Um Encontro com Carpinejar
Por Lizandra Vilela
Como em um reencontro com os meus melhores sentimentos. Foi assim que me senti ao ler Espero Alguém, de Fabrício Carpinejar. Extremamente revelador, através de suas crônicas, é possível perceber o autor sem medo de revelar sua dor em perder e ganhar, e assim viver. Com textos emocionantes, sinceros e, por vezes, até engraçados, o leitor é levado a entender e aceitar que ninguém está preparado para uma separação. Mas que isto também não é o fim.
Cada crônica nos traz vestígios de como o Carpinejar menino pensava e como o homem conseguiu realizar estes feitos. Suas frustrações, seus momentos de incapacidades sentimentais, seu medo pelo grande respeito que sente por seu pai, também escritor, e a responsabilidade de manter-se puro e verdadeiro consigo, apesar dos percalços que a vida lhe apresentou. O bullying na infância, seus problemas em aprender a escrever, e a alegria por ter alcançado o poder de se expressar com palavras. Mas, o que realmente motivou o livro, e o faz tão significativo, servindo de plano de fundo para todas as crônicas, foi um dos momentos mais retratado pelo poeta: a perda da mulher amada. Espero Alguém é uma declaração de amor velada àquela que, para Fabrício, o ajudou a entender a força que o amor possui, mesmo em uma separação.
Como escreveu Cláudia Tajes no prefácio do livro, quem deseja morrer de dor e continuar vivo, encontra nas palavras de Carpinejar não lições de autoajuda, mas sim, caminhos para entender os sentimentos mais sinceros que todos temos. Sentimentos que, às vezes, nos tornam egoístas, nos fazendo pensar que somos os únicos a cair e ter que levantar novamente. Fabrício escreve Espero Alguém como se fosse um lembrete a si mesmo, como quem sabe que as chances de esquecer o que é são grandes, portanto, deve expressar suas dores e aprendizados em palavras. O que torna o livro um convite ainda mais especial.
Uma crônica, para alcançar o leitor, precisa se enquadrar à sua realidade, o que seu cotidiano lhe diz, é isto que cativa tanto neste gênero literário e jornalístico. Carpinejar, ao retratar seus sentimentos e sua dor em perder sua ex-mulher, consegue guiar o leitor a uma visita por si mesmo. Quando compara, em sua primeira crônica do livro, a história do Patinho Feio, de Hans Christian Andersen, a situações vividas em sua vida, fica claro o quanto ele exerce poder nas palavras que escreve. Ainda mais, quando esta comparação não se dá no parâmetro físico, mas sim, pelo sentimento mais amplo, que mostra o porquê de Carpinejar conquistar cada vez mais fãs. O fato do patinho feio ter virado cisne, sendo belo aos olhos dos outros, faz, segundo o escritor, a história perder sua essência, pois os finais não são felizes, “são o que são assim como sua vida é”. Confidenciando suas crises ao leitor, Fabrício, ao dizer que não se acostumou à dor, faz quem ler Espero Alguém sentir tudo que sentiu rir e chorar com este que, considero aqui, o melhor livro de Fabrício Carpinejar.
Leia um trecho da obra:
“Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse. Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, que realmente envelheça comigo. Espero alguém que se orgulhe do que escrevo que me faça ser mais amigo dos meus amigos e mais irmão dos meus irmãos. Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim.” (crônica Espero Alguém, Fabrício Carpinejar)