Os Miseráveis: Vale a pena se aventurar na leitura do clássico de quase duas mil páginas?
“As faltas das mulheres, das crianças, dos criados, dos fracos, dos pobres e ignorantes, são faltas dos maridos, dos pais, dos professores, dos fortes, dos ricos e dos sábios”
Por Carolina Pinho / Em Pauta
Como quase-jornalista, sempre tive a ideia de que é importante ler os clássicos. Os russos, os brasileiros, os jornalistas e os grandes e os pequenos. Entre os maiores clássicos de todos os tempos está Os Miseráveis, de Victor Hugo. Um livro de duas mil páginas e mais de 150 anos de sucesso. Do pouco que eu conhecia sobre o autor, já sabia que ele costumava detalhar demais suas histórias, transformando algumas leituras em maçantes e demoradas. Por isso, a minha edição de Os Miseráveis ficou mais de dois anos parada na estante. Esse ano de 2023 durante as minhas férias eu me dei um desafio, acreditando que seria desafiador: ler a famosa obra de Victor Hugo. Porém, de desafiador acabou não tendo nada, e a leitura me prendeu e me encantou da forma que apenas um dos maiores clássicos da história conseguiria fazer.
O livro é divido em 5 partes: Fantine, Cosette, Marius, O Idílio da Rue Plumet e a Epopeia da Rue Saint-Denis e Jean Valjean. Cada parte foca nos acontecimentos que cercam um personagem específico, mas todos os personagens estão relacionados e se encontram em algum momento. Os fatos ocorrem em um contexto da França após a Revolução Francesa, e, enquanto conversa com o leitor, Victor Hugo conta como a sociedade lidou com o pós-revolução. É possível identificar diversas referências reais de batalhas e acontecimentos relacionados à Revolução, como o relato detalhado da Batalha de Waterloo, por exemplo.
Jean Valjean, considerado herói popular e personagem principal, se faz presente na maior parte do livro. Condenado a 19 anos de trabalho forçado por ter roubado um pão e depois por diversas tentativas de fuga da prisão, viveu na miséria ao longo da vida. A partir dos acontecimentos de sua vida sua transformação e evolução como ser humano, enquanto acompanhamos angustiados os novos desdobramentos de novos acontecimentos. Ao decorrer da história somos surpreendidos com situações inesperadas e bem construídas, capazes de despertar emoções reais no leitor.
A obra retrata momentos de extrema pobreza e tristeza, o que demonstra a crítica social extremamente presente nas obras de Victor Hugo. Afinal, o título “Os Miseráveis” não é à toa: vários personagens passam por situações de extrema pobreza, fome e miséria, o que destaca a desigualdade social da França do século XIX.
“O mundo civilizado gasta em pólvora, em toda a terra, a cada vinte e quatro horas, cento e cinquenta mil tiros de canhão, completamente inúteis. A seis francos cada tiro, temos a soma de novecentos mil francos por dia, trezentos milhões por ano, que se transformam em fumaça. Simples curiosidade. Enquanto isso, os pobres morrem de fome”.
A leitura é como uma aula de história, e possivelmente a mais deslumbrante experiência com a literatura clássica que um leitor pode ter. Apenas Victor Hugo seria capaz de entreter um leitor por duas mil páginas, e ainda deixar a sensação de “quero mais”.
Victor Hugo nasceu na França, em 1802, e desde cedo já tinha paixão pela escrita. Antes mesmo de publicar Os Miseráveis, já era conhecido pela peça de teatro Cromwell (1827) e também pelo hoje famoso O Corcunda de Notre Dame. Além de exímio escritor, também era envolvido com política e questões sociais, o que fica claro na obra comentada neste texto. O sucesso de suas obras lhe rendeu lugar na Academia Francesa, e posteriormente Victor Hugo chegou a ser deputado por Paris e Senador. Os Miseráveis, sua obra mais famosa, foi lançado em 1862, e rendeu adaptações para peças de teatro, para televisão e para o cinema.