Desemprego: jovens são os mais afetados
Por Hillary Orestes, Lia Xavier, Roberta Muniz e Roger Vilela
O desempregado é atualmente um dos grandes problemas enfrentados pelos brasileiros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 28 de setembro, falta emprego para cerca de 27,5 milhões de trabalhadores economicamente ativos.
Desse total, 12,7 milhões correspondem ao número de desempregados, ou seja, pessoas que não trabalham, mas que procuraram emprego nos últimos 30 dias. Outros 6,7 milhões estão subocupados, trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais.
8,1 milhões correspondem às pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham. Esse último número pode ser dividido em duas categorias: A primeira é a dos desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, que chega a 4,8 milhões trabalhadores. E a segunda é das pessoas que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, por exemplo, filhos que saem do emprego para cuidar de seus pais doentes. Esse grupo é composto por 3,3 milhões de brasileiros.
Neste grande mar de desempregados, é o jovem brasileiro que mais sofre com a falta de emprego. De acordo com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, no segundo trimestre de 2018, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é mais que o dobro da taxa da população em geral. Enquanto a taxa geral ficou em 12,4%, entre os jovens dessa faixa etária, esse percentual chega a 26,6%. Os jovens brasileiros com idade entre 18 e 39 anos representam 67% dos desempregados, ou seja, cerca de 8,5 milhões de trabalhadores.
A pesquisa também revela que é entre as pessoas com idade entre 14 e 17 anos a maior taxa de desemprego. 42,7% deles não trabalham. Vale salientar que esses jovens, menores de idade, devem trabalhar sob condições específicas, por exemplo, como jovem aprendiz.
Outro índice que cresce a cada dia é o dos nem-nem, jovens que nem trabalham e nem estudam. Hoje, 23% da população entre 15 e 29 anos de idade pertencem a esse grupo. São mais de 11 milhões de brasileiros, segundo o IBGE.
Priscila Rossini, 25, se encaixa na categoria dos nem-nem. Ela precisou largar a faculdade de biomedicina após ficar desempregada: “Tive que trancar a faculdade no segundo semestre, na verdade não consegui concluir o terceiro, acabou que boa parte do terceiro semestre foi por água a baixo, porque em função de não estar trabalhando, mesmo tendo bolsa de quarenta por cento, não tive como condições de continuar”.
Na opinião de Priscila, a exigência de experiência por parte dos empregadores é um dos fatores que contribuem para o aumento do número de pessoas desempregadas: “Os empregadores exigem muita experiência dos candidatos à vaga, e isso aumenta a quantidade de pessoas a procura de emprego. E as vagas não são preenchidas. Falta interesse dos empregadores para ensinar as pessoas”. Ela termina dizendo que muitas vezes as exigências para as vagas ofertadas vão além do que é esperado pelos candidatos: “A vaga é para o administrativo, mas exige um conhecimento de contabilidade, vamos supor, não, tu não tem conhecimento de contabilidade, então, tu não é o perfil da vaga”.
O professor do Senac Pelotas, Coriolano Borges Filho, se coloca ao lado dos empregadores quando defende a qualificação constante: “As pessoas têm essa questão de que eu fiz um curso há cinco anos atrás, aquilo é suficiente. Hoje não funciona mais assim. Hoje as regras mudam, as qualificações mudam, o mercado exige um profissional totalmente qualificado a todo momento, então, é importante estar sempre se qualificando”. De acordo com o professor, se manter qualificado é fundamental para sempre ter as portas do mercado de trabalho abertas.
JOVEM APRENDIZ
Como um jovem que nunca trabalhou pode ingressar no mercado de trabalho? Uma das alternativas é iniciar sua vida profissional como jovem aprendiz.
O Programa Jovem Aprendiz é uma iniciativa do governo federal que tem como objetivo gerar oportunidades de emprego para adolescentes e jovens com idade entre catorze e vinte e quatro anos que nunca trabalharam e precisam adquirir as primeiras experiências profissionais, por meio da formação técnico-profissional.
O curso de aprendizagem é composto por aulas teóricas e práticas. É ministrado por uma instituição de ensino credenciada, como o Senac, SEST SENAT, Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), entre outras.
Coriolano, professor do Senac, explica como funciona o programa na instituição: “É um ano e um mês que o jovem fica vinculado a gente. Desde o primeiro dia ele já é registrado em carteira, recebendo todos os benefícios da empresa. A carteira é assinada pela empresa, que também faz todo o processo seletivo. Selecionar o jovem, a empresa vai mandá-lo pra gente para fazer a inscrição no programa jovem aprendiz.”
O Senac trabalha com jovens aprendizes em três segmentos do mercado de trabalho: Vendas, para o comércio em geral; Supermercados, com o intuito mais específico de trabalhar nos supermercados da cidade; E por último, o segmento focado nas áreas administrativas das empresas.
Jovens de catorze a vinte e quatro anos podem entrar no programa. Para participar é preciso estar estudando os anos finais do ensino fundamental ou ensino médio e ter a frequência escolar em dia. E aqueles que já concluíram o ensino médio, necessitam apresentar o comprovante de conclusão. E o professor Coriolano destaca: “Uma coisa muito importante é que o jovem aprendiz não pode ter nenhum registro em carteira. Um pré-requisito básico é ser o primeiro o seu primeiro emprego”.
EMPREENDEDORISMO ENTRE OS JOVENS
Para driblar a falta de emprego, muitos jovens brasileiros recorrem ao empreendedorismo, começando o seu próprio negócio.
Segundo a pesquisa GEM 2017 do Sebrae em parceria com Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) e o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGVcenn), aponta que, no ano passado, a participação de pessoas entre 18 e 34 anos no total de empreendedores em fase inicial chegou a 57%. São cerca de 15,7 milhões de jovens atrás de informações para abrir um negócio ou com uma empresa em atividade no período de até três anos e meio.
No ponto de vista da técnica do Sebrae de Pelotas, Márcia Helena Pedrotti Porto, as pessoas em momentos de crise econômica precisam ser criativas para escapar dela. Ela também aponta uma diferença entre os jovens de hoje e das gerações anteriores: “Hoje, o nosso jovem, ele tem uma forma de pensar um pouco diferente daquela geração antiga que se não se arriscava, se preparava para um concurso público, para ter um emprego garantido”.
Patrícia Vahl, 28, faz parte desse grupo de jovens, que depois de muito tempo sem emprego, usa de sua criatividade para gerar renda. Ela começou a trabalhar com o artesanato para lidar com problemas de ansiedade. E há mais de um ano o usa para obter uma renda extra: “O primeiro intuito que eu tive do artesanato não foi utilizar como renda. Depois de um tempo comecei a fazer coisas mais temáticas de Harry Potter, Percy Jackson, essas séries literárias, Star Wars, coisas mais geeks, digamos assim. E aí, comecei a receber perguntas, se eu fazia para vender, se fazia por encomenda e coisas assim. Então, comecei a pensar nisso como uma renda extra”.
Patrícia continua a procura de um emprego e sabe das dificuldades de conseguir um no cenário econômico atual do país. Ela também percebe o crescimento do número de pessoas que buscam ganhar dinheiro por conta própria: “A gente vê bastante pessoas trabalhando com isso. O pessoal fazendo canecas personalizadas, camiseta, essas coisas assim. Para mim o que está dando certo é isso, artesanato.”
Para os jovens, que enfrentam o desemprego e querem empreender, a técnica do Sebrae Márcia Porto dá alguns conselhos: “Tem que estar disposto a se arriscar, porque ser dono ou dona do próprio negócio significa não ter férias, décimo terceiro, ter que trabalhar 24 horas por dia, até eu conseguir me organizar. Procurar informações sobre aquilo que eu quero, buscar o que tem no mercado de oportunidades é importante”. Segundo ela, na hora de empreender o mais importante é planejar, ter consciência do que faz e dos riscos que corre. Para mais informações sobre como começar um negócio próprio, acesse o site do Sebrae: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae.