Casa de família, mas fora de casa

Conheça as diferentes experiências de alunos que procuraram nas pensões, um pouco de sua própria casa.

Por Fernanda Dupont*

Mudar de cidade é a realidade que milhares de estudantes enfrentam quando ingressam na faculdade. Em grandes centros universitários, como a cidade de Pelotas, todo ano são esperados centenas de estudantes vindos de fora. Além dos aluguéis, os grandes centros oferecem as pensões, que alugam quartos mensalmente ou anualmente.

As pensões são, geralmente, casas administradas por famílias, oferecendo toda a estrutura necessária para um aluno novo na cidade. Cozinha e banheiros comunitários, além de quartos mobiliados, são os cômodos básicos dessas casas. Apesar da praticidade, as pensões contam com certas desvantagens. Julia Vilas Boas e Clara Moreira dividiam um quarto semi-privado em uma pensão no centro de Pelotas. “Você não tem tanta privacidade como teria se morasse sozinha”, diz Clara, de 17 anos, que veio do Rio de Janeiro para cursar Museologia na UFPEL.

A escolha das pensões como opção principal é, geralmente, pela segurança. É o que diz Beatriz Coan Peterle, que veio de Criciúma e é estudante do quinto semestre de Jornalismo: “Escolhi porque achava inseguro morar com alguém sem conhecer a pessoa. Julgava como um lugar mais seguro, já que teria meu quarto e minha chave, além de um ambiente coletivo com pessoas que também estão chegando na cidade”. A falta de tempo de procura, a facilidade e a comodidade também são citadas como motivos. Inclusive, como relata a estudante do primeiro semestre de Jornalismo que veio de São José dos Campos, Julia Vilas Boas, a opinião dos pais é um fator muito relevante nessa escolha. Ela contou com o auxílio da mãe para encontrar uma pensão que fosse adequada.

Quando questionados sobre as vantagens, os entrevistados citam, principalmente, as “mordomias” que as casas oferecem. Segundo Yago Farias, que veio de Manaus e cursa Design Digital na UFPEL, “a pensão que eu moro proporciona comodidades como casa de família: quarto limpo, roupa limpa e cozinha limpa. Portanto, não preciso me preocupar em mobiliar um casa aqui para, logo após o fim da faculdade, ter que me desfazer de tudo”. Os próprios moradores das pensões também são uma vantagem, visto que, são os primeiros contatos uns dos outros ao chegarem. Um ajuda ao outro, e assim, acaba se fazendo os primeiros amigos.

Porém, nem tudo são flores. A falta de privacidade é uma das maiores reclamações dos moradores. “As maiores desvantagens são o banheiro comunitário e a cozinha comunitária, que nem sempre estão limpos. Ter que dividir espaço, depender muitos dos outros, além das regras do pensionato, que nos impede de receber visita. A tua casa não é um lugar pra outras pessoas”, conta Beatriz. O convívio com pessoas estranhas, e que não respeitam os horários de silêncio também são mencionados.

Por todas essas condições, a estadia em pensões é, quase sempre, temporária. Clara e Julia vivem na mesma casa há cinco meses, e quando questionadas se pretendem sair, a resposta é a mesma: “se houver oportunidade”. Algumas condições influenciam no tempo da estadia, visto que Clara, antes de mudar para um quarto privado, queria sair o mais breve possível. Agora, já acha mais proveitoso, mas de qualquer forma pretende sair um dia, por ter certos hábitos que as regras da casa não permitem.

Ao contrário de Yago, que decidiu ficar por achar mais vantajoso, e já está morando na mesma pensão há cinco anos. “Todas as mordomias influenciaram bastante na decisão de ficar”, diz ele. Já no caso de Beatriz, a situação foi diferente. A estudante chegou a ficar por três meses antes de sair: “além de ter tido algumas desavenças com o dono do local, queria ter a liberdade de receber quem eu quisesse, a hora que eu quisesse. Também queria chegar em casa a hora que quisesse sem incomodar ninguém, e poder usar os ambientes quando bem entendesse”. Hoje, ela mora há um ano e meio no mesmo apartamento. Quando questionada se, hoje em dia, sente falta de alguma coisa, responde: “não sinto tanta falta assim, só da mordomia e das junções do pessoal”.

Esse também é o caso de Valentina Defaveri, que hoje cursa Medicina na UCPEL. Em Pelotas ela vive de aluguel, mas quando fazia cursinho pré-vestibular em Porto Alegre, se viu na necessidade de procurar por uma pensão. Lá ficou por um ano, e encontrou todo o apoio que precisava, conhecendo novas pessoas e passando por uma nova experiência. Hoje, porém, prefere o conforto de seu próprio lar, apesar de sentir falta das companhias.

É evidente que os pensionatos são um negócio lucrativo no mercado das grandes cidades, que recebem não só estudantes, mas pessoas de diversas partes do país. Além disso, são uma boa experiência para os moradores, mesmo que temporariamente. É lá que têm seus primeiros contatos, vivendo em uma casa que pareça, mesmo que minimamente, a casa da família que deixaram.

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