Educomunicação: a caminho de uma nova construção de aprendizado
Por: Maiara Marinho e Estevan Garcia
A Educomunicação é uma área há muito utilizada por teóricos em seus estudos e suas práticas. Ismar Soares, professor na Universidade de São Paulo (USP), tem se debruçado na área. Segundo ele, os primeiros educomunicadores foram Mário Kaplún, argentino estudioso da comunicação educativa, e Paulo Freire, brasileiro conhecido por sua atuação na educação libertadora. Numa perspectiva de resgatar a historicidade, Soares faz uma cronologia afirmando que posteriormente a Educomunicação – conceito que integra práticas educativas e comunicacionais para a aprendizagem – foi representada por uma geração composta por profissionais do século XXI, atuando em esferas da sociedade civil, na mídia e no sistema educativo, e a atual geração é representada por universitários que trabalham em projetos colaborativos.
Basicamente, a Educomunicação centra-se no ensino mediado por ferramentas tecnológicas e/ou comunicacionais. No entanto, muitas práticas têm sido feitas de maneira pouco crítica com relação aos dispositivos e para o fortalecimento da midiatização, processo que ressignifica as relações e práticas sociais, por vivermos em um século em que a tecnologia tem significativa atuação no nosso cotidiano. Pensando nisso, a USP abriu um curso de Licenciatura em Educomunicação em 2011, na perspectiva de fortalecer uma área utilizada, muitas vezes, de maneira controversa e simplista, pois a proposta da educação mediada por ferramentas comunicacionais é justamente possibilitar reflexão sobre uso de dispositivos tecnológicos, ressignificando a maneira como os mesmos se expressam nas nossas relações atualmente. Ou, como comenta Ismar, ir “em direção ao diálogo com o outro – pessoal ou institucional -, na mesma busca pela autonomia e liberdade da palavra, o conceito de Educomunicação se usa para designar a busca de articulações coletivos e dialógicas em função do uso dos processos e ferramentas da comunicação, para garantir o progresso e o desenvolvimento humano”.
Em 2004, o Estado de São Paulo estabeleceu a Lei 13.941, que coloca a prática educomunicativa como meta a ser alcançada pelas diversas secretarias do município. Atualmente, discute-se a prática como política pública e inserção nas grades curriculares das escolas. No artigo 3° da referida lei afirma-se que “o conceito de Educomunicação contempla a análise crítica e o uso educativo-cultural, não apenas do rádio mas de todos os recursos da comunicação, garantindo-se, para tanto, uma gestão democrática de tais processos e recursos, de forma a facilitar a aprendizagem e o exercício pleno da cidadania”, e tem como um dos seus objetivos “desenvolver e articular práticas de Educomunicação, incluindo a radiodifusão restrita, a radiodifusão comunitária, bem como toda forma de veiculação midiática, de acordo com a legislação vigente, no âmbito da administração municipal”. Por conta disso – numa perspectiva comunitária de discurso, de práticas comunicativas, de construção de significados – é fundamental a criticidade presente na construção desse processo de política pública da Educomunicação, para não se repetir as práticas educativas de transmissão de informação apenas (crítica freireana).
No último congresso nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), ocorrido entre os dias 5 e 9 de setembro, na cidade de São Paulo (SP), o assunto foi amplamente debatido. Seguindo o tema “Comunicação e Educação: Caminhos integrados para um mundo em transformação”, o evento contou com sete espaços abordando o assunto – entre oficinas, palestras e mesas de debate – além de inúmeros trabalhos apresentados por alunos e pesquisadores. Entre eles, podemos destacar a palestra de abertura oficial do congresso, que contou com a presença do professor doutor Guillermo Orozco Gómez, renomado pesquisador da área de estudos de recepção. Em sua fala, intitulada “Educomunicação e direitos humanos, o grande cruzamento democrático de hoje”, o pesquisador tratou, em suma, dos direitos humanos em relação à comunicação, além de apontar a importância da Educomunicação para tornar a audiência mais crítica e, por consequência, a sociedade mais democrática. “Temos que fortalecer uma cultura de direitos na comunicação para fundamentar o nosso ‘ser e estar’ como audiências e cidadãos em um cenário midiatizado e blindado”, afirmou Orozco.