Nesta semana, tive acesso a uma pequena matéria em um site com o seguinte título: “Depressão na universidade: como a pressão acadêmica afeta a saúde mental“. Ao abrir o texto para ler, me deparei com o relato sobre a alta incidência de suicídios entre estudantes universitários e um relato (desabafo) em vídeo de um estudante de doutorado sobre sua experiência cotidiana de estudante desde a graduação.
Alguns pontos e uma breve reflexão me vieram em mente observando este pequeno conteúdo:
1º Minha (para não dizer NOSSA) cegueira quanto ao meu papel como professor no que se refere a detalhes essenciais para oferecer um cotidiano mais adequado ao estudante. Cotidianamente, nós professores vivemos imersos em um ambiente que nos empurra para que realizemos práticas que são extremamente nocivas aqueles que deveriam ser a razão maior de nosso papel profissional. Há muitas coisas perversas por trás da cortina que gerencia nosso sistema acadêmico do que possamos imaginar;
2º A reportagem nos lembra do quanto nos envolvemos com o discursos em que estar triste não deve ser encarado como algo natural e cotidiano em nossas vidas. Vale pensar no que o texto diz: “…Temos essa cultura da alegria, da felicidade, e não falamos sobre sentimentos ‘ruins’. Isso gera uma solidão enorme…“;
3º Como professores, atuamos durante os anos em que estamos em contato com os alunos moendo eles diariamente e de todas as formas. O que será que eles terão aprendido ao terminar a faculdade? Suponho que aprenderão a fazer com os outros exatamente aquilo que experimentaram durante toda sua graduação: “moer gente”.
Enfim, fica a dica para que leiam a reprodução da reportagem abaixo e uma aposta para que tenhamos a chance de conversar mais sobre este assunto antes que novas tragédias pessoais e familiares aconteçam com nossos alunos.
Boa leitura:
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Depressão na universidade: como a pressão acadêmica afeta a saúde mental – Casos recentes de suicídio em faculdades brasileiras levantam importância do debate acerca da saúde mental dos estudantes
Prazos apertados, múltiplas disciplinas, competitividade. Teses, citações, normas ABNT. Pressão em casa, pressão na sala de aula. Esgotamento físico e, principalmente, psicológico. Quadros de estresse e depressão têm sido recorrentes em estudantes brasileiros. A morte de uma aluna na Universidade de Brasília (UnB) na semana passada, e caso semelhante ocorrido na segunda-feira, 11, na Paraíba, lançaram luz sobre a necessidade de discutir a saúde mental de quem está dentro da sala de aula.
Os números se agravam à medida que o nível do diploma também avança. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, 15% dos estudantes de nível superior apresentam algum quadro depressivo. A média geral de quem não passa pelos dissabores da vida acadêmica é de 4%. Outro estudo, desta vez publicado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apontou que 41% dos estudantes de medicina brasileiros sofrem do mesmo mal. Mais um levantamento, também feito pela USP, apontou que 1 em cada três alunos de pós-graduação sentem-se deprimidos ou ansiosos.
Conversar é preciso
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, que esteve em Brasília recentemente como convidada do projeto Diálogos Contemporâneos, a vida universitária é feita de cobranças inesgotáveis. Mas nem todo suicídio que acontece dentro da faculdade tem completa ligação com o curso em si. Ele até pode servir como gatilho a quadros de ansiedade e depressão, mas esconde questões internas mais profundas.
“É uma combinação de fatores. Escolher determinados mundos que são muito competitivos e exigentes, muito comparativos, é difícil para quem não tem uma estrutura psicológica que aguente pressão. É um universo complicado – mas que não necessariamente leva ao suicídio”, avalia. “É preciso avaliar o conjunto da vida da pessoa”, sentencia.
Para a profissional, existe uma bolha cultural que impede a discussão de assuntos como esse no Brasil. “Temos essa cultura da alegria, da felicidade, e não falamos sobre sentimentos ‘ruins’. Isso gera uma solidão enorme. As pessoas não comentam e acham que são as únicas a passarem por situações negativas. É importante conversarmos a respeito”, afirma. É terapêutico e é o que falta. Sinto a ausência de interesse, atenção, carinho pelos outros. Mas não basta exigir, devems dar os mesmos valores em retribuição”, conclui Miriam.
Iniciativa nesse sentido já está acontecendo em Brasília. A Associação de pós-graduandos na UnB realiza encontros mensais com intuito de expurgar a pressão, compartilhar ideias e, principalmente, socializar. O último encontro aconteceu na quarta-feira, 13. Mais informações podem ser adquiridas por meio do contato apg.unb.2017@gmail.com.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser evitados. Procure um profissional se você sente sintomas como desânimo, irritação constante, mudanças no sono e alterações repentinas no humor. O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.
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Texto inicial: Prof FRANZ (Labserg)
Fonte: Veja o texto original clicando em REBECA OLIVEIRA – Revista GPS – 14.jun.2018