Uma luz no fim do túnel

Hábitos e cotidianos na cidade de Pelotas, podem significar apontamentos de um futuro mais sustentável

Por Pedro Lopes

Cidade de Pelotas/ Foto: Prefeitura de Pelotas, Flickr

 

A cidade de Pelotas completa 210 anos no próximo mês, e algumas mudanças pontuais podem ser vistas no dia a dia da quarta maior cidade do Rio Grande do Sul. Com uma cultura voltada à produção do charque no século passado, atualmente algumas políticas públicas têm chamado a atenção dos moradores. Mesmo que elas afetem uma parte pequena do público e das atitudes humanas dos mesmos, um ar de esperança pode ser sentido.

Quando falamos em atitudes ambientais, não é apenas diminuir a emissão de carbono, que pode ser considerada atitudes macro escalares, mas mudança de consumo de alimentos para alimentos orgânicos resultam em um impacto micro escalares. Nos últimos anos, em Pelotas, mais de duas dúzias de lojas que trabalham com público que consome alimentos veganos ou vegetarianos, tiveram suas atividades impulsionadas. O mesmo é refletido em restaurantes que oferecem a opção vegetariana/vegana no cardápio, quanto em restaurantes que servem apenas alimentos da mesma categoria, demonstrando que esse público tem mudado suas atitudes em relação à comida.

Na semana passada, a Câmara Municipal de Pelotas, anunciou que o mês de julho seria comemorado o mês verde. No anúncio oficial, uma série de pautas vão ser realizadas ao longo do mês, como um ato marcado para o dia 30, onde os vereadores do município vão plantar árvores em locais considerados desmatados. Cabe lembrar, que em Pelotas é possível ainda ver a vegetação da Mata Atlântica, nos arredores da colônia Z3. Na agenda legislativa, está programada também uma audiência pública para tratar também da lagoa dos patos, que recentemente tem sido leiloada para petroleiras, entretanto sem sucesso nas negociações.

Ainda na esteira política,  no fim do mês passado, aconteceu o primeiro feirão agroecológico da cidade de Pelotas, que fez parte da 18a Semana do Alimento Orgânico, desenvolvido pela Arpa Sul, Embrapa, CAPA e Câmara dos vereadores. Quem encabeçou o movimento foi o vereador Jurandir Silva (PSOL), que entende que o tema de agroecologia é importante para a promoção de um mundo mais saudável

”Evidentemente que eu, pela minha própria trajetória de militância eu tenho muito eu conheço o tema, eu estudei o tema, o meu mestrado na universidade foi relacionado com agroecologia e estas pessoas eu acompanho o trabalho delas, que organizam a semana do elemento orgânico. Então evidentemente que a gente entende que promover agroecologia é absolutamente necessário pra gente viver em outro mundo. Porque nós estamos falando aqui da produção de alimentos sem agrotóxicos, alimentos saudáveis para os agricultores, para os consumidores, ou seja, isso não é um tema de nicho. Esse é um tema que nós queremos popularizar. Nós queremos que todas as pessoas tenham acesso a alimentos de qualidade produzidos pela agroecologia, alimentos saudáveis. – disse Jurandir.

Na esteira disso, o debate no legislativo ainda foi marcado pela uma audiência pública para debater a criação de uma faixa de exclusão de agrotóxicos, haja vista que uma série de moradores dos bairros Laranjal, Barro Duro, e condomínios Alphaville e Veredas relatam que a pulverização utilizada nas plantações ao entorno, muitas vezes acabam invadindo o espaço dos moradores. A comprovação deste fato, é percebida quando os telhados e os pátios das residências, recebem uma poeira dos fertilizantes.

A reunião contou com a presença de diversas entidades do meio agrícola, além de professores das universidades UFPEL e FURG. Quem fez a denúncia da invasão do espaço aéreo foi o professor de biologia da FURG Marcelo Dutra, que durante sua apresentação evidenciou os fatos com vídeos. O catedra, ainda defendeu a ideia de uma zona de exclusão de agrotóxicos e evidenciou os riscos que esses produtos podem causar para a saúde humana:

”É de conhecimento público que os agrotóxicos estão associados já há bastante tempo a uma série de doenças crônicas como o câncer e transtornos . A região de Pelotas não é diferente das demais regiões brasileiras em que convive num contexto agrícola, cercado por lavouras e aplicação de agrotóxicos, hormônios e outros produtos de controle de pragas em lavouras. E se compreende que os agrotóxicos são ferramentas utilizadas pelo produtor,  que tem uma participação significativa na produção de alimentos, e nas criações de animais.  Mas agora a gente não pode em função disso desconsiderar que existem perigos. Em razão disso eu tô trazendo a ideia, sugerindo que a gente faça, uma barreira de proteção, uma zona de proteção, uma zona de afastamento desses produtos aplicados Para que a gente diminua essa exposição. Eu te diria que dentro da questão do controle dos agrotóxicos na nossa região e na nossa cidade esse é um primeiro passo. Depois a gente teria que avançar em cima daqueles que representam maior toxicidade. E na sequência,  a gente consegue garantir um maior controle para aumentar, não só a eficiência, da aplicação enquanto não há nenhuma proibição quanto aqueles que já tem comprovado, o malefício. Mas isso é para que a gente consiga neste momento ter pelo menos uma medida diante de todas as outras que ainda nós não temos e que já são praticadas em alguns lugares do mundo. ”- comentou Marcelo

Conforme disse Marcelo, essa prática de aplicação de agrotóxicos pode estar presente nas nossas atividades do dia a dia , além de estar nas nossas refeições. Na mesma esteira de pesquisa o também professor de biologia Althen Teixeira, evidenciou estudos que na água do município de Pelotas, cerca de 26 tipos de agrotóxicos foram encontrados. Ele também adverte sobre o uso destes produtos e fazer ponderações sobre a qualidade da nossa atual alimentação:

”Olha, os agrotóxicos são um tema cada vez mais discutido e debatido que tem que se ter um esclarecimento sobre os reais impactos sobre a saúde humana, animal e meio ambiente. Já tem dezenas, centenas, milhares de trabalhos demonstrando isso e eu entendo que é importante que as pessoas  se conscientizem pro que elas estão expostas de forma cada vez mais intensa os agrotóxicos. Hoje não se bebe água sem agrotóxico.”- disse Althen.

A mudança, por mais pequena que seja, é sempre importante pois carrega com si um olhar diferente das pessoas ao redor. Promover uma boa alimentação, é também promover um ”curativo” em um mundo, que queremos que seja mais humano e sustentável.

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