Redes de debate político
Por Gabriel Bresque
A conversa de bar é uma das maiores paixões do brasileiro. Sentar com os amigos junto de uma cerveja e um tema polêmico completa noites de diversão para muitos que até se negam a ir a festas para seguir nas discussões; mas elas, às vezes, podem esquentar. Um assunto mais conturbado pode fazer com que alguém saia da mesa irritado, ou até que amizades terminem. A política é o tema favorito e o que mais cria discussões acaloradas em ano eleitoral. Esquerdistas, liberais e conservadores passam horas apresentando seus argumentos e defendendo seus candidatos, quase como se fazia com os heróis gregos ou com os ídolos do futebol. Em 2014 não é diferente. Desde o primeiro turno milhares de brasileiros se enfrentam em debates mais produtivos e apaixonados que os dos candidatos na televisão e questionam o bom senso, a índole e até quebram laços com seus amigos. Porém, todos fazem isso sem sair de casa, apenas navegando na internet.
Nas semanas anteriores ao primeiro turno, milhares de imagens e vídeos rodavam a internet com acusações e defesas aos diferentes candidatos. A líder nas pesquisas naquele momento, Marina Silva, era a mais mencionada. Alguns diziam que ela era a salvação do Brasil, outros bradavam as incoerências dela. No fim, os holofotes virtuais sobre ela prejudicaram sua campanha, que despencou nas pesquisas e nem conseguiu ir para o segundo turno. Por outro lado, Luciana Genro teve a internet ao seu favor. Com uma página no Facebook interativa e muito conteúdo ao seu favor, ela acabou se tornando a candidata principal dos jovens, que a defendiam em todas as discussões virtuais. Com esse apoio, Luciana passou de uma candidata desconhecida a um fenômeno online, que conquistou mais de 1,6 milhão de votos. Na forte movimentação, principal do Facebook, antes do primeiro turno, Dilma Roussef e Aécio Neves passaram ilesos e pouco comentados. Pela baixa rejeição no mundo virtual, o candidato mineiro surpreendeu e garantiu a vaga no segundo turno.
Na briga direta entre os dois principais partidos do Brasil, PT e PSDB, as discussões na internet aumentaram em quantidade e intensidade. Diariamente, milhões de compartilhamentos são feitos de publicações sobre os dois candidatos, e em cada um deles, diversos comentários defendendo ou atacando a opinião de quem vota em Dilma ou em Aécio. Algumas páginas, inclusive, criaram matérias apontando possíveis defeitos de caráter nos amigos que votam no senador.
Brasileiro politizado
As redes sociais iluminaram e delimitaram o interesse do País na política. Conhecido como um tema distante dos maiores interesses nacionais, ela ganhou uma nova página em 2014. Para a estudante de direito Ingrid Simões, de 19 anos, esse movimento online reflete uma evolução no interesse do brasileiro nesse assunto, principalmente o jovem que “vem acessando cada vez mais as Universidades, recebendo informação e levando para os seus lares.”
Ingrid ainda considera a formação política do país em formação, e que o Facebook é uma forma de informação e criação de opinião importante nesse processo. “Num país em que a cultura política não é fomentada, em que na primeira eleição democrática uma parcela muito expressiva da população era analfabeta e poucas pessoas, mesmo no ensino superior, podem ter acesso à formação política, creio que o Facebook se tornou a maior arma de informação,” concluiu.
As informações propagadas na internet têm a intenção de fugir dos padrões das grandes mídias. Nesses movimentos, os produtores de informação acreditam fazer um serviço social para a população. Em contrapartida, os que não concordam com aquelas informações as atacam. Nesse jogo de opiniões, surge o principal problema desses debates: no que se pode confiar?
O Facebook é uma plataforma aberta, onde qualquer pessoa pode falar, produzir ou compartilhar o que quiser. Sem a necessidade de apresentação de provas, milhares de denúncias, ataques e histórias são contadas diariamente sobre os candidatos, principalmente a presidência. Cabe a quem recebe filtrar as informações e procurar se informar mais sobre elas.
Nível das discussões
Nas últimas semanas, os debates sobre a disputa entre PT e PSDB se tornou mais acirrada nas redes sociais. Impossível não ver alguma imagem, texto ou vídeo sobre o tema com centenas de comentários. Neles, eleitores de ambos os partidos se atacam e trocam argumentos com a mesma paixão que torcedores de futebol defendem as cores de seus clubes.No meio dessa disputa, muitos apresentam raiva ao sistema político, governos ou até candidatos. Na oposição à diferentes grupos e governos, se procura derrubar o poder sem um argumento lógico. Se diminui a opinião do opositor e usa-se um forte à pessoa ou ao caráter.
O sociólogo Cristiano Engelke defende que esse ódio no cenário político é um desserviço à democracia que segundo ele “deve ter base na discussão racional e respeitosa, valorizando as instituições democráticas.” Ele acredita que falte respeito nas relações nas redes sociais, e que assim como as sociedades elas precisam amadurecer. “Não há necessidade de responder odiosamente ou tentando impor seu ponto de vista no espaço virtual do outro. É quase como invadir a casa do outro para enfiar opinião ‘goela abaixo,’” explica Engelke, reforçando que a discussão é sim importante nesse período, porém ela precisa ser feita com respeito, conhecimento e argumentação, não com ódio.
Ele ainda concorda que as conversas nas redes sociais tenham tom de conversa de bar, já que elas são travadas a partir de conteúdo que não tem fundamentação. Mais do que a discussão, o sociólogo defende que só a qualidade da informação vai melhorar a relação do brasileiro com a política. Concluiu dizendo que “esse é o desafio: aliar a quantidade de informação com qualidade. Saber selecionar e não ter preguiça de ler é o exercício a ser praticado.”
As redes sociais nos oferecem meios de discussão, aprendizagem e compartilhamento de experiências que precisa ser aproveitada. Elas podem fomentar o processo democrático e fazer do brasileiro mais capaz e interessado de escolher seus representantes do futuro. Porém, como em toda situação social é importante se relativizar. Conhecer os temas que se discute e respeitar as pessoas do seu convívio é essencial, seja discutindo política, futebol, ou qualquer outro tema