A repercussão de Pokémon Go em Pelotas e a importância do jogo no contexto comunicacional

Por: Clara Celina

No último mês, se espalharam diversas notícias e reflexões em relação ao novo jogo da Niantic em parceria com a Nintendo, o Pokémon Go. Diversas hipóteses acerca dos potenciais de aprendizagem, interação e hábitos saudáveis foram tão propagados quanto as críticas e reportagens referentes à alienação e falta de segurança.

Tendo em vista o contexto pelotense, a segurança dos jogadores foi muito discutida, mas nem por isso eles desistiram de jogar. As ruas ficaram lotadas nas primeiras semanas após o lançamento do jogo. No dia 14 de agosto foi organizada a Primeira Caçada Pokémon GO em Pelotas, a qual reuniu milhares de jovens na Praça Coronel Pedro Osório.

Rapidamente, organizaram-se grupos de jogadores, os quais inicialmente levavam até mesmo extensões para carregar os celulares nos postes de luz da Praça, ação posteriormente proibida pela guarda municipal da cidade.

Passada a febre inicial, por algum tempo ainda se pôde ver que enquanto os jogadores mais antigos iam desaparecendo das praças, surgiam iniciantes para se somar ao ato, de forma que a praça só se esvaziou no inicio de Setembro, um mês após o lançamento do jogo, e mesmo que em número reduzido agora, ainda é possível encontrar jogadores. O lado positivamente irônico, contudo, é que não circularam notícias de assalto tendo relação direta com o jogo, ainda que só se vá poder publicar uma análise honesta após a divulgação dos dados de roubos e furtos do segundo semestre de 2016 pela Secretária de Segurança Pública (SSP).

Pode-se dizer, portanto, que a repercussão do jogo tem sido positiva e estimulado a interação entre os jovens e também com o meio ambiente, já que, como relata o estudante Allan S., para caçar pokemons é preciso explorar a cidade.

“O jogo com certeza influenciou meu conhecimento sobre Pelotas, conheci vários lugares que nem sabia que existiam”, afirma.

Jovens aproveitavam a energia elétrica dos postes de luz da Praça Coronel Pedro Osório para carregar os celulares. Foto: Lucca Tancredi
Jovens aproveitavam a energia elétrica dos postes de luz da Praça Coronel Pedro Osório para carregar os celulares. Foto: Lucca Tancredi

Pokémon Go e a comunicação

Com o esvaziamento das praças um mês após o lançamento, os jogadores esperam que o jogo seja atualizado em breve, trazendo novas perspectivas. No futuro, contam, será possível trocar pokemons e fazer batalhas individuais.

Esse contexto de florescimento da realidade aumentada inevitavelmente influencia na forma com que as pessoas se comunicam e amplia as percepções de mundo. Ainda que ocorram inúmeras críticas a respeito do funcionamento do jogo, que utiliza o GPS dos usuários e, portanto, supostamente tem potencial de invadir ainda mais a privacidade dos mesmos, vale lembrar que de certa forma a sociedade já se encontra submersa em sites de redes virtuais e a passos lentos tem aprendido a lidar melhor com a própria exposição, de forma que com ou sem uso de GPS, é difícil delimitar até onde a individualidade se encontra preservada.

Todo caso, tendo em vista o funcionamento dos sites de redes virtuais, que fecham os usuários em nichos de relacionamento, pode-se dizer que uma plataforma planejada a partir da realidade aumentada pode fornecer maior autonomia aos usuários e democratizar as interações. Lógico que se pode vir a considerar os jogadores de Pokémon Go como mais um nicho social fechado, entretanto, precisa-se admitir que o jogo possui um público muito amplo, otimizando sim as interações e mesmo que ainda não seja uma plataforma perfeita, abre precedente para a construção de uma nova era de redes de comunicação.

O próprio dilema da segurança pode ser pensado de forma positiva. Ainda que os indivíduos se arrisquem mais, o jogo tem fortalecido a união social, o que acaba tornando os ambientes mais seguros, tendo em vista o espírito coletivo de autodefesa. Isso pode vir a explicar o fato de – pelo menos por enquanto – não ter relatos de assalto entre os jogadores em Pelotas. Não é à toa que as praças ficam facilmente cheias.

Além disso, os indivíduos inicialmente podem se distrair e entrar em enrascadas como já demonstraram muitas reportagens, mas por outro lado, após tomar consciência da própria fragilidade, uma vez cientes da situação de risco, podem potencializar a atenção enquanto imersos na atividade do jogo.

Afinal, o desenvolvimento tecnológico pode tanto influenciar quanto estagnar o desenvolvimento das capacidades humanas, basta decidir a melhor forma de utilizá-lo.

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