The Beetles Band: Uma experiência de sensibilidade

A banda cover dos Beatles, diretamente da Argentina para o mundo, passa por Pelotas e encanta o público com um tributo aos garotos de Liverpool no palco do Johnnie Jack

Por Bruna Meotti / Em Pauta

3 dos 4 músicos da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

Na sexta-feira, dia 28 de julho, a banda argentina The Beetles realizou um show em solo pelotense. O Johnnie Jack, hamburgueria texana famosa por receber artistas diversos (especialmente do rock), cedeu o palco ao melhor cover dos Beatles do mundo — e que tocou com o próprio Paul McCartney.

Este não é meramente o relato da experiência de alguém que cresceu ouvindo Beatles e, pela primeira vez, teve a oportunidade de prestigiar um show musical como jornalista, mas também a descrição de uma experiência de extremo carinho e sensibilidade por parte dos artistas. Por isso, é importante frisar que, a partir desse momento, os músicos serão referidos pelo nome do beatle que eles representam, não seus nomes reais.

Pessoalmente, tenho uma certa ligação com esta banda. Quando eu era uma pré-adolescente sem muita noção do que queria da vida, resolvi aprender a tocar violão. Nessa mesma época, ocorreu um show cover dos Beatles em Santo Ângelo, cidade onde eu cresci. Ouvi que era de uma banda argentina, e que era o melhor cover dos Beatles do mundo. Meus pais foram, mas por mais que eu gostasse das músicas deles, eu decidi não ir junto; afinal, seria em um bar, e eu era muito novinha para ter interesse em ambientes assim (os quais, curiosamente, hoje amo frequentar).

No outro dia, meu pai me entregou uma palheta banda com o nome da banda: “The Beetles”. Ele disse que os músicos estavam entregando às crianças, e não quiseram dar uma ao meu pai até ele explicar que queria levar para a filha que estava aprendendo a tocar violão. Aquela palheta, por algum motivo, virou minha favorita (acho que ela era mais confortável do que as outras, não me lembro bem). Acontece que, infelizmente, hoje não a tenho mais comigo (ela ficou com um ex e eu não pretendo pedir de volta).

Quando vi a publicação do Johnnie Jack anunciando o show em Pelotas, imediatamente me lembrei do nome que estava na minha falecida palheta, e tive certeza de que era a mesma banda que meus pais tinham conhecido anos atrás. A fotojornalista que habita em mim gritou que seria incrível fazer algumas fotos dos Beatles argentinos, e por isso decidi ir ao show, fotografar muito, e depois escrever sobre.

Eu até pretendia escrever uma matéria estritamente factual, sem dar espaço ao pessoal, mas a experiência que aquele espetáculo me proporcionou não permitia que eu me limitasse a uma curta notícia com fotos.

Paul McCartney da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

Após falar com alguns funcionários, consegui ter acesso ao camarim dos artistas, onde tive a oportunidade de fazer uma breve entrevista com a banda. Estava preocupada com a comunicação, visto que eles falam espanhol, e eu não. Quem mais conversou comigo foi o Paul McCartney, o membro mais comunicativo da banda, e a gente até que se compreendeu muito bem; eu perguntava em português, e ele respondia em um português relativamente próximo do espanhol.

A primeira coisa que falei, ao encontrá-los, foi sobre a palheta que eles tinham dado ao meu pai, e qual foi o fim que ela teve. A resposta imediata do Paul McCartney foi um genuíno e alto “Puta que pariu!”. E logo ele me deu uma palheta nova, pela qual agradeci imensamente.

Era a primeira vez deles em Pelotas, e eles de fato queriam tocar aqui na cidade já havia um tempo. Imaginei, então, que o Brasil fosse o local favorito deles entre os locais em que já se apresentaram. Entretanto, contrariando meu julgamento, disseram-me que era a Colômbia — mas a disputa com o Brasil se mostrou clara quando eles falaram sobre o café dos dois países. Um momento engraçado foi quando o Paul deu ênfase sobre o Chile não estar entre os locais que eles mais gostam.

Perguntei, então, quais foram as primeiras cidades em que eles tocaram aqui no Brasil. Falaram sobre São Borja, Santo Ângelo, Cruz Alta, Ijuí… Justamente o noroeste gaúcho, região mais ligada à cultura argentina, em virtude da proximidade com a fronteira. Mas mesmo tendo crescido na região missioneira, a familiaridade com a cultura argentina não me permitiu entender quando o Paul disse que eles queriam tocar em Pelotas, “mas com roupas”, e eu não me orgulho de precisar que eles me explicassem que “en pelota” significa “pelado” em português.

Posso dizer que do primeiro contato que tive com a banda, fiquei abismada com a gentileza dos artistas, e como eles são receptivos e atenciosos. E o aspecto atencioso deles ficou nítido para qualquer pessoa na casa desde o momento em que pisaram no palco até as luzes se apagarem.

Parte da ambientação do palco. – Foto: Bruna Meotti

No início da apresentação, foi explicado que eles fariam uma “retrospectiva” dos Beatles, dividida em três partes: a primeira seria da fase final da banda, a segunda seria correspondente à era do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, e finalmente, encerrando o show, os artistas retornariam ao palco trajados nos típicos ternos pretos e penteados de cumbuca dos garotos de Liverpool.

Alguns momentos da primeira parte da apresentação foram extremamente memoráveis, a começar por quando pediram para que as luzes vermelhas fossem direcionadas ao palco, e assim cantaram Back in the USSR. Nessa fase do show, uma menininha levou ao palco uma folha com uma frase escrita em giz de cera: “Amo os Beatles”. O que emocionou a banda, e assim eles introduziram Here Comes the Sun com uma mensagem sobre como o gesto da menina reforça a esperança nas crianças. 

John Lennon da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

E, falando em emoção, Paul McCartney deixou o público confuso ao perguntar se alguém tinha um isqueiro. Esclareceu, então, que não queria fumar, mas sim acender uma vela. Ele a deixou sobre o piano e, logo em seguida, revelou que sua mãe havia falecido há pouco tempo, e que a próxima música que cantaria seria em homenagem a ela. A forma como ele tocou Let it be nos confirma que aquele show, mais do que um mero cover, era verdadeiramente uma experiência de sensibilidade.

Encerrada a primeira parte da apresentação. Os artistas fizeram uma pausa para que trocassem o figurino e se preparassem para o próximo momento do show: a fase psicodélica. Trajando a farda que foi inspirada nas vestes oficiais do Canadá, a banda honrou as canções do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

George Harrison da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

Durante toda a apresentação, a banda fazia perguntas à plateia, e quem acertasse ganhava um adesivo deles (fiz questão de ficar caladíssima, pois já havia sido muito bem presenteada com a palheta nova). Nesse momento, eu já não conhecia tantas músicas como nas outras partes do show, mas fiquei bem feliz ao ouvi-los tocando Yellow Submarine. Sei que fiquei o tempo inteiro pasma com a semelhança incrível com os Beatles originais, desde a voz até o instrumental.

Meu namorado, que me acompanhava naquela noite, disse que a única diferença é que, ao contrário da banda britânica, o Ringo Starr argentino cantava bem.

George Harrison da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

Para a parte final do show, eles retornaram com os terninhos pelos quais conhecemos os Beatles, e com as músicas mais famosas. Inclusive, o Paul disse: “As pessoas acham que os Beatles são só isso. E não são, nós temos que mostrar tudo”. A frase condiz com toda a experiência que eles importaram para a apresentação; novamente, não se tratava somente de uma banda cover que lembra os Beatles, aquela era uma forma de contar a história de lendas.

Nesse momento final, houve uma descontração maior. Um menino foi ao palco para dizer que gostava do Messi, o que foi aleatório, mas trouxe risos ao público. E logo após Paul McCartney brincou com o colega de banda, dizendo à plateia que o George Harrison tinha uma conta no Tinder, e que estava procurando uma namorada. Ele também fez piada mencionando que, na época dos Beatles, as garotas faziam xixi ao encontrar os ídolos britânicos. E, para encerrar o show, tocaram Johnny B. Goode.

Paul McCartney e George Harrison da Beetles Band. – Foto: Bruna Meotti

Você encontra, abaixo, mais fotografias do evento:

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