Exposição dissolve fronteira e reúne artistas de Pelotas e Porto Alegre
Exposição “Afastar para aproximar / Borrar os contornos do mundo” do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), vinculado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), convida o público a questionar os limites da arte e da vida cotidiana
Por Murilo Schurt Alves / Em Pauta
Inaugurada no dia 21 de novembro, a exposição “Afastar para aproximar / Borrar os contornos do mundo” está aberta à visitação no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), na Praça 7 de Julho, 180, no centro de Pelotas. Com curadoria coletiva de Clóvis Martins Costa, Gabriela Luz, Valdriana Correa e Yasmin Pol, propõe um convite ao público para dissolver fronteiras e questionar limites por meio da arte. A exposição reúne obras de artistas de Porto Alegre e Pelotas, promovendo um diálogo entre diferentes perspectivas e abordagens artísticas.
Entre os artistas que fazem parte da exposição está Marina Rombaldi, doutoranda em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), arte-educadora e produtora cultural. Para ela, o cenário cultural no Estado revela uma riqueza singular, com artistas que transformam o cotidiano em reflexões profundas e complexas. “Penso que estamos habituados a olhar para a produção artística dos eixos mais centrais do nosso país e, por algumas vezes, esquecemos de percorrer distâncias menores com o nosso corpo e olhar e nos abrirmos para aqueles que tem uma poética tão próxima geograficamente da gente”, comenta.
Para a exposição, Rombaldi nos presenteia com a obra “tripas”. Confeccionadas com resíduos da indústria têxtil, possuem forma sinuosa e funcionam como dispositivos que convidam à interação e ao repouso. A artista destaca que sua intenção não é transmitir uma mensagem direta ao público, mas sim propor uma experiência ou interação. Um convite, que pode ser aceito ou recusado.
“Os meus interesses são em investigar a relação do corpo com a arte nos múltiplos espaços e esse movimento de entender o próprio corpo e os estados do mesmo tem me levado a esses objetos de arte – como as tripas que apresento na exposição -, que são também objetos utilitários, que transitam pelas ideias da maleabilidade, do conforto, do repouso e do descanso, que servem para estar nos espaços institucionais mas também nos espaços públicos e em espaços privados”, complementa Marina.
Outra artista que contribui para a exposição é Mariana Riera que, por sua vez, volta o seu processo artístico para a representação bidimensional. Também doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS, relata que sua pintura mistura elementos pessoais com a representação de outras experiências femininas. “Decidi que buscaria em outra casa, fora da minha, alguma cena em que eu me sentisse representada de alguma maneira. Logo pensei em recorrer a qualquer amiga minha que fosse mãe, por enfrentarmos, de uma forma ou de outra, rotinas semelhantes. Pensando em algo, que se servisse para definir um gênero literário, talvez pudesse ser descrito pela alcunha de ‘autoficção’. Dessa forma, decidi incorporar objetos pessoais à cena, misturando-os ao mundo de minhas personagens retratadas”, elucida Mariana.
Nesse contexto, ela incorporou objetos pessoais, como uma almofada, um travesseiro e um livro que trata das tensões da maternidade à pintura. Além disso, conta que a ideia da imagem do sofá surge enquanto ela refletia sobre o conto “A Terceira Margem do Rio” de Guimarães Rosa, que descreve a partida de um pai que abandona sua família para viver isolado em uma canoa.
“Em contraposição à partida do pai, pensei na imagem da mãe que sempre fica quando um pai vai embora. Afinal, sou filha de uma mãe que ficou em terra firme, como tantas outras, cujo pai partiu. A imagem que emerge para mim é a imagem de um sofá como oposição à canoa, pois a mãe não costuma poder ter a liberdade de partir em busca de um sentido de existência, se quiser encontrá-la, terá de fazer isso na continuidade de sua rotina. Talvez a única maneira que ela encontre de viajar para longe seja lendo um livro, como a faz a mãe representada na imagem. O sofá, portanto, é o suporte que permanece no lugar”, explica a artista sobre a pintura exposta.
Além disso, Marcelo Bordignon, artista visual e co-editor da Revista-Valise, conta que sua trajetória começou em 2014, quando a luz na pintura tornou-se um desafio central em sua produção. Esse interesse levou ao desenvolvimento da série “Pinturas Negras”, que integra a exposição e na qual ele explora, de maneira aprofundada, as relações entre luz e escuridão. “Das muitas questões que os trabalhos podem abranger, a luz na pintura é um ponto que sempre moveu minha produção pictórica. Nas pinturas negras é uma luz que surge da própria matéria da pintura, dos reflexos da tinta, suas texturas e marcas de pinceladas. São trabalhos que dependem do ângulo da incidência da luz do espaço expositivo para tornam visível os objetos pintados, assim como também depende do movimento do espectador”, destaca Marcelo.
À esquerda, Marcelo Bordignon integra a exposição com telas da série “Pinturas Negras”. Foto: Murilo Schurt Alves
Nesse contexto, Bordignon também descreve como busca, através do seu trabalho, propor uma reflexão sobre a maneira como consumimos e interpretamos as imagens em nosso cotidiano, principalmente no ambiente on-line. “Gosto de pensar nele como um meio de contato com um certo tempo lento, de um revelar-se aos poucos. Uma revelação que depende da interação entre pintura e observador, as coisas não estão dadas prontamente ao olhar. Isto é, ele subverte a lógica de hiperexposição de imagens que vivemos na internet, por exemplo. De uma forma ou outra são trabalhos que lidam com uma experiência de revelação da imagem e podem levar a uma reflexão sobre o nosso consumo imagético no dia a dia”.
Além dos artistas supracitados, Andressa Lawisch, Caroline Veilson, Eloiza da Silva, Manoela Cavalinho, Pedro Parente e Thais Ueda também fazem parte da exposição. “Afastar para aproximar / Borrar os contornos do mundo” pode ser apreciada até o dia 9 de fevereiro de 2025, no MALG, de terça a sábado, das 12h30 às 18h. A entrada é gratuita.