Uma breve história da revista

 

por Vinicius Colares

Pesquisando sobre a história de publicações diversas (livros, jornais, folhetins, etc.) é possível verificar um fator predominante para o sucesso ou fracasso dos veículos entre os séculos XVII e XX. A taxa de alfabetização de determinada região (tanto na Europa como no Brasil, posteriormente) sempre teve relação direta com o interesse da população pela leitura e pelo conteúdo que busca ler.

O tipo de narrativa adotada por um grande número de revistas, com exceção das revistas científicas, geralmente é mais “leve”. Uma maioria de publicações é aberta para textos com características literárias e que fogem das amarras do lead e da narrativa jornalística objetiva. O leitor de revista quer, geralmente, além da informação bem apurada, uma experiência literária prazerosa, simples e clara: um texto que o deixa satisfeito e suprime suas necessidades por cultura, entretenimento e informação.

Marília Scalzo, no livro Jornalismo de Revista, lembra que a revista – mesmo antes de receber esse nome na Inglaterra em 1704 – surgiu com uma missão parecida com a que ainda domina uma maioria das publicações: “destinar-se a públicos específicos e aprofundar os assuntos – mais que os jornais, menos que os livros”. Foi durante o século XVIII que surgiram as primeiras revistas parecidas com as que encontramos nas bancas hoje. Inspiradas nas magazines, lojas inglesas que vendiam variedades, a The Gentleman’s Magazine (1731) e a Ladies Magazine (1749) trouxeram um formato novo com assuntos diversos.

Imagem da The Gentleman’s Magazine - publicação de 1731 (imagem: reprodução)

Imagem da The Gentleman’s Magazine – publicação de 1731 (imagem: reprodução)

 

Ocupando um espaço definitivo

Até aquele momento a maioria das publicações contava com um único tema por edição e foi no século seguinte que a revista ocupou uma lacuna definitiva graças ao aumento dos índices de escolarização. Marília afirma que a “revista ocupou, assim, um espaço entre o livro (objeto sacralizado) e o jornal (que só trazia o noticiário ligeiro)”.

A força da revista aumentou junto com os avanços tecnológicos dentro da indústria gráfica. Esse fator possibilitou uma maior tiragem, com melhor qualidade e, automaticamente, trouxeram para os veículos um número maior de anunciantes. Com esse crescimento as revistas ocuparam um papel fundamental na amplificação de conteúdo cultural e científico já que os jornais, nesse período, ainda tinham um caráter político e ideológico intenso e não procuravam aprofundar-se em conteúdo editorial que as revistas ocuparam (cultura, cotidiano, etc.).

Mais tarde, no século XX, dois jovens criam o que seria uma das publicações mais influentes da história do jornalismo de revista. Briton Hadden e Henry Luce, em 1923, lançam a Time. Os dois rapazes perceberam que a matéria prima do jornalismo, o fato, não vinha sendo tratado da forma como deveria ser. Mesmo o jornal diário não era capaz de lidar com velocidade com que tudo acontecia. Nos EUA – e o mundo todo iria copiar a ideia – era necessário fazer uma revista com publicação semanal de notícias com características específicas do jornalismo (concisão e apuração de informações, por exemplo), bem estruturada e organizada semana após semana.

Uma das primeiras capas da revista Time trazia o autor Joseph Conrad (imagem: divulgação)

Uma das primeiras edições da revista Time trazia na capa o autor Joseph Conrad (imagem: divulgação)

Treze anos depois o mesmo Henry Luce cria uma nova fórmula de revista usando como principal recurso a fotografia e seus recentes avanços tecnológicos. Desse trabalho surge a Life, publicação que serviu de inspiração em países como Alemanha, França e, posteriormente, Brasil – com a revista Cruzeiro, dos Diários Associados de Assis Chateubriand. Mantendo-se estabilizado a partir do meio do século XX, o veículo revista nessa época passa a definir cada vez mais seu público próprio e revistas no mundo inteiro vão direcionando suas editorias de acordo com seus leitores. É o cenário que encontramos hoje.

As revistas voltadas, por exemplo, para um público feminino buscam fugir das pautas estereotipadas pensando em uma mulher com maior consciência de sua individualidade e de seu papel social – uma “mulher moderna”. As revistas que eram classificadas como “revistas masculinas” trazem um conteúdo mais criativo e atendem um público de mulheres cada vez maior. As revistas científicas e culturais continuam buscando atingir seus leitores e assim essas publicações mantém um espaço no mercado. Cabe agora aos editores e jornalistas adaptarem-se a uma realidade inevitável: a internet.

Comentários

comments

Você pode gostar...