Brasil marca em todos os cantos

Por Juliana Santos

Café Aquarios, centro da cidade de Pelotas. Os empregados corriam para atender aos pedidos dos que chegavam momentos antes do apito inicial entre Brasil e Camarões na última segunda-feira (23). Enquanto a clientela enchia a barriga e soprava o café quente que transbordava a xícara, os quase dez trabalhadores se amontoavam sobre o balcão para conferir a partida.

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Café Aquarios.
Foto: Juliana Santos.

Os vidros que cercam o Café não intimidaram quem estava dentro. Nem fora. O frenesi do torcedor que assistia dentro do estabelecimento não o deixou perceber que cerca de cinco moradores de rua assistiam debruçados na parede transparente, do lado de fora, com os olhos fixados na tela localizada dentro do local.

O primeiro grito histérico coletivo foi quando Neymar quebrou o jejum de dez dias sem marcar gol pela Seleção. A TV do local estava ligada no canal que reproduzia o “Neymar é o nome dele”. Minutos depois, o chute na nossa rede pelo jogador de Camarões desanimou – mas só até acabar o replay daquele que viria a ser o único gol do outro time – aquele era o dia da empolgação. Ali, o sorriso irônico ecoou o café. Todos sorriram com ar de: “Deixem os coitados fazerem um. Não marcaram nenhum até aqui. Vamos recepcioná-los bem”.  Afinal, Neymar deu o troco aos 35 do primeiro tempo para lembrar-nos que estamos em casa.

No Shopping Pelotas, funcionários das grandes lojas foram liberados trinta minutos antes do jogo para ir a “concentração”, que aconteceria na praça de alimentação. Duas telas foram colocadas ao centro da praça para acomodar os trabalhadores e torcedores que não queriam assistir ao jogo sozinhos em casa. Vestimentas e até pintura no rosto com as cores da bandeira coloriram o local.

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Shopping Pelotas durante o jogo.
Foto: Juliana Santos

O segundo tempo começa no 2×1 para o Brasil. O técnico Felipão desobedeceu ao ditado “time que está ganhando não se mexe” e colocou Fernandinho no lugar de Paulinho. A troca de apelidos no diminutivo deu certo. Logo no início do segundo tempo, Fernandinho fez o passe que tiraria Fred do “coma”. Fred cabeceou. 3×1 para o Brasil.

A família, com a mãe, o pai e as filhas, estava assistindo vidrada, até que as crianças resolveram passear. A mãe saiu correndo atrás e nem conseguiu pegar o quarto gol da Seleção. O pai,  desacompanhado, virou-se para a mesa de trás, ainda sem reação, para perguntar “Quem é esse menino?”.  “É o Fernandinho, é o Fernandinho!”, respondeu o jovem com voz contente para todos ouvirem. Fernandinho marcou o último gol do dia, enquanto as cornetas no Shopping Pelotas gritavam mais que o torcedor no Estádio Nacional de Brasilia.

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