Educação Popular e de qualidade
Retomando as atividades presenciais, após 2 anos. Desafio Pré Universitário Popular, segue colocando alunos de baixa renda para dentro da universidade
Por Everson da Martha / Em Pauta
Há 30 anos com o projeto Desafio Pré-Universitário Popular, a Universidade Federal de Pelotas vem causando um impacto significativo na vida de muitos estudantes de baixa renda. O projeto surgiu em 1993, durante uma festa de um grupo de alunos de graduação que tiveram a ideia de trabalhar com educação popular. Inicialmente, cogitaram apenas a hipótese de alfabetização de adultos, porém com muita dificuldade de englobar todos os estudantes, optaram por fazer um curso pré-vestibular para pessoas de baixa renda. Somente em 1997 o Desafio recebeu o reconhecimento como projeto de extensão da UFPel.
Ao longo desse tempo o projeto passou por várias transformações, tanto quanto à sua concepção, objetivos construídos e alternâncias de sedes, dentro e fora dos campus da UFPel. O Desafio já foi no prédio próprio da universidade, no Lyceu Sul-Rio Grandense, em unidades alugadas como o prédio da Rua Andrade Neves 2222 e no antigo Sallis Goulart, na rua Tiradentes. Já no ano de 2022, após dois anos sem turmas presenciais (somente com turmas no modo remoto) devido às restrições da pandemia de Covid-19, mudou-se para o campus Anglo.
O Desafio é totalmente gratuito e já aprovou diversas pessoas de baixa renda em vestibulares de universidades públicas da região e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As aulas são ministradas por estudantes universitários voluntários nos turnos da manhã, tarde (presencial) e noite (remoto). Também são realizados simulados, monitoria, orientação profissional, e aulões também compõem o programa do curso.
A jovem Larissa Moraes, de 18 anos, aluna do presencial, foi aprovada em primeira chamada para Jornalismo na UFPel. ela conta que conheceu o projeto através da mãe que foi aluno do então Desafio Pré-Vestibular nos anos de 1990. Depois de uma pesquisa nas redes sociais, ela encontrou o projeto e, com a sua documentação em mãos, se inscreveu para começar a frequentar as aulas.
“Foi extremamente importante tanto para minha preparação, quanto para minha aprovação, porque lá dentro do Desafio eu fui exposta a muitas realidades diferentes da minha, que nos tira um pouco da zona de conforto” disse ela sobre o Desafio.
Ela também contou que sempre quis cursar jornalismo, acompanha diversos jornalistas e acha que vai se identificar com o curso. Ela explica que gosta muito de escrever, tanto que sua nota redação foi 960, segundo ela, tudo graças ao grande trabalho do grupo de professores do Desafio. Além da Larissa, foram outros 10 aprovados em primeira chamada em vestibulares e no Sistema de Seleção Unificado (SISU). A modalidade presencial sofreu com a evasão, dos 45 matriculados inicialmente, apenas 23 continuaram frequentando o desafio até o fim. Essa evasão está diretamente relacionada a fatores sociais e econômicos.
Mesmo com o retorno das atividades ao “velho normal” um dos legados deixados pelo período da pandemia, foram as aulas remotas, que proporcionou a pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância também pudessem participar. Foi o caso da Rayane de Oliveira, de Pindamonhangaba-SP, que foi aluna do modo à distância.
Ela conta que conheceu o projeto através das redes sociais, mesmo distante ela conta que as aulas eram boas e que os professores eram sempre atenciosos. Em que pese o ambiente virtual inibir um pouco a participação dos alunos nas aulas, o projeto foi fundamental para sua aprovação em Pedagogia no IFSP.
“O conteúdo deles foi espetacular, praticamente tudo que vimos caiu no enem. Eles ensinam de uma forma leve que dá para aprender tranquilamente” disse a futura estudante de Pedagogia.
Assim como no presencial, no modo remoto também houve bastante evasão. Por ser em uma plataforma aberta e sem inscrição prévia, no início a sala virtual estava cheia, mas no final, cerca de 20 alunos frequentaram até o fim. Apenas 8 foram aprovados em primeiras chamadas em instituições de ensino superior, somando-se aos 11 do presencial, totalizando 19. Com quase 50% de aprovação na primeira chamada, ainda há alunos em listas de espera e espera-se que essa porcentagem aumente.
O projeto tem por característica acolher alunos em vulnerabilidade social. A coordenadora do projeto, Cátia Fernandes de Carvalho, explica o propósito do Desafio, “Ele é mais que um curso pré-vestibular, ele é um espaço de formação. Ele possibilita que as pessoas que o sistema exclui, sejam incluídas no espaço universitário. Nós não queremos apenas que o aluno entre na universidade, mas também que ele se entenda como cidadão, que ele perceba seus direitos e que lute por eles.”
No entanto, o projeto ainda possui questões a serem resolvidas, a principal sendo a evasão do Desafio. Com a transferência do curso para o Campus Anglo e a impossibilidade de adquirir passagens escolares, alunos de baixa renda acabam por parar de frequentar as aulas ao longo do ano. “Nossa grande meta é mantermos esses alunos conosco até o final do semestre, para garantir um processo formativo de qualidade. Nossa ideia para 2023 é a de melhorarmos as condições de acesso ao transporte para que os alunos possam frequentar ao máximo as aulas na sede do campus Anglo e ter um ótimo aproveitamento do curso”, afirma a coordenadora do projeto. As atividades do Projeto Desafio Pré Universitário Popular retornam no mês de Abril.