O ato de fotografar na ciência
Por Larissa Patines
A edição deste ano do Wildlife Photographer of the Year – o principal concurso internacional que premia fotografias da natureza – contou com a foto do brasileiro Marcio Cabral como uma das vencedoras desta edição. O anúncio da premiação foi realizado em evento no Museu de História Natural de Londres na última terça-feira. O ganhador da premiação além de fotógrafo é geólogo por formação, alia arte ao ato de fotografar como registro cientifico.
Apesar da máquina fotográfica ser uma tecnologia antiga, o ato de fotografar só foi se popularizar, entre todas as classes, com a difusão do arquivo digital e da possibilidade cada vez mais acessível de tirar fotos com qualidade através do telefone celular e sem ter o custo de imprimir, comprar filme e todas as dificuldades que prendiam a propagação da imagem. Sendo assim, fotografar é um ato recente. E as pesquisas científicas a cerca disto, também. O ato de fotografar como ciência de registro e também como ciência humana.
A possibilidade de registro nunca foi tão grande. Em seu livro “O ato de fotografar”, Philippe Dubois relaciona em um estudo a fotografia como aparelho psíquico. A relação do registro da imagem com a arte da memória. A noção de linha temporal da vida que o ser humano tem se relaciona diretamente com o que ele registra. O registro da fotografia aqui proporciona perspectiva e identidade, pois separa marcos na vida das pessoas. Algo que moradores de rua ou pessoas que não tem como registrar marcos em vida, perdem. Com o advento das novas tecnologias de forma tão veloz, essa é uma característica que contrasta com a realidade de 30 anos atrás. Tudo é registrado.
De acordo com o estudante de Ciências Sociais e fotógrafo Lucca Tancredi, agora o inverso pode ser constatado: uma gama de pessoas registram muito seus momentos através de selfies e captam tudo, mesmo quando existe um profissional contratado em um evento para fazer isso. Lucca trabalha como fotógrafo em casamentos, aniversários e fotografa a história das pessoas e suas perspectivas. Ele se coloca entre o olho e a memória. E consegue observar uma mudança em sua psique, lhe dando uma sensação de proximidade e relação com as pessoas fotografadas. “Normalmente após trabalhar no evento de alguma pessoa, sinto é que por mais que eu esteja fotografando uma noite de uma pessoa que nunca vi em minha vida, geralmente depois disso eu me sinto próximo a ela, como se eu fosse um convidado, um amigo daquela família.”
Apesar de estudar Ciências Sociais, Lucca atenta que quase nunca utilizou fotografia em seus trabalhos de pesquisa. Trabalhos assim ainda são considerados experimentais e pouco explorados. Para ele, o jeito que a fotografia é mais estudada e difundida, é através do jornalismo. “Vejo a fotografia (jornalística) mais como um meio de “popularizar” fatos recentes (como a fotografia da criança Síria na praia). E eu, como fotógrafo, acho que a fotografia como conhecemos está prestes a morrer. Não desaparecendo, mas se transformando em algo novo, assim como a transição do analógico para o digital.”
A pesquisa científica precisa explorar a fotografia, a imagem e o ato de registrar. Apesar de o ato de fotografar tenha sido banalizado, existem diversas cidades de interior que possuem registro escassos de seus vilarejos e municípios. O site do IBGE disponibiliza um acervo digital destas imagens e também aceita doação de arquivos. Basta acessar o site e liberar os direitos autorais para contribuir com os dados do Instituto e colaborar com a pesquisa cientifica.