Existe diversão no deserto
Carolina Feltrim traz uma história de origem em sua nova trilogia de fantasia com “O Andarilho: Conto I”
Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta
As Cinco Terras de Lacrimosa são regidas autoritariamente pelo Primeiro Ministro, o deserto é lugar de sede e miséria. Nesse primeiro conto, Damir nos conta sobre quando recebeu a ordem dos revolucionários de sequestrar a filha única do ditador (Celesine) junto com seu amigo andarilho Kennadi.
Com apenas três personagens e 49 páginas, a autora te prende em uma terra fantasiosa e cheia de mistérios. O começo já é um mistério em si, ao sermos apresentados ao primeiro personagem e narrador (Damir), já estamos no futuro do reino e tentando entender qual seria seu passado.
Politicamente não vemos muito sobre o governo, na realidade temos apenas um gostinho do que será a nova trilogia de Feltrim. Fui inocente de acreditar que Carol não deixaria um suspense no final com poucas informações sobre o que vem depois, ou melhor, antes. Então, ao terminar minha leitura, fiquei frustrada ao perceber que a história não fechava seu ciclo e eu precisaria esperar o próximo lançamento.
Por se tratar de um conto é rápido e curto, o que eu considero bom, mas senti falta de mais desenvolvimento, um pouco mais de ação, talvez algumas páginas a mais poderiam fazer grande diferença.
Como dito, não sabemos muito sobre a terra que vivem e a questão levantada sobre a religião de Kennadi também não é muito desenvolvida. Não sabemos de onde veio o Primeiro Ministro ou como funciona culturalmente a crença do andarilho. A ambientação é muito boa, conseguimos imaginar o que ela descreve no papel, mas ela não nos dá muitas informações para criar uma imagem.
Sobre os personagens, existe somente uma palavra para definir: cativante. Celesine é uma típica garota mimada que fica mais profunda quando descobrimos sua relação paterna. Damir é divertido e astuto, já Kennadi é um mistério daqueles que você se apaixona de primeira.
O romance merecia mais tempo, sinto que as poucas páginas de observação de Damir sobre o casal não sanaram toda a minha curiosidade sobre como inimigos tão contrários se apaixonam. É bem escrito e consigo sentir um carinho no peito quando leio sobre eles, exatamente por isso queria um pouco mais de profundidade nessa questão.
Acredito que a trama não funcione bem em um conto, alguns capítulos a mais poderiam oferecer mais clareza ao leitor. Mesmo assim Feltrim ainda traz diversão e alegria para suas páginas. Espero que a autora retorne com os personagens e mais profundidade sobre o local, seu sistema político e todo seu funcionamento na continuação.