AMAdores
O amor pelo esporte – cada vez mais carente de representantes no meio profissional e tão discutido nos noticiário esportivos – ainda reside na prática dos amadores.
Por André Pereira
Seja uma herança de família, da prática na escola, passando até pela necessidade de fazer algo para melhorar a saúde, a prática de um esporte vai bem além de questões superficiais. Ela remonta o próprio desenvolvimento do ser humano que caçava, nadava e corria para sobreviver e ao deixar de ser nômade essas atividades tornam-se “jogos”.
Na contra mão da individualização do ser humano – eu por eu e Deus por todos, algo cada vez mais frequente -, o espírito de equipe ainda prevalece nesse meio. Um elemento de socialização e forma de fazer parte de algo maior que si mesmo. “Alguns fatores tendem a ser comuns entre os que escolhem a prática de esporte como atividade de lazer. Está no contato com algum sonho de criança, uma forma de manter vínculos. Porque em alguns grupos é aquele momento que se tem para ver amigos que o dia-a-dia não permite, buscar uma interação, aliviar tensão, exercer seu lado competitivo.”, relata o psicólogo Thiago Pederzolli.
Amador(amar+dor). Aquele que, por gosto e não por profissão, exerce qualquer ofício ou arte.
Mesmo que por amor a competitividade não perde em nada para os jogos profissionais. Verdadeiros embates, melhores que muitos jogos do gauchão, acontecem em campos de várzea. De acordo com André Chiesa, que divide seu tempo entre tocar uma produtora, ser o baterista da banda Sargento Garcia e o artilheiro do Guarani Esporte Clube, a vontade de jogar bola tem mais de uma fonte. “A minha motivação principal é o amor pelo futebol que tenho desde criança, passei algum tempo da minha vida tentando jogar futebol profissionalmente e até cheguei perto de conseguir, mas tive que escolher entre a música e o futebol e acabei escolhendo a música.”
A sua atual equipe, o Guarani Esporte Clube, existe desde 2012 e disputada em média trinta e cinco rodadas durante o ano. O calendário tem jogos todos os finais de semana, o que acaba, por vezes, fazendo com que André desfalque a equipe.
“Eu procuro sempre organizar meus horários para que o sábado a tarde esteja livre, raras às vezes em que tive que deixar de jogar por conta de outro compromisso, mas claro, quando o trabalho chama eu sou obrigado a deixar o jogo para trabalhar.”. A concentração para as partidas já é feita desde sexta-feira, a esposa e o filho já se acostumaram a ouvir o “Amanhã tem, hein” e a resposta vem com o clássico “Vou ir te ver, mas quero ver gol hein”. André ainda aponta um dos principais motivos para que a experiência seja tão benéfica. “É bem legal. O Guarani é uma grande família, os jogadores são basicamente os mesmos faz dois ou três anos, quando se fala em futebol aqui em casa é o Xavante e o Guarani. Dentro de suas proporções, é claro.”
Muito além do futebol
Se para os amadores no futebol é difícil, imagina quem teima em praticar um esporte que não é de preferência nacional. É o caso de Ana Paula, funcionária da Embrapa e ponteira do time de vôlei feminino CB-PSV, ligado ao clube Brilhante, nos finais de semana. O clube oferece o material de treino, local e fardamento. Porém, algumas despesas ainda são bancadas pelos próprios jogadores. “Alguns gastos são necessários, como por exemplo o material de proteção, e despesas com viagem, alimentação, por exemplo.”, relata Ana Paula.
Mesmo sendo disputado em nível amador, a prática é competitiva, o que já rendeu lesões que a fizeram, inclusive, ficar afastada do trabalho. “Em uma época que eu estava fazendo Muay Thai e vôlei ao mesmo tempo acabei tendo uma tendinose – processo de destruição do tenção – no ombro direito. Fiquei afastada do trabalho por quase um mês, porque os movimentos do trabalho também eram prejudiciais. Depois dessa lesão tive que optar por somente um esporte. Optei pelo vôlei e voltei a jogar cinco meses depois do tratamento, porém desde então venho fazendo reforço muscular para evitar o retorno da lesão. Recentemente tive outra lesão no joelho, desta vez mais leve e não precisei de fisioterapia, troquei o reforço muscular do ombro por pilates e venho fazendo desde então.”.
A transcendência do esporte
É natural nos cercarmos de pessoas parecidas conosco, com opiniões que sejam parecidas com as nossas. O “parar de seguir” do Facebook nunca esteve tão na moda e essa reunião em grupos é tendência do ser humano. Nesse quesito o esporte transcende qualquer barreira, pessoas completamente diferentes se unem em prol do objetivo final, a vitória.
Seja aos finais de semana – uma desculpa para juntar os amigos e fazer um churrasco – ou até na disputa de competições organizadas, o que move esses praticantes pode ser resumido em uma palavra: amor pelo esporte.
Talvez seja difícil de entender por que alguém gasta dinheiro em uniformes, faz rifa para pagar o ônibus – na maioria das vezes, desconfortáveis – e ainda corre o risco de sofre lesões que os afastem do trabalho. Esse jogadores, ou melhor, advogados, engenheiros, químicos, professores, e profissionais das mais variadas profissões e estilos de vida mantém vivo os preceitos de Pierre de Coubertin, que entrou para história como fundador dos jogos olímpicos da era moderna. Vale lembrar que ele gastou toda sua fortuna para a realização da primeira olimpíada da era moderna, no ano de 1896. Um exemplo do amor pelo esporte, assim como os diversos Andrés e Anas que trocam seu tempo livre por saltos, chutes e saques.