CLC abre inscrições para clube de leitura “Ler Mulheres”

O projeto abrange estudantes, professores e servidores da UFPel que tenham interesse em compartilhar o apreço pela leitura feminina

Clube de Leitura procura dar espaço para grandes mulheres da literatura. / Imagem: CLC/UFPel

Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta

A partir desse ano, o Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas (CLC – UFPel) terá um clube de leitura focado em literatura feminina chamado “Ler Mulheres”. O projeto, organizado pelas colaboradoras Beatriz Helena da Rosa, Patrícia Silveira e a diretora do CLC Vanessa Damasceno, irá funcionar uma vez por mês, na quinta-feira das 18h às 20h30 e já está com inscrições abertas para estudantes, professores e servidores em geral.

Vanessa conta que a motivação de tudo vem do pessoal: “É uma motivação que eu tenho desde sempre, desde que eu assumi como docente” e diz que clubes de leituras fizeram parte da sua formação acadêmica, por isso quis trazer essa experiência para a UFPel também. As autoras já foram escolhidas (Patrícia Galvão, Annie Ernaux, Conceição Evaristo, Carla Madeira), mas a docente afirma que aceita toda sugestão para o próximo semestre, desde que seja de mulheres. Já quanto ao feminino, ela diz que há algo especial em ler mulheres.

A mentora de escrita e crítica de escrita, Ella Ferreira, diz que há uma delicadeza na escrita feminina: “Dos livros que li, até então, os escritos por mulheres tinham uma pitada de sutileza e cuidado”. Porém a opinião não é compartilhada por todos, segundo dados do grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, coletivo de pesquisadores vinculado a Universidade de Brasília (UNB), mais de 70% dos livros publicados entres 2005-2014 possuem homens como autores. Os dados pioram quando se fala de raça, segundo o estudo, apenas 5 autores desses mesmos livros não eram brancos.

Mais de 70% dos livros publicados entre 2005 e 2014 são escritos por homens, enquanto o público feminino representa mais da metade dos leitores do Brasil. / Foto: José Cruz/Agência Brasil

Ella conta que como negra já teve que ler muitas obras que mal representaram ou nem chegaram a representar pessoas negras, também diz que chega a ser ainda mais difícil para mulheres negras entrarem no mercado: “O racismo desvaloriza nossos esforços, temos que correr muito mais para alcançar algo. E mulheres pretas, ainda mais. Sem contar o fato de ter que, constantemente, reforçar o quanto estamos nos empenhando para ter o mínimo de credibilidade.”

Autora de “O Andarilho: Conto I”, “Florinda” e outras obras, Carolina Feltrim, menciona a contradição de existir tantos homens numa indústria que é sustentada por mulheres. Os dados comprovam sua fala, segundo o Instituto Pró-Livro 57% das leitores brasileiros são mulheres.

Carol sempre foi adepta a publicação autoral, com marketing feito pelo seu perfil de escrita no Instagram (@antepaginas) e publicação pela plataforma da Amazon no formato Kindle. O método é conhecido hoje em dia e utilizado por muitas mulheres que sonham em ser autoras, mas não conseguem uma parceria com editoras. Mesmo assim, “O potencial das mulheres é sempre posto à prova e questionado, acho que esse é o cerne de tudo” afirma ela.

No final, tudo se baseia no critério que Vanessa, Beatriz e Patrícia usaram: Livros de mulheres que “bagunçaram” a cabeça das três nos últimos meses. Realmente, ela acertou quando disse: “Nós enquanto mulheres, ler mulheres, é uma questão da gente se identificar, uma questão da gente se acolher, é uma questão da gente se enfrentar”

Interessados podem preencher o formulário de inscrição.

Comentários

comments

Você pode gostar...