Basquete gaúcho reflete cenário do esporte no país

Por Vinícius Pereira Colares

Como o atual cenário do basquetebol brasileiro pode influenciar o sul do Rio Grande? Analisamos um histórico do esporte e pensamos qual será o seu futuro em médio e longo prazo.

Foto: divulgação (http://imagensgratis.com.br/imagens-do-basquete/6)

Foto: divulgação (http://imagensgratis.com.br/imagens-do-basquete/6)

O basquete brasileiro não vive sua melhor fase. Mesmo com mudanças estruturais que trouxeram resultados positivos em curto e médio prazo, dentro de quadra os últimos resultados não foram convincentes para a maioria. Destaque especial para a Copa América desse ano. A Seleção Brasileira, de forma inédita, não alcançou a classificação para o Mundial que vai ser realizado na Espanha em 2014 e amargou uma das piores participações na história do esporte nesse campeonato. O Brasil depende agora de um convite da FIBA (Federação Internacional de Basquete) para ir à Espanha. A situação do basquete gaúcho é reflexo direto desse cenário nacional.

Mesmo nos momentos de maior crise, o basquete do Rio Grande do Sul é reconhecido por revelar grandes jogadores. Evitando problemas estruturais, o passado desse esporte no sul do país é forte. Os amantes do basquetebol de longa data ainda lembram a equipe do Pitt/Corinthians, de Santa Cruz do Sul, único time gaúcho a conquistar um título nacional. Os frutos dessa época são colhidos até hoje. Prova disso é que quase cem por cento das equipes que estão disputando hoje a NBB (Novo Basquete Brasil), principal liga do país, contam com pelo menos um atleta gaúcho.

Mais do Rio Grande

O Rio Grande do Sul tem um importante papel para o cenário do basquete no Brasil. Como em outras modalidades – exemplos são o vôlei e o próprio futebol -, os jogadores gaúchos sempre marcaram presença em grandes equipes de nível nacional e internacional. Exportador de grandes talentos, o basquete no sul do estado vive, ainda assim, nos últimos anos, momentos difíceis. Os problemas são, principalmente, estruturais e de falta de incentivo.

As últimas edições do Campeonato Estadual Adulto comprovam que algo não está certo. Em 2013, o torneio contou com apenas seis equipes, cada uma representando uma cidade: Java (Estância Velha), Bira (Lajeado), Sogipa (Porto Alegre), Caxias Basquete (Caxias do Sul), Cosseno Basquete (Santa Cruz do Sul) e Luba (Uruguaiana). No ano de 2012, foram quatro equipes e, um ano antes, seis. Pela força e tradição que possui o basquete do Rio Grande do Sul, o número de equipes no principal campeonato do estado é muito inferior ao ideal. Como o número de times participantes, é possível apenas realizar um campeonato com cerca de três meses de duração. O restante do ano no calendário gaúcho é vago.

A falta de incentivo também faz com que apenas dois ou três times participem com um elenco forte, de nível nacional. Grandes contratações são uma utopia no basquete riograndense atual. Esse fator desmotiva emissoras de TV e rádio. Sem o interesse da mídia, a dificuldade para encontrar patrocínio, apoiadores e colaboradores cresce bastante. É um efeito “bola de neve” que vem se mostrando presente dentro do esporte gaúcho há bastante tempo.

 

Realidade da zona sul

Os problemas no sul do estado acompanham o restante. Com uma história bem escrita e marcada por conquistas, as cidades de Pelotas, Rio Grande e Bagé lutam da forma que podem para manter vivo o basquete na região.

Rio Grande já contou com duas equipes participando do Campeonato Estadual Adulto nos anos 1960 e 1970: o Clube Regatas de Rio Grande (campeão nos anos de 1967 e 1973) e o Ipiranga Atlético Clube (campeão em 1976). Ambas instituições sequer contam com o basquete como modalidade hoje. O Ipiranga A.C. foi vendido recentemente e está investindo, principalmente, no futsal. O Clube Regatas mantém a estrutura como clube, mas não conta mais com equipes competitivas.

A cidade de Rio Grande ainda conta com a história de Eduardo Lawson. O ex-integrante da Seleção Brasileira de basquete foi coroado em 2009 com o prêmio de “Melhor Jogador de Basquete do Rio Grande do Sul de Todos os Tempos”. O ex-jogador tentou dar vida a um projeto de basquete na escola Wanda Rocha, mas a falta de apoio fez com que a ideia não ganhasse a forma esperada. No ano passado, Lawson se candidatou a vice-prefeito da cidade e venceu ao lado de Alexandre Lindemeyer. O ex-atleta pretende dar forças para que o esporte alcance a mesma visibilidade de outros tempos. O trabalho vai ser árduo.

Ainda na zona sul do estado, encontramos uma cidade que luta para manter vivo seu basquete dentro do cenário gaúcho. Com a última participação discreta na edição de 2010 do Campeonato Estadual, Pelotas faz de tudo para erguer-se. A falta de patrocínio e incentivo, nesse caso, são os grandes problemas. E não atingem apenas a categoria principal (adulto). Desde 2010, Pelotas não tem um representante nos campeonatos estaduais de base também.

A geografia é outro fator que incomoda. A cidade fica longe da capital e do centro do Rio Grande do Sul. São nesses pontos que estão situadas as grandes potências do esporte no estado. A dificuldade de deslocamento exige gastos maiores e, é claro, patrocínios mais fortes. Para o técnico das equipes de base da escola São José, Paulo Corrêa, o que falta é visibilidade: “Existe basquete aqui em Pelotas. O maior problema é a falta de visibilidade e, é claro, incentivo por parte das grandes empresas. Material humano e empresas capazes não faltam. O problema é querer ajudar o esporte. Sei dessa realidade porque vivo do basquete”.

Ainda com todas adversidades, Pelotas conseguiu um grande resultado. Há 12 anos a equipe que representa o basquete masculino adulto da cidade não conseguia a classificação para a etapa estadual do JIRGS (Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul). Em confronto único contra Bagé, Pelotas venceu em casa a etapa regional, realizada em outubro e classificou-se para o torneio com as melhores equipes do estado. A última etapa do JIRGS aconteceu em Lajeado, e o campeonato terminou com Pelotas em quinto lugar. Vinicius Teixeira participou da equipe que representou a cidade e vê como positivo o resultado e o trabalho feito: “Fazia muito tempo que não conseguíamos juntar um grupo tão bom. A equipe lutou pensando no basquete pelotense e isso é maravilhoso. A nossa intenção é seguir juntos e trilhar um bom caminho”.

Além de jogador, Vinicius é também árbitro e sempre esteve, de alguma forma, envolvido com o esporte. Para ele, os problemas não é só a falta de incentivo. “O campeonato de base do Rio Grande do Sul tem que ser repensado. Em São Paulo, as equipes jogam, no mínimo, uma vez por semana. Aqui no sul, os atletas agradecem quando jogam uma vez por mês. Isso é muito errado. Uma liga universitária também deveria ser pensada. Mas são pontos que se alcançam a longo prazo, apenas”.

 

Pensando no futuro

Se o passado e o presente não estão de acordo com o desejado, o futuro do basquete gaúcho deve acompanhar o ritmo do esporte no Brasil. Com a efetivação do presidente da Confederação Brasileira de Basquete, Carlos Nunes, nasceu a LNB (Liga Nacional de Basquete). A entidade está sendo responsável por mudanças drásticas no esporte. Entre elas, a criação de um campeonato nacional bem planejado (o NBB), a criação de uma liga de basquete nacional Sub-21 e a Escola Nacional de Técnicos, que pretende profissionalizar ainda mais os comandantes de equipes de todo o país.

Se o basquete do Rio Grande do Sul acompanhar as mudanças que estão acontecendo em nível nacional, temos de ser otimistas. Carlos Nunes é ex-presidente da FGB (Federação Gaúcha de Basquete) e está olhando para o sul do país como alguém que conhece os problemas regionais. Exemplo disso são as mudanças estruturais em relação às seleções de base do estado. Hoje, as equipes que representam o Rio Grande do Sul fora daqui contam com apoio maior da Federação Gaúcha. E se essas mudanças estão afetando o estado inteiro, é questão de tempo, a priori, para que alcancem a zona sul. O técnico Paulo Corrêa participou dos congressos da Escola Nacional de Técnicos que aconteceram em Porto Alegre e se mostrou confiante neste ponto: “O clima é de mudança. Todos os profissionais que estavam lá só falavam no futuro do esporte. Esse é o diferencial. Ninguém estava lá pensando em crescimento pessoal apenas. Isso acontece porque o basquete é coletivo na sua essência. Temos que pensar no basquetebol e não apenas em nós”.

Sobra para os entusiastas do esporte da bola laranja no Rio Grande do Sul ficar na torcida para que tudo dê certo. Os primeiros passos parecem ter sido dados. Cabem agora aos grandes empresários olharem com melhores olhos para o basquete do sul. O talento é indiscutível. Mas onde sobra capacidade, não pode faltar disposição.

Comentários

comments

Você pode gostar...