Resenha: Coringa
Por Graça Vignolo de Siqueira
Sinopse:
“Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.”
Aguardado há algum tempo, Coringa chega com muitas filas e sessões lotadas nos cinemas. Mas não espere ver um filme de super-herói tradicional. Nada de ficção. Muita realidade, numa cidade sem regras, com um povo transgressor e censura de 16 anos.
Toddy Phillips, o diretor, nos apresenta um filme tenso, com trilha sonora, ora em violoncelo dissonante, ora em música pura. E alta. Penetrante. Não há quem saia indiferente a Joaquin Phoenix e sua entrega. Ele é o Coringa.
Sem qualquer referência aos outros filmes, essa é uma história original. Em que você é jogado na vida de Arthur com tanta precisão, que fica preso a ela por 2h02. Sem perceber.
A começar com a risada, incontrolável de Arthur. Que mesmo lutando, não tem qualquer controle sobre isso. E o mais importante: a risada evolui. Até que ele mesmo se sinta confortável com ela. Um trabalho artístico impressionante.
Assisti a cópia dublada, infelizmente as sessões legendadas estavam lotadas, e adorei que as páginas do diário de Arthur, em que ele anota suas piadas e sentimentos, são todas em português. Não me lembro de já ter visto isso antes. Ajudem aí, por favor, citando outro filme em que isso aconteça.
A construção de Arthur em Coringa é um exemplo do que um bom roteiro é capaz de fazer. Ele não nasceu pronto. A vida, a doença e a realidade o transformam, pouco a pouco, de palhaço a assassino. Suas reações nos fazem a todo o momento perguntar: ele já está Coringa?
Outro aspecto positivo do filme é a admirável ambientação de época, anos 70. Tudo perfeito. E um elenco competente, inclusive com o astro Robert de Niro, aqui completamente ofuscado pelo brilho de Phoenix.
Aos poucos somos levados ao início de Batman, pois o candidato à Prefeitura de Gothan, provocador do levante do povo oprimido, é nada mais nada menos do que Thomas Wayne, pai de Bruce.
Coringa é muito real. Sua transformação poderia acontecer em qualquer cidade, de qualquer país. Seu estado psicológico demente cresce conforme as respostas às reações que provoca.
Talvez muitos se lembrem do personagem na pele de Jack Nicholson ou do memorável Heath Ledger. Para mim, Joaquin está em igual condição à Heath. Ou até melhor. O físico, a risada, a dança, os trejeitos… Tudo está perfeito.
Atentem para a cena no banheiro. Emblemática. Era uma cena simples, em que ele se olharia no espelho e tiraria a maquiagem. Faltava algo. Então, após uma hora com toda a equipe esperando, Toddy Phillips mostra à Phoenix um trecho de uma das composições de Hildur Gudnadottir. O ator simplesmente começou a dançar, dando origem à cena.
Coringa é perturbador. Comovente. Fantástico. O melhor trabalho de Joaquin Phoenix. Não é sorumbático somente (palavras usadas por meu irmão), mas é um prêmio para nós espectadores (nas palavras de meu primo).
Não há previsão de sequência, pois o diretor informou antes da estreia que “apresentei para a Warner Bros. a ideia de um filme. Ele existe no seu próprio mundo. É isso”. Mas o público quer mais.
No fim de semana de estreia, nos EUA, arrecadou mais de US$ 93 milhões. E lá tem um público limitado, pois a censura é 18 anos. Por aqui vai lotando sessões. Vá logo, confira, mas deixe as crianças em casa!
Nota: DEZ