Internet está estimulando brasileiros a ler mais
Por Felipe Madeira e Rayssa Natale
É comum encontrarmos nos dias de hoje pessoas criticando a falta de leitura com a clássica frase “as pessoas não leem mais como antigamente”. Com a premissa de que os smartphones e as plataformas de vídeos estão tornando precário o campo intelectual do público, esse grupo reforça sua tese com o comparativo do número de vendas literárias nos países europeus com os do Brasil.
Em oposição à tal tese, a Kantar Brasil divulgou uma nova pesquisa a qual aponta que internet, e as novas tecnologias a ela conectadas, está estimulando mais brasileiros a ler. A diferença está na forma e na profundidade dessa leitura. Após entrevistar treze participantes de forma presencial e mil por meio da internet, os pesquisadores constataram que cada pessoa no Brasil lê em média 6,5 tipos diferentes de publicação. Os dados indicam ainda que o público lê em grande quantidade graças aos dispositivos portáteis, dando preferência a materiais com menor profundidade.
Para 85% dos entrevistados, as notícias de páginas da web aparecem em primeiro lugar como fonte de leitura. Na sequência, aparecem os livros em geral (74%), textos de entretenimento em sites (70%), feeds de notícias em redes sociais (60%), jornais (56%), revistas de notícias e blogs (53%). Revistas de variedades, artigos científicos, a Bíblia, conteúdos de apps, HQs e mangás também aparecem, com menos representatividade.
A relação ereader com o público leitor brasileiro não é lá muito boa. Segundo pesquisas da Kantar, o ereader causa estranheza e desconforto na prática da leitura, para boa parte dos brasileiros. Para Marcos da Veiga Pereira, presidente da Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), pelas estimativas de mercado, nunca houve um crescimento exponencial nem consistente nas vendas de ebooks. Para Veiga, as vendas eletrônicas ainda crescem, mas perdem fôlego. O Brasil tem um crescimento que já alcançou 30% há alguns anos, depois ficou em 20% e atualmente caiu para 12%.
O estudo da Kantar, indica que há um foco maior em matérias mais ligadas à informação, como reportagens e trabalhos acadêmicos. Já no impresso, o consumo de material escrito tem margem para mais foco e dedicação por parte dos leitores, como preferência a temas ligados a lazer e relaxamento, como romances, ficção e autoajuda, por exemplo. Essa preferência por leitura de textos noticiosos pela internet pode ser explicada por uma sensação de falta de tempo citada pelos entrevistados, que associam os livros a uma atividade mais solitária a qual exige uma maior dedicação. Por esse motivo, sites de notícia cumprem melhor a função de informar com comodidade e rapidez, pela portabilidade a qual dispõe.
Outro ponto indicado pela pesquisa é o sucesso das mídias sociais e plataformas de streaming de vídeos, como Youtube e Vimeo, a qual potencializa o interesse dos jovens pela leitura. Canais de vídeo, blogs, páginas no Facebook e perfis no Twitter e Instagram tendem a tomar o papel de incentivar e influenciar seu público ao hábito da leitura. O quanto isso influenciará no índice de leitores em nosso país ainda não é visível. Sabe-se apenas que o Brasil está começando a ler e, isso para o jornalismo e a literatura, são como que fortes estímulos para o continuar da escrita.
Fonte: Kantar Brasil e Tecmundo