Uma série sobre o “punk de marca”
Série Pistol, do canal FX, conta a história de uma das bandas mais infames do punk: Os Sex Pistols
Por Giéle Sodré
Na minissérie Pistol, escrita por Craig Pearce, dirigida por Danny Boyle e lançada pelo FX, acompanhamos a banda de punk rock britânica Sex Pistols de seu começo ao final trágico nos anos de 1975 à 1979.
A trama é baseada nas memórias de um dos fundadores, Steve Jones, em sua biografia Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol, fazendo de Steve (Toby Wallace) nosso protagonista. E ele é um protagonista que gera empatia: criado por uma mãe que pouco lhe dirigia atenção em favor de um padrasto verbalmente abusivo, Steve Jones tem pouca auto estima, faz furtos de pequeno porte e se mostra uma figura bem irreverente, mas apaixonado por música. Bem diferente da versão real na atualidade, que tem aparecido nas notícias nos últimos anos por sua defesa da extrema direita americana, especialmente de movimentos como “Make America Great Again” e do apoio ao ex-presidente Donald Trump.
Steve cria a versão original da banda com alguns amigos: Paul Cook (Jacob Slater) na guitarra e Glen Matlock (Christian Lees) no baixo. E ao chamar atenção tentando roubar a boutique Sex, pertencente a Vivienne Westwood (Tatulah Riley) e Malcom McLaren (Thomas Brodie-Sangster), acaba começando uma revolução artística magistrada por McLaren, que traz também Johnny Rotten (Anson Boon) como o novo vocalista e um romance com a futura face do The Pretenders, Chrissie Hinde (Sydney Chandler).
Incrivelmente, Pistol não só segue o visual londrino da época sem se envergonhar com a sujeira, violência e caos da cena musical em um visual que é fotografado lindamente, mas também conta com fidelidade boa parte dos eventos que aconteceram com a banda durante o período, seguindo até mesmo alguns dos mais chocantes e controversos. Boyle e Pearce também não tem vergonha de mostrar os Sex Pistols como um produto: a banda foi criada como modelo tanto das roupas como das ideologias de Vivienne Westwood, o grande projeto de Malcom McLaren, fazendo com que até mesmo suas musicas e letras criticando o facismo e a sociedade comercial fossem um tanto quanto ambiciosas e hipócritas, sendo criticados dentro do movimento punk até hoje – mesmo com boa parte dos membros debandando para lados politicamentes conservadores, como é esperado.
A série, no entanto, deixa coisas a desejar em sua reta final. Com apenas seis episódios, os três últimos soam corridos e com pouca desenvoltura quando vemos a saída de Glen Matlock e a entrada de Sid Vicious (Louis Partridge), grande nome da banda o qual a morte termina com a carreira dos Sex Pistols, apresentado como uma alma boa, mas problemático – depoimento bem contrário as diversas queixas de violência de Sid que, em certo momento chegou a girar uma corrente comprida no meio de uma multidão em um show, acertando diversas pessoas desconhecidas.
Sid sofre como uma pessoa especial e incompreendida, sendo levado para o caminho das drogas e do mal pela groupie e namorada, Nancy Spungen (Emma Appleton), a qual Sid confessou ter assassinado na vida real antes de ter uma overdose de heroína. A morte de Nancy nunca foi resolvida.
E ainda que Sid diga na série que foi apresentado às drogas pela própria mãe e Nancy seja mostrada brevemente como uma dependente química com sérios problemas emocionais que tem uma inteligência acima da média, o roteiro ainda mostra a bondade de Sid e sua fragilidade descobrindo o mundo pelos olhos deturpados da namorada, o que leva a sua morte.
Ainda assim, a ambientação da minissérie nos leva aos anos 70 e não desculpa as ações de seus personagens, pessoas reais com histórias, problemas e que nem sempre merecem a idolatria. Também nos apresenta ao mundo dos negócios na forma que Malcon molda a banda, dá suas ideias e faz os pensamentos de seus membros em muitos dos momentos da trama, o que chega a causar arrependimento em Steve depois que Sid morreu. Sua criação é visceral e causa paixão, mesmo sem romantizar a cena ou a banda – embora ainda dê o papel de protagonista a Steve Jones em todos os momentos.
Mas, num geral, Pistol é uma joia entre as séries, embora não tão punk quanto se espera, mas por um ótimo motivo: ser fiel a realidade dos Sex Pistols.