra. Eram muitas perguntas dos participantes e muita vezes não conseguimos dar conta de responder todas”, conta Desirée.
No fim do Seminário, após a última palestra, em assembleia final, por sugestão da professora Dra. Jeniffer Cuty, da UFRGS, foi redigida a “Carta de Pelotas: Resistência e Mobilização pelas Diferenças”, que tem como objetivo central “firmar um compromisso ético de defesa e respeito às diferenças que caracterizam o ser humano em sua pluralidade” (trecho da carta). “A Carta de Pelotas é um documento de resistência dos participantes do Seminário frente aos desmontes das políticas de inclusão que estão acontecendo em nosso país”, afirma Desirée.
O documento foi assinado por mais de 60 pesquisadores e profissionais da cultura, pessoas com deficiência, docentes e discentes de diferentes cursos que participaram da assembleia. O texto pode ser lido abaixo:
Carta de Pelotas: Resistência e Mobilização pelas Diferenças
Em 29 de maio de 2020, estiveram reunidos pesquisadores e profissionais da cultura, durante o fechamento do Seminário Internacional de Acessibilidade Cultural, organizado pela Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Por meio virtual, realizaram-se 18 conferências, em 27 horas de reflexões e debates pertinentes ao tema do evento, o qual se concretizou integralmente por meio das plataformas digitais. Em assembleia final, o grupo de participantes e organizadores redigiu a presente carta, com o objetivo central de firmar um compromisso ético de defesa e respeito às diferenças que caracterizam o ser humano em sua pluralidade. Em tempos de autoritarismo, o óbvio precisa ser evidenciado.
Considerando a riqueza étnica e linguística do Brasil, que contempla dois idiomas oficiais, a serem aprendidos e difundidos, sendo eles a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais, bem como um conjunto de dialetos de povos indígenas da nação-continente, urge uma mobilização por estas relíquias imateriais e pela sobrevivência dos povos originários, em seus territórios e em suas manifestações diversas.
Considerando que todas as nações estão enfrentando a Pandemia do novo coronavírus, o compromisso pelo reconhecimento e pela valorização da diversidade humana é premente para a garantia de acessos e de atendimento humanizado.
Considerando que a crise econômica e política que afeta países com sistemas neoliberais determinados na implementação de estados mínimos, compromete a garantia de direitos sociais de modo equânime e potencializa as desigualdades que se propagam a cada ano em países em desenvolvimento.
Considerando que o Brasil passa por uma crise multidimensional, a qual contempla a crise sanitária da doença COVID-19, que está matando de modo exponencial brasileiros e fazendo com o que o país figure entre os primeiros no ranking de mortes diárias. Em dados de hoje, o Brasil é o segundo país com o maior número de infectados, totalizando 465.166 pessoas e beirando os 30 mil mortos. O país segue com mais de 1 mil mortes diárias decorrentes da COVID-19. Salienta-se, ainda, a triste realidade permeada por Fake News, por agressões contra a imprensa, contra agentes de saúde e por subnotificação acerca da doença. Cabe, portanto, mais do nunca, firmar um pacto de resistência a todas as nuanças de uma necropolítica já instaurada no Brasil, ou seja, da gestão de mortes diante deste panorama e de questões que antecedem à crise sanitária.
Sendo assim, nós, docentes, pesquisadores, profissionais da Cultura, estudantes de diversas áreas, comprometemo-nos em pactuar pela defesa da vida em sua diversidade, pela redução gradual da desigualdade social no Brasil, a qual necessita de políticas de Estado dedicadas aos seu enfrentamento. Comprometemo-nos, ainda, em difundir esta carta, junto aos nossos pares e à comunidade, para que possamos – Pessoas com Deficiência ou não – obter adesões pela vida sem ódio, pela paz, com respeito e com equidade no acesso a serviços, a lugares, à educação, à saúde, à cultura e a todos os produtos da criatividade humana, sem barreiras e sem estigmatização. Com segurança e com autonomia, com respeito e exercício permanente de empatia a todos, sobretudo às famílias com mortos pela COVID-19, e com alteridade, poderemos cumprir com o imperativo categórico do dever de memória diante deste quadro de desmonte da cultura e da educação no país. Nosso compromisso ético é pela manutenção das atividades educativas e culturais a todas as pessoas, de modo que toda política contrária ao acesso universal seja identificada e combatida por meios científicos.
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