Pobreza Menstrual, uma realidade brasileira
Acesso à higiene menstrual é reconhecido pela ONU como um direito desde 2014. Entretanto, uma em cada quatro mulheres no Brasil ainda sofre de pobreza menstrual, realidade que acarreta em baixa socialização, evasão escolar, desemprego e doenças.
Por Letícia Vieira
Pobreza menstrual é a expressão utilizada para se referir à falta de acesso a produtos essenciais para se manter uma boa higiene pessoal no período menstrual e também à falta de educação para gerenciar esses cuidados. Médicos ginecologistas recomendam que o absorvente externo seja trocado a cada 3 horas, mas com um pacote de 30 absorventes diurnos custando em média R$32,00, a conta não fecha para muitas pessoas que menstruam.
O direito a higiene menstrual foi reconhecido pela Organização Mundial das Nações em 2014. Entretanto, uma pesquisa da mesma organização revela que, em 2021, uma em cada quatro mulheres no Brasil ainda sofre de pobreza menstrual e 17% não possui banheiro ou água encanada em casa, realidade que acarreta em falta de dignidade, baixa socialização, evasão escolar, desemprego e em casos mais graves, doenças.
Para combater a situação, que é gerada pela desigualdade social do país, iniciativas nacionais, estaduais e locais estão em curso. No âmbito nacional, o Ministério da Saúde deslocou R$130 milhões para serem repassados aos municípios para a compra de produtos de higiene menstrual, que deverão ser disponibilizados nas escolas estaduais, postos de saúde e complexos penitenciários.
Em Porto Alegre, foi sancionada, no dia 14/03, a lei que institui a Estratégia de Promoção da Saúde Menstrual, de autoria do vereador Leonel Radde (PT). Pela lei, a prefeitura deverá disponibilizar gratuitamente absorventes para cidadãos em situação de vulnerabilidade e que estejam cadastrados no Centro de Referência em Assistência Social.
“Esta lei chega para suprir uma necessidade básica e emergencial, porém muitas outras medidas podem e devem ser tomadas para melhorar as condições da saúde menstrual, como acesso a banheiros públicos e saneamento básico, por exemplo”, disse o vereador Leonel Radde, em entrevista ao jornal Brasil de Fato (14/03/2022).
Ideais no papel, muitas vezes projetos estatais ainda não englobam todos os indivíduos que menstruam. Mirando nesse público desassistido, coletivos como o Sobre Nós, através de doações e trabalho voluntário, prosperam. “Entregamos cestas básicas, absorventes e conversamos com as mulheres sobre o ciclo menstrual”, conta Vitória Cabreira, coordenadora nacional do Sobre Nós.
O projeto, criado em maio de 2021 por um grupo de amigas, atua mensalmente nos bairros da capital Lomba do Pinheiro e Restinga, impactando cerca de 200 pessoas. Além do combate à pobreza mentrual, o coletivo também tem uma atuação política na cidade, apresentando pautas a prefeitura, auxiliando pessoas em situação de vulnerabilidade a regularizarem seus documentos e realizando eventos voltados para seu público alvo. “Com a aprovação da lei municipal, vamos iniciar o processo de fiscalização de onde os produtos comprados estão disponíveis, quais são os critério de distribuição, se existe um acompanhamento, enfim, se o que as pessoas estão recebendo é o suficiente” declara Vitória.