Se o fim do mundo viesse hoje talvez se chamasse Elza Soares
Por: William Machado e Débora Klein
A cantora que conquistou o Brasil aterrissou na cidade de Pelotas com a turnê “A mulher do Fim do Mundo”. Elza Soares, conhecida pela sua voz rouca e marcante brilhou no Teatro Guarany no dia 3 de abril, em evento promovido por TRI Produções.
Contudo, é importante lembrarmos um pouco da trajetória da artista, que não tem a carreira marcada apenas por glórias. Elza da Conceição Soares, que nasceu em Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, favela do Rio de Janeiro, com apenas 12 anos de idade casou-se e, logo após, teve o seu primeiro filho, João Carlos, ficando viúva aos 21 anos.
A mulher do fim do mundo não era admirada apenas por cantores brasileiros, mas também por um dos grandes nomes da música internacional, Louis Armstrong. Entretanto, a história da intérprete também foi estampada na mídia na década de 60, com a perturbada relação com o jogador Garrincha, o qual, mesmo com comentários falaciosos, enfrentou a adversidade e se sobrepôs às críticas da imprensa brasileira da época.
Elza viajou muitas vezes para o exterior, como por exemplo para o Chile, na Copa de 1962, representando o Brasil, e também para estudar saxofone em Los Angeles, nos Estados Unidos. Já no anos 2000, foi eleita a cantora do milênio pela BBC de Londres e atualmente, em pleno vigor, está em turnê pelo Brasil.
A abertura do show “A Mulher do Fim do Mundo” contou com a participação do músico Ian Ramil acompanhado da sua banda. Mostrando o que seria apresentação principal, o musicista levou ao público pelotense letras irreverentes do repertório, como “Artigo 5º” que remete ao contexto atual, trazendo uma reflexão sobre a sociedade.
A plateia lotada, com os olhos atentos após o término da apresentação de Ian e a reabertura das cortinas, viu-se diante de um cenário em cores escuras e luxuosas, em que Elza Sores aparece sentada em uma poltrona elevada, cercada pelos músicos que compõem a apresentação. O show logo começa com a música “Coração do Mar”, poema de Oswald de Andrade, e, em seguida, é interpretada a música tema da turnê, “A Mulher do Fim do Mundo”. A cada música cantada ou – poderíamos dizer – declamada pela artista o público ia ao deliro, ovacionando a grande cantora.
A repórter e comunicadora da Rádiocom, Lili Rubim, conversou com a cantora antes da apresentação que relatou “…a gente vem lutando e vem galgando, mas a luta continua… Eu luto muito pelas mulheres, pelos negros…”. E quando questionada sobre a resposta do trabalho, a artista responde: “…altamente positiva, acho que agora eu tenho eco, e graças a Deus alta lotação no espetáculo, e muitos jovens, e tenho uma resposta maravilhosa…”. Já acerca do show “…Da mulher do fim do mundo, a gente tirou para cantar, a negritude, a droga e a sexualidade, vem com várias questões…” “…o mundo está muito carente, o mundo está precisando de gente que fale, que grite e enfrentar sem medo…”.
O idealizador do projeto e diretor geral do espetáculo Guilherme Kastrup também conversou com nossa equipe, expondo que “…a ideia partiu do encontro que aconteceu entre um grupo de compositores paulistanos e, especialmente quando fizemos o arranjo de volta por cima, Elza disse: ‘eu adorei o som das guitarras…’ E eu propus fazer um disco inédito e ela logo topou…”.
Para Sandra Macedo que assistiu à apresentação, “…o show foi uma renovação, uma artista que está sempre se renovando, é uma melhores artistas do nosso Brasil”. O show foi marcado, pela primeira vez em mais de 60 anos de carreira, por canções inéditas. O público presente pode conferir um espetáculo irreverente, com a identidade negra de uma artista que atravessa décadas de sucesso e possui uma legião de fãs de todas as faixas etárias.
O evento é a apresentação exata do disco e conta situações vivenciadas hoje, passando pelos temas de drogas, sexo e negritude, incluindo interpretações marcantes no palco, como a realizada pelo ator e cantor “Rubi”, que já participou de apresentações ao lado de Zélia Duncan e de Chico Cesar. O show termina a um som enigmático e com todos os integrantes do espetáculo no palco, escutando-se apenas a voz da artista “…Levo minha mãe comigo, embora se tenha ido, levo minha mãe comigo talvez por sermos tão parecidos, levo minha mãe comigo de um modo que não sei dizer, levo minha mãe comigo pois deu-me seu próprio ser…”