Projeto Reconstruindo Lares: voluntários das engenharias da UFPel consertam eletrodomésticos danificados pelas enchentes

Primeira reportagem da série “Artefatos recuperados, memórias resgatadas” apresenta o projeto onde tudo começou

Por Igor Salgueiro e Paulo Renato / Em Pauta

O projeto Reconstruindo Lares, da Universidade Federal de Pelotas, chega ao seu terceiro mês prestando serviço de recuperação de aparelhos eletrodomésticos danificados pelas enchentes do mês de maio, no campus da Engenharia Industrial Madeireira.

O grupo, que atende exclusivamente as famílias das áreas de risco que tiveram seus eletrodomésticos afetados pelas águas das enchentes, no município de Pelotas, inspira a série de reportagens e conteúdos multimídia: Artefatos recuperados, memórias resgatadas.

Nessa matéria você vai encontrar:

  • Reconstruindo Lares: solidariedade que transforma
  • Prioridades e desafios do projeto
  • Como acessar o projeto
  • Como contribuir com o Recuperando Lares
  • Conheça a série Artefatos recuperados, memórias resgatadas

Então se você é de Pelotas e não sabe o que fazer com sua geladeira ou máquina de lavar que danificou ou queimou com a enchente, não pule o texto ainda! O Reconstruindo Lares talvez possa te ajudar.

 

Reconstruindo Lares: solidariedade que transforma

A iniciativa, que tem como objetivo diminuir o sofrimento e o prejuízo materiais das famílias atingidas pela enchente, iniciou suas atividades no campus da Engenharia Madeireira no dia 3 de junho, assim que o prédio deixou de integrar o mapa de zona de risco divulgado pela Prefeitura.

A oficina do projeto fica localizada no Campus Engenharia Madeireira. / Foto: Igor Salgueiro

Inspirado pela corrente de solidariedade que tomou conta das universidades e institutos federais ao longo do estado frente à calamidade das enchentes, o projeto conta com o esforço conjunto de 25 integrantes, entre eles, servidores técnicos, professores e estudantes bolsistas e voluntários do Centro de Engenharias.

Os membros formam um grupo interdisciplinar de diversas áreas das engenharias, a exemplo de Produção, Eletrônica e Controle e Automação, que compartilham, além do tempo disponível entre as aulas e expedientes, conhecimento e solidariedade com quem mais precisa.

Prioridades e desafios do projeto

Desde seu pontapé inicial, o projeto já recebeu mais de 150 solicitações de serviço através do seu WhatsApp: (53) 99169-0123

As ordens de serviço podem variar quanto ao tipo do eletrodoméstico – geladeiras e máquinas lava-roupas, por exemplo, por serem mais essenciais às famílias em vulnerabilidade, são portanto, prioritários a outros itens não tão fundamentais à manutenção das famílias, como batedeiras, fornos elétricos e microondas -, ou quanto à demanda por peças novas e componentes de reposição.

Até o presente momento, para o custeio das peças necessárias à manutenção dos equipamentos, o projeto conta exclusivamente com doações. Duas iniciativas solidárias que atuaram nas enchentes fizeram doações ao grupo, o Mãos Solidárias e o Movimento Solidariedade Pelotas. 

As próprias famílias afetadas também contribuem quando, por exemplo, não há recurso para comprar algum componente que precisa ser trocado, ou o valor é muito elevado. Nesses casos, as pessoas são consultadas e em algumas situações, adquirem os itens necessários.

Segundo o coordenador do projeto e servidor técnico da UFPel, Thomas Lucas Barroco, um dos grandes desafios é o alto valor dos componentes. A substituição dos compressores, no caso dos refrigeradores, chega a custar entre R$300,00 a R$500,00 dependendo do modelo da unidade e da disponibilidade, sendo, portanto, uma das peças que mais impacta no tempo de reparo e no orçamento.

Entrevista com Lucas Barroco, Coordenador do projeto. / Foto: Lara Nasi

Segundo Barroco, “A gente sempre avisa às pessoas: ‘tem esse problema com o compressor queimado’, ‘Precisamos de uma doação de compressor, o senhor aguarda?’, ‘Ah, não, eu tenho condição. Vou lá, parcelar em 10, 24 vezes’, Vai reduzir o custo dessa pessoa pois ela teria que provavelmente pagar alguém para fazer essa manutenção também. Quanto às famílias que não têm condições, a gente tenta buscar uma parceria para doação desse compressor, o que pode acabar levando um tempo maior.”

Compressores novos doados ao projeto. / Foto: Igor Salgueiro.

Outro desafio é o deslocamento dos eletrodomésticos entre as casas das famílias e o campus da Engenharia Industrial Madeireira. O projeto conta com o empréstimo de uma caminhonete, cedida pelo Centro de Engenharias da universidade, o auxílio eventual de um caminhão, também cedido pela universidade, ou ainda com a disponibilidade dos moradores em trazer os eletrodomésticos. 

O alinhamento dos agendamentos pode ser o diferencial na hora de ter o item rapidamente atendido. “É preciso conversar com as famílias e analisar cada caso para priorizar aqueles que mais precisam. Quando as pessoas não conseguem trazer, a gente vai buscar. Se a pessoa não consegue vir buscar, quando está pronto, a gente vai entregar. Então é assim que a gente trabalha. Quando a pessoa consegue trazer e consegue vir buscar, aí a coisa é mais fluxo contínuo. Chega, a gente arruma, já está pronto, avisa e já sai. Se não, a gente começa a armazenar e quando houver a disponibilidade de um veículo da universidade, a gente entrega. Já solicitamos caminhão da universidade, tivemos dois ou três turnos buscando material no Laranjal, na Z3. Já para a entrega, precisamos confirmar a caminhonete [dividida com o Centro de Engenharias] .”, conta Thomas Lucas.

No entanto, para garantir o amplo funcionamento do projeto, uma vez que, passados mais de três meses das enchentes, muitas famílias ainda seguem sem previsão de retorno a seus domicílios, o grupo precisa fomentar novas parcerias. É através das parcerias, das doações, que o projeto tem mudado a realidade de famílias que antes pensavam ter perdido tudo.

“A gente aproveita a divulgação, passado o momento de comoção geral, para que as pessoas apoiem, para que a gente consiga divulgar e mostrar que a gente realmente está fazendo um serviço sério, um trabalho bom, que é efetivo. Então precisamos desse apoio de divulgação mais sério para que a gente possa seguir e expandir esse projeto para todo o município de Pelotas. Porque a gente sabe que na comoção da enchente, claro, todo mundo ajudou, mas depois, em um segundo momento, a partir do momento que vira uma ‘normalidade’, as pessoas vão caindo no esquecimento.” finaliza Lucas. 

Como acessar o projeto

As ações do projeto Recuperando Lares acontecem nas segundas e sextas-feiras pela manhã e tarde e nas quintas-feiras pela manhã no campus da Engenharia Industrial Madeireira, na Rua Conde de Porto Alegre, 793, no centro. O acolhimento de solicitações de serviço pode e deve ser feito previamente através do cadastro feito pelo WhatsApp: (53) 99169-0123.

O objetivo do projeto é atender às famílias que tiveram os eletrodomésticos danificados pela enchente nas zonas de risco do município de Pelotas. Se esse não é o seu caso, se o seu domicílio não foi diretamente alagado, é importante aguardar, respeitando a prioridade e a esperança de quem perdeu quase tudo, mas pode recuperar algo para recomeçar.

Termo de compromisso do projeto / Foto: Igor Salgueiro

Pessoas interessadas e que se enquadrem nos requisitos acima podem solicitar os serviços do projeto. É necessário ser maior de 18 anos e estar de acordo com o termo de compromisso.

Como contribuir com o Recuperando Lares

Conheça a série de reportagens Artefatos recuperados, memórias resgatadas

A série de reportagens e conteúdo multimídia Artefatos recuperados, memórias resgatadas é um esforço em conjunto de estudantes de Jornalismo e Artes Visuais e do projeto Em Pauta Web para divulgar o trabalho do projeto Recuperando Lares, e recontar a história das pessoas atingidas pela enchente no município. 

Nos nossos conteúdos o interlocutor vai poder conhecer a iniciativa e histórias de pessoas contadas a partir da relação entre a solidariedade, seus bens recuperados e todo o afeto e significação que esse processo pode proporcionar.

Você também pode acessar nossos vídeos curtos seguindo o projeto nas nossas redes sociais:

Tiktok (@juntospelareconstrucao) e Instagram (@juntospelareconstrucao).

Comentários

comments

Você pode gostar...