Novos ares musicais

Formada, principalmente, por jovens universitários de inúmeros lugares do país, a noite de Pelotas ainda se divide em subgrupos separados por estilo musical – mas que acabam indo muito além da música.

por Fernanda Flores

Às vezes, torna-se complicado sair da zona de conforto de uma vida toda para morar em uma cidade completamente nova e desconhecida. Assim, procurar por lugares e pessoas da mesma vertente musical que a tua pode ser difícil. E como para muitos dos quase-adultos música é o novo oxigênio, resolvi facilitar esse trabalho árduo entrevistando jovens de diferentes idades e “tribos”, porém, todos com um ideal em comum: encontrar em Pelotas um pouquinho de si mesmos.

A cearense Karolina Magalhães, 25, a paulista Thamiris Barbosa, 24, e a baiana Gabriela Martins, 22, têm preferências musicais variadas: samba, hardcore e rock alternativo, respectivamente. Porém, foram unânimes quanto à primeira impressão de um recém chegado a Pelotas. “Depois de um tempo, a gente vai conhecendo melhor, vai andando mais e acaba conhecendo o pessoal que gosta do estilo. Quando mudei, era mais difícil de se achar um lugar pra ir, mas agora a história tá mudando”, diz Thamiris, resumindo o pensamento das três.

Sobre a dificuldade de encontrar uma galera de gosto musical parecido, Karol e Gabi concordaram que acharam fácil. Ambas conheceram colegas de curso ou amigos que já moravam aqui em Pelotas há mais tempo e sabiam para onde e com quem ir. Já Thamiris disse que “no começo foi meio difícil. Comecei a ir a alguns eventos que não faziam muito o meu gosto”, porém, com o tempo, se acaba encontrando nesses eventos pessoas que também não queriam estar ali e procuravam por algo diferente. Karol ainda dá a dica: “depois que você começa a frequentar locais que tendem a um certo estilo, naturalmente, você vai conhecendo e criando laços com pessoas que dividem o mesmo gosto”.

Tanto em Fortaleza, quanto em Salvador e Cachoeira Paulista, as gurias afirmaram que a diferença musical comparada a Pelotas é enorme. Karol vivia na quinta maior capital do país em população, o que tornava fácil caso ela quisesse ouvir seu samba e chorinho de segunda a segunda. Segundo ela: “Depois do período de busca, fui conhecendo os locais, os músicos, e as pessoas envolvidos com o samba e o choro em Pelotas, fiquei bastante empolgada, pois finalmente pude desfrutar de locais com um nível musical elevadíssimo nesse estilo. Porém, sabia que a oferta seria bem menor comparada com a minha cidade. […] Digamos que eu pressentia que não seria tão fácil encontrar bares que tocassem choro e samba como os que eu costumo frequentar em Fortaleza. Muito menos aqueles bares mais simples, mais ao ar livre, devido ao clima, logicamente.”

Já Gabriela e Thamiris encontraram em Pelotas uma cena muito melhor de acordo com seus gostos. A primeira viu aqui muito mais oportunidades na noite dos finais de semana, já que curte um som mais alternativo e, na sua cidade natal, Salvador, quase só tocava sertanejo universitário em festas com DJs. Ela ainda diz que, “outra questão importante é que a maioria das festas alternativas de Salvador ou são simples Covers de bandas tipo Oasis, Strokes e The Killers ou são voltadas para o público GLS. Ou seja, é muito difícil ir a alguma festa em que um DJ inclua o rock na setlist e faça o público dançar”. Thamiris é da mesma opinião e diz que “o que faltava era realmente um grupo que estivesse querendo fazer um som legal e pessoas interessadas a formar bandas.” Em Pelotas ela encontrou “mais pessoas interessadas, o que ajuda a divulgar”.

E como uma dica para as casas de show e boates, Gabriela contou o que acha que deveria melhorar aqui. “O maior problema passa pela questão da segurança. O acesso aos bons lugares da cidade depende de táxi, já que a cidade é muito perigosa para ir ou voltar andando de uma festa. Outra questão é a falta de controle da venda de ingresso. Muitas vezes, o estabelecimento superlota porque vendem os ingressos até o limite máximo de pessoas que ali cabem, o que torna o ambiente desconfortável para todos”.

Karolina acha que os eventos culturais da cidade são pouco divulgados: “Acredito que deve existir um enfoque maior na divulgação, no investimento e na promoção de certos eventos culturais. Além do que, tem que se aprofundar ainda mais a relação com os universitários interessados por cultura, que, sem dúvidas, tem muitas coisas para acrescentar nesse cenário cultural de Pelotas”. Já Thamiris dá a dica para quem curte bandas locais ou independentes: “O pessoal podia ter um gás maior e dar mais força para as bandas novas que vem aparecendo. Quando os caras vão tocar ninguém se empolga, não há uma energia boa da galera com a banda”.

Mas de que adianta ter banda, DJ e festa, se não tem lugar pra tudo isso acontecer? Pois saiba que tem, e são vários. Gabriela curte Galpão Satolep pra uma festa mais agitada e com bastante gente, “já que sempre tem festas temáticas que se adaptam às diversas vertentes do rock.” Karolina prefere o famoso Bar Liberdade, que é grande referência no samba Pelotense, mas ela tem uma dica pessoal, “conheci outro bar bastante interessante que toca um samba mais partido alto, chamado bar do Rogério, fica no centro, na Cassiano entre Andrade Neves e XV de novembro, e o samba acontece nas tardes de sábado. Além desses, é sempre bom ficarmos nos informando de apresentações pontuais que ocorrem na cidade.”

Como opinião final sobre a cena musical, de forma abrangente, a baiana Gabi diz que “como em todos os lugares, os gostos musicais se dividem em polos. Uma sexta-feira em frente à UCPel comprova isso – pode-se ver carros com Luan Santana nas alturas, mas também pode-se ouvir um Nirvana vindo de algum lugar. Como a cidade tem uma quantidade considerável de jovens, é muito comum que a diversidade musical esteja presente. No entanto, pra um interior, Pelotas se mostra muito receptiva.” Pelotas é isso, uma cidade universitária com espaço para todos os gostos e um potencial de crescimento ainda maior.

E Thamiris termina com uma mensagem de otimismo para a cena hardcore e as bandas locais: “Aguardem que tem muita coisa boa vindo ai! O cenário tá crescendo, aparecendo pessoas que realmente gostam e que fazem isso não por fogo, mas porque realmente amam. Pelotas já tá começando a trazer pessoas de cidades vizinhas para vir pros roles daqui, deixe mais uns tempos e será uma referência aqui no sul. Vamos incentivar as bandas novas, tem gente que tá fazendo um trabalho legal e que as pessoas nem sabem. O negócio é divulgar e vamos continuar com tudo”. No fim, a dica é procurar conhecer pessoas de gostos parecidos e não ter medo de experimentar coisas novas. Depois disso é só aproveitar tudo que a cidade tem a oferecer.

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